28/02/09
Comovente, eu acho [bom fim-de-semana]
Orquestra Sinfónica do Kinshasa, República Democrática do Congo
27/02/09
Para acabar de vez com o Courbet: a minha definição de pornografia, e sem bonecos
E aposto que, mais coisa menos coisa, serão esses mesmos portugueses que se vêm agora escandalizar porque a senhora que posou para o quadro do Courbet não foi à depilação.
* refiro-me ao assalto à dependência do BES - Campolide em Agosto passado, do qual resultou a morte de um dos assaltantes, que caiu sob o disparo de um atirador especial
26/02/09
Et encore du Courbet ― desta vez lembrando o cariz quase libertário e sem limites e tal... bom, o melhor é lerem

A esses espíritos tão sensíveis à preservação, sem limites, do direito de expor em todas as dimensões públicas e privadas, independentemente da idade dos que a elas têm acesso, todo o tipo de obras de arte, eu gostaria de perguntar se acaso têm sobre a mesa da sua sala, à vista das crianças da casa, os albuns desse fotógrafo de eleição que é Mapplehorpe. Ou se considerariam natural se certos poemas conhecidos de Bocage ou de António Botto fizessem parte das leituras postas à disposição dos seus jovens filhos.
Por princípio, não é muito saudável ver os poderes públicos arvorarem-se em juízes do que alguém pode ou não ver. Em regra, tudo deve estar acessível a todos e também começa a ser óbvio que o conceito daquilo que possa ser uma imagem chocante tem vindo a variar ao longo dos anos - com impacto nos critérios do seu acesso a determinadas faixas etárias.
Mas sejamos honestos: neste caso do quadro de Courbet, a questão não é do domínio da censura, mas apenas de mero bom-senso.
Francisco Seixas da Costa [embaixador em Paris (os bolds no texto são meus)]
Lido aqui. O que só reforça o bom senso do que se escreve neste aqui anteriormente linkado, e que já agora reproduzo e não se fala mais disto. Quero eu dizer, da defesa intransigente da liberdade de expressão.
Ainda a propósito da apreensão de alguns exemplares do livro Pornocracia, Eduardo Pitta faz uma leitura pertinente do «acontecimento», citando alguns artistas «malditos», ainda hoje censurados nos circuitos mais «cultos» por essa Europa fora. (João Pinto e Castro, com mais economia de palavras, levanta a mesma questão nestes termos: quem foi a luminária que decidiu que, lá por uma coisa ser arte, não pode ser também pornografia?) Mas, se me permitem, a questão não reside aí onde a colocaram. A questão tem a ver com a liberdade de expressão e as competências para a sua regulação em caso de conflito com outros interesses jurídicos ou socialmente relevantes. A liberdade de expressão, como pilar fundamental das democracias, não pode ser entregue ao arbítrio das «mães de Bragança» e da polícia. O que se passou na feira do livro de Braga é o mesmo que uma «mãe de Bragança» entrar numa galeria de arte onde se expõem telas de nus masculinos e femininos e ir a correr para a esquadra da polícia mais próxima pedir para encerrar a galeria. E a polícia agir de imediato. E depois dos livros e das galerias, acabávamos por chegar ao cinema, ao teatro e por aí fora. Outra coisa diferente é um galerista, um museu ou um editor se recusar a expor ou a publicar esta ou aquela obra, este ou aquele artista. Ainda bem que a uma só voz se defende a liberdade de expressão, contra arbitrariedades, mesmo quando a arte se «confunde» com pornografia.
Tomás Vasques (os bolds são meus)
― Ah c'etait du Courbet! ― Pois era, chefe. ― Oh diabo! Então, vamos ter que devolver (diálogo imaginário)

25/02/09
Manuel de Pinho, o nosso mais inovador ministro, e homem de muita fé, passou a manhã com o novo inquilino da Casa Branca...
... depois foi ler Garrett.
Da série embirrações assumidas VI [e não, nada tenho contra os simpáticos cães d'água] *
[imagem gamada aqui, a propósito desta notícia]
*obrigada, Lili-One
O que uma mulher gosta é de alguém que a faça rir; eu gosto!
Na última entrevista de Pedro Passos Coelho ao "Público", em que desnuda as suas mais pudendas partes intelectuais, descubro porque é que nunca serei candidato a coisa nenhuma. A culpa não é minha, é das más companhias. Enquanto, nos tenros anos juvenis, eu acompanhava com Tintin, Litle Nemo, Spirit, Lil'Abner e Dick Tracy (e o pior é que ainda acompanho), Passos Coelho mergulhava nas profundezas de Voltaire; enquanto eu me emocionava com as viagens de Gulliver e de Nils Holgersson, ele reflectia sobre "A fenomenologia do ser", de Sartre. E não adianta Pacheco Pereira desenganar-me dizendo que Sartre nunca escreveu tal obra, porque eu também a li. "Mais tarde", como Pedro Passos Coelho fez com Kafka, mas li. A "A fenomenologia do ser" e "As mãos e os frutos" (ou seria "As mãos sujas"?); é, se não me engano, onde Sartre "problematiza" a privatização das caixas gerais de depósitos.
O kitsch sueco

24/02/09
190 anos passados, provoca alterações na ordem pública e incita ao cometimento de outros crimes: ah grande Courbet que não foste anarquista em vão!

Parece pois que houve uns pais que se queixaram, por considerarem que o quadro ofendia o olhar dos seus rebentos. Aconselho tão zelosos educadores a nunca vistarem Florença. Se as crianças tropeçam na pilinha do David ficam traumatizadas para a vida!
23/02/09
Courbet: se alguém lhes conta das poucas-vergonhas do Louvre, ainda se vão masturbar para lá!

21/02/09
Regresso à normalidade
Será coisa de família? E com esta pergunta dou por encerrada a galeria de horrores qu'isto não dá saúde a ninguém

Edifício 2 — patos bravos à solta: este é um dos muitos projectados/assinados pelo próprio José Sócrates.
Edifício 3 — novo-riquismo à armar ao pingarelho: este é onde José Sócrates mora

20/02/09
The Hound of the Monteirovilles ou se isto não é um manicómio eu não sou filha da minha mãe

Limito-me a transcrever... e, a ser verdade, que alguém tenha piedade de nós!
«Do advogado de Júlio Monteiro, Sá Leão, o JN recebeu o seguinte comunicado que transcrevemos na íntegra:
"Freeport Napoleão, o Bulldog francês do engº Júlio Monteiro foi encontrado, Finalmente há resultados no caso Freeport. O apelo feito na TV, no final do depoimento do Engº Júlio Monteiro, para que fosse encontrado o seu bulldog francês foi ouvido. Cerca das 23h de ontem, o cachorro voltou a casa. Nesta tristíssima cabala, divertida e ridícula, não fosse o caso de, em especial, se pretender atingir a honra do Primeiro-Ministro de Portugal e de transformar este país num lugar frequentado por corruptos, finalmente temos um resultado feliz e que se espera tenha deixado o país quase tranquilo. O bulldog francês do Engº Júlio Monteiro regressou a casa e vai, com certeza, colaborar nas investigações".
O comunicado foi enviado por fax e tem origem na sociedade de advogados NGS - Leão e Associados. O próprio advogado Sá Leão confirmou ao JN o envio do mesmo.»
[e quanto mais olho para a cara do homem (ao centro, na foto, rodeado pelos advogados), cada vez mais me convenço que ele é lelé da cuca]
(re)Confirma-se: Margarida Moreira escreve mal comàmerda [e que me processe de novo]
Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável, acompanharemos de muito perto a defesa do bom nome da escola, dos professores, dos alunos e de toda uma população que muito tem orgulhado o nosso país pela valorização que à escola tem dado.
Esta senhora das duas uma: ou é analfabeta ou sofre de anacolutia mental.
[o texto foi descoberto aqui, e clique-se na imagem para, aumentando-a, se poder confirmar que não sou eu quem está maluca]
Aposto três arrobas de bolas-de-berlim em como a senhora delegada do 1º juízo é amiga da Margarida Moreira

Com tanta campanha negra alguém que pague a porra da luz

E pelo andar da negritude já teremos estado mais longe de concretizar aquela máxima que alguém em tempos escreveu junto ao aeroporto de Lisboa: «o último a ir-se embora apague a luz!» Mas ir para onde? Para Pasárgada?
19/02/09
Esta dói-me

O imparável Américo Thomaz, perdão, Manuel de Almeida de Pinho, lança outra campanha negra diferente da outra campanha negra
Manuel Pinho é aquele crânio visionário que a crise ainda mal descolara já ele lhe anunciava o fim. Em 2006. O tal que querendo talvez provar saber tanto ou mais que Sócrates, inventou em inglês o Allgarve e a West Coast. O mesmo que foi dizer aos chineses que nós éramos muito em conta ou, mais recentemente, que a falência da Qimonda pode ter uma consequência positiva: dar mais flexibilidade à reestruturação das diversas partes do grupo, raciocínio que emparelha, em clarividência e militante optimismo, com a sua última deixa: números do desemprego são um sinal de esperança.
O Iluminado inventou outra campanha (de novo, para não ficar atrás?): «Descubra um Portugal Maior». Uma campanha de 4 milhões de euros. A pensar em nós. No nosso bem. Para que possamos ir de férias. Por montes e vales. De biblioteca em biblioteca. Sim, porque sabeis de quantas bibliotecas dispomos? De Norte a Sul? O Pinho sabe: 20 mil. Com sorte, ainda o vamos apanhar este Verão, nalguma delas, a ler às escondidas o Viagens na Minha Terra. Why not? Vinha a propósito e sempre é Almeida Garrett. O Garrett de cuja casa Pinho foi propietário, até a conseguir demolir substituindo-a por um condomínio moderno digno da West Coast.
Enfim, não certamente por acaso é este homem ― amante de sapatos italianos e manequins Fátima Lopes ― chamado da Inovação. Ora bardamerda!
17/02/09
Serão os proponentes do casamento gay tão conservadores como os seus antagonistas? [e façam favor de não se pôr aos gritos, é só para elevar o debate]

The re-banning of gay marriage in California earlier this month with the passage of Proposition 8 has been presented by gay marriage advocates as a vicious body-blow for gay rights. Angry gay people and their allies have protested across the US, some reportedly even rioting. The timely release of the Gus Van Sant movie Milk, about the murder in 1977 of Harvey Milk, the US’s first out elected official, has fuelled the sense of gay outrage and defiance. Surely only a hateful bigot like the one that gunned down Harvey would be opposed to gay marriage?
Gay marriage is the touchstone of gay equality, apparently. Settling for anything less is a form of Jim Crow style gay segregation and second-class citizenship.
But not all gays agree. This one for instance sees gay marriage not so much as a touchstone as a fetish. A largely symbolic and emotional issue that in the US threatens to undermine real, non-symbolic same-sex couple protection: civil unions bestow in effect the same legal status as marriage in several US states ― including California. As a result of the religious right’s mobilisation against gay marriage, civil unions have been rolled back in several US states.
Perhaps the lesson of Proposition 8 is not that most straight people think gay people should sit at the back of the bus, but that if you take on religion and tradition on its hallowed turf ― and that is what marriage effectively is ― you’re highly likely to lose. Even in liberal California.
Maybe I shouldn’t carp, living as I do in the UK, where civil partnerships with equal legal status to marriage have been nationally recognised since 2004. But part of the reason that civil partnerships were successfully introduced here was because they are civil partnerships not “marriages” (the UK is a much more secular country than the US, and somewhat more gay-friendly too ― but even here gay marriage would almost certainly not have passed).
At this point I’d like to hide behind the, erm, formidable figure of Sir Elton John, who also expressed doubts recently about the fixation of US gay campaigners on the word ‘marriage’, and declared he was happy to be in a civil partnership with the Canadian David Furnish and did not want to get married. Needless to say, Mr John wasn’t exactly thanked for speaking his mind by gay marriage advocates.
But amidst all the gay gnashing of teeth about the inequality of Proposition 8 it’s worth asking: when did marriage have anything to do with equality? Respectability, certainly. Normality, possibly. Stability, hopefully. Very hopefully. But equality?
First of all, there’s something gay people and their friends need to admit to the world: gay and straight long-term relationships are generally not the same. How many heterosexual marriages are open, for example? In my experience, many if not most long term male-male relationships are very open indeed. Similarly, sex is not quite so likely to be turned into reproduction when your genitals are the same shape. Yes, some gay couples may want to have children, by adoption or other means, and that’s fine and dandy of course, but children are not a consequence of gay conjugation. Which has always been part of the appeal for some.
More fundamentally who is the “man” and who is the “wife” in a gay marriage? Unlike cross-sex couples, same-sex partnerships are partnerships between nominal equals without any biologically, divinely or even culturally determined reproductive/domestic roles. Who is to be “given away”? Or as Elton John, put it: I don’t wanna be anyone’s wife.
It’s increasingly unclear even to heterosexuals who is the “man” and who is the “wife”, who should cleave to the other’s will and who should bring home the bacon. That’s why so many today introduce their husband or wife as “my partner”. The famous exception to this of course was Guy Ritchie and his missus, Madonna - and look what happened to them. Pre-nuptial agreements, very popular with celebs (though not, apparently, with Guy and Madonna), represent the very realistic step of divorcing before you get married ― like plastic surgery, this is a hard-faced celeb habit that’s going mainstream.
If Christians and traditionalists want to preserve the “sanctity” of marriage as something between a man and a woman, with all the mumbo jumbo that entails, let them. They only hasten the collapse of marriage. Instead of demanding gay marriage, in effect trying to modernise an increasingly moribund institution, maybe lesbian and gay people should push for civil partnerships to be opened to everyone, as they are in France ― where they have proved very popular.
I suspect civil partnerships, new, secular, literally down-to-earth contracts between two equals, relatively free of the baggage of tradition, ritual and unrealistic expectations, would also prove very popular with cross-sex couples in the Anglo world at a time when the institution of marriage is the most unpopular it’s ever been among people who aren’t actually gay. Yes, cross-sex couples can have civil marriage ceremonies, but they’re still marriages, not partnerships. If made open to everyone, civil partnerships might eventually not just be an alternative to marriage. Marriage might end up being something left to Mormons.
Perhaps my scepticism about gay marriage and marriage in general is down to the fact that I’m terminally single. Perhaps it’s all just sour grapes. Or maybe I prefer to burn with passion than marry. After all, St Paul’s violently ascetic world-view which regarded marriage as a poor runner-up to chastity, also ensured that the Christian Church would burn sodomites like kindling for centuries.
Either way, I think it needs to be mentioned amidst all this shouting about gay domesticity that, important as it is to see lesbian and gay couples recognised and given legal protection, probably most gay men (though probably not most lesbians) are single and probably will be single for most of their lives. With or without civil partnerships/unions. Or even the magical, symbolic power of gay marriage.
(2.) Gostar de [alguns] homens: e como eu gosto deste!

Lembrei-me disto a propósito do mais recente milagre do D. Nuno Álvares Pereira (e se não acreditam em mim ao menos acreditem no Vaticano e na Guilhermina de Jesus a quem o dito condestável salvou de cegueira certa estava ela a fritar peixe já no século XXI), e também por causa do nosso empreendedor ministro da economia Manuel Pinho (who else!) que teve mais uma ideia: olhar para Portugal de outra forma!
16/02/09
Hugo Chávez vence em Braga, perdão, na Venezuela

(1.) Gostar de [alguns] homens: e como eu gosto deste!

E vem isto a propósito da unanimidade socrática do PS e também deste comentário de Nuno Ramos de Almeida no 5 Dias, sobre os que se esqueceram de consagrar o grande líder: Acho que parte dos que não votaram estava a fazer compras em Alcochete.

15/02/09
14/02/09
O fascismo foi uma enorme maçada!

Tão desempoeirada ― acrescento eu ―, como a ideia de transformar o Tribunal da Boa-Hora num hotel de charme, a sede da PIDE em condomínio de luxo ou o Forte de Peniche numa pousada com vista.
Lamento vir contrariar tamanho arejamento de espírito, e logo a um fim-de-semana, mas estou com o Juiz Harry Stone: I try to keep an open mind, but not so open that my brains fall out.

12/02/09
Nuno Bragança (1929-1985)

Criado embora entre hálitos de faisão, cedo me especializei na arte de estender os braços. Dia após dia os mais laboriosos, cansativos forcejos projectavam meus membros anteriores em-frentamente. E isto assim até que perdi as mãos de vista.
Não que o meu sorriso fosse esgar, ou o meu gargalhar inexistente; mas uma certa palidez no semblante geral denunciava (ao que parece) más possibilidades. Foi nessa época que se pôs o problema de eu ser ou não envolvido a fundo nas malhas da FRIPMS (Fundação de Recrutamento Infantil Pró Movimento Selecta). Reunido o Conselho de Família, verificou-se (e registou-se em acta) a ausência do meu tio Augusto, que não pôde comparecer, ocupado, como estava, a violentar a filha menos vesga do jardineiro. Decidiu-se que eu não seria imediatamente recrutado: a debilidade era o meu forte. Foi-me oferecido um gato de peluche e, como nesse dia perfiz cinco anos, assim terminou a minha recuada infância.
11/02/09
Confessando a minha ignorância, eu hoje descobri um blogue
Don't mess with Heisenberg
10/02/09
Confessando a minha ignorância, eu hoje descobri um poeta

Poète, en dépit de ses vers;
Artiste sans art, à l'envers,
Philosophe, à tort à travers.
Un drôle sérieux, pas drôle.
Acteur, il ne sut pas son rôle;
Peintre: il jouait de la musette;
Et musicien: de la palette.
Une tête! mais pas de tête;
Trop fou pour savoir être bête;
Prenant pour un trait le mot "très".
Ses vers faux furent ses seuls vrais.
Oiseau rare et de pacotille;
Très mâle ... et quelquefois très "fille";
Capable de tout, bon à rien;
Gâchant bien le mal, mal le bien.
Prodigue comme était l'enfant
Du Testament, sans testament.
Brave, et souvent, par peur du plat,
Mettant ses deux pieds dans le plat.
Coloriste enragé, mais blême;
Incompris ... surtout de lui-même;
Il pleura, chanta juste faux;
Et fut un défaut sans défauts.
Ne fut "quelqu'un", ni quelque chose
Son naturel était la "pose".
Pas poseur, posant pour "l'unique";
Trop naïf, étant trop cynique;
Ne croyant à rien, croyant tout.
Son goût était dans le dégoût.
Trop crû, parce qu'il fut trop cuit,
Ressemblant à rien moins qu'à lui,
Il s'amusa de son ennui,
Jusqu'à s'en réveiller la nuit.
Flâneur au large, à la dérive,
Épave qui jamais n'arrive....
Trop "Soi" pour se pouvoir souffrir,
L'esprit à sec et la tête ivre,
Fini, mais ne sachant finir,
Il mourut en s'attendant vivre
Et vécut, s'attendant mourir.
Ci-gît, coeur sans coeur, mal planté,
Trop réussi comme "raté".
Sauf les amoureux commençons ou finis
qui veulent commencer par la fin il y
a tant de choses qui finissent par le
commencement que le commencement
commence à finir par être la fin la fin
en sera que les amoureux et autres
finiront par commencer à recommencer par
ce commencement qui aura fini par n'être
que la fin retournée ce qui commencera
par être égal à l'éternité qui n'a ni
fin ni commencement et finira par être
aussi finalement égal à la rotation de
la terre où l'on aura fini par ne
distinguer plus où commence la fin d'où
finit le commencement ce qui est toute
fin de tout commencement égale à tout
commencement de toute fin ce qui est le
commencement final de l'infini défila
par l'indéfini Égale une épitaphe égale
une préface et réciproquement
Tristan Corbière [o que inclui o auto-retrato]
09/02/09
Morreu Eluana Englaro
08/02/09
Beatices pragmáticas ou dos imigrantes e das suas circunstâncias

Num discurso cheio de boas intenções, Rosário Farmhouse deixou cair os motivos para gostar tanto de imigrantes: Sem imigrantes o futuro será bem pior. É graças a eles que vamos conseguindo ter algum equilíbrio demográfico e na balança da segurança social. Mas disse mais, a senhora alta-comissária. Referindo-se directamente aos ingleses, acrescentou: Vamos conseguir demonstrar que somos diferentes e que não vamos fazer aos imigrantes aquilo que actualmente nos estão a fazer no Reino Unido.
Duas perguntas:
a) não devemos ser xenófobos com ninguém, excepto com os malandros dos bifes?
b) que fazer com os imigrantes que não se reproduzam ou que estando, por exemplo, doentes ou no desemprego, emperrem a balança?
Resumindo: há umas senhoras que na sua infinita indulgência me lembram demasiado a Cilinha, a tal que referindo-se à especificidade do colonialismo português e seus pretinhos ainda hoje jura a pés juntos: "Nós [portugueses] éramos fantásticos. Os outros tratavam-nos a chicote, como bichos. A nossa África era completamente diferente. Eles ainda hoje têm saudades".

07/02/09
Best scopitone ever [aproveitem enquanto, em nome da moral e dos bons costumes, não o revisionam outra vez do youtube ]
I Cried For You, Sonny King
(já é a segunda vez que posto isto, pode ser que desta passe...)
06/02/09
Amor com amor se paga

Outro comenta: Eu cá gosto é de malhar no Sócrates.
Moral da história: o primeiro estava a pedi-las.
05/02/09
Da relação milagrosa entre o "Angola é nossa" e o peritoneu do meu pai

Um dia, mandava Salazar, começou-se a falar da guerra. Que vinha aí. O meu pai não gostava de África. Apesar de nascido no Algarve, dava-se mal com o calor. Não queria ir. Então, ele e mais três muchachos alugaram um carro de praça (nome por que eram conhecidos os táxis) e puseram-se a caminho na direcção oposta. O táxi galgou Olhão/Hamburgo num ápice de sete dias.
Chegados finalmente à Alemanha, o meu pai acabaria a trabalhar para um clã italiano familiar dos Sopranos, proprietário de uma garagem de reparação de automóveis. Foi aí, entre motores fanados, radiadores sobreaquecidos, escapes tuberculosos, velas ardidas e peças contrabandeadas que lhe deu a dor de burro que o traria de volta. O coice era apendicite, evoluiu para peritonite e, não lhe subtraindo o pneuma mas ainda assim vinte quilos, isentou-o do ultramar. Regressou à pátria.
Na fronteira, junto a Vilar Formoso, a polícia portuguesa conferia os passaportes. A licença para se deslocar ao estrangeiro já há muito caducara e o Pide de serviço quis saber os motivos da ausência e do regresso. A resposta saiu rasa: Fui para aprender a grande língua de Goethe e volto por saber a pátria em perigo. O Pide olhou-o de esguelha mas logo se perfilou quando, retomando o fôlego, o meu pai largou um gutural Angola é nossa! No bolso, guardava o papel que o dava como inapto em alemão. Juntou-lhe o passaporte português e abandonou Fuentes d’Oñoro com um sonoro auf Wiedersehen. Entre dentes e sorriso largo acrescentou para o Pide: Va fan culo.
E foi assim que não me tornei alemã.
04/02/09
Há manias difíceis de perder*
* Dois anos depois de Mahmoud Ahmadinejad ter dito que Israel devia desaparecer do mapa, é a vez de Ze'ev Boim, ministro da habitação (?) israelita vir defender publicamente o assassínio de Ismail Haniyeh. Será que toda esta malta não consegue, ao menos, manter os segredos de estado?
03/02/09
Ambiguidas semânticas

02/02/09
Finalmente percebi o que há de errado comigo: nunca serei capaz de escrever assim!

01/02/09
A book a day keeps the doctor away

Cão e homem invertem às tantas os papéis, e nesse quadro bizarro avesso à normalidade está tudo o que de mais radical trespassa a obra deste francês maurício: uma visão do real que enfrenta corajosamente os paradoxos e que escapa a todo e qualquer maniqueísmo – o humano, não como categoria transcendente à matéria, mas o humano inscrito absolutamente na matéria. Aquilo que Paul Valéry terá deixado antever quando escreveu, «Le plus profond c’est la peau».
Assim, a denúncia do materialismo, da solidão das cidades, do excesso de ruído, do consumismo sem freio, a que muitos insistem em reduzir a obra de Le Clézio, é um tiro aquém e pueril, pois que foi também ele quem disse nesse ensaio extraordinário, L’Extase materielle: «O corpo é vida, o espírito é morte. A matéria é ser, o intelecto nada».
Trata-se, pois – como se intui, desde logo, nesta narrativa de estreia –, de nos religar à matéria, telúrica, primeva (Herberto Helder traduziu-o, não certamente por acaso…), como bem se expressa neste diálogo que transcrevo:
«"Adão, fazes-me medo assim nessa posição, não te mexes, não respiras, dir-se-ia um cadáver…”
«“Idiota!”, respondeu Adão, “interromper a minha contemplação! Agora acabou-se, seria preciso recomeçar tudo desde o princípio.”
«“Recomeçar o quê?”
“Nada, nada… Não te posso explicar. Tinha já chegado ao vegetal… Aos musgos, aos líquenes… Estava pertíssimo das bactérias e dos fósseis. Não te posso explicar.”».
E seria com certeza interessante, à luz disto, comparar o jovem Adão em fuga com o desassossegado Holden Caulfield, desse outro inclassificável que dá pelo nome de Salinger.
O Processo de Adão Pollo, J.M.G.Le Clézio, Europa-América, 2008
EM REDE
- 2 dedos de conversa
- A balada do café triste
- A causa foi modificada
- A cidade das mulheres
- A curva da estrada
- A dança da solidão
- A rendição da luz
- A revolta
- A terceira via
- A única real tradição viva
- Abrasivo
- Agricabaz
- Agua lisa
- Albergue espanhol
- Ali_se
- Amor e outros desastres
- Anabela Magalhães
- Anjo inútil
- Antologia do esquecimento
- Arrastão
- As escolhas do beijokense
- As folhas ardem
- Aspirina B
- ayapaexpress
- Azeite e Azia
- Bibliotecário de Babel
- Bidão vil
- Blogtailors
- Casario do ginjal
- Centurião
- Church of the flying spaghetti monster
- Ciberescritas
- Cidades escritas
- Cinco sentidos ou mais
- Claustrofobias
- Coisas de tia
- Complicadíssima teia
- Contradição Social
- Dazwischenland
- De olhos bem fechados
- Dias Felizes
- Do Portugal profundo
- Duelo ao Sol
- e-konoklasta
- e.r.g..d.t.o.r.k...
- Enrique Vila-Matas
- Escola lusitânia feminina
- Fragmentos de Apocalipse
- Governo Sombra
- Helena Barbas
- If Charlie Parker was a gunslinger
- Illuminatuslex
- Incursões
- Instante fatal
- Intriga internacional
- João Tordo
- Jugular
- Klepsydra
- Last Breath
- Ler
- Les vacances de Hegel
- Letteri café
- LInha de Sombra
- Mãe de dois
- Mais actual
- Malefícios da felicidade
- Manual de maus costumes
- Metafísica do esquecimento
- Mulher comestível
- Nascidos do Mar
- Non stick plans
- O Declínio da Escola
- O escafandro
- O funcionário cansado
- O jardim e a casa
- O perfil da casa o canto das cigarras
- Obviario
- Orgia literária
- Paperback cell
- Parece mal
- Pedro Pedro
- Porta Livros
- Pratinho de couratos
- Raposas a Sul
- Reporter à solta
- Rui tavares
- S/a pálpebra da página
- Se numa rua estreita um poema
- Segunda língua
- Sem-se-ver
- Sete vidas como os gatos
- Shakira Kurosawa
- Sorumbático
- Texto-al
- The catscats
- There's only 1 Alice
- Tola
- Trabalhos e dias
- Um dia... mais dias
- Um grande hotel
- We have kaos in the garden