"(...) Por outras palavras, o problema do défice e da dívida no contexto em que estão inseridos não têm solução. O país não vai gerar rendimentos para pagar a dívida, porque não cresce – e vai crescer ainda menos ou mesmo decrescer – e mais tarde ou mais cedo vai chegar-se a uma situação de incumprimento. Entretanto, imensas somas de dinheiro continuarão a ser transferidas para os predadores financeiros, sem que daí resulte qualquer vantagem (a não ser para eles) para a economia nacional.
O que se passa com Portugal, passa-se com a Grécia, a Irlanda e a Espanha. Como no seio da União Europeia não há a menor predisposição para encarar com realismo o que está a acontecer e apenas se raciocina na base da coerção, como se as leis económicas pudessem ser “domadas” pelo receio das sanções ou mesmo pela imposição das ditas, não se pode esperar da União uma via de solução que, atendendo ao problema de alguns, possa ser, a prazo, do interesse de todos.
Assim sendo, e tendo sempre presente que o actual caminho, aqui sintetizado nas imposições de Bruxelas e exigências dos predadores, não leva a qualquer solução, por muito que os governantes se esforcem por fazer crer o contrário, a única saída possível para o problema assenta numa posição de força dos devedores. Algo como: “Assim, não pagamos!”, de modo a forçar uma solução alternativa com saídas credíveis, socialmente aceitáveis. (...)"
LER NA ÍNTEGRA AQUI.
* Uma das minhas filhas esteve a ouvir o FMI no youtube com o avô e meteu o Zé Mário Branco, que não conhecia, na página dela do facebook. Talvez isto queira dizer alguma coisa.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
EM REDE
- 2 dedos de conversa
- A balada do café triste
- A causa foi modificada
- A cidade das mulheres
- A curva da estrada
- A dança da solidão
- A rendição da luz
- A revolta
- A terceira via
- A única real tradição viva
- Abrasivo
- Agricabaz
- Agua lisa
- Albergue espanhol
- Ali_se
- Amor e outros desastres
- Anabela Magalhães
- Anjo inútil
- Antologia do esquecimento
- Arrastão
- As escolhas do beijokense
- As folhas ardem
- Aspirina B
- ayapaexpress
- Azeite e Azia
- Bibliotecário de Babel
- Bidão vil
- Blogtailors
- Casario do ginjal
- Centurião
- Church of the flying spaghetti monster
- Ciberescritas
- Cidades escritas
- Cinco sentidos ou mais
- Claustrofobias
- Coisas de tia
- Complicadíssima teia
- Contradição Social
- Dazwischenland
- De olhos bem fechados
- Dias Felizes
- Do Portugal profundo
- Duelo ao Sol
- e-konoklasta
- e.r.g..d.t.o.r.k...
- Enrique Vila-Matas
- Escola lusitânia feminina
- Fragmentos de Apocalipse
- Governo Sombra
- Helena Barbas
- If Charlie Parker was a gunslinger
- Illuminatuslex
- Incursões
- Instante fatal
- Intriga internacional
- João Tordo
- Jugular
- Klepsydra
- Last Breath
- Ler
- Les vacances de Hegel
- Letteri café
- LInha de Sombra
- Mãe de dois
- Mais actual
- Malefícios da felicidade
- Manual de maus costumes
- Metafísica do esquecimento
- Mulher comestível
- Nascidos do Mar
- Non stick plans
- O Declínio da Escola
- O escafandro
- O funcionário cansado
- O jardim e a casa
- O perfil da casa o canto das cigarras
- Obviario
- Orgia literária
- Paperback cell
- Parece mal
- Pedro Pedro
- Porta Livros
- Pratinho de couratos
- Raposas a Sul
- Reporter à solta
- Rui tavares
- S/a pálpebra da página
- Se numa rua estreita um poema
- Segunda língua
- Sem-se-ver
- Sete vidas como os gatos
- Shakira Kurosawa
- Sorumbático
- Texto-al
- The catscats
- There's only 1 Alice
- Tola
- Trabalhos e dias
- Um dia... mais dias
- Um grande hotel
- We have kaos in the garden
9 comentários:
Esta proposta de "não paguemos" está perfeitamente ao alcance de um Valentim Loureiro, mas não sei se está ao nosso.
Primeiro, por questões morais: o Major já deu alguns sinais de não ter nenhum respeito pela propriedade privada (dos outros); nós tendemos a considerar desagradável a ideia de nos vermos a nós próprios como caloteiros.
Depois, por questões de tomates (pardon my french): se aparecer ao Major um segurança de discoteca a dizer "o teu carro tem um risco, ontem vi a tua menina sair da escola, deves dinheiro a um amigo meu, quando pagas?", ele é homem para lhe dar uma joelhada no sítio onde dói mais e o neutralizar; nós podemos não ter nem a genica nem a manha dele, e apanhar uma tareia, e ser obrigados a pagar com juros.
Vou prescindir de aprofundar a questão moral, que é subjectiva, mas vale a pena ter uma noção do que acontece se não pagarmos: à primeira falha a liquidar um empréstimo, ninguém mais nos empresta dinheiro nem sequer dá crédito comercial; combustíveis, alimentos, até a roupa de marca, desaparecem das prateleiras, e aí é que se vai passar fome, quer apertando o cinto, quer deixando as calças cair.
E todas as semanas a República tem que liquidar empréstimos que, não tendo dinheiro para o fazer, a obrigam pedir novos empréstimos com juros sempre mais altos do que os dos empréstimos liquidados e cada vez mais altos.
Que alguém, ou por fazer dieta, ou por ter a despensa cheia, esteja disposto a correr pessoalmente este risco, acho muito bem, não pague os seus empréstimos pessoais; que incite os outros a fazê-lo escondendo as consequências, já me parece mal.
Como uns meninos grandes gostam de brincar com carros, combóios, aviões e mesmo submarinos (o Cavaco bem lhes sugere que brinquem antes com barcos...), outros gostam de brincar com revoluções. Mas é uma brincadeira que pode fazer sangue, e os brinquedos devem trazer uma etiqueta a avisar do risco.
Relembro-lhe uma história que conhece bem: a do miúdo mal educado do "Pai Tirano" que entra no Grandela, dá um pontapé ao empregado, parte um brinquedo e, para se livrar do castigo, chora e diz à mãe que a culpa foi do empregado, no que a mãe corre a acreditar.
Chamar predadores aos credores é exactamente a mesma coisa que o miúdo faz: andou-se desde sempre a gastar mais do que se ganhava, justificando sempre com os gastos que parecem imprescindíveis (o estado social) e escondendo os supérfulos (os carros, os aviões, os submarinos, os combóios, para além dos pareceres e consultorias, das rotundas, etc... para não ficar aqui todo o dia a escrever), e a pedir dinheiro aos credores para pagar o vício. No momento de lhes pagar, não sao credores, são predadores. Como se diz no Minho, predadores o caralho (pardon my french).
A solução deste problema passa por olhar para ele com uma perspectiva correcta, e de pocurar honestamente formas de gastar menos.
A perspectiva correcta é que não se pede emprestado a terceiros, porque eles acabarão por receber o que emprestam. Pede-se emprestado ao futuro, a nós próprio quando formos mais velhos, aos nossos filhos, aos netos ou a quem vier a pagar os empréstimos que fazemos agora. E quando se pede emprestado, um dos preços é condicionar a nossa (deles) liberdade futura por nos (lhes) criar uma obrigação de vir a pagar o empréstimo.
Aprocura honesta de soluções passa por distinguir aquilo que é "nice to have" do que é "need to have", reconhecer, por exemplo, que se podem parar imeditamente as grandes obras públicas (mas há muito mais...), em vez de ameaçar com "poupanças só se cortar no estado social", como o Governo e, de uma maneira geral, a esquerda, têm feito para conseguir o dinheiro para os seus brinquedos.
Finalmente, sem saber a idade da sua filha era capaz de arriscar uma sugestão: não é que o FMI, ou o que o José Mário Branco fez a partir daí, não mereçam a atenção dela, mas mostre-lhes os discos dele de antes do 25 de Abril, o "Mudam-se o tempos..." e o "Margem..." que, esses, é um crime não conhecer.
Comentário sucinto, hem?
Manuel, infelizmente, essa história dos empréstimos é um bocadinho mais complicada. Ao que se acrescenta que eu, e muito mais gente, nunca pediu nada para adquirir supérfluos (a não ser que estejamos com o barreto e tal...). Mas enfim, teria que ir ali consultar o capital do marx e sem dinheiro para estantes já nem sei onde tenho os livros. Não esqueçamos, porém, as palavras do belmiro: quando o povo tem fome, tem direito a roubar. ele lá sabe quanto paga à malta...
No que diz respeito ao ZMB, a minha filha ouviu o FMI com o avô. Eu cá prefiro a queixa das almas jovens censuradas, mas isso sou eu.
A "Queixa das almas jovens censuradas" é a mais bela canção jamais composta em português, digo eu, mas aqueles dois discos tinham muitas mais, e especialmente dirigidas a adolescentes, como eu era na altura. Mais do que os discos dos outros "cantores de intervenção" da minha adolescência, tenho estes como importantes para a minha formação cívica.
A dívida do Estado português é nossa... foi constituída pelos nossos representantes, e somos todos colectivamente responsáveis por ela, independentemente de termos votado ou não nos sucessivos governos e de concordarmos ou não com a forma como eles se financiaram e gastaram o dinheiro.
Mas, independentemente dessa responsabilidade formal, se o Estado falhar com os credores vai cair numa asfixia muito séria que nos vai afectar muito a todos.
O Belmiro paga a todos os funcionários acima do ordenado mínimo, tanto quanto julgo saber.
Já tinha previsto pôr a tocar a Queixa lá em casa, desde que li o segundo comentário
Leoparda, sabias que o Clube Naval de Portimão faz 50 anos? Também não, fui apanhado desprevenido à entrada da cidade e amanhã conto esclarecer a efeméride na esplanada ;)
Até sábado ou assim :P
Manuel, continuo sem encontrar o marx mas não esqueça que um clássico é sempre um clássico. Quanto ao Belmiro, acho que se ele tivesse que sustentar a família com o salário mínimo já teria considerado a hipótese de se dedicar ao gamanço
Fallorca, invejo-te (confesso). Quanto ao resto, não está esquecido.
Antes de ir à procura do Marx, deixe-me avisá-la que sou mais para o Smith do que para o Marx...
Acho a economia muito interessante como ciência positiva, e muito menos quando quer ser normativa.
De qualquer modo, espero com entusiasmo a sua citação do Marx, que será certamente mais interessante que a obra ou o autor.
Seja como for, não creio que estejamos muito afastados relativamente a considerar que quando se pede emprestado é para se pagar a dívida. Se não gostamos ou não confiamos no prestamista, o melhor é mesmo não pedir emprestado. Porque se mesmo assim pedirmos e depois não quisermos pagar, somos nós que não prestamos mesmo...
Acha esta visão criticável?
Quanto ao Belmiro, ele de facto fez pela vida, porque conheço quem tenha andado com ele na universidade e ele na altura era não mais que remediado. O que eu quis dizer foi que apesar do seu estilo tronitruante (vi esta palavra engraçada escrita ontem em França e não resisti a repeti-la aqui) o sugerir, ele não é dos empresários mais exploradores que há em Portugal.
Manuel, eu é mais o Groucho.
Quanto ao dinheiro emprestado, depende... Se o prestamista for excessivamente ganancioso, é bem-feita se levar um calote
Belmiro, pois. Não será de certeza dos mais exploradores. Parece é que lá a dada altura, a coisa correu-lhe demasiado bem. Ouvi apenas dizer...
Eu também prefiro o Groucho ao Karl, mas o Capital que anda à procura no seu monte de livros é do Karl, não é? Melhor ainda, que o humor da citação fica todo por sua conta, porque ele não tem graça nenhuma!
O prestamista cujos empréstimos a República Portuguesa tem andado a liquidar não foi ganancioso, concorreu a leilões organizados pelo Governo português, como os que continua a lançar regularmente (com a regularidade assustadora com que o heroinómano vai ao Casal Ventoso), em que ganha o prestamista que aceita taxas de juro mais baixas.
Se as taxas de juro dos novos empréstimos são altíssimas, é porque eles não já confiam naquela gente, e, para dizer a verdade, eu também não confio.
Gente que utiliza a "sustentabilidade da Segurança Social" como pretexto para reduzir as pensões de reforma (o que é correcto) e que depois pega num fundo de pensões, constituído justamente para ter sustentabilidade para pagar as pensões que tem a seu cargo, e paga submarinos com ele, é gente que não merece mesmo confiança nenhuma, é gente que vive a roubar. Tracinho nos. A nós! O prémio de risco da dívida soberana é por serem eles a geri-la.
A ganância, desculpe-me que lhe diga, foi TODA dos sucessivos governos que gastaram sempre mais do que tinham, pedindo emprestado, e foi dos eleitores que os elegeram, talvez por pensarem que algum do que eles gastavam a mais lhes podia vir calhar à mão... Ainda vê por aí muita ganância, ainda vê muita gente no parlamento a ver se consegue concretizar as burlas do TGV e do Aeroporto... ao fim e ao cabo, talvez a ganância de querer gastar o que não se tem ande de mão em mão com a ganância de não querer pagar a quem se deve...
Agora, como eu já tinha dito atrás (eu sei que me é dificil fugir a ser repetitivo...), independentemente das questões éticas do fenómeno, se a República Portuguesa der uma calote que seja, não tenha dúvida que se vai passar fome a sério em Portugal. E não serão os deputados do PS a ver encolher as suas barriguitas...
Enviar um comentário