Escreveu Julio Cortázar que a indiferença pelo estilo por parte de autores e leitores leva [me] a suspeitar que a 'mensagem' tão disposta a prescindir alegremente de um estilo também não há-de ser grande coisa.
Como se sabe, o desprezo pela “mensagem” foi algo que Nabokov sempre cultivou [“Desespero (…) não tem comentário social a fazer, não traz mensagem nos dentes. Não endireita o órgão espiritual do homem nem mostra à humanidade a saída justa. Contém muito menos ‘ideias’ do que qualquer um desses ricos romances populares tão histericamente aclamados na curta câmara de eco entre o aplauso e a vaia”].
Tal posição, que irritou a intelectualidade de esquerda (e também a de direita, que nunca lhe perdoou os amores do professor pela ninfa), faz de Nabokov um nome aparentado de Borges, se ao estilismo irrepreensível dos dois acrescentarmos o gosto evidente pela paródia de ambos.
Desespero é, no caso, uma paródia ao tema do duplo e da culpa (não demora muito para que pensemos em Crime e Castigo) magistralmente escrita. E é também uma paródia aos truques literários, às estratégias de sedução, aos esquemas de composição romanesca (Como começaremos este capítulo? Proponho diversas variantes para escolha).
Hermann Hermann, e não pode deixar de notar-se a similitude com Humbert Humbert, o narrador de Lolita, é uma personagem pouco simpática, solipsista, industrial do fabrico de chocolate que um dia encontra um vagabundo de nome Félix cuja fisionomia lhe parece uma cópia de si próprio. Obcecado pela semelhança, acaba por mergulhar num perigoso jogo de espelhos que o conduz à loucura e ao homicídio.
Desespero é, no caso, uma paródia ao tema do duplo e da culpa (não demora muito para que pensemos em Crime e Castigo) magistralmente escrita. E é também uma paródia aos truques literários, às estratégias de sedução, aos esquemas de composição romanesca (Como começaremos este capítulo? Proponho diversas variantes para escolha).
Hermann Hermann, e não pode deixar de notar-se a similitude com Humbert Humbert, o narrador de Lolita, é uma personagem pouco simpática, solipsista, industrial do fabrico de chocolate que um dia encontra um vagabundo de nome Félix cuja fisionomia lhe parece uma cópia de si próprio. Obcecado pela semelhança, acaba por mergulhar num perigoso jogo de espelhos que o conduz à loucura e ao homicídio.
Um divertissement macabro ou Nabokov no seu melhor.
Desespero, Vladimir Nabokov, Teorema, 2010, trad. de Telma Costa
10 comentários:
Vou buscá-lo amanhã, com grande mágoa por o último de Sebald ainda não estar disponível... Mas trago «Blanco nocturno», de Ricardo Piglia. Depois, vais tomando conhecimento. «É bom trabalhar nas Obras», e tu que o digas :P
Fiufiu...
http://hojehaconquilhas.blogs.sapo.pt/1179721.html
«É bom trabalhar nas Obras»
... isso queria eu
«Não endireita o órgão espiritual do homem»... genial. Mas um poucochinho machista, não?
:-)
Luís, não dará para perceber que o Nabokov se borrifava nessas classificações? Por todas as razões e mais aquela de ele ter vivido antes do politicamente correcto?
Ele não pôde usar o novíssimo dicionário (capa azul) de português da Puarto Enditora, caragu
É bom trabalhar nas Obras»
... isso queria eu
Tá bem, ó tímida
http://wwwmeditacaonapastelaria.blogspot.com/2010/08/da-esquerda-e-da-direita-ou-como-se.html
Então, ficaste? Não respondes? Foste lavar as chávenas da pastelaria?
Olha que te devolvo a sms...
Ficas-te :(
fallorca, falava de outra loiça...
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