19/06/07

História abreviada de um encontro em Bruxelas

Hoje li um post no blogue Da Literatura, em que Eduardo Pitta se refere a uma amiga belga com perto de 80 anos, tradutora de poetas portugueses. O post, que, além do mais, me deixou a leve suspeita de eu própria me ter cruzado com a amiga de Pitta na capital belga - e tanta coincidência já serviria de capítulo a Vila-Matas -, fez-me recordar uma outra senhora, também de idade avançada e igualmente tradutora embora de italiano, que conheci em Bruxelas durante um workshop de meia dúzia de dias para o qual alguém teve a amabilidade de me convidar. O jantar era poliglota e o francês era a língua franca. A tradutora italiana, de apetite frugal, a dada altura perguntou se podia acender um cigarro, se isso não nos incomodaria. Ninguém se acusou e ela acrescentou em tom blasé, após um gole demorado de conhaque: «Bom, é que eu sou do tempo em os homens fumavam charuto e andavam a cavalo». Nunca mais a vi. Aposto que, se estiver viva, continuará a sonhar com Don Fabrizio de Salina.

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