Há dias o Ipsilon editava um trabalho sobre o erotismo na literatura nacional. O erotismo, o sexo, sei lá. Parece que a coisa está mal, por estas bandas. O erotismo, ou mesmo a literatura. O Autor do artigo confessava algumas limitações. Desde o MEC que se pode escrever fodido. Não se pode foder, mas pode-se escrever fodido. Ora o Autor confessa que, quinze anos depois, não se permite utilizar palavras começadas por c. Vão ser precisos mais MECs, mais quinze anos, até os escritores portugueses chegarem ao c.
Este Autor entrevistou Escritores e a todos perguntou se tinham jeito. Os entrevistados, incontornáveis, declararam que as cenas de camas são más - quando escritas por outros -, que os escritores portugueses - os outros -, não são mestres no género. O cronista em quem João Bénard da Costa encarnou também foi ouvido. Afinou pelo mesmo diapasão. Os escritores portugueses são muito bons a dizer que a literatura erótica portuguesa é fraca.
Post roubado com a devida vénia daqui e ilustrado por José Vilhena.
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11 comentários:
"utilisar" é com "z".
obrigados.
“utilisar palavras começadas por c.”?
Este pastel está marado.
Não é «utilisar», nha nha nha.
Francisco, com o meu pedido de desculpas, cá vai o seu comentário (cliquei no comando errado)
Criatividade erótica há por cá a rodos. Não há é dinâmica editorial que acompanhe a viabilize a lusa criatividade:
"Na obscuridade da igreja, empurrada contra a balaustrada do coro, sente aquelas mãos insinuantes sob o hábito, explorando e acariciando-lhe as coxas, afagando-lhe o ventre. E sente o latejar rápido do sangue enquanto a respiração se torna mais ofegante à medida que aqueles dedos suaves percorrem os delicados lábios da vagina e se enterram nela lentamente. Saboreando aquela presença entre as paredes da sua carne sente despertar em si coisas adormecidas, sensações que nunca experimentara. Os movimentos variam, ora lentos e subtis, ora vigorosos e desenfreados. A boca envolve o volume do peito, através do hábito, fazendo enrijecer o seio e despontar o mamilo e, depois, aqueles lábios quentes percorrem-lhe o pescoço, detendo-se no sítio onde as veias palpitam, emitindo ondas de calor que lhe parecem amolecer todos os músculos, afinal rígidos. Nesta altura o seu corpo já soluça em espasmos incontroláveis e nesse arrebatamento de prazer solta-se a beatilha escorregando em percurso contrário ao daquela boca ávida que sobe por ela acima e encontra a sua. Começa uma luta sôfrega, de boca contra boca, de línguas bailando entrelaçadas em milhões de beijos, todos fundidos num só.
Deslizando lentamente cai a seus pés a coifa, jazendo no chão, parecendo um nada no soalho encerado, um ralo para onde a aventura erótica se escoará no final, num vórtice gerado pela força de coriólis. Também poderá simbolizar o ralo do confessionário para onde se exorcizam as faltas e os pecados, pois que não sabemos como nem porque são feitas estas associações de ideias, nem quem as faz: se apenas o narrador de per si, ou os protagonistas desta escaldante cena.
Os ténues gemidos e os murmúrios que libertam parecem-lhes ruidosa sinfonia, violando o silêncio do templo, reflectindo-se no lado oposto, chocando nas quatro colunas pseudo-salomónicas do retábulo-mor, denunciando ao convento e à cidade, e ao Universo, a pecaminosa sessão carnal.
Extasiada pelo prazer e dominada pelo firme amplexo que a submete, sente o falo redentor introduzir-se entre as coxas procurando a sua fenda ardente e húmida. Primeiro, apenas a glande do enorme e grosso membro assoma, timidamente, entre os lábios inchados do seu sexo."
2006
calma, a gralha já está corrigida
Já não se pode mijar fora do penico.
Aparece logo aflita a vizinhança (que futuros acordos ortográficos não alcança) a chafurdar.
Ma che catso!
Demasiados "aqueles", "aquelas", "daqueles", "daquelas".
Depois, "o falo redentor" + "o enorme e grosso membro"... essa cena sempre invariavelmente priápica e paquidérmica põe um gajo a pensar em mecanismos de compensação por via literária... e, quando se segue por aí, acaba por se ir, inevitavelmente bater à porta do trafulha do Ziggy Freud e... isso nunca, vade retro!
Há pouco tempo, uma das escritoras ouvidas para o artigo disse-me - bem, não apenas mim; era, chamemos-lhe assim, conversa social - que o problema reside na terminologia usada pelos escritores portugueses. Segundo ela, os escritores brasileiros escrevem melhor cenas de sexo porque usam termos como 'pau', que, ainda segundo ela, são muito mais eróticos. E esta, hein?
É o que se chama, pau para toda a obra, não?
a melhor literatura erotica encontra-se actualmente na blogosfera portuguesa.
sinal, bem evidente, da miopia do autor do artigo do ipsilon (ou autora, nao me apetece ir confirmar, tb o li), ao restringir o tema a autores editados em papel.
(penso, por exemplo, no blog de sofia vieira, 'um amor atrevido')
sem-se-ver, muito das melhores coisas, em geral, estão hoje em dia na blogosfera
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