O jornal inglês de referência
The Sun noticiou que um homem não identificado entregou uma carta ao filho do pedófilo Raymond Hewlett, uma semana depois deste ter morrido de cancro na garganta.
Na missiva, escrita no leito da morte (claro), Hewlett garantia que nada tivera que ver com o rapto de Maddie embora soubesse o que lhe acontecera: fora raptada pela máfia cigana.
Um amigo do filho do pedófilo (que não falava com o pai há 20 anos) contou a história ao jornal.
The Sun diz que o filho queimou a carta depois de a ler. E pronto.
Deste enredo de pacotilha fez o
Diário de Notícias... uma notícia. Esqueceu-se de traduzir a parte de a carta ter sido supostamente destruída e de se desconhecer o seu mensageiro, e intitulou-a: "
Maddie levada por Mafia Cigana". O
I e a
Visão, mais comedidos, titularam a coisa em modo conjuntivo. Respiramos de alívio!
Se isto seria sempre um disparate e exemplo de jornalismo, literalmente, de latrina, a coisa irritou-me ainda mais por surgir no momento em que surge.
E a propósito do momento...
1º: Está marcada uma concentração junto à Embaixada de França em Lisboa para o próximo sábado, pelas 15 horas, contra as expulsões dos ciganos.
2ª: Aproveito para transcrever post de
O Senhor Comentador que, no essencial, resume aquilo que penso sobre o assunto. Cá vai.
O Senhor Comentador adverte os governos a suspenderem a caça aos ciganos"A expulsão de ciganos ordenada pelo governo francês relembrou que a mentalidade europeia é organizada pela mediocridade. Percebo que os ciganos, ou os Roma, como agora lhes chamam, não sejam fáceis de aturar. É uma cultura fechada, preconceituosa, arrogante e incontrolável. E, pior, há séculos que tem uma péssima publicidade. Até os contos infantis, Pinóquio entre eles, os consagraram como papões etnicamente reconhecíveis. A aversão aos Romas é formada desde a mais terna infância. Contudo, não digo que seja totalmente infundada. Acredito que há ciganos criminosos, como os há pretos, árabes, nórdicos, europeus, galeses. Mas quando se fala dos Roma, a criminalidade é apenas burguesmente aceite; como se fosse uma condição sine qua non destas pessoas. Seja como for, esta etnia, sem ter influenciado directamente a história do mundo, sobreviveu a todas as histórias que o mundo teve. A sua cultura é uma curiosidade mas nunca foi uma influência. Talvez na música, com as rapsódias, com Liszt e Paganini, mas mais pelo desafio de adaptar a sua exuberância expansiva à nossa predominante melancolia ou cerimoniosa musicalidade. Que os países europeus não tenham conseguido “civilizá-los” ao longo destes séculos é, sem dúvida, um fracasso cultural. Esta força cigana merece respeito. Não está em causa o dever do cumprimento da lei, até mesmo por tão exótica e independente comunidade. Mas discriminá-los por, em conjunto, serem perigosos para sociedade suburbana, é, além de idiota, uma traição à nossa civilização. Os ciganos deviam ser tratados com o mesmo respeito que devemos às espécies em vias de extinção. A ânsia de controlar os nossos impostos, a nossa saúde, a educação, os nossos tempos livres, vai chegar a um ponto em que não haverá espaço burocrático para as culturas independentes ou marginais. É cada vez mais difícil viver à margem seja do que for. Os Roma conseguiram-no durante séculos. Aceitemos o seu triunfo e esperemos que também sobrevivam a estes tempos, em que os computadores são cada vez mais severos e as administrações mais implacáveis. Fora isso, tudo bem."
A fotografia foi encontrada aqui.