O problema, claro, está no quase. E nos que nunca deprimem.
28/02/10
Pois é, isto anda por aí muita gente deprimida
O problema, claro, está no quase. E nos que nunca deprimem.
26/02/10
Nunca ganhará o nobel da literatura mas, sem querer armar-me na Cristina da Suécia que a mim também ninguém me trata por chefe, ganhou o meu apreço
Este PS é um nojo e à Inês de Medeiros alguém lhe devia explicar que o parlamento assim como assim não é um kindergarten
25/02/10
A Hitler o que é de Hitler, a Goebbels o que é de Goebbels, a Sócrates o que é de Sócrates e quanto à propaganda nada de novo no reino da Dinamarca
Um parênteses: o autor da frase transcrita (em inglês) não é, contudo, Goebbels mas sim o próprio Hitler.
Aber alle Genialität der Aufmachung der Propaganda wird zu keinem Erfolge führen, wenn nicht ein fundamentaler Grundsatz immer gleich scharf berücksichtigt wird. Sie hat sich auf wenig zu beschränken und dieses ewig zu wiederholen. Die Beharrlichkeit ist hier wie bei so vielem auf der Welt die erste und wichtigste Voraussetzung zum Erfolg.
A Ana Cristina Leonardo compara José Sócrates a Goebbels, a propósito de uma recente declaração do primeiro-ministro. É uma comparação de efeito fácil. Tão fácil que me permite repetir: nada de novo no reino da propaganda. Portanto.
O que eu comparei foram estratégias propagandísticas. Naturalmente, não é a mesma coisa.
E não os comparei, por duas razões.
Primeiro e acima mesmo de tudo por evidente respeito pelas vítimas do nazismo.
Segundo, porque como uma vez escreveu António Barreto também eu não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí.
Dito isto, um comentário final e dirigido pessoalmente ao Tomás.
Ali no canto direito do blogue tenho uma frase que não é minha mas que se quiser citar, essa sim, resume mesmo ― mas mesmo mesmo ― o que eu penso de Sócrates (e de muitos outros). É do humorista judeu norte-americano Lewis Black e não me canso de repeti-la. Diz assim:
In my lifetime, we've gone from Eisenhower to George W. Bush. We've gone from John F. Kennedy to Al Gore. If this is evolution, I believe that in twelve years, we'll be voting for plants.
24/02/10
La Vie est un roman [neste caso policial] que isto de ter visto umas fitas no quarteto até às 4 da manhã sempre há-de servir para alguma coisa
Ou seja: a velha raposa papou as tontas das galinhas
[a propósito disto: "O conhecimento que a presidente do PSD demonstrou "na entrevista à SIC" levou o ex-administrador da PT a ter uma conclusão: "Os tipos da Prisa foram instrumentalizados pelo Moniz que, de certeza, passou informações pelo menos à Manuela Ferreira Leite."]
23/02/10
Por contraste com gente estúpida, cite-se um ser inteligente
22/02/10
Políticos de todo o mundo, uni-vos!
Em Itália, Berlusconi é o que se sabe. Em França, Sarkozy excede-se em amor filial. Em Espanha, Zapatero, o menino de ouro do PSOE, perdão, o maquiavélico de Léon, clama por uma moção de censura da oposição, plasmando a atitude do PS português e dando a estas palavras de Ricardo Araújo Pereira na última Visão uma dimensão ibérica:
"(...) o que se passa é isto: neste momento, Portugal [leia-se Espanha] tem um Governo que não se demite mas acha que a oposição devia demiti-lo, e uma oposição que não o demite mas acha que ele devia demitir-se."
E quando na Europa mais de 80% dos cidadãos consideravam, em 2009, os políticos corruptos, as recentes e patéticas palavras de Gordon Brown só servirão para compor o ramalhete.
20/02/10
A literatura portuguesa na alcova
Este Autor entrevistou Escritores e a todos perguntou se tinham jeito. Os entrevistados, incontornáveis, declararam que as cenas de camas são más - quando escritas por outros -, que os escritores portugueses - os outros -, não são mestres no género. O cronista em quem João Bénard da Costa encarnou também foi ouvido. Afinou pelo mesmo diapasão. Os escritores portugueses são muito bons a dizer que a literatura erótica portuguesa é fraca.
Post roubado com a devida vénia daqui e ilustrado por José Vilhena.
18/02/10
Conversas em família: vira o disco e toca o mesmo
Nada de novo no reino da propaganda. Portanto.
Jobs for the boys: lições para o futuro
Persiste. No entretanto, deixo-vos com a melhor conclusão lida acerca do caso.
Acabou a aventura de Rui Pedro Soares na Administração da PT. Agora, por favor, não vão recrutar mais administradores ao telemarketing. Aqui.
A book a day keeps the doctor away
“Cossacos”, que só seria publicado em 1863, servindo então para pagar uma dívida de jogo do conde russo, é o último livro do seu primeiro período, imediatamente anterior às duas obras-primas que são “Guerra e Paz” e “Anna Karénina”.
Narra as aventuras de Olénin, um jovem sub-oficial que um dia decide trocar a vida citadina de Moscovo por um porvir cheio de promessas homéricas em terras distantes e primitivas: “Todos os sonhos sobre o futuro se juntavam com imagens do Amalat-Bek, das circassianas, dos montes, despenhadeiros, rios de rapidíssima e terrível corrente e dos perigos.”
A novela põe em jogo os dilemas morais recorrentes na obra de Tolstói, traduzidos aqui no antagonismo entre uma vida assente na “lei natural” – a que Olénin vai encontrar no Cáucaso – e o artificialismo das regras sociais que ele conhecia da cidade civilizada. Pelo meio há uma história de amor, personagens fortíssimas, como a do velho Erochka, para o qual não existe pecado, e, sobretudo, há essa capacidade extraordinária de Tolstói para nos dar a ver, de um modo rigoroso e ainda assim compassivo, o fluir complexo da existência humana.
Lev Tolstói, Cossacos – Novela do Cáucasso, Relógio D'Água, 2010
17/02/10
Quando por razões ideológicas se é incapaz de rir de uma piada não há orientação sexual que nos salve
Como em tudo, porém, o melhor é citar os clássicos. E é por isso que cito Lillian Hellman que, quando lhe perguntaram porque nunca tinha apoiado abertamente a causa gay, respondeu: "The forms of fucking do not require my endorsement".
16/02/10
Não levem a mal a pergunta, mas será que os escolhem todos a dedo?
Ler, por favor, este post à luz deste.
De como a minha aversão juvenil aos abaixos-assinados me livrou de cair nas malhas do PC e agora é isto
Enfrentavam-se duas linhas. Uma mais radical, que propunha greves e manifestações; outra, menos radical, que propunha abaixo-assinados. Talvez se tenha chegado a votos, não me lembro. Sei que um dos alienígenas era o Miguel Portas, valha a verdade o único UEC civilizado que conheci durante os meus tempos de estudante revoltada. Eu que na altura não gaguejava em público fartei-me de dizer coisas e de fazer perguntas e, como seria de prever dada a tradição familiar, decidi-me pelas greves e manifestações. O Miguel Portas, suponho que vendo em mim um recrutamento em potência, no final pediu para me falar à parte. Respondi-lhe do alto dos meus 12, 13 anos: “Falar, podes à-vontade, mas olha que não me convences!” O futuro deputado europeu não perderia muito tempo comigo: em menos de cinco minutos ter-me-á diagnosticado com propriedade a doença infantil do comunismo.
E ocorreu-me isto a propósito da quantidade de abaixo-assinados que andam a correr pela NET, alguns subscritos por mim. A democracia amolece-nos, é o que é. O Portas acabou em Bruxelas, eu numa Pastelaria.
15/02/10
14/02/10
O ponto de vista que faltava sobre as escutas, quiçá o defintivo
13/02/10
A coisa está a subir ainda mais de nível: Granadeiro diz-se "encornado"
12/02/10
Ainda não está tudo parvo lá para as bandas do PS (II) ou há quem chame os bois pelos nomes
Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba nunca sequer me cruzei com ele.
Fraquinho no descernimento é, de certeza. Porque se não quis encalacrar os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma providência cautelar para impedir a saída do jornal SOL com mais escutas das suas ruminações telefónicas, justamente numa semana em que os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de liberdade da imprensa.
E se investiu para abafar o jornal, a criatura tambem não percebeu que, ao contrário, projectava ainda mais longe a radiação solar.
Com bóis destes, para que servem ao PS os boys?
Ana Gomes, AQUI
Ainda não está tudo parvo lá para as bandas do PS embora ao Cravinho também o tivessem chutado para canto
«Isto é uma grande questão de Estado e as grandes questões de Estado tratam-se no plano político, frontalmente, com argumentos convictos e com força. Não podem ser chutadas para canto nem podem ser cobertas por floreados formais», disse, esta quarta-feira, no seu espaço de opinião na Renascença.
«É do interesse do Governo, é, fundamentalmente, do interesse do país, da defesa das instituições democráticas, é prova fundamental de sentido de Estado reconhecer que se trata de um problema grave e atacar este problema com a força, a verdade e a convicção que é preciso nestas coisas dando os esclarecimentos que forem necessários e até onde forem necessários», sublinhou.
Isto não será muito científico mas cada vez mais me convenço que quem vê caras vê corações
11/02/10
Há uma coisa chamada providência cautelar e outra chamada desobediência civil. Entre um tal Rui Pedro Soares e o Thoreau alguém tem dúvidas?
"Há suspeitas graves que envolvem pessoas do aparelho de Estado. Não havendo ninguém interessado em desvendar o assunto, cabe aos jornalistas fazê-lo no âmbito do direito à informação, princípio consagrado na Constituição”, continua.
“Que processem os jornalistas. Em última instância, o assunto vai até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e, aí, certamente que serão absolvidos”.
E assino por baixo também daquilo que escreveu Henry David Thoreau, nos idos de 1849, ainda nenhum destes chicos-espertos era nascido. Chama-se "Desobediência Civil" e começa assim:
«Aceito com entusiasmo o lema "O melhor governo é o que menos governa"; e gostaria que ele fosse aplicado mais rápida e sistematicamente. Levado às últimas consequências, este lema significa o seguinte, no que também creio: "O melhor governo é o que não governa de modo algum"; e, quando os homens estiverem preparados, será esse o tipo de governo que terão. O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente; mas a maioria dos governos é por vezes uma inconveniência, e todo o governo algum dia acaba por ser inconveniente.(...)»
Não sei se o Louçã o terá lido em moço.
Alguém tem uma aspirina se faz favor? Obrigada.
Ora aqui está outro que nunca me enganou
Cá para mim, limita-se a escrever e a dizer banalidades que servirão talvez para épater le bourgeois mas pouco mais.
"Vertigem Americana" era uma bosta (quem quiser saber porquê pode ler este post da altura) e, volta não volta, alguém lhe denuncia trapalhadas (no referido post estão algumas).
No seu livro mais recente, "De la guerre en philosophie", depois de arrumar com facilidade Hegel e Marx acrescentou-lhes o Kant.
O tiro, porém, saiu-lhe pela culatra. É que para alicerçar a sua "teoria anti-kantiana" recorreu a Jean-Baptiste Botul (1896-1947), o pretenso autor d' "A Vida Sexual de Emmanuel Kant" que por acaso está vivo, é um brincalhão e chama-se Fréderic Pagès.
Botul, o fake (assim como a vida sexual do filósofo alemão que ninguém pode garantir ter existido), saltou da tumba - ou seja, do anonimato - e desmascarou o "novo filósofo" com idade para ter juízo.
Lévy, comme d'habitude e apesar dos cabelos brancos, armara-se aos cágados.
"Ou bien encore Kant, le prétendu sage de Königsberg, le philosophe sans vie et sans corps par excellence, dont Jean-Baptiste Botul a montré, au lendemain de la Seconde Guerre mondiale, dans sa série de conférences aux néo-kantiens du Paraguay que leur héros était un faux abstrait, un pur esprit de pure apparence - et cela à deux titres au moins: le concept de monde nouménal où s’entend l’écho d’une jeunesse spirite, vécue parmi les ombres et les limbes, dans un royaume d’êtres énigmatiques et accessibles par la seule télépathie; l’idée, ensuite, des catégories de l’entendement, la manie du transcendantal, l’obsession de catégories rigides fonctionnant comme un corset et qui semblent parfois là pour contenir une folie souterraine, donner forme au flux chaotique des sensations, faire barrage à la confusion mentale dont les biographes savent, aujourd’hui, qu’elle le menaçait plus qu’aucun autre - Kant, ce fou furieux de la pensée, cet enragé du concept, dont toute la Critique de la raison pure pourrait se lire, dans ce cas, comme le récit d’un drame intime, une autobiographie secrète et cryptée… Pourquoi est-ce que je dis tout cela?"
Boa pergunta.
Resumindo: o rei ia nu e desta vez toda a gente viu.
O mais divertido, porém, é que o filósofo botulista tenha escrito: [Kant] "era um abstracto falso, um puro espírito de pura aparência." Acho que em psicologia se chama a isto transferência.
10/02/10
Até que enfim um argumento de jeito
09/02/10
Manifestações
Corre na NET a petição Todos Pela Liberdade que inclui convocatória para manifestação, quinta-feira, às 13 horas, em frente à Assembleia da República.
Há muitos anos que não vou a manifestações. A primeira vez que me vi – involuntariamente – metida numa foi, ainda menina e moça, no Festival de Jazz de Cascais, salvo erro em 1973, quando a polícia de choque investiu forte e feio nos espectadores, um deles a perder terreno na fuga por conta dos insultos que não se coibía de lançar sobre as forças da ordem e as forças da ordem a aproximarem-se cada vez mais e eu aos berros “Corre! Corre!” e tudo acabou comigo no carro de um amigo dos meus pais a chorar de raiva e impotência e o desconhecido no chão a levar um enxerto que lhe devem ter aberto a cabeça.
Não penso ir a esta, apesar de se prever bem mais calma*. Não porque não preze a liberdade. Olá se prezo! Não porque me sinta incomodada por participar numa manifestação ao lado de pessoas com as quais pouco ou quase nada terei em comum (não vale a pena estar sempre a citar aquela frase do não concordo nada com as suas palavras mas defenderei até à morte o seu direito a proferi-las e tal e tal). Não, certamente, por obscuras e requentadas elucubrações ideológicas. Nem sequer por causa da treta pragmática da alternativa ou da falta dela.
A razão é outra. É porque vi, com estes que a terra há-de comer, que a liberdade (de imprensa, que julgo ser aquilo que está fundamentalmente em causa aqui) tem muito menos que ver com Sócrates, himself, do que com uma vaga de fundo que começou a varrer o jornalismo há um par de anos, com a demissão (compulsiva) de poucos e a demissão (acobardada) de muitos – bastante antes de haver faces ocultas que favorecessem o medo.
Explicada a minha discordância, se alguém quiser convocar uma manifestação contra isto – força!
* o que não me impediu de assinar a petição por concordar genericamente com ela
08/02/10
E agora para algo completamente diferente ― protótipo de carta queirosina a ser enviado a qualquer serviço público, privado ou misto quando necessário
Dois factores igualmente importantes para mim me levam a dirigir a V. Ex.ª estas humildes regras: o primeiro a tomada de Cuenca e as últimas vitórias das forças carlistas sobre as tropas republicanas, em Espanha; o segundo é a falta de água na minha cozinha e no meu quarto de banho.
Abundaram os carlistas e escassearam as águas, eis uma coincidência histórica que deve comover duplamente uma alma sobre a qual pesa, como na de V. Ex.ª, a responsabilidade da canalização e a do direito divino.
Se eu tiver a fortuna de exacerbar até às lágrimas a justa comoção de V. Ex.ª, que eu interponha o meu contador, Exmo. Senhor, que eu o interponha nas relações da sensibilidade de V. Ex.ª com o mundo externo! E que essas lágrimas benditas, de industrial e de político, caiam na minha banheira!
E, pago este tributo aos nossos afectos, falemos um pouco, se V. Ex.ª o permite, dos nossos contratos. Em virtude de um escrito, devidamente firmado por V. Ex.ª e por mim, temos nós – um para com o outro – certo número de direitos e encargos.
Eu obriguei-me para com V. Ex.ª a pagar a despesa de uma encanação, o aluguer de um contador e o preço da água que consumisse. V. Ex.ª, pela sua parte, obrigou-se para comigo a fornecer-me a água do meu consumo. V. Ex.ª forneceria, eu pagava. Faltamos evidentemente à fé deste contrato: eu, se não pagar, V. Ex.ª, se não fornecer.
Se eu não pagar, V. Ex.ª faz isto: corta-me a canalização. Quando V. Ex.ª não fornecer, o que hei-de eu de fazer, Exmo. Senhor?
É evidente que, para que o nosso contrato não seja inteiramente leonino, eu preciso no caso análogo àquele em que V. Ex.ª me cortaria a mim a canalização, de cortar alguma coisa a V. Ex.ª... Oh! E hei-de cortar-lha!...
Eu não peço indemnização pela perda que estou sofrendo, eu não peço contas, eu não peço explicações, eu chego a nem sequer pedir água! Não quero pôr a Companhia em dificuldades, não quero causar-lhe desgostos, nem prejuízos!
Quero apenas esta pequena desafronta, bem simples e bem razoável perante o direito e a justiça distributiva: quero cortar uma coisa a V. Ex.ª!
Rogo-lhe, Exmo. Senhor, a especial fineza de me dizer imediatamente, peremptoriamente, sem evasivas, nem tergiversações, qual é a coisa que, no mais santo uso do meu pleno direito, eu posso cortar a V. Ex.ª.
Tenho a honra de ser,
De V. Ex.ª
Com muita consideração e com umas tesouras,
Eça de Queirós
[esta é para ti, Francisco]
Confesso que fiquei comovida
06/02/10
A book a day takes the doctor away
O relato dessa ligação resultou no colorido “O Filósofo e o Lobo”, um ensaio maravilhoso sobre o que se pode aprender sobre os homens vivendo com um canis lupus.
A primeira tese do livro – mais do que uma tese, é um aviso aos leitores que, seduzidos pelas aventuras narradas, as pretendam repetir – é que um lobo não é um cão; e embora Rowlands já imaginasse que assim fosse, imaginava-o apenas de uma maneira vaga. Quando chegou a casa com Brenin e em cerca de quinze minutos lhe foi dado avaliar, pela experiência, o grau (catastrófico) das diferenças, o então jovem filósofo retirou a única conclusão que se impunha: “nunca, mas mesmo nunca, (…) podia deixar Brenin sozinho em casa. (…) Os lobos, aprendi, aborrecem-se muito, muito rapidamente – 30 segundos sozinhos, normalmente é quanto basta”.
Nesta altura estamos ainda no princípio da vida conjunta de ambos… e no princípio do livro. O que se segue é um excepcional, divertido e comovente ensaio filosófico (apesar de as palavras “divertido” e “comovente” raramente nos ocorrerem quando lemos filosofia) sobre coisas tão diversas como a felicidade, a ética (incluindo os direitos dos animais), Deus ou a morte. Além, claro, de ser uma reflexão (com muito, muito de empírico) sobre o que é “ser homem” e o que é “ser lobo” (ou, se preferirem, sobre o “ser” de cada um dos referidos “entes” – a excentricidade de Rowlands permite-lhe, entre muitos outros, citar Heidegger).
À medida que o relato prossegue, vamos ficando a perceber que, segundo o companheiro de Brenin, os primeiros "entes" (ou, mais genericamente, os “símios”) não saem (estética e moralmente, pelo menos) a ganhar aos segundos (os “lupinos”). À cultura requintada da dissimulação e da mentira, à qual séculos de evolução conduziram vitoriosamente os primatas, o autor de “O Filósofo e o Lobo” contrapõe a existência do lobo, assente na fruição do presente, na força destemida, sem truques, mais próxima de Dionísio do que de Apolo.
Não se trata, porém, de humanizar o lobo; muito menos de vender qualquer teoria pronta-a-usar que nos garantisse coisas tão tolas e requentadas como a que devemos “viver o momento” (Rowlands é claríssimo a este respeito: “nunca aconselharia ninguém a fazer algo que é impossível”). Trata-se, antes, de um livro exigente, apesar de leitura acessível, porque nos coloca – nus – face à nossa existência, escolhas, esperanças ou momentânea sorte. Um livro que nos propõe viver com a “impassibilidade de um lobo”. Aposta decerto “demasiado difícil e demasiado austera”, mas, como escreve Rowlands, “no final, só os nossos desafios nos podem redimir”.
O Filósofo e o Lobo, Mark Rowlands,Lua de Papel, 2009
05/02/10
Se isto não é suspeito que venha Moisés e faça da Pastelaria uma extensão do Egipto*
* este post não respeita o novo acordo ortográfico e na Pastelaria nunca ninguém nos verá a escrever "EGITO". Aliás, não sei como as luminárias que tiraram o "p" a EGIPTO, suponho que com base no extraordinário argumento que não se pronuncia, resolvem a questão da palavra EGÍPCIO — será que nos vão obrigar a ler "EGÍTIO"?!
Isto é tudo o que me apraz dizer sobre finanças regionais
04/02/10
Calhandrice, privacidade e... cambalhotas
e peço desculpa por o parágrafo ir tão longo, mas é que esta porra da CALHANDRICE sempre me irritou e não é de hoje…
dizia, pois,
enquanto uns tentam elevar a CALHANDRICE à condição de arte suprema propondo que as declarações de rendimentos de TODOS os portugueses fiquem disponíveis online, outros, que podem ou não ser os mesmos, desataram a invocar o princípio da PRIVACIDADE na tentativa de desvalorizar uma alegada conversa tida num restaurante na qual, entre outros protagonistas, aparece metido ao repasto – e porque será que não ficamos surpreendidos? – o primeiro-ministro em exercício.
E digo “em exercício” porque não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe.
Dado que não almoçavam em casa mas sim em local público, e dado que falaram suficientemente alto para que outros comensais pudessem registar o teor da referida, não se percebe porque raio vêm agora invocar a PRIVACIDADE com o fito de rebaixar afirmações que ainda não vi ninguém desmentir, nem sequer o director de programas da SIC, Nuno Santos, que se limitou a explicitar que “a conversa não se passou da forma como é descrita” não percebendo eu porque é que ninguém lhe pergunta se quanto ao “conteúdo”, e não à forma, é ou não verdade que José Sócrates se referiu ao Crespo como um problema a solucionar.
Sobre este assunto da CALHANDRICE versus PRIVACIDADE, de momento, a única coisa que me ocorre é fazer minhas as palavras (um pouco gongóricas, é verdade…) que um condómino anónimo (e repare-se, já agora, como“condomínio” passa a metáfora na proposta calhandreira de Jorge Strecht Ribeiro e depois "psicótico" é o outro...),
... dizia
resta-me fazer minhas estas palavras afixadas no elevador do prédio de um amigo. Reproduzo.
«Lamento referir-me a um assunto tão íntimo vosso, mas é por este acabar por ser tão íntimo que vos alerto.
Todos gostamos de dar uma boa “cambalhota”, é natural. Todavia é importante ter consciência se o condomínio “assiste” a tal acto tão privado. A verdade é que “assiste”! Não visualmente, é óbvio, mas a barulheira que é feita no árduo desempenho do acto, certamente acordaria qualquer morto que estivesse num cemitério próximo.
Confesso que os gemidos femininos incomodam, incomodam muito, ritmados com sons diversos e misturados com gritos e alusões a Deus!!!!! Isto durante horas… só quando acabam os gemidos se ouvem vozes e, aí sim, uma forte e masculina.
Não será preciso ser engenheiro para se perceber que os ruídos e as vibrações estruturais são os mais difíceis de isolar e os mais incomodativos. Se ainda a isto juntarmos alguns gritos de prazer e algumas alusões a Deus, a situação torna-se de facto insustentável.
Portanto, a sugestão vai de imediato: a utilização de um osso na boca da senhora, morda-o com força mas por favor não berre, passem a dar a “cambalhota” no chão, tendo a preocupação da contenção nos já referidos gritos e alusões.
Dêem as “cambalhotas” que tiverem de dar, mas, por favor, deixem-me dormir. Começo a perder a sanidade mental e espero não saber nunca qual a habitação!
Assinado: um vizinho desesperado.»
Se trocarem "cambalhotas" por "almoço" acho que percebem onde quero chegar.
02/02/10
Ao menos na Pastelaria toda a gente sabe que é muito feio falar alto à mesa
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