29/12/11

Só agora vi e cheguei a uma conclusão triste: nem os mortos cooperam com as autoridades. Assim é impossível!

Um estudo secreto encomendado pelo governo terá provado uma relação íntima entre a mentira e a epilepsia (e eu vou começar a escrever palavrões!)

A conclusão do estudo levou a que a isenção de taxas moderadoras para epilépticos fique sujeita ao controlo de juntas médicas.
"Os epilépticos são uma cambada de aldrabões!", disse uma fonte que quis manter o anonimato.
Um dos autores do estudo acrescentou, também sem querer revelar a sua identidade:
"Andam por aí a espumar da boca e a assustar as crianças mas isso agora vai acabar! Controlem-se que eu também me controlo. É inadmissível que se achem no direito de distribuir choques eléctricos às pessoas na via pública e que o façam, ainda por cima, roubando dinheiro ao Estado."

26/12/11

Prost Herr Jens Weidmann!

Desconheço se algum leitor destas linhas terá tido oportunidade de ver um cidadão germânico alcoolizado. Um cidadão germânico alcoolizado é um prodígio da natureza. Corpulento, costas robustas, pescoço largo e pernas subidas e fortes, é bem um descendente de Odin, senhor da guerra e da tempestade, e de Thor, cujo martelo lançava raios. Para uma ideia mais precisa: a seu lado, um cidadão britânico alcoolizado faz figura de bebedor de chá.
Claro que há cidadãos germânicos alcoolizados franzinos e de aspecto quebradiço mas, mais raros e de estatura inferior, passam despercebidos. Para além da dimensão corpórea, os cidadãos germânicos alcoolizados costumam possuir vozes possantes e másculas, o que se nota, sobretudo, quando desatam a entoar melodias de colorido local, habitualmente escoltadas pela ingestão de grandes quantidades de cerveja.
Escusado acrescentar que comparar um cidadão germânico alcoolizado com um cidadão português alcoolizado seria o mesmo que comparar Maomé com a montanha, sem desmérito para o profeta a quem, como se sabe, foram proibidos os néctares da Ibéria.
Diga-se, contudo,que a grande vantagem de um cidadão português alcoolizado reside, precisamente, no que, à primeira vista, poderia ser considerado um handicap.
Mais chupado de carnes e de músculo, logo, de menor força física, acaba por constituir um risco de somenos. Quando tropeça ou cai, fá-lo sem provocar grandes estragos e, porque mais dado à melancolia lusa do que à exuberância teutónica, canta menos (ou, pelo menos, mais baixinho), acabando por adormecer (o próprio ou quem tenha a desdita de lhe aturar os queixumes) antes do coma alcoólico.

Espero, com este singelo apanhado, ter contribuído para tranquilizar o presidente do Bundesbank que, recentemente, diagnosticou o problema da dívida como um problema de alcoolismo. Apesar de leiga na matéria e apenas gostar de citar, sobre o assunto, este diálogo de John Ford em “A Paixão dos Fortes”: “Já alguma vez estiveste apaixonado? Não, fui barman toda a vida.”

19/12/11

Justiça para todos

Longe dos 103 anos de Manoel de Oliveira, terei vivido o bastante para saber que aquilo da Justiça ser cega, surda e muda não é para levar à letra.
No seu melhor, a justiça será zarolha de um olho, surda de um ouvido e gaga como Demóstenes; tendencialmente justa, se quisermos brincar às charadas. Antes isso, porém, do que o pesadelo kafkiano de crianças cortadas ao meio.
A ironia salomónica é um risco: ou por alguém a levar a sério ou por servir para pouco, última hipótese ilustrada neste diálogo retirado do “Manhattan”:
“Isaac: Has anybody read that the Nazis are gonna march in New Jersey? (…) We should godown there (…), get some bricks and baseball bats and really explain things to them.
Party Guest: There is this devastating satirical piece (…) in the Times.
Isaac: Well, a satirical piece inthe Times is one thing, but bricks and baseball bats really gets right to the point.”
Sem mais delongas e directa “to the point”, quero partilhar consigo, “hypocrite lecteur – mon semblable –, mon frère!”, a agradável surpresa que foi assistir, por uma vez, à celeridade da justiça portuguesa.
“Não, não voltarás a abanar fortemente as grades!”, ficou a saber um dos manifestantes condenado por distúrbios em frente à Assembleia da República. Segundo o juiz, de “personalidade desconforme às normas sociais”, o réu levou com seis meses de prisão com pena suspensa por um ano. O outro, uma jovem de 16 anos, pena idêntica por arremesso de uma pedra às forças policiais, e apesar de nada nos ser dito sobre o seu grau de perigosidade psicológica decerto numa mais confundirá uma concentração junto à AR com a cena deapedrejamento do “Vida de Brian”, até porque, como é explícito no filme, “está escrito” que as mulheres não podem ir a apedrejamentos.
Aguarda-se agora que a mesma urgência seja aplicada a outros processos pendentes, entre os quais destaco, aleatoriamente: caso Isaltino Morais, submarinos, Casa Pia, Portucale, BPN,Freeport, Face Oculta…
Não se pode comparar o incomparável? Também acho.

17/12/11

Bailemos!


Cesária Évora (1941-2011)

Por que razão o carácter também é importante nos políticos? Christopher Hitchens explica

Morreu Christopher Hitchens. De cancro. Aos 62 anos. Um dos mais veementes opositores da religião organizada.
Houve cristãos, piedosos, que rezaram para que se convertesse antes da morte; e outros houve, impiedosos, que aplaudiram o castigo divino pela sua vida de devassidação e blasfémia. Uns oraram pela sua cura; outros para que apodrecesse o mais rápido possível no inferno.

Hitchens, claro, não se arrependeu no final. Era um guerreiro:

“Beware the irrational, however seductive. Shun the 'transcendent' and all who invite you to subordinate or annihilate yourself. Distrust compassion; prefer dignity for yourself and others. Don't be afraid to be thought arrogant or selfish. Picture all experts as if they were mammals. Never be a spectator of unfairness or stupidity. Seek out argument and disputation for their own sake; the grave will supply plenty of time for silence. Suspect your own motives, and all excuses. Do not live for others any more than you would expect others to live for you.”

Sobre os políticos, diz isto que diz tudo:
«(...) Um dos traços "conservadores" do pensamento de Hitchens está nesta preocupação insistente com o carácter das figuras políticas. O exemplo de Richard Nixon: apesar de psicopata perigoso, Nixon foi também um Presidente que lançou algumas políticas progressistas no domínio da saúde. Deveremos valorizar apenas este último aspecto? A importância do carácter está na sua permanência, argumenta [Hitchens]. "Os políticos podem mudar de políticas de saúde, mas não o facto de serem psicopatas."»
Se isto é ser conservador, sou conservadora com todo o prazer.

Ah! E, e já agora, também gosto particularmente destas palavras de Hitchens sobre a Madre Teresa de Calcutá, senhora que sempre me irritou supinamente [tenho uma certa dificuldade com as pessoas "boazinhas"]:

“[Mother Teresa] was not a friend of the poor. She was a friend of poverty. She said that suffering was a gift from God. She spent her life opposing the only known cure for poverty, which is the empowerment of women and the emancipation of them from a livestock version of compulsory reproduction.”

11/12/11

“Não é desgraça ser pobre”

O enunciado vem no Luís de Camões. Portugal daria novos mundos ao mundo, vaticinava Júpiter n’ Os Lusíadas, e o facto é que aconteceu.
A última vez que tal coisa vimos foi quando da criação do Allgarve, golpe d’asa do ex-ministro Manuel Pinho, profeta inovador, além de temerário.
Se digo temerário, não o faço para proveito próprio ou estilístico, antes porque recordo “o esforço e valentia” com que enfrentou a maldição de Garrett que tantos lhe imprecaram (aquando da demolição da casa do escritor no bairro de Campo de Ourique, entretanto adquirida pelo ministro).
E recorde-se: nem mesmo quando os mais arreigados maldizentes, “por manha e falsidade”, o ameaçam com o fantasma da “menina dos rouxinóis” Joaninha de seu nome, versão da Murta Queixosa antes de haver Harry Potter Manuel Pinho se acobarda. A nova casa está lá, para mostrar e provar a fibra de que é feita a gesta lusitana.
Não vive o seu melhor momento a gesta lusitana apesar de a entrada do fado no Património Oral e Imaterial da Humanidade, batendo, por exemplo, o kung fu de Shaolin, embora, precisamente por ser imaterial, tal distinção não pareça vir resolver grande coisa.
Como, porém, é sabido, nem só de pão vive o homem, ou, em francês: “S’ils n’ont pas de pain, qu’ils mangent de la brioche”, não sendo também de mau tom citar Mário Cesariny: “(...)/Que afinal o que importa não é haver gente com fome/ porque assim como assim ainda há muita gente que come/(...)”.
Segundo o recente relatório da OCDE, Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising, ainda haverá por aí muita gente que come mas o fosso entre os ricos e os pobres atingiu o nível mundial mais elevado das últimas três décadas.
E como o relatório não inclui dados deste ano annus horribilis que dará lugar daqui a pouco a outro annus horribilis (oxalá me enganasse!) nem sei o que diga mais. Talvez a solução esteja no crowding out ou, então, é ao contrário: a culpa é do crowding out.
Vá-se lá entender os místicos!

07/12/11

Figuras tristes ou como ainda não foi desta que o D. Sebastião voltou num cavalo branco

Este resumo vídeo da palestra (?) de José Sócrates diz muito do próprio e do país.

1. Do país, porque um encontro estudantil qualquer em Poitiers (terra simpática!) do ex-primeiro-ministro aparece nos órgãos de informação portugueses com tal destaque que dir-se-ia que o homem fora convidado a discursar nas Nações Unidas;

2. Do próprio, porque só diz e desdiz banalidades, continua a arvorar-se em pensador de esquerda (é pena que não tenha explicado a história das dívidas eternas a Merkel quando se vangloriava do apoio que esta lhe dava...) e a viver obcecado em parecer um homem de "estudos".
É triste, é parolo e é doentio.

Reafirmo, assim, o que sempre achei: o problema do Sócrates nunca foi essencialmente político mas, sobretudo, psicológico. A combinação dos dois, BUMMM!!!.

03/12/11

No pasa nada

Rendida ainda ao fluxo memorialista que vem caracterizando estas crónicas (na última falei dos pardais de meu avô e na penúltima da peritonite de meu pai), vou agora debruçar-me sobre umas das derradeiras manifestações em que participei, esperando com tal evocação deixar claro a todos os que me lêem (Obrigada! Obrigada! Obrigada!) que o país se mantém assim a modos que idêntico, pelo menos desde que O’Neill escreveu aquele soneto que começa assim: “Daqui, desta Lisboa compassiva, / Nápoles por Suíços habitada/”, etc.
Era 1975. O camarada Vasco queria mandar gente para a Sibéria (soi-disant), Otelo queria mandar gente para o Campo Pequeno, e o ELP, grupo de extrema-direita, queria mandar gente desta para melhor.
No fim, como é sabido, Soares reuniu com Carlucci e o socialismo foi metido na gaveta mais ou menos pela mesma altura em que passava na Brasil o último episódio da “Gabriela, Cravo e Canela”, novela que, dois anos depois, despovoaria as ruas portuguesas durante o horário nobre.
Era, pois, 1975. A Rádio Renascença fora ocupada, estava a ser ocupada, ou ia ser ocupada. Não me lembro. Lembro-me, sim, que havia muita gente na Rua Capelo e que quando lá cheguei me perguntaram: “Vens para a manifestação de apoio aos trabalhadores?” Respondi que sim, ora essa, e o homem disparou, sem me dar tempo sequer de ir tomar um café na Brasileira: “Vais para o piquete das pedras!”, e pôs-me um capacete da Lisnave na cabeça.
Cheguei ao piquete das pedras (as pedras muito bem arrumadinhas a um canto) e não conhecia ninguém. Fartei-me de esperar pelas forças da reacção que nunca mais chegavam para ser apedrejadas, devolvi o capacete e disse que ia só ali.
Distraí-me com um soldado que explicava aos passantes como manejar uma arma, reparei que se fizera tarde, tinha um comboio para apanhar e fui para casa.
Ocorreram-me estes acontecimentos de antanho, ao ler as recentes declarações do porta-voz da PSP, a propósito da concentração em S. Bento no dia da greve geral.
Cito: “O agente tem contusões nos braços, escoriações no crânio e as últimas informações indicam que está livre de perigo”.
E fora agredido com quê: com um guarda-chuva hostil? Pergunto.

28/11/11

Graçolas

O meu avô pintava pardais de amarelo e depois mandava-os vender como se fossem canários.
Escolhia rigorosamente – não os pardais – mas as vítimas da trapaça: entendidos em canto do Harz, ornitólogos curiosos e avicultores com licença, criadores de aves domésticas e mesmo um ou outro patrício alheio à ciência das aves.
Tais destinatários tinham um denominador comum: de doutos nada tinham, embora vertessem saber pelos cafés da terra. Naturalmente, havia queixas: “Que não canta, Miguel! Que não canta!”; “Há-de cantar, há-de cantar!”; até que uma repentina chuva ou a mudança de penas punha a descoberto o engodo e o tom do original.
Meu avô gostava de “pregar partidas”.
Sem nunca ter lido o Livro do Riso de Aristóteles, e muito menos Umberto Eco que o inventou já ele tinha morrido, sabia, intuitivamente, que “se o homem das cavernas tivesse sabido rir, o curso da História teria sido diferente”, Oscar Wilde.
Imaginemos agora por um momento que os cave people trocavam graçolas enquanto caçavam mamutes.
Aposto que largariam umas boas gargalhadas se vissem o tão falado vídeo da Sábado, uma colectânea de asneiras proferidas por estudantes universitários.
Deixemos de lado a manipulação das imagens e o “vale tudo” da sobrevivência. Rir de quê? Da miséria cultural dos entrevistados? Se for isso, melhor fariam em chorar porque algum deles ainda chegará ao poder (“In my flifetime, we’ve gone from Eisenhower to George W. Bush. We’ve gone from John F. Kennedy to Al Gore. If this is evolution, I believe that in twelve years, we’ll be voting for plants”, Lewis Black).
Se for para insinuar que o ensino público só produz ignorantes e que isto era muito melhor quando era cada um em su sitio, uma pergunta para os responsáveis da peça.
Quem foi o presidente da República que disse: “Comemora-se hoje em todo o país uma promulgação do despacho número 100 da Marinha Mercante Portuguesa, a que foi dado esse número não por mero acaso, mas porque ele vem na sequência de outras 99 anteriores promulgações”?
Um canudo em comunicação social a quem souber a resposta.

26/11/11

Slow motion

Quando voltarmos ao activo, reactivaremos os comentários.
Até lá, vão passando. Pode ser que se arranje qualquer coisinha.
Gratos pela preferência.

19/11/11

Os canadianos, esses sornas

Não fora a peritonite de meu pai e eu seria, se não loura, indiscutivelmente alemã.
Passo a explicar.
Antes de ser chegado o ano de 1961 (início da Guerra Colonial), o meu progenitor, cheirando-lhe que a coisa em África em breve se tornaria feia, resolveu abandonar o solo pátrio e fazer-se à estrada. Rumou à Alemanha.
Apanhou um táxi, e foi do Algarve a Hamburgo com passagem por Paris, cidade onde pôde observar pela primeira vez, ao vivo e a cores, Le baiser de l’hôtel de ville de Robert Doisneau.
Já em solo germânico, caiu em plena reedificação do país. Quando começaram a construir o Muro de Berlim, vivia na cidade e é, então, que sofre um ataque de apendicite aguda.
Estes dois factos não estarão relacionados, mas a posterior peritonite foi, sem margem para dúvida, consequência directa da infecção do apêndice intestinal.
Sobreviveu com dificuldade, para no fim ganhar um atestado que o dava como incapaz de fazer a guerra; voltou a Portugal de comboio, já Oliveira Salazar proferira a célebre frase Para Angola, rapidamente e em força.
Na fronteira, um membro da Polícia Internacional e de Defesa do Estado verifica o passaporte e estranha-lhe o regresso: a autorização de saída caducara há muito.
“O que foi o fazer à Alemanha?”, perguntou-lhe o homem.
“Aprender alemão”, respondeu meu pai.
“O senhor está ilegal. Qual a razão do regresso?”, insistiu o agente da autoridade.
“Constou-me que a Pátria estava em perigo!”, justificação que muito impressionou o PIDE que quase lhe faz continência, enquanto o meu pai acaricia o atestado que leva no bolso e remata o diálogo com um sonoro Schwein! à laia de despedida, escudado no hermetismo da deutsche Sprache.
Não fora, pois, a inflamação da membrana peritoneal paterna e eu seria patrícia de Angela Merkel, com direito apenas a 10 feriados anuais contra os 14 portugueses, o que explica decerto a pujança teutónica versus recessão lusa, se bem percebi o discurso do Ministro da Economia recentemente chegado de terras do Canadá onde, por acaso, o regabofe é igualzinho ao nosso.

17/11/11

Pessoas boas, a tua tia ó Kröger!

O alemão Jürgen Kröger, um dos representantes da troika que nos calhou em sorte, é um querido.
Em Lisboa, onde fiscaliza o bom comportamento do governo (?) português, não só nos garantiu que Portugal não é a Grécia (what a relief, man!) mas também que somos "gente boa".
Como é que ele terá concluído tal coisa?
Andou a reler o Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas do Gobineau ou terá tido tempo de ir medir narizes para o Rossio?

15/11/11

Para isto, minhas senhoras e meus senhores, é preciso coragem e o resto é conversa

Chama-se Aliaa Elmahdy e é egípcia. A poucas semanas das eleições, publicou uma série de fotografias no seu blogue que a fizeram tornar-se notícia em todo o mundo. Não faltará quem venha dizer que a jovem quer é visibilidade, quiçá ganhar uns dólares. A esses, recordo apenas que há países onde toda a nudez será castigada. A sério.

Coisas boas, boas, boas

14/11/11

O João César das Neves está indignado e sentiu um arrepio nas costas [ou o grau zero do pensamento]

Diz ele que somos uns ingratos. Que já os avós dele eram uns ingratos. Que já os pais dele eram uns ingratos.
Neves, porém, viu a Luz: "quem quer mais do que tem nunca aproveita o que há!"
E, enquanto isto, Bárbara ressona serenamente na tenda ao lado.

Viva o Alvarinho ou razão tem o João Lisboa: há comentários que valem mil posts

"O Alvarinho foi escolhido para ministro por duas razões, seguindo um reflexo irresistível do provincianismo local:
i) vem de um país desenvolvido,
ii) os seus méritos técnicos permitiram-lhe fazer carreira nesse el dorado místico, que é o conjunto probabilístico Universo-excluíndo Portugal; no seu caso específico, o Canadá.
Ambas as razões apontam para o amor e respeito por tudo o que é extranacional — tão pacóvios, quanto seculares em nós — como origem dessa opção.
Não é necessário esperar pelo fim de uma frase, para se sentir a brisa temperada a couve-galega e sopas-de-cavalo-cansado, evolando-se do patuá ministerial. Há uma subtil declinação beirã, se dúvidas restassem.
Sim, o Álvaro é um parolo, como demonstram as suas parolas declarações sobre assuntos triviais. A própria lógica, subjacente ao tema dos feriados, faria corar um pastor barrosão na sua simplicidade, o que dá boa medida do parolismo praticado pelo Álvaro.
Surpreendentemente — ou não, tratando-se claramente de um parolo enrustido — o Álvaro não aprendeu, nesse distante planeta Krípton da civilização superior canadiana, os rudimentos da boa prática académica e da honestidade intelectual.
É que há muita coisa que uma universidade canadiana pode modelar, ou transformar, no bicho-Homem, mas o bronco lusitano tem carapaça de titânio.
Parolamente, o Álvaro não saberá utilizar a internet, senão facilmente descobriria comparações entre níveis de produtividade e feriados para vários países do mundo anglo-germanicamente desenvolvido. Muitas vezes, ilustradas com profusão pornográfica de representações gráficas.
A leviandade domingueira com que o Álvaro tenta fazer passar cidadãos por aldeões medievais, é a mesma que assistiu à sua desautorização de um grupo de estudo afecto ao governo onde se integra, quando – no espaço de tempo que leva uma castanha a cair de um banco corrido —catalogou uma decisão do “seu” grupo como absurda.
Mas é bom técnico e veio de fora. Para quem é, bacalhau basta.", André
Descoberto aqui, com origem aqui.

Dia 20 apaguem-se as luzes e a ver se o Mexia aprende o que é esforço equitativo

Transcrevo a informação que circula pela Internet e que apela a um boicote nacional à EDP no próximo dia 20 deste mês. Eu, por mim, já tenho uma velas à mão. Para o boicote, e para quando não houver "almofada" para pagar a factura.

«Vamos utilizar o nosso poder. Dia 20 de Novembro às 15.00 horas. A EDP já teme os prejuízos desta medida na escala dos vários milhões de portugueses, que estão conscientes do abuso a que estão sujeitos. Já recebi este e-mail 17 vezes nos últimos dias. Continuem a partilhar». «A EDP mantém um nível de lucros totalmente incompatível com o estado do país e com os sacrifícios exigidos a todos nós. A EDP tem mais poder que o Governo de Portugal e conseguiu (vá-se lá saber por que vias) impedir uma medida que visava minorar os brutais aumentos da energia que se estão a verificar - e que vão, certamente, aumentar ainda mais os ditos lucros». «A EDP mantém um monopólio (não de jure, mas de facto) uma vez que a concorrência não oferece aos consumidores domésticos (por exemplo) taxas bi-horárias». «Proposta: no dia 20 de Novembro de 2011, às 15:00, a nível nacional, vamos, todos nós consumidores domésticos, desligar tudo durante uma hora (os nossos congeladores aguentam mais do que isso quando há uma «anomalia» na rede que nos deixa sem energia e as baterias dos nossos portáteis também)». «Vamos repetir a acção até a EDP ter de nos pedir para parar com a coisa. Na qualidade de bons cidadão, que todos somos, pararemos mas só se os preços forem ajustados de forma a que os lucros da EDP se acertem pelo razoável, pelo socialmente justo e pelo moralmente correcto. Se gostarem da ideia, espalhem. Veremos no que dá».

12/11/11

Ainda sobre o facto de o Messias ter aparecido no "Avante"...

Embora a contragosto, devo confessar: enganei-me! As notícias vindas a público acerca do facto de o camarada Jorge Messias, cronista do PCP, não gostar de judeus são manifestamente exageradas, como bem explicou, aliás, Jerónimo de Sousa: “Nós gostamos de toda a gente, excepto do Drº Mário Soares” (citação apócrifa).
Tudo começou quando Messias resolveu rivalizar, nas páginas do “Avante”, com Dan Brown e José Rodrigues dos Santos.
“A rede conspirativa que se vai instalando na terra tem claramente origem em formações capitalistas proclamadamente religiosas. Basta olhar-se para o esquema organizativo que vai chegando ao conhecimento público para nele se reconhecer a mãozinha sinuosa dos jesuítas e dos illuminati maçónicos”, escreveu logo a abrir.
No intuito de corroborar a sua tese, o cronista ignorou As 7 Profecias Maias, As Profecias de Nostradamus, o Manual Prático do Vampirismo (Paulo Coelho), ou mesmo The Threat Revealing the Secret Alien Agenda, do conceituado especialista em raptos alienígenas David Michael Jacobs, preferindo fundamentar-se no Protocolos dos Sábios de Sião.
Os judeus — que, desde que lhes aconteceu o que lhes aconteceu, se tornaram, vá lá saber-se porquê, sensíveis a certos temas — resolveram vir lembrar duas coisas.
Uma delas, sabida pelo menos desde 1921 (Jorge Messias ainda não teria nascido…), é que os Protocolos… são uma refinada treta, criação da polícia secreta do Czar Nicolau II para liquidar certos problemas internos; uma espécie de “arma de destruição maciça” avant la lettre.
A segunda é que, enquanto “arma de destruição maciça” a coisa resultou muito bem, com Hitler a citá-los no Mein Kampf e a usá-los como (mais um) pretexto para a “Solução Final”.
Assim sendo, termino apenas com um conselho a Jorge Messias: a próxima vez que quiser explicar o estado do mundo aos leitores do “Avante”, é preferível ficar-se pelo conceito de “luta de classes”.
Será um conceito problemático, mas Marx (outro judeu, caraças!) já não está entre nós para lhe dar chatices.

10/11/11

Isto já não é um tratado sobre a dieta mediterrânea é a grande bouffe em todo o seu esplendor

Vara respondeu com alheiras aos robalos do Godinho

A book a day keeps the doctor away: "Comissão das Lágrimas", António Lobo Antunes

Disse em tempos Eduardo Lourenço, a propósito da escrita de António Lobo Antunes, que “a África foi o espelho no qual ele pôde ver melhor o delírio da experiência portuguesa”, mostrando-nos “não apenas a morte em África, mas a nossa própria miséria, os nossos terrores sepultos” (António Lobo Antunes. A Crítica na Imprensa 1980-2010 Cada Um Voa Como Quer, Edição Ana Paula Arnaut, Almedina, 2011, p. 257).
O escritor, depois de recentemente ter andado por lá perto no belíssimo O Meu Nome É Legião, volta a render-se ao tema, agora num mergulho em apneia que tem como ponto de partida um episódio histórico.
Comissão das Lágrimas, cujo título retoma, com exactidão, o nome pelo qual ficou conhecido a comissão que, em Angola, seleccionou e enviou sumariamente para a morte os presumíveis envolvidos no golpe fratricida de 27 /05/1977, ter-lhe-á surgido a partir da história trágica de Elvira, conhecida por Virinha, uma militante do MPLA que, torturada e assassinada na sequência dos acontecimentos, se tornaria num símbolo de resistência: “a rapariga sem língua continua a cantar, erguíamo-la do chão e continuava a cantar, atirávamo-la contra o cimento e continuava a cantar, não se cala (…)”, p. 47.
Se o livro se funda no real, este, porém, apenas lhe serve de pretexto e, como sempre em António Lobo Antunes (uma das razões por que é grande), o particular depressa cavalga o universal.
Aqui, África é, de facto, um “espelho no qual ele [pode] ver melhor o delírio da experiência portuguesa”, mas também o sofrimento que nos calha a todos.
O romance retoma o chamado registo polifónico habitual (“o meu ofício é traduzir vozes”, p. 128), organizando-se em torno de três personagens principais: Cristina, que está internada numa clínica, assombrada por vozes que não lhe dão descanso; a sua mãe branca, Alice/Simone, ex-dançarina de plumas de lantejoulas que “coxeia [agora] a sua desgraça”, p. 49; e António, o preto a quem os brancos não deixaram ser padre, o pai (?) torcionário que, em Lisboa, continuará “à espera que o matem”, p. 49.
A polifonia é contrariada pelo cruzamento intrincado dos registos e pela dúvida que se instala ao longo do texto. Quem fala? E, quem fala, diz a verdade ou delira?
O tema da verdade que é, afinal, o tema que importa a todos os Inquisidores confunde-se, assim, nas memórias (reais? inventadas?) de Cristina na clínica e nas confissões arrancadas pela Comissão das Lágrimas, mais a confissão a que António é obrigado no seminário: “(…) perguntavam-me Desonraste a Divindade? e não era que não quisesse contar, era que não achava o que devia ser contado, pensava Ensinem-me o que deve ser contado ou Ensinem-me o que querem que eu conte”, p. 112.
A capacidade da ficção ir mais longe, explicará o desejo do literário. Por isso, talvez, o realismo esteja tão distante do registo de António Lobo Antunes, mesmo se, paradoxalmente, as palavras em que se exprime optem cuja sempre por uma materialidade crua, na fronteira do prosaico: “uma traineira com problemas nos ossos, por vezes um rebocador aflito da hérnia”, p. 313.
Finalmente, se Angola é o cenário principal de Comissão das Lágrimas, só se dá a ver em contraponto com a marquise de Lisboa, “o mundo dos naperons” que ficou para trás no tempo, as camponeses “de olhos cheios de vacas”, o passado que se mistura ao presente,ambos dolorosos.
E mais uma vez em António Lobo Antunes, seria preciso regressar à inocência da infância, no pressuposto que tal coisa possa existir.
António Lobo Antunes, Comissão das Lágrimas, 2011, D. Quixote

09/11/11

Queres ver que ainda vamos ser nós a pagar a "extravagante" colecção egípcia do BPN?

Custou 5 milhões de euros, possivelmente não vale um chavo e faz parte dos activos classificados como "extravagantes" pelo actual presidente da SLN, Miguel Cadilhe (notícia do Expresso)

Extragante é também, no mínimo, a legenda que acompanha um outro artigo sobre o tema publicado no Económico.Sapo.

Isto é o quê: escrita hieroglífica?

Isto é Portugal no seu melhor, carago: robalos, pão-de-ló, enchidos e futebol

Vale a pena ler. Parece um tratado sobre a dieta mediterrânica.

Alguém que me explique a tesourada que o Jornal I deu ao boneco do Charlie Hebdo






Tesourada descoberta aqui.

08/11/11

A bravata, perdão, gravata dos chineses [e uma revoluçãozinha cultural, não ia?] — ou isto vai dar merda IV

China has accused European workers of being ‘slothful’ and ‘indolent’ after refusing to put any of its vast resources into rescuing the euro.
The head of the Chinese state’s overseas investment arm said he would only help Europe if it reformed its ‘outdated’ labour laws and welfare systems.


Imagem roubada aqui.

A revolta da Madeira [ou seja, isto está a tornar-se tão complexo como a I Guerra, em que não é assim tão fácil perceber quem são os bons e os maus]

Tolerância de ponto na Madeira para assistir à tomada de posse de Alberto João Jardim.

Oh scheiße! [da série isto vai dar merda e tal — III]

Os alemães já controlam Roma?
Isto está a tornar-se tão complexo como a I Guerra Mundial em que não é assim tão fácil perceber quem são os bons e os maus...

Meus amigos, embora longe de possuir os poderes da filha de Raúl Solnado, em verdade vos digo: isto vai dar merda! (II)

Chegou a vez de pôr os italianos em sentido. AQUI
Entretanto, em Bruxelas vão-se tendo mais ideias peregrinas. AQUI,

05/11/11

Economia para inteligentes

Francisco Fernandes Lopes (1884-1969), médico olhanense caído no esquecimento mas de quem Almada Negreiros disse: “Ele está, para mim, no meio da primeira fila dos que estão à frente disto tudo”, foi um homem de qualidades raras.
Musicólogo, inventor nas horas vagas, poliglota e historiador sábio que se definia a si próprio como um “vulgaríssimo João Semana” guiava-se por um princípio: “Ir sempre ao fundo do fundo do contrafundo”. É um bom princípio.
Que estamos a ir ao fundo, ninguém o nega. Até o primeiro-ministro já veio dizer que empobreceremos. Inevitavelmente. De vitória após vitória, até à derrota final, slogan que tem até uma certa patine guevarista adequada na perfeição ao l’air du temps, um tempo em que os banqueiros citam Lenine.
Recordo: “O Lenine deve estar a rir-se à gargalhada no túmulo”, disse Fernando Ulrich, demonstrando que é um homem do mundo.
Eu, que estou como o Jesus Cristo do Pessoa (também nada sei de finanças…), gostaria, contudo, de deixar algumas perguntas (simples) numa tentativa, porventura vã, de cumprir o preceito de Lopes.
Quando o desemprego em Portugal, segundo dados do INE, se situa em 12,5%, como é que o aumento de meia hora de trabalho diário ajuda a combater o flagelo?
Andava eu a tentar perceber a quadratura do círculo, eis que chego a um estudo encomendado pelo Governo que garante que a medida aumentará em 4% a competitividade das empresas, o que logo me fez lembrar Garrett, perdão, Manuel Pinho, o ex-ministro da Economia que em tempos que já lá vão (?) foi à China pedir aos locais para investirem em Portugal porque a nossa mão-de-obra era barata.

Outra coisa que também não alcanço é isto.
Imaginemos que um qualquer leitor destas linhas aceita emprestar-me dinheiro. Agradeço, claro, "uma senhora é uma senhora", mas é-me imposta uma condição: não posso criar riqueza durante o período de tempo em que fico devedora.
Empobreça!, ordena-me o emprestador. E desculpem-me se pareço muito burra: mas como raio poderei pagar-lhe?
E foi então que Karl Kraus surgiu em meu auxílio: “Uma das causas mais comuns das doenças é o diagnóstico”.

03/11/11

É tudo inaceitável, até o tom! [da série isto vai dar merda]

Ler AQUI

Meus amigos, embora longe de possuir os poderes da filha de Raúl Solnado, em verdade vos digo: isto vai dar merda!

Afinal, o mais provável é não haver referendo!

Mas de tudo o que li até agora sobre o assunto, o que gostei mesmo mais foi deste lead:

... e estes jornalistas caíram de onde?


[Pastiche] A Ana Cristina Leonardo (ACL), detentora de 0% do capital da Europarque, reconheceu hoje a impossibilidade de honrar os pagamentos à banca

[O original]
"A Associação Empresarial de Portugal (AEP), detentora de 51 por cento do capital do Europarque, em Santa Maria da Feira, reconheceu hoje a impossibilidade de honrar os pagamentos à banca. Cabe agora ao Estado assumir estes encargos."

Aqui, a partir daqui.

Só pelo prazer de ler um bom texto

Chama-se "Agora é cada um por si e Deus contra" e assina Marcos. AQUI

01/11/11