28/07/23

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «E se eu, em vez de metafísica, chocolates?»

«O cineasta Billy Wilder – um ser raro, num registo diferente tão raro como o pedopsiquiatra João dos Santos: ambos capazes de casar na perfeição inteligência e sensibilidade – desabafou um dia, cito de cor, que, se alguém quisesse dizer ao público a verdade, o melhor seria fazê-lo com humor ou o público matá-lo-ia.

07/07/23

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Que saudades de uma silly season de jeito!»

«(...) Num artigo publicado no Expresso da semana passada em que o tema era a linguagem inclusiva, tropeço nisto: “'Há sensibilidades diferentes’, até porque existem diversas ‘conceções do que é a linguagem’”. Ora batatas!

Não bastava a linguagem inclusiva ser, em si, um tema mais do que obscuro. Por exemplo, e segundo o glossário LGBT+ da reputada universidade norte-americana Johns Hopkins publicado no mês passado (entretanto, em reapreciação após uma enxurrada de críticas mais do que legítimas, nomeadamente as formuladas por J.K. Rowling), uma lésbica, cito, “é um não-homem que se sente atraído por outro não-homem. Enquanto definições anteriores referem ‘lésbica’ como uma mulher que se sente emocional, romântica, e/ou sexualmente atraída por outra mulher, a actual definição inclui pessoas não-binárias que também se podem identificar com o termo”. Já de acordo com o mesmo documento, “um homem gay é um homem que se sente atraído por outros homens, ou que se identifica com a comunidade gay” – ou seja, homem é vocábulo adquirido, dispensa caracterização, tão, mas tão claro e distinto que é a partir dele que se passa a definir mulher: não-homem. Conclusão: para não ofender pessoas não-binárias, mulher simplesmente desaparece. Quem lhes desse com a costela de Adão na mona e era pouco!
Portanto dizia eu que não bastava a obscuridade da linguagem inclusiva, ainda temos de agradecer aos deputados da Nação o bónus do léxico pós-Acordo-Ortográfico onde se inscreve agora, em nome da uniformização da língua, sublinhe-se uniformização, não uma, mas duas palavras: conceção em Portugal e concepção no Brasil! E repare-se como fico a milhas da amabilidade acaciana: “– E os idiotas de São Bento?... – exclamou Julião. Mas o Conselheiro interrompeu-o: – Meus bons amigos, falemos de outra coisa. É mais digno de portugueses e de súbditos fiéis.” (Eça de Queirós, O Primo Basílio).
Talvez Portugal tenha deixado de ser o país de marinheiros de António Nobre – “Georges! anda ver meu país de Marinheiros, / O meu país das Naus, de esquadras e de frotas!” – mas continua relativo, mais do que bem plasmado em O’Neill – “País engravatado todo o ano / e a assoar-se na gravata por engano”. “Grandessíssimos e alternadíssimos camelos”, vociferava António Silva e nós a citá-lo. »