«Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo». Eis o que nunca poderia dizer porque Portugal nunca me disse muito – e uma acidez espasmódica galga-me a boca do estômago quando me falam de pátria. [Nada escrevo de original. José Cardoso Pires registou-o em Alexandra Alpha: «Isto não é um país, é um lugar mal frequentado».]
A imagem – a pedir uma dose reforçada de Alka-Seltzer – é contrária à poética das coisas belas, eu sei. Também sei isto: «Metade da minha alma é feita de maresia». Nasci no extremo Sul: a geografia vale tanto como a genética.
Dir-me-ão: «E o Cavaco?». O Cavavo é um «montanhêro», na feliz definição do meu descansado tio, algarvio da borda d’água, que a reservava com parcimónia a todos os que tivessem nascido a mais de três quilómetros do mar.
Pouco importa já aquele que o poço trocou pela fonte. Dada a mudança acrescida de estatuto existencial – de primeiro-ministro infalível ascendeu a chefe de Estado dilacerado pelas dúvidas [não aprovo/ aprovo/ não aprovo/ aprovo/ Ó MARIA!] – só o futuro próximo lhe fará, ou não, justiça. Daqui a 9 meses, aproximadamente, virá a público o resultado do seu lancinante grito: «Eu não acredito que tenha desaparecido dos portugueses o entusiasmo de trazer vidas novas ao mundo!» O meu tio está morto, logo, incapacitado. Se não estivesse, esta história da West Coast teria acabado com ele.
Com a Primavera veio o Allgarve: 9 milhões de euros gastos numa campanha mundial decidida pelo inefável Ministro da Economia e Inovação (?), Manuel Pinho. [É verdade que nessa altura era-lhe impossível saber que, sem custar um tostão a Portugal, Gerry McCann viria a organizar no Verão a maior campanha de marketing a que o Algarve já assistiu desde o tempo em que era reino.]
Em pleno Inverno do nosso descontentamento chega a cowboyada da West Coast: «Como pode uma marca que é a 23ª do mercado, que tem fraca e até má reputação, pobres argumentos, baixo preço e uma desmotivada força de vendas, dar a volta por cima e criar um grande impacto no mercado?». A marca – e depois eu é que falto ao respeito à pátria... – é Portugal.
«Portugal é visto como um país do Sul. Um país de Sol e Mar mas também de subdesenvolvimento, iliteracia, corrupção e dos recorrentes indicadores estatísticos de miséria. O Sul é o filtro que nos condena a sermos vistos como somos». Ora a merda!!! [e olhem que na minha família não somos de dizer asneiras].
Continuemos a ler Pedro Bidarra, grau 33 em marketing e publicidade e responsável da campanha: «Sem ser exaustivo, digamos que o Sul tem bom tempo, calor, gente simpática, boa comida, paz, esplanadas e dolce farniente; e tem subdesenvolvimento, gente pobre e iliterada, corrupção e os indicadores estatísticos de miséria» [sem ser exaustiva: serei da gente pobre e iletrada ou da simpática e corrupta?].
E o que é que tem a West Coast? Ah! Ah! Segundo a mesma luminária tem «associações "aspiracionais" – Hollywood ou Silicon Valley, por exemplo – que sem nada termos que fazer contaminam o conceito positivamente, tornando-o mais glamouroso e mais cosmopolita. Depois há as pontes e colinas de Lisboa e S. Francisco, o Vale do Douro e o Napa Valley, a aridez da Baja Californiana e o nosso Alentejo, coincidências felizes que é só aproveitar.»
Se isto fosse mesmo a West Coast ou eu a Calamity Jane esse tal Bidarra mais o Pinho do costume haviam de comer pó. Em memória do meu tio. Amen (e com glamour aspiracional).
A imagem – a pedir uma dose reforçada de Alka-Seltzer – é contrária à poética das coisas belas, eu sei. Também sei isto: «Metade da minha alma é feita de maresia». Nasci no extremo Sul: a geografia vale tanto como a genética.
Dir-me-ão: «E o Cavaco?». O Cavavo é um «montanhêro», na feliz definição do meu descansado tio, algarvio da borda d’água, que a reservava com parcimónia a todos os que tivessem nascido a mais de três quilómetros do mar.
Pouco importa já aquele que o poço trocou pela fonte. Dada a mudança acrescida de estatuto existencial – de primeiro-ministro infalível ascendeu a chefe de Estado dilacerado pelas dúvidas [não aprovo/ aprovo/ não aprovo/ aprovo/ Ó MARIA!] – só o futuro próximo lhe fará, ou não, justiça. Daqui a 9 meses, aproximadamente, virá a público o resultado do seu lancinante grito: «Eu não acredito que tenha desaparecido dos portugueses o entusiasmo de trazer vidas novas ao mundo!» O meu tio está morto, logo, incapacitado. Se não estivesse, esta história da West Coast teria acabado com ele.
Com a Primavera veio o Allgarve: 9 milhões de euros gastos numa campanha mundial decidida pelo inefável Ministro da Economia e Inovação (?), Manuel Pinho. [É verdade que nessa altura era-lhe impossível saber que, sem custar um tostão a Portugal, Gerry McCann viria a organizar no Verão a maior campanha de marketing a que o Algarve já assistiu desde o tempo em que era reino.]
Em pleno Inverno do nosso descontentamento chega a cowboyada da West Coast: «Como pode uma marca que é a 23ª do mercado, que tem fraca e até má reputação, pobres argumentos, baixo preço e uma desmotivada força de vendas, dar a volta por cima e criar um grande impacto no mercado?». A marca – e depois eu é que falto ao respeito à pátria... – é Portugal.
«Portugal é visto como um país do Sul. Um país de Sol e Mar mas também de subdesenvolvimento, iliteracia, corrupção e dos recorrentes indicadores estatísticos de miséria. O Sul é o filtro que nos condena a sermos vistos como somos». Ora a merda!!! [e olhem que na minha família não somos de dizer asneiras].
Continuemos a ler Pedro Bidarra, grau 33 em marketing e publicidade e responsável da campanha: «Sem ser exaustivo, digamos que o Sul tem bom tempo, calor, gente simpática, boa comida, paz, esplanadas e dolce farniente; e tem subdesenvolvimento, gente pobre e iliterada, corrupção e os indicadores estatísticos de miséria» [sem ser exaustiva: serei da gente pobre e iletrada ou da simpática e corrupta?].
E o que é que tem a West Coast? Ah! Ah! Segundo a mesma luminária tem «associações "aspiracionais" – Hollywood ou Silicon Valley, por exemplo – que sem nada termos que fazer contaminam o conceito positivamente, tornando-o mais glamouroso e mais cosmopolita. Depois há as pontes e colinas de Lisboa e S. Francisco, o Vale do Douro e o Napa Valley, a aridez da Baja Californiana e o nosso Alentejo, coincidências felizes que é só aproveitar.»
Se isto fosse mesmo a West Coast ou eu a Calamity Jane esse tal Bidarra mais o Pinho do costume haviam de comer pó. Em memória do meu tio. Amen (e com glamour aspiracional).
7 comentários:
Bons retratos do Sul, e claro ca Costa Oeste (eu sou mais daí, garota algarvia...)
No Algarve diz-se moça
... e quem me dera dizer assim o que digo há tanto tempo.
Be aware Calamity Anne!
O FBSIS zela... e a tradição atropela.
Por todas as Calamidades, o mais apropriado seria Far West.
Portugal com vontade de representação. Não vejo mal nenhum. Pois somos os melhores do mundo em muitas coisas e muitas mais loisas.
-pirata-vermelho-, quando eu começar a não dizer o que acho, aí é que fica o caldo entornado
Milú, como sempre, assino por baixo
Táxi pluvioso, eu sou de uma terra onde se tratava a realeza por mano-rei, não queremos ser os melhores em nada: somos, simplesmente (mesmo que isto soe um bocado piroso)
A WEST COAST OF SHIT vai de S.Bento a Boliqueime. Daí para baixo há gente mais decente, isto é, longe do poder que fede.
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