Corre na NET a petição Todos Pela Liberdade que inclui convocatória para manifestação, quinta-feira, às 13 horas, em frente à Assembleia da República.
Há muitos anos que não vou a manifestações. A primeira vez que me vi – involuntariamente – metida numa foi, ainda menina e moça, no Festival de Jazz de Cascais, salvo erro em 1973, quando a polícia de choque investiu forte e feio nos espectadores, um deles a perder terreno na fuga por conta dos insultos que não se coibía de lançar sobre as forças da ordem e as forças da ordem a aproximarem-se cada vez mais e eu aos berros “Corre! Corre!” e tudo acabou comigo no carro de um amigo dos meus pais a chorar de raiva e impotência e o desconhecido no chão a levar um enxerto que lhe devem ter aberto a cabeça.
Não penso ir a esta, apesar de se prever bem mais calma*. Não porque não preze a liberdade. Olá se prezo! Não porque me sinta incomodada por participar numa manifestação ao lado de pessoas com as quais pouco ou quase nada terei em comum (não vale a pena estar sempre a citar aquela frase do não concordo nada com as suas palavras mas defenderei até à morte o seu direito a proferi-las e tal e tal). Não, certamente, por obscuras e requentadas elucubrações ideológicas. Nem sequer por causa da treta pragmática da alternativa ou da falta dela.
A razão é outra. É porque vi, com estes que a terra há-de comer, que a liberdade (de imprensa, que julgo ser aquilo que está fundamentalmente em causa aqui) tem muito menos que ver com Sócrates, himself, do que com uma vaga de fundo que começou a varrer o jornalismo há um par de anos, com a demissão (compulsiva) de poucos e a demissão (acobardada) de muitos – bastante antes de haver faces ocultas que favorecessem o medo.
Explicada a minha discordância, se alguém quiser convocar uma manifestação contra isto – força!
* o que não me impediu de assinar a petição por concordar genericamente com ela
7 comentários:
Ana Cristina, não concordo com tudo o que diz: acho que há muitos motivos para não assinar aquela petição, e eu subscrevo alguns dos que critica. Contudo, subscrevo inteiramente a sua conclusão. Aliás, foi aqui que li a mais pertinente observação, a propósito das declarações de alguns directores de jornais, quando morreu o jornalista João Mesquita - e isto, podendo parecer que não, vem muito a propósito.
Quando no comentário anterior refiro algo como 'as suas razões para não assinar a petição', queria dizer 'as suas razões para não ir à manifestação' - eu é que não assino a petição, e não a Ana Cristina.
Com essas coisas, com a pobreza, ou o desemprego, estes amantes do folclore nacional não se preocupam.
Gostam é de levar os trens de cozinha para manifs, trajados de branco como vestais da democracia.
Nem mais, Carlos Barbosa de Oliveira. Alguns deles estão sempre com a 'esquerda foclórica' - designação deles - na boca, nem que estejam em causa coisas bem mais graves, e agora queriam ajuda para um carnaval antecipado.
Carlos (no plural)
1. Portugal não é o Chile
2. Sócrates não é Allende
3. Eu, infelizmente, não posso limitar-me a ser dona de casa
4. O jornalismo em Portugal não é mau por causa do Sócrates
5. O noticiado pelo Sol é gravíssimo. Eu chamar-lhe-ia corrupção e não atentado à liberdade de imprensa
6. O Sócrates lida muitíssimo mal com as convulsões democráticas
7. Tenho para mim que democratas autênticos há poucos.
Ana Cristina, totalmente de acordo com todos os pontos, sobretudo o 3. ;) [bem, eu seria dono de casa] Mais a sério: todos, sobretudo o 5. [não corrupção em sentido técnico-jurídico, mas na acepção comum de corrupção]
Pois sim meus senhores. Mas do que eu gostei mais foi de ouvir Sarah: ... / Walk my way, / And a thousand violins begin to play, / Or it might be the sound of your hello,.../ and so on, and so on.
Boa noite. Fique(m) bem.
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