Se isto fosse um país normal, estávamos todos a aplaudir de pé o Nuno Morais Sarmento e o resto é conversa da treta.Ver aqui. Clicar em Audição de Nuno Morais Sarmento.
1º Round rápido mas imperdível.
Se isto fosse um país normal, estávamos todos a aplaudir de pé o Nuno Morais Sarmento e o resto é conversa da treta.
Este livro é uma pequena pérola. Não porque seja portátil — chega às 600 páginas — mas porque nos introduz a um Oriente expurgado de exotismos e misticismos de trazer por casa. Aliás, se há coisa que Disse-me um Adivinho prova à exaustão é o materialismo que subjaz à cultura chinesa (pragmática, tanto nos negócios como na acupunctura).
Não sou cristã. Nem por convicção, nem por água benta. Em casa de meus pais pontificava Jean Barois.Uma grande lição de humanidade, a partir da música. Por Benjamin Zander.
Um daqueles exemplos que nos dá esperança de que talvez possamos mesmo morrer menos estúpidos do que nascemos.
Há uns meses, Manuel Maria Carrilho recusou-se a seguir instruções. O Ministério dos Negócios Estrangeiros queria que ele votasse no egípcio Farouk Hosny — um militante anti-semita e pirómano de livros — para director-geral da Unesco.
Confesso que me faz espécie. Gostam de Maria Velho da Costa mas também gostam de Lídia Jorge. Gostam de Herberto Helder mas também gostam de Manuel Alegre. Gostam de Pacheco mas também gostam de Peixoto. Gostam de Borges mas também gostam de Sepúlveda.
Um amigo português fez umas traduções para Espanha. Quando chegou a hora de receber, os espanhóis pediram-lhe um certificado de residência fiscal, sem o que seriam obrigados a reter-lhe 24% da massa.
Cheguei a este naco de prosa através de um post do João Lisboa (aqui). Um tal Alberto Gonçalves, não sei se musicista, sociológico ou apenas cronista parvo, perora longamente sobre a morte do rapper MC Snake, para nos deixar com a seguinte conclusão: a culpa foi do próprio que ninguém o mandou usar "vestuário ridículo" e ter "gestos animalescos". Exactamente por isso, a sua morte não era, nas extraordinárias palavras do tal Alberto Gonçalves, "totalmente imprevisível".
Uma saga familiar tem de ser uma coisa chata? Não tem. A prova (descontado Thomas Mann, para quem aprecie, e não é o meu caso...) está neste livro de John Cheever (1912-1982), contista de primeiríssima água que se estreou no romance – cautelosamente, só em 1957 – com Crónica de Wapshot, título que lhe valeria o National Book Award e ao qual daria continuação mais tarde com The Wapshot Scandal, publicado em 1964.
When daisies pied, and violets blue,
Há pelo menos duas coisas que deveriam levar as pessoas a não deixar ir o catolicismo com a água da banheira: os filmes de Martin Scorsese e os livros de Graham Greene.
Confesso com desgosto que a falta de tempo não me tem permitido acompanhar a nova telenovela da TVI. É unânime que o nível das telenovelas portuguesas tem subido drasticamente nos últimos anos. Mas subiu no sentido em que sobe o nível das águas, deixando a povoação de Reguengo do Alviela isolada. Hoje, o horário nobre está rodeado de telenovelas por todos os lados e não há protecção civil que nos valha. É certo que temos o Mário Crespo, mas o homem guardou a melhor actuação para a AR TV e não aprecio o papel que ele representa no noticiário, a fingir que é imparcial e isento. Achei o indiano do Rogério Samora muito mais convincente. Ontem, por acaso e porque o Barcelona já estava a dar quatro ao Estugarda, dediquei alguns minutos à telenovela Mar de Paixão. Tentarei resumir o enredo: Paula Lobo Antunes é a protagonista. Fala como uma personagem da TVI, move-se como uma personagem da TVI, pensa como uma personagem da TVI mas, garantem-nos os adereços (bóias, redes de pesca e um fogão antigo e imaculado) e alguns passeios à beira-mar, é pescadora, da zona de Setúbal, embora não carregue nos erres (falha imperdoável do guionista). Comunidade piscatória, Setúbal, começa a fazer lembrar aquela telenovela em que separaram o Caniço da sua masculinidade. No entanto, Paula Lobo Antunes não corre o risco de uma excisão. Ela precisava de um coração novo. E arranjou-o. A anterior proprietária do coração morreu num acidente. A rapariga era noiva de José Carlos Pereira e filha de Rogério Samora, fatalidades que atingem praticamente todas as personagens femininas das telenovelas da TVI. Os cenários até podem mudar (Douro, Açores, Alentejo) mas, num determinado momento da narrativa, a rapariga sabe que ficará noiva de José Carlos Pereira e descobrirá que é filha de Rogério Samora, ou vice-versa. A esta, coube-lhe o duplo infortúnio e, como se a quisesse poupar a padecimentos suplementares, o guionista dá-lhe o golpe de misericórdia. A partir daqui, o objectivo do guião é encontrar uma noiva para José Carlos Pereira e uma filha para Rogério Samora. Como o coração vai parar à personagem de Paula Lobo Antunes, já se sabe o que aí vem. Porém, o caminho até esse desfecho é longo e pavimentado de metáforas cardíacas: “o teu coração é novo, mas a bondade é a de sempre”, entre outras subtilezas poéticas. Nesta fase pré-noivado com José Carlos Pereira, Paula Lobo Antunes apaixona-se por um golfinho: “se calhar a pessoa que me deu o coração era tratadora de golfinhos”. Não era, mas era noiva de José Carlos Pereira, um actor muito menos expressivo do que qualquer golfinho e do que a maioria das alforrecas que costuma invadir a praia de Sesimbra. O episódio de ontem terminou com o golfinho na praia, emaranhado em redes de pesca e com um ar de sofrimento muito realista. Não ponho de parte a hipótese de ter sido agredido por um José Carlos Pereira movido pela inveja. Eunice Muñoz também participa na telenovela. É a matriarca da comunidade piscatória (chama-se Ti’Alice) mas fala como se fosse a Eunice Muñoz com as roupas de matriarca de uma comunidade piscatória: “esta é nossa família, à qual vocês também pertencem”. E não se fica por aqui: “lá está o rapazinho que não anda, ali, sentado numa cadeira de rodas” e a câmara, para provar que da boca da Ti’Alice só saem verdades, mostra o rapazinho que não anda, sentado numa cadeira de rodas. Era bem possível que, sendo esta uma vila de pescadores (ICHTUS, que em grego significa peixe, acrónimo de Jesus, etc), a Ti’Alice pudesse dizer “lá está o rapazinho que não anda, a correr pela praia”, mas o único milagre a que temos direito é a um advérbio de modo proferido pela personagem de Helena Laureano: “sabes que eu trabalhei arduamente” (isto provavelmente é da telenovela da SIC, fiz zapping). Nas telenovelas ninguém trabalha como uma cadela, como uma moura ou como uma galega. Trabalham arduamente, ao contrário de alguns guionistas.
Um primeiro-ministro é apresentado numa conferência internacional com o nome de José Troca-te. Para a mesma conferência, sobre energia, terá sido provavelmente convidada aquela empresa apoiada pelo Governo que produz painéis solares que funcionam faça chuva ou faça sol. Até de noite.
Li este conto zen há muitos anos. Num livro de entrevistas a Marguerite Yourcenar. Seria mais ou menos assim.
À hora em que Pacheco Pereira nos tentava dinamitar o cérebro com uma evocação de Rafael Bordalo e da sua sátira à Lei da Rolha, os congressistas do PSD aprovavam, com a pudica reserva dos futuros líderes, a pena de expulsão aos que ousem criticar os dirigentes. Ficam assim os cidadãos do PSD impedidos de falar. A medida seria perfeita se abrangesse os dirigentes. Um partido unido pelo silêncio é o que faz falta. Ainda não tinha digerido a pérola estatutária já o senhor Vitalino Canas se apressava a comentar. Daqueles comentários pomposos e circunstanciais, com a bandeira do Rato atrás e boquinha de virgem ofendida. O senhor Vitalino, quebrando a regra não-escrita de que partido não se pronuncia sobre a vida interna de partido ― que é a contrapartida institucional do saber popular que ensina a não nos metermos entre marido e mulher mesmo quando se ouvem gritos ― veio evocar a liberdade e o 25 de Abril. Acontece que, pelo menos desde que mataram a Rosa Luxemburgo, não me lembro de ter visto um socialista a criticar a cúpula dirigente.
[Uma versão abreviada deste texto foi publicada no semanário Expresso, caderno Actual]
Em pequeno morava num prédio em Lisboa onde tinha por vizinha uma família judaica. Zé Gabriel era então o puto goy que acendia e apagava as luzes no shabat. Ficou-lhe desses tempos a simpatia pelos hebreus e por Israel. Já adulto, viveu no exílio em Paris e foi jornalista na France Inter. Gostava de política e de História. Era inteligente. Deu-me vários conselhos que nunca segui mas, sobretudo, gostava de o ouvir falar sobre barcos, as ilhas do Adriático e a sua paixão por Conrad e pelo râguebi.
Ainda sou do tempo d’ os ricos que paguem a crise, o que quer dizer que tem dias em que me sinto bestialmente antiga.
Ainda o mundo não se refez das trapalhadas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da Terra fora dos eixos e dos 44 terramotos dos últimos 3 meses, e eis que Isabel Alçada aterra em Beja e confunde ainda mais os portugueses, já de si bastante confundidos com as previsões dos Maias e as declarações na Comissão de Ética.
Enquanto não passa, aproveite-se para ler Crónica de Wapshot de John Cheever (Relógio D'Água).
Valeu a pena ficar acordada até às 5 da manhã só para ver Jeff Bridges levar para casa a estatueta dos óscares.
Qual é a sua intenção quando oferece robalos a Armando Vara e um fato de futebol para o filho?
Foi o bardo de serviço a Moçambique, com pompa e circunstância e à boleia de Sócrates (também presente na cerimónia), entregar o prémio Leya.
Os engenheiros – dantes – eram do Técnico. Sei do que falo. Menina e moça saída de casa de minha mãe, frequentei diariamente o Técnico durante cerca de dois anos em turnos semanais intercalados, ora das 8 às 17h, ora das 12 às 21h. Era 3ª ajudante de cozinha e lavava pratos.