30/06/07

É a saúde, estúpido! (III)

«Sou o mais tolerante possível, mas não aceito quem viola o dever de imparcialidade política e de lealdade», ministro Correia de Campos
Atente-se nos vocábulos «tolerante», «imparcialidade» e «lealdade». Note-se depois como o que o que é realmente importante na frase é o atributo «possível». Conclua-se, finalmente, que uma coisa é ser possível, outra coisa é não ser possível. E dê-se graça aos anos em que andámos a queimar pestanas com o Tractatus do
Wittgenstein ...

Poema anacrónico


Gosto dos que não sabem viver,
dos que se esquecem de comer a sopa
(Allez-vous bientôt manger votre soupe,
s... b... de marchand de nuages?»)
e embarcam na primeira nuvem
para um reino sem pressa e sem dever.

Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, já rio no chão,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com árvores de papel.

Gosto de Ofélia ao sabor da corrente.
Contigo é que me entendo,
piquena que te matas por amor
a cada novo e infeliz amor
e um dia morres mesmo
em «grande parva, que ele há tanto homem!»
(Dá Veloso-o-Frecheiro um grande grito?..)
Gosto do Napoleão-dos-Manicómios,
da Julieta-das-Trapeiras,
do Tenório-dos-Bairros
que passa fomeca mas não perde proa e parlapié...

Passarinheiros, também gosto de vocês!
Será isso viver, vender canários
que mais parecem sabonetes de limão,
vender fuliginosos passarocos implumes?
Não é viver.

É arte, lazeira, briol, poesia pura!
Não faço (quem é parvo?) a apologia do mendigo;
não me bandeio (que eu já vi esse filme...)
com gerações perdidas.

Mas senta aqui, mendigo:
vamos fazer um esparguete dos teus atacadores
e comê-lo como as pessoas educadas,
que não levantam o esparguete acima da cabeça
nem o chupam como você, seu irrecuperável!

E tu, derradeira geração perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...
Por que não põem cifrões em vez de cruzes
nos túmulos desses rapazes desembarcados p'ra
morrer?

Gosto deles assim, tão sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrrançais
e os politichiens si habiles, si rusés,
evitam mesmo a tempo a cornada fatal!

Les portugueux...
não pensam noutra coisa
senão no arame, nos carcanhóis, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no tojé, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no balúrdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles só porque não querem
apanhar as nozes...

Dize tu: - Já começou, porém, a racionalização do
trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito será por muito tempo
o mais económico dos gestos!

Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...

Saber viver é vender a alma ao diabo, Alexandre O´Neill

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«Muitas vezes se disse que o príncipe Philip, o assumidamente conservador marido da rainha, encarava o interesse do seu filho mais velho pela New Age com uma mescla de hilaridade e desdém. Ele também somava, contudo, as suas excentricidades, tendo sido um assinante entusiasta da Flying Saucer Review desde que a revista começou a ser publicada, em meados da década de 50. E estava bem acompanhado: o editor que fundou a Flying Saucer Review, conde de Clancarty, usou o facto de pertencer à Câmara dos Lordes para dar início a um amplo debate parlamentar sobre OVNIS em 1979, durante o qual revelou que nem todos os extraterrestres vinham do espaço - alguns emergiam de túneis provenientes de uma civilização instalada abaixo da crosta terrestre. «Pessoalmente, não estive lá em baixo», disse Conde de Clancarty, «mas, pelo que posso depreender, [esses seres] são muito adiantados. E acrescentou que quase todos os visitantes de outros planetas - assim como os da civilização sob a crosta terrestre - eram amistosos, embora «esteja informado de que existe um grupo hostil».
Este exemplo faz-nos lembrar a engenhosa defesa que o professor Roger Scruton fez da Câmara dos Lordes, classificando-a como uma casa genuinamente mais democrática do que a dos deputados eleitos: estes são, inevitavelmente mais inteligentes e ambiciosos do que o cidadão médio; ao invés, os Pares hereditários, sendo escolhidos por mero acidente de nascimento, mostram-se muito mais representativos da população em geral: incluem alguns tipos inteligentes, mas também uma boa dose de idiotas fala-barato»

How Mumbo-Jumbo Conquered the World, Francis Wheen

29/06/07

É a saúde, estúpido! (II)

Ricardo Gonçalves (dirigente da Secção de Saúde do PS/Braga) veio tentar pôr água na fervura dizendo à Agência Lusa que o ministro da Saúde teve conhecimento da colocação da fotocópia num placard do Centro, «mas não ficou nada incomodado por isso, tendo a decisão sido tomada por aqueles factores e não por esse».
Esqueci-me dos factores, blá, blá, blá... Mas depois lê-se no Diário da República
«Pelo despacho (...) do Ministro da Saúde, de 05 de Janeiro, foi exonerada do cargo de directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho a licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso, com efeitos à data do despacho, por não ter tomado medidas relativas à afixação, nas instalações daquele Centro de Saúde, de um cartaz que utilizava declarações do Ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo».
Adiante. Só uma pergunta.
Se a geografia não me engana, Vieira do Minho é bué, bué longe do gabinete do Ministro e, mesmo que não fosse, pouca diferença faria porque Correia de Campos não frequenta Centros de Saúde.
Então, como raio foi ele saber da colocação do cartaz jocoso?

É a saúde, estúpido!

«O Ministério da Saúde esclareceu esta quinta-feira que Correia de Campos se referia a sobras de medicamentos deixados nas farmácias e não a remédios fora de prazo, quando aconselhou a entrega dos desperdícios "a pobres"» (dos jornais)
Ah! Já estou a topar, tipo: «Fui ali comprar uma caixa de aspirinas e esqueci-me dela em cima do balcão. Que maçada, agora já a deram aos pobres...»

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

Nos yeux reçoivent la lumière d’étoiles mortes, Le dernier des Justes, André Schwart-Bart

C'est la vie

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava
Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Quadrilha, Carlos Drummond de Andrade

28/06/07

Não foi camarada

«O júri não tinha suficiente conhecimento para discutir a minha tese», disse ao Correio da Manhã Saldanha Sanches, que apresentou um trabalho sobre «Limites do Planeamento Fiscal».
O fiscalista falou ainda de «ajuste de contas».
Matéria para investigação ou mania da perseguição? Você decide.
Sanches decidiu não fazer nada e levar as bolas pretas para casa.

Na foto, Saldanha Sanches numa entrevista de 1974 à «Vida Mundial», picada do blog Almocreve das Petas, a que aconselho vivamente uma visita http://almocrevedaspetas.blogspot.com

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«Marilyn não precisa de aulas de representação. Precisa de se inscrever no colégio suíço Ómega, onde dão cursos de Pontualidade Superior. Mas, enquanto esperamos por Marilyn, ninguém na equipa perde tempo. Eu, por exemplo, tive oportunidade de ler Guerra e Paz e Os Miseráveis»

Billy Wilder, de novo (adoro o homem, o que é que querem que vos diga?)
Fotografia de Marilyn a dançar com Truman Capote

27/06/07

Se hablará gallego en Serralves?

«Antes, o roteiro da arte contemporânea acabava em Madrid. A partir de hoje, começa aqui», José Sócrates a propósito da inauguração do Museu Berardo.

Keep it simple, stupid

Num mundo cada vez mais ruidoso, apesar do avanço da microtecnologia, cada vez gosto mais de coisas simples. Pelo menos às vezes.

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

Be of your Patron’s Mind, whate’er he says:
Sleep very much; Think little, and Talk less:
Mind neither Good nor Bad, nor Right nor Wrong
But Eat your Pudding Fool, and Hold your Tongue


Poema de Matthew Prior (1664-1721), roubado na Web a Michael Renouf, ilustrador inglês que podem visitar em http://nonstickplans.blogspot.com/ e a quem também roubei o boneco

26/06/07

A arte de Joe

Enquanto o país delira com a abertura de um museu e se entretém com o frente a frente Berardo versus Mega, no blogue Confissão do Silêncio chama-se a atenção para o documento disponível em www.ipocafrica.org/pubs/reports/apartheidgrandc.pdf com dados sobre o passado de Joe na África do Sul.
Matéria para investigação ou mania da conspiração?
Você decide.

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama


When Anne and I go out for a walk
We hold each other's hand and talk
Of all the things we mean to do
When Anne and I are forty-two.

And when we've thought about a thing,
Like bowling hoops or bicycling
Or falling down on Anne's balloon,
We do it in the afternoon.

«The morning walk», in Now we are six, A.A. Milne

25/06/07

A guerra do biquíni em Israel

Eu sei que a situação no Médio Oriente é o que é. E também sei que o corpo feminino nem sempre é exibido pelas melhores razões (quais as más e quais as boas é outra conversa). Mas, caramba, uma polémica em Israel por causa de umas mulheres em biquíni não deixa de ser um bom antídoto para uma situação de guerra que dura há demasiado tempo.

A coisa conta-se em poucas linhas: para ajudar a promover o turismo israelita, a revista norte-americana Maxim inseriu nas suas páginas uma série de fotografias de ex-soldados do deuxième sexe, no que tiveram o beneplácito de entidades oficiais. O facto está a gerar uma enorme polémica, com a sociedade israelita a guerrear-se por causa desta campanha, na qual um dos slogans nos interpela directamente: «será que as mulheres das Forças de Defesa de Israel são as soldados mais sexy do mundo?»

Desconheço a resposta mas, se me é permitido, gostaria de dizer três coisas:
1. Prefiro mulheres de biquini a mulheres de burka
2. Desejaria que todas as guerras fossem tão drôles como esta
3. Campanha por campanha, o que me desgosta mesmo são os dois ll no «Allgarve»

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

É demasiado baixo. Tem um nariz demasiado grande. Um corte de cabelo que deixa muito a desejar. Chama-se Dustin Hoffman e é um actor e peras. A ele, nunca o poderão acusar de overacting, apesar de até conseguir cheirar mal em O Cowboy da Meia-Noite. O que é que querem que vos diga?

24/06/07

Investigão pós-pós-moderna

A Web é uma caixa de supresas. Nela descobri que a célebre frase de Paul Valéry (no boneco) ‑ «Ce qu'il y a de plus profond dans l'homme c'est la peau» ‑ foi há pouco reinterpretada por um antropólogo mexicano, de nome Mauricio Genet Guzmán Chávez, numa tese de doutoramento em sociologia política intitulada: O mais profundo é a pele: sociedade cosmética na era da biodiversidade. O site brasileiro onde recolhi a interessante informação acrescentava uma explicação do próprio Mauricio: «O corpo adquire lugar central no processo identitário. Tatuagens e piercings dizem muito sobre as pessoas. A organização dos grupos na sociedade cosmética é baseada na aparência, na roupa, em elementos externos».
Pois, também os títulos das teses dirão muito sobre as pessoas. No caso, este serviu para confirmar a minha desconfiança antiga acerca de sociólogos.

Terapia do Riso

Os chineses estão a invadir o Nepal à razão de 4 mil pessoas por dia
Tenho as maiores dúvidas sobre os regimes místicos dos Dalai Lama deste mundo, além de que acho o Richard Gere um grandessíssimo canastrão, mas 4 mil chineses por dia?!!! E andamos nós a perder tempo com Alá...
No Afeganistão e no Iraque continuam a morrer que nem tordos
Na minha modesta opinião, os talibãs não fazem falta a ninguém e quanto à família Saddam, nem o Francis Coppola a salvava. Mas ainda alguém acreditará nesta forma tão peculiar de exportar os "Direitos Humanos"?
A "marca Pedro e Inês" parte à conquista de Hollywood
Não tenho nada contra o romance histórico, mesmo achando-o, na maioria dos casos, uma valente xaropada. Mas já imaginaram o Joaquim de Almeida a fazer da marca D. Pedro? E, aqui para nós que ninguém nos ouve, suspeito que aquela Inês devia ser assim um bocadinho tonta, como bem percebeu Henri de Montherlant em La Reine morte.
António José Morais foi acusado de corrupção e branqueamento de capitais
Somos todos inocentes enquanto não se provar o contrário. À luz destes novos desenvolvimentos, esperemos apenas que, se o caso chegar a ser julgado, José Sócrates sirva de testemunha abonatória ao professor de 4 das suas 5 cadeiras na Universidade Independente, reafirmando o que disse na entrevista à RTP: António José Morais «tem um nível de habilitações que o recomenda» para quaisquer funções de nomeação política, já que é licenciado em engenharia, mestre e doutorado em estruturas.

E agora vou esquecer estas coisas tão sem graça e reler o hilariante O Curral das Bestas, de Magnus Mills (no boneco). Recomendo vivamente.

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

Esta Helen Mirren é o máximo. O que é que querem que vos diga?

Blair foi ao Vaticano. Qualquer dia vem a Fátima. Qualquer dia fuma

A mulher e os filhos são católicos. E a visita de Tony Blair ao Papa Ratzinger, cognome Bento XVI, fez disparar as especulações: estará uma conversão na calha? Tudo leva a crer que sim.
Compreende-se, assim, melhor, a irritação do jornalista inglês Francis Wheen contra o primeiro-ministro britânico, no brilhante (e hilariante) livro de 2004, How Mumbo-Jumbo Conquered the World As referências críticas são muitas. Fiquemos por um simples exemplo.
Quando perguntaram a Blair se «estaria de acordo em permitir o ensino do criacionismo em paralelo com a teoria darwinista da evolução nas escolas públicas (...) um simples "não" seria com certeza a única resposta possível (...) não foi essa que ele deu. Blair disse a Jenny Tonge que os criacionistas da cidade de Gateshead estavam a fazer um esplêndido trabalho: "Afinal, um sistema de ensino mais diversificado trará melhores resultados para as nossas crianças" (...) E se algumas escolas informassem os seus alunos de que a Lua era feita de queijo suíço, ou que as estrelas eram a grinalda de flores de Deus? Seria isso oficialmente acolhido como outra boa consequência do "sistema mais diversificado" de Blair?»
Ou seja, e para resumir: a Wheen já lhe cheirava a beatice há muito tempo.

22/06/07

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

O homem era lindo. O que é que querem que vos diga?

Pássaros

Ainda há pouco, numa mercearia do bairro, ouvi uma história sinistra, daquelas dignas de Hitchcock, enquanto comprava alperces. Dizia o Sr. Zé para o Sr. Alfredo (os nomes são fictícios porque vou poucas vezes à mercearia em causa): - Então, tu sabes que se apanhares um melro pequenino e o puseres na gaiola, os pais continuam a ir alimentá-lo entre as grades? - Pois, melro ou outro pássaro qualquer. Mas olha que a dada altura matam-no. - Matam-no?! - Sim, chegada a hora de abandonarem o ninho, como não saem da gaiola, eles vão lá e dão-lhe as sementes erradas... A Natureza é lixada.

Misturas pornográficas

Ontem, no jornal Público, a coluna de Nuno Pacheco intitulava-se «Eros também envelhece» e, pelo que percebi, surgia a propósito da vinda a Portugal de Cicciolina, uma pornostart de origem húngara que chegou a deputada do parlamento italiano. A dada altura escreve Nuno Pacheco: «Em 1974, milhares de criaturas correram aos cinemas para ver o que em muitos anos a censura lhes tinha negado. E lá vieram o Último Tango em Paris, Emmanuelle, Garganta Funda e uma lista incontornável de subprodutos onde a palavra sexo luzia como carimbo.» Para lá da irritação que me provoca a palavra incontornável, não percebo sobretudo uma coisa: o que faz O Último Tango em Paris ao lado de subprodutos, mesmo dos incontornáveis?

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«Interessarmo-nos pela vida privada de um escritor porque gostamos de um livro dele é como interessarmo-nos por gansos porque gostamos de foie gras» Margaret Atwood

Ainda não está tudo maluco

Cito e aplaudo

O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida divulgou hoje um parecer onde admite a criação de uma base de perfis de ADN na área criminal, mas discorda que seja criada outra idêntica para fins de identificação civil.

Vender cebolas, perdão jornais

Não se perceberá assim muito bem na imagem, mas o Diário de Notícias de 2ª feira, dia 18, incluía na primeira página uma foto da luso descendente Nelly Furtado com a legenda «Ladra», onde se dizia, resumidamente, que a mesma tinha sido apanhada a roubar jóias numa loja. A chamada de capa remetia para o interior do jornal, onde afinal se percebia tratar-se de uma brincadeira: a cantora limitara-se a participar na série CSI Nova Iorque, vestindo a pele de uma suspeita de homicídio. Não sendo 18 de Junho o Dia das Mentiras que, como é sabido, já calhou a 1 de Abril, creio estarmos perante um exemplo do mais rigoroso jornalismo, daquele que sabe conjugar na perfeição, e em todos os tempos verbais, entretenimento e notícia, sem esquecer as vendas. Nelly Furtado vive lá longe, e nem sei se lê português... ou o Diário de Notícias. Mas se a moda pega, um dia destes temos o Público a chamar para a primeira página uma coisa deste género: «Sócrates enganou-nos a todos. Ele não é engenheiro. É astrofísico e formou-se no Técnico com 20 valores». Quanto ao que dirá a notícia lá dentro, talvez nunca o venhamos a saber.

21/06/07

Vozes desafinadas

Volte a ler-se a história do anterior «Pensamento Reconfortante Antes de Ir para a Cama»:
Um passarinho caiu do ninho num dia de muito frio. Pia desesperadamente até que passa um menino que o agarra e o coloca num monte de estrume ainda quente. O passarinho, quentinho, desata a cantar em louvor do seu salvador. É então que passa uma raposa que, ao ouvi-lo, pula de contentamento e o devora.
Moral da história
Primeiro: nem sempre aquele que te põe na merda te quer mal
Segundo: nem sempre aquele que te tira da merda te quer bem
Terceiro: porquê cantar quando se está na merda?
Agora, tenha-se em mente Israel, o Hamas e a Fatah. Pergunta: haverá motivos para cantar?

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

O pai de Gabriel contou-lhe um dia esta história:

Um passarinho caiu do ninho num dia de muito frio. Pia desesperadamente até que passa um menino que o agarra e coloca num monte de estrume ainda quente. O passarinho, quentinho, desata a cantar em louvor do seu salvador. É então que passa uma raposa que, ao ouvi-lo, pula de contentamento e o devora.
Moral da história:
Primeiro: nem sempre aquele que te põe na merda te quer mal
Segundo: nem sempre aquele que te tira da merda te quer bem
Terceiro: porquê cantar quando se está na merda?

Retirado de A Bíblia do humor judaico

20/06/07

Palavras para quê? É um engenheiro português

Cito o site do jornal Expresso


«José Sócrates apresentou uma queixa-crime contra o blogger António Balbino Caldeira devido ao conjunto de textos que este professor de Alcobaça escreveu sobre a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente (UnI), apurou o Expresso junto de fonte próxima do processo».

Islamo quê?!!!

O porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, Mohammad Ali Hosseini, disse que a decisão de homenagear Salman Rushdie com o título de Cavaleiro é uma demonstração de "islamofobia" por parte das autoridades britânicas.

Iraque: a contabilidade assassina

Pelo menos 75 pessoas morreram hoje quando um carro bomba explodiu num bairro comercial em Bagdade, perto de uma mesquita. Aos cadáveres acrescentam-se 200 feridos. Em Maio, outro carro bomba tinha morto 21 pessoas. A organização Iraque Body Count calcula entre 65 689 e 71 961 o número de civis desaparecidos desde o início do conflito, o que parece dar razão à investigação, na altura tão contestada, levada a cabo o ano passado pela conceituada revista médica The Lancet que contabilizava um número de mais de 600 mil civis iraquianos mortos desde 2003. Entretanto, 3 528 soldados americanos já terão perdido a vida no Iraque. E toda a gente já terá esquecido as armas de destruição maciça, pretexto da invasão, excepto os mortos e as suas famílias. Ver http://www.iraqbodycount.org/ e
http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140673606694919/fulltext

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«Quer visitar a Terra daqui a mil anos? Einstein mostrou como fazê-lo. Tudo o que precisa é entrar numa nave espacial, ir até a uma estrela a pouco menos de 500 anos-luz de distância e regressar, viajando em ambos os sentidos a 99,995% da velocidade da luz. Ao voltar, a Terra será mil anos mais velha, mas o leitor só terá envelhecido 10 anos. Tal velocidade é possível - nos nossos maiores aceleradores de partículas levamos os protões a velocidades maiores do que essa (a maior até agora foi de 99,999946% da velocidade da luz no Fermilab).
J.Richard Gott, Viagens no Tempo no Universo de Einstein

19/06/07

História abreviada de um encontro em Bruxelas

Hoje li um post no blogue Da Literatura, em que Eduardo Pitta se refere a uma amiga belga com perto de 80 anos, tradutora de poetas portugueses. O post, que, além do mais, me deixou a leve suspeita de eu própria me ter cruzado com a amiga de Pitta na capital belga - e tanta coincidência já serviria de capítulo a Vila-Matas -, fez-me recordar uma outra senhora, também de idade avançada e igualmente tradutora embora de italiano, que conheci em Bruxelas durante um workshop de meia dúzia de dias para o qual alguém teve a amabilidade de me convidar. O jantar era poliglota e o francês era a língua franca. A tradutora italiana, de apetite frugal, a dada altura perguntou se podia acender um cigarro, se isso não nos incomodaria. Ninguém se acusou e ela acrescentou em tom blasé, após um gole demorado de conhaque: «Bom, é que eu sou do tempo em os homens fumavam charuto e andavam a cavalo». Nunca mais a vi. Aposto que, se estiver viva, continuará a sonhar com Don Fabrizio de Salina.

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«Men become much more attractive when they start looking older. But it doesn't do much for women, though we do have an advantage: make-up.», Bette Davis

A ver passar os comboios, perdão aviões

Primeiro, garantia José Sócrates, o Governo já tinha feito todos os estudos: era para a OTA e em força. Depois veio a CIP, para Alcochete e em força. Foi a vez da Associação Comercial do Porto: é para Portela+1 e em força. E eu, que ainda não consultei o Google Earth para distinguir as localizações, estou cada vez mais baralhada. Terá o novo aeroporto smoking area? Ora aí está uma pergunta que gostaria de ver respondida.

18/06/07

O Afeganistão, lá tão longe

O exército norte-americano pediu desculpas pela morte de sete crianças num ataque a uma madrassa e a uma mesquita na província afegã de Paktika, alegando que as mesmas terão sido obrigadas a permanecer dentro do edifício pelos combatentes afegãos. Entretanto, em Kabul, um ataque suicida a um autocarro de polícias afegãos matou 35 pessoas e deixou feridas 52. O ano passado, dados da BBC apontavam para quase 4 mil mortos no país, entre os quais, cerca de mil civis. Este ano, calcula-se que o número já tenha chegado às 2 mil pessoas.

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«... o facto de as crenças religiosas exercerem uma grande influência sobre a vida humana nada nos diz acerca da sua validade. Para o paranóico, perseguido por ilusões persecutórias, o horror à CIA pode ter uma grande influência, mas isso não significa que os seus telefones estejam de facto sob escuta», Sam Harris, «O Fim da Fé»

Algarve: questão que eu tenho comigo mesma

Estive no Algarve, ali para os lados da costa vicentina, onde a pressão imobiliária também se faz sentir, não pensem, só que menos em altura e mais em comprimento. Em Alzejur, terra sem praia e, por isso, menos castigada pela construção, só na vila contei quatro museus!!! Infelizmente - arrisco, porque não sei se valiam a visita -, estavam todos fechados: domingos, segundas e feriados não há nada para ninguém. Quanto ao posto de turismo, idem aspas: ao fim-de-semana não dão informações. O castelo encontrava-se aberto, mas suponho que só porque não vale a pena trancá-lo: um resto de muralha sem data nem história que se perceba, com a devida pincelada de cimento e o interior ao abandono. Já não dá sequer para Pousada. E voltei a lembrar-me do O'Neill
«ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!»

16/06/07

Caso Sócrates: Do Portugal Profundo e do canudo Farinha Amparo

António Balbino Caldeira, do blogue Do Portugal Profundo, foi ontem, sexta-feira, 15 de Junho de 2007, declarado arguido de um processo e testemunha de outro, a respeito do caso do percurso académico do primeiro-ministro José Sócrates. Também convocarão Marcelo Rebelo de Sousa que, na televisão, chamou ao canudo de Sócrates, um diploma Farinha Amparo? Ou o professor suspenso do DREN, por ofensas ao primeiro-ministro? Ou Pulido Valente? Ou os Gatos Fedorentos? Ou todos os bloguistas ou jornalistas que escreveram sobre o assunto? Irão todos os portugueses que se pronunciaram a tribunal? É que, se não somos todos Balbino, pelo menos somos muitos. Ver:
http://doportugalprofundo.blogspot.com/2007/06/arguido-por-causa-do-dossier-scrates.html

Pensamento reconfortante antes de ir para cama


«Poeminha do contra», do brasileiro Mário Quintana


«Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão
eu passarinho»

15/06/07

Kurt Waldheim, «Alegadamente» Nazi?!

O advérbio de modo incluído em muitas notícias que dão conta da morte do antigo Secretário-Geral da ONU e presidente austríaco Kurt Waldheim causaram-me uma crise de urticária. Porque não há «alegadamente» nenhum que o salve de um passado comprometido com o nazismo. Até que ponto, é outra conversa. Mas convinha manter barreiras morais, mesmo sabendo-se como elas são difíceis de manter.

14/06/07

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«O que provoca as bexigas é fitar as estrelas», Ramón Gómez de la Serna, ao lado, em «O Médico Inverosímil».

Momento Zen


«Nós temos tudo o que tem saído na comunicação social, nos blogues, ofícios, em tomadas de posição, em artigos de opinião...»
Margarida Moreira, educadora de infância e directora regional do DREN, em entrevista ao Diário de Notícias

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

Karl Kraus (no boneco ao lado) sobre a psicanálise:
«A teoria antiga negava a sexualidade dos adultos. A moderna diz que os bebés têm prazer sexual enquanto defecam. A antiga era melhor, ao menos podia ser contraditada pelas partes envolvidas»

13/06/07

A «Pastelaria» do Cesariny, que é 100 vezes melhor do que a minha

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado nem horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
ele há tanta maneira de compor uma estante!
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madama blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente: Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Pensamento reconfortante antes de ir para a cama

«Um mundo que conseguiu criar o Taj Mahal, William Shakespeare e pasta de dentes às riscas não pode ser assm tão mau»
James Cagney em «One, Two, Tree» de Billy Wilder (no boneco ao lado)

11/06/07

Feira do livro: o ritual do autógrafo

Sou uma pessoa antiga. Fui à Feira do Livro de Lisboa, por onde gosto de passear há anos. Não encontrei quase nenhumas pechinchas, a não ser em alguns (poucos) stands de editoras que, ao livro do dia e ao desconto oficial, acrescentam uma zona de saldos. Encontrei, porém, muitos escritores, acomodados em cadeiras e mesas de plástico, protegidos à sombra de chapéus de sol, perfilados à espera de clientes, perdão, de leitores. Cumpriam o ritual do autógrafo. Lembraram-me os feirantes das barracas de tiro da antiga Feira Popular. E, como usei agora mesmo a palavra perfilados, lembrei-me do poema do O'Neill: «Aventureiros já sem aventura,/perfilados de medo combatemos/irónicos fantasmas à procura/do que não fomos, do que não seremos.» Era triste. Apesar das pechinchas que, ainda assim, trouxe para casa.

10/06/07

Mapas de rua Google

A casa não é minha mas é verdade que ando a ficar um bocado assustada com isto. O 1984 foi há uma data de anos e o Orwell já cá não está para lhe perguntarmos a opinião. Resumindo: «God is dead, Orwell is dead, and I don’t feel too well myself»

A Vingança de Gaia

Eles não se entendem. Há um alemão que prevê furacões, há um português que prevê seca. E nunca a meteorologia foi tão mediática. O aquecimento global tornou-se conversa de café, apesar de haver cada vez menos cafés onde se converse. Embora seja um post gigantesco, vou transcrever o texto que escrevi para o jornal Expresso e que foi publicado este fim-de-semana. Traz entrevista com James Lovelock, o cientista que nos aconselha a fugir o mais depressa possível para o Norte. Não do país, mas do planeta. Segue o artigo:

No final de 2006, James Lovelock afirmava à revista «Veja»: «Até ao fim do século XXI, é provável que cerca de 80 por cento da população humana desapareça. Os restantes 20 por cento irão viver no Árctico e em alguns, poucos, oásis de outros continentes, onde as temperaturas forem mais baixas e houver um pouco de chuva». A citação vem assinada por um homem de ciência que não faz futurologia nem tem conversas com Deus. Ainda assim, o retrato que traça da evolução próxima da Terra (A Vingança de Gaia, Gradiva, 2007) está longe de nos garantir o sono dos justos. Poderá ele estar enganado? Afinal, ao contrário das religiões, errar é próprio da ciência: «Na ciência não existem certezas, apenas possibilidades. Penso, porém, que a probabilidade de catástrofe climática é tão grande que não nos podemos atrever a ignorá-la», concluiu na entrevista, via e-mail, que acedeu dar ao Expresso. São palavras sensatas que, em certa medida, nos confortam da histeria politicamente correcta levada ao rubro pela jornalista Ellen Goodman nas páginas do «Boston Globe»: «Let's just say that global warming deniers are now on a par with Holocaust deniers, though one denies the past and the other denies the present and future»
De súbito, sem cerimónia e sem que nos apercebessemos, o aquecimento global puxou da cadeira e sentou-se à nossa mesa. Como tema de conversa, ultrapassou a biodiversidade, a fome em África, a guerra no Iraque, a pedófilia, a vida íntima de Cristo ou qualquer outro assunto da agenda global. A preocupação com o estado do tempo, tradicionalmente uma esquisitice britânica, conquistou o público de todos os continentes, da Europa à Austrália, passando pelos EUA, e aí apesar de Bush mas certamente graças a Al Gore e ao seu oscarizado Uma Verdade Inconveniente, filme que se manteve nos tops de bilheteira, mesmo depois das contas de electricidade do antigo candidato à Casa Branca terem sido tornadas públicas pelo «Tennessee Center for Policy Research»: mensalmente, um gasto de energia 20 vezes superior ao de que qualquer outro lar americano.
Lovelock não é um político. Em A Vingança de Gaia não se mostra excessivamente entusiasmado com o Tratado de Quioto e, à nossa pergunta sobre a corrida aos créditos de carbono (possibilidade oferecida às indústrias ou países mais poluidores para continuarem a emitir GEE negociando créditos alheios), o cientista respondeu num tom «blasé» pouco abonatório para os homens da governação: «Não se deve culpar as empresas por quererem realizar lucros quando os governos são suficientemente idiotas para oferecem subsídios». Os subsídios a que se refere dizem respeito a dois ítens que fazem as delícias dos Verdes e sobre os quais se mostra particularmente crítico: «Não duvido do valor das energias renováveis e a verdade é que utilizámos largamente a energia hidráulica muito antes de terem começado as preocupações ambientais, e o mesmo seria verdade para a energia das marés se optássemos pela sua utilização. São económicas e não necessitam de subsídios. Já a energia eólica e os biocombustíveis, considero-as pouco económicas e eficazes, sendo propostas em grande parte como gestos políticos. Além de sujeitas a subsídios, o que geralmente permite concluir que se trata de um empreendimento com falhas, ambientalmente são mais nocivas do que benéficas». Sabendo-se que, até 2010, Portugal vai investir (segundo estudo da Espírito Santo Research) 6,4 mil milhões de euros em energias renováveis, 69,4 por cento dos quais nas eólicas, percebe-se melhor por que é que o criador de Gaia, não sendo um político, pode ser, por vezes, tão incómodo.
Prolífero e polémico também. Nascido em 1919, tem formação em química, medicina e biofísica. Inventor encartado, ganharia visibilidade quando, na década de 70, lança, com a bióloga Lynn Margulis, a hipótese de Gaia, uma visão da Terra que, metaforicamente, a propõe à imagem e semelhança de um organismo vivo. Gaia, nome sugerido a Lovelock pelo escritor William Golding durante um passeio dos dois pelo campo inglês, transformar-se-ia numa bandeira «New Age», embora o cientista, bem positivo, nunca tivesse pisado tais pântanos. O facto é que se viu criticado pelos seus pares: «Os críticos de Gaia foram, de início, principalmente cientistas especializados em disciplinas como a biologia e a geologia e eram muito ruidosos. Os cientistas especializados em clima acolheram bem Gaia e continuam a fazê-lo. Como não sou uma pessoa insensível, foi-me difícil aguentar as críticas e estas duraram mais de 20 anos», confessou na entrevista ao Expresso.
O corte radical com os Verdes (que já tinha sido ensaido na polémica que os opôs a Lovelock a propósito dos CFC) dá-se quando, para surpresa de muitos, o homem a quem a revista «New Scientist» atribuíra o título de «Ghandi da Ciência» aparece a defender o nuclear como única alternativa real aos actuais problemas energéticos. Quando lhe perguntamos «Mas, e então Chernobyl?», a resposta chega rápida: «Se nos últimos 40 anos a indústria aeronáutica tivesse tido dois acidentes, um causando a perda de 75 vidas e o outro apenas três, acha que a consideraríamos pouco segura e teríamos medo de voar? Aparentemente não, porque houve milhares de acidentes mortais e mesmo assim continuamos a andar de avião. Portanto, porquê pegar só nos acidentes negativos em 40 anos de energia nuclear? A maioria das histórias contadas pelos lobbies dos Verdes sobre energia nuclear são disparates, histórias semelhantes às que nos impingiam no século XIX sobre o diabo e os lobisomens. A última contagem das agências das Nações Unidas sobre Chernobyl afirmava que houve 75 mortos entre os trabalhadores da central e as equipas de limpeza. E foi tudo. Veja o sítio UNSCEAR na web». A sugestão fica dada.
Todos estes e outros assuntos estão devidamente explanados em A Vingança de Gaia, um livro não aconselhado a pessoas sensíveis. Energias alternativas, agricultura biológica, desenvolvimento sustentado, todos os conceitos que nos habituámos a pôr na lista dos bons da fita são passados a pente fino. Por e-mail, Lovelock reafirma o que escreveu: «A teoria de Gaia é interdisciplinar e vê a Terra passando agora do estado frio que os geólogos denominam «casa de gelo» (icehouse) para um estado de calor a que chamam «estufa» (greenhouse). Uma vez iniciado, o movimento é irreversível – aquilo que fizemos foi desencadeá-lo. Não só o movimento é efectivamente irreversível como, mesmo que o pudéssemos contrariar, a inércia das reacções humanas impediria qualquer acção útil em menos de 30 anos. Acha que podemos esperar que a China, a Índia e os EUA deixem de queimar carvão nesse prazo de tempo? É por isso que digo que precisamos de retirar de forma ordeira para as regiões mais frescas do Norte, onde os alimentos possam continuar a ser cultivados».
Mas, e o se o aquecimento global for um mito, como alguns cépticos insistem em defender? Pusemos a questão: «O climatologista Richard Lindsen tem sido uma das vozes mais críticas, falando mesmo de perseguição aos cientistas que discordam da “visão alarmista do aquecimento global por acção humana”. Dada a posição de cientista independente que sempre fez questão de manter ao longo da sua carreira, com as subquentes vantagens e desvantagens de tal estatuto, a presente unanimidade climática não lhe causa nenhuma estranheza?». Lovelock respondeu: «Apenas uma pequena minoria de cientistas duvida de que somos a principal causa do aquecimento global. Richard Lindsen é um cientista respeitado e pode, como eu nos primeiros tempos de Gaia, ter razão. O que há de maravilhoso na ciência é que a natureza é o árbitro final.». Ora aí está uma resposta que as Ellen Goodman deste mundo nunca nos conseguiriam dar.

09/06/07

Juan Rulfo a preto e branco

Escreveu pouco, falou quase nada. E depois fez fotografias assim. Quem não ouvir o silêncio desta imagem é porque é surdo. Tenham um bom fim-de-semana!

08/06/07

Anatomia correcta

O actor Isaiah Washington, vulgo Dr. Burke para os amantes de «Anatomia de Grey», foi corrido da série porque chamou maricas ao actor George O'Malley. Há uns anos, O.J. Simpson, com um longo passado de violência doméstica, foi absolvido em tribunal da acusação de ter morto a mulher à facada. Uma coisa não terá nada a ver com a outra, a não ser no facto de ambos serem negros e de um ter sido enviado para o desemprego e o outro para a liberdade. Assuntos fracturantes, é o que é...


Leituras obrigatórias


Desde que li «Complexo de Portnoy», das coisas mais divertidas que já li em toda a vida, nunca mais parei. Este chegou agora a Portugal. Aproveitem as feiras do livro e comprem com desconto. Entre ele e o Saramago, decidam quem merecia o Nobel. Pois... nestas coisas como em outras, não sou patriota, não senhora.