Novela belíssima onde se entrevê o que virá a ser esse romance portentoso chamado “Guerra e Paz”, Tolstói levou cerca de uma década para escrever/reescrever esta aventura passada no Cáucaso, recorrendo para isso à sua própria experiência na região, enquanto jovem militar do exército russo.
“Cossacos”, que só seria publicado em 1863, servindo então para pagar uma dívida de jogo do conde russo, é o último livro do seu primeiro período, imediatamente anterior às duas obras-primas que são “Guerra e Paz” e “Anna Karénina”.
Narra as aventuras de Olénin, um jovem sub-oficial que um dia decide trocar a vida citadina de Moscovo por um porvir cheio de promessas homéricas em terras distantes e primitivas: “Todos os sonhos sobre o futuro se juntavam com imagens do Amalat-Bek, das circassianas, dos montes, despenhadeiros, rios de rapidíssima e terrível corrente e dos perigos.”
A novela põe em jogo os dilemas morais recorrentes na obra de Tolstói, traduzidos aqui no antagonismo entre uma vida assente na “lei natural” – a que Olénin vai encontrar no Cáucaso – e o artificialismo das regras sociais que ele conhecia da cidade civilizada. Pelo meio há uma história de amor, personagens fortíssimas, como a do velho Erochka, para o qual não existe pecado, e, sobretudo, há essa capacidade extraordinária de Tolstói para nos dar a ver, de um modo rigoroso e ainda assim compassivo, o fluir complexo da existência humana.
Lev Tolstói, Cossacos – Novela do Cáucasso, Relógio D'Água, 2010
18/02/10
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4 comentários:
Ando para roubar uma edição antiga de Guerra, traduzida pelo Saramago, mas falta-me a coragem.
Que é que dizes?
Bem, aí está uma obra que há vários anos ansiava ver nas livrarias portuguesas (e consequentemente na minha biblioteca).
E segundo informação privilegiada que obtive, Ressurreição estará aí lá para Março ou Abril, com uma novíssima tradução da responsabilidade de quem nós já sabemos (editorial teorema).
Ega, nada me diz sobre se devo roubar ou não a obra.
Lili, traduzido por Saramago só mesmo se for fanado ou oferecido. Comprar é que não vale a pena. Li uma vez uma tradução russa de Saramago e fiquei KO.
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