Em tempos que já lá vão, ainda havia primeira e segunda classes na linha de Cascais, fui parar a um encontro clandestino nas traseiras da estação de comboios de S. João do Estoril. Apesar da clandestinidade da coisa, a reunião decorreu sem sobressaltos em campo aberto, ou seja, num pequeno jardim que creio ter sido entretanto transformado em parque de estacionamento. Devíamos ser umas dezenas. Duas no máximo, claro. Todos estudantes do secundário. Os do liceu local (na altura, chamado liceu de Cascais) e os de fora, um pouco mais velhos. Os primeiros teriam 13, 15 anos, os outros 16, 17. Os de fora dirigiam a reunião.
Enfrentavam-se duas linhas. Uma mais radical, que propunha greves e manifestações; outra, menos radical, que propunha abaixo-assinados. Talvez se tenha chegado a votos, não me lembro. Sei que um dos alienígenas era o Miguel Portas, valha a verdade o único UEC civilizado que conheci durante os meus tempos de estudante revoltada. Eu que na altura não gaguejava em público fartei-me de dizer coisas e de fazer perguntas e, como seria de prever dada a tradição familiar, decidi-me pelas greves e manifestações. O Miguel Portas, suponho que vendo em mim um recrutamento em potência, no final pediu para me falar à parte. Respondi-lhe do alto dos meus 12, 13 anos: “Falar, podes à-vontade, mas olha que não me convences!” O futuro deputado europeu não perderia muito tempo comigo: em menos de cinco minutos ter-me-á diagnosticado com propriedade a doença infantil do comunismo.
E ocorreu-me isto a propósito da quantidade de abaixo-assinados que andam a correr pela NET, alguns subscritos por mim. A democracia amolece-nos, é o que é. O Portas acabou em Bruxelas, eu numa Pastelaria.
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5 comentários:
Não me digas que também andaste na E.S. de S.João do Estoril?
tiago do 5dias
tiago do 5dias, aqui onde me vês eu era conhecida pela cristina de cascais. E deixa-me que te pergunte: algum familiar teu tb. lá andou?
moi-même, entre os anos de 88-94, mais ou menos...
desencontrámo-nos, portanto
Não seja assim tão céptica. Quantas revoluções não terão sido preparadas em restaurantes e pastelarias? Para além de grandes negócios, claro. A pastelaria não é o Alaska do Jack London. A pastelaria está bem no centro da Pólis, onde quase tudo acontece, e cada vez mais.
JR
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