Encontro-a na estação de caminhos-de-ferro de Cracóvia. Aproxima-se e pergunta-me em inglês se posso ajudá-la.
«Também sou estrangeira», respondo, e ela afasta-se e avança na fila longa que aguarda junto ao guichet de informações.
Ouço-a insistir mais adiante: «Desculpe, pode dizer-me onde fica o Hotel Chopin?».
É o meu hotel. Acabamos por partilhar um táxi – eu, ela e o marido – e nessa noite fico a saber que são ambos filhos de judeus polacos que sobreviveram fugindo para a zona de ocupação russa. Quase toda a família que ficara na parte anexada pela Alemanha em 1939 morrera no campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau. A «solução» foi quase total: dos cerca de 3 milhões de judeus que viviam na Polónia antes da guerra, restavam 100 mil em 1945.
A caminho do Campo, o guia polaco vai calado junto ao condutor. Antes da partida fez questão de contar uma piada que adivinho da praxe, recolhidos nos vários hotéis os participantes do tour: «Este autocarro dirige-se a Auschwitz-Birkenau. Aos passageiros que quiserem descer é dada agora uma última oportunidade». Seguem-se alguns risos de circunstância.
A viagem é monótona. Árvores, árvores e mais árvores. Todas despidas. Aldeias praticamente desertas. Uma película viscosa, cinzenta e triste, cobre o céu e a paisagem. Chove.
Estamos na estrada há cerca de uma hora. À vista de um entroncamento ferroviário adensa-se o silêncio que só é interrompido pelo ronronar do motor. Todos parecem aguardar o pior. Mas ainda falta.
O guia informa agora que chegaremos dentro de pouco mais de 15 minutos e que a agência responsável pelo tour oferece um desconto de 20% no caso de uma segunda visita. No regresso, explicará que também organizam idas às minas de sal de Wielicka e às montanhas Tatra, tudo muito perto de Cracóvia e a preços acessíveis: «Podem consultar os folhetos.»
Durante o trajecto, florestas densas alternam com planícies cultivadas. Unido a Birkenau, ao fundo, depois da cerca de arame farpado, hei-de avistar um outro campo igual, de terra arada e duas casas. Todos os dias os habitantes das casas olham a cerca. Provavelmente, não a vêem. Está ali há mais de 60 anos. Uma coisa com mais de 60 anos, se se mantiver imóvel e inalterável passa a ser invisível. A física não explica isto mas é assim.
«Leve um casaco, faz muito frio em Auschwitz», diz a mulher israelita.
No dia seguinte será pior. Volto de comboio e chego a Birkenau muito cedo. O local está praticamente deserto e ouve-se o barulho dos cortadores de erva. Do topo da torre de vigia principal, à entrada, avista-se a simetria desmesurada do campo de extermínio. Quase nada resta, mas ainda assim faz medo.
«Queria ir a Auschwitz», confesso em tom sumido ao recepcionista do hotel. Chego a meio da tarde e percorro as ruas de Cracóvia e confirmo que se trata de uma cidade belíssima.
O pudor não me deixara ainda pronunciar a palavra. Quero saber como chegar de comboio a Auschwitz.
«De comboio?!», e num golpe de mágica o recepcionista faz saltar sobre o balcão um folheto de excursões organizadas. «We have a very good tour to Auschwitz. Sai daqui às 9 horas, por volta das três e meia está de volta». Mostra-me o programa e, porque insisto no comboio, a contragosto consegue-me os horários.
Já no quarto, telefono a informar que afinal mudei de ideias; se me pode incluir na lista do dia seguinte: «Nesse caso, terá de vir à recepção pagar o bilhete agora». Passa da meia-noite e a conversa com o recepcionista arruma-me com o pudor. Apetece-me perguntar-lhe se o tour tem almoço com bebidas incluído.
Durante os anos de 1940-45, o número de vítimas do campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau é calculado entre 1.100.000 e 1.500.000 pessoas, 90% das quais de origem judaica, a maior parte morta imediatamente à chegada, nas câmaras de gás.
A plataforma de desembarque, onde os médicos SS seleccionavam os «aptos» e os «inaptos» (selecção a que eram sujeitos exclusivamente os judeus), ficava em Birkenau.
Os carris continuam lá.
Quando, no dia seguinte à visita organizada, acabo por ir mesmo sozinha de comboio, dirijo-me directamente a Birkenau (conhecido como Auschwitz II). À saída, pergunto em que direcção fica Auschwitz (I). Os restos dos carris, passados 60 anos da libertação do campo, desaparecem da estrada entre veredas bucolicamente cobertas de plantas e flores silvestres e não servem de referência. Explicam-me que terei de descer até uma pequena ponte e virar à esquerda. São cerca de quatro quilómetros que farei sob uma chuva intermitente e fria e que me levam a Oswiecim, o nome polaco da localidade a que os alemães chamaram Auschwitz. À época do nazismo, o percurso era inverso e de sentido único: vinha-se para Birkenau para morrer.
O portão onde se inscreve a frase «Arbeit macht frei», milhões de vezes fotografado, torna-se insignificante quando comparado com o amplo parque de estacionamento junto à estrada, transbordando de camionetas, táxis e ruidosos grupos de visitantes de cujo roteiro turístico faz parte um desvio pelo local.
O tour do primeiro dia, embora rápido, incluíra os marcos mais terríveis do campo, desde o temível Bloco XI, com o seu muro de fuzilamento e as celas de tortura, ao crematório I, inaugurado por um grupo de prisioneiros soviéticos, cobaias do Zyklon B, o gás com que os nazis levariam a cabo a «Solução Final».
No Bloco IV expõem-se os despojos dos mortos. Aquando da Libertação, as tropas soviéticas encontraram pilhas de roupa, loiça, sapatos, malas (onde os proprietários escreveram os nomes, estratégia de engano que convencia os recém-chegados de que as poderiam recolher mais tarde), óculos, próteses, fotografias de família anónimas cujos retratados nunca mais se haveriam de rever…
Numa vitrina amontoam-se latas usadas do mortífero Zyklon B, noutra tranças e restos de cabelo humano amarelecidos pelo tempo – uma pequena amostra das sete toneladas que os SS deixaram para trás e que deveriam ser exportadas para a Alemanha onde se transformariam em mantas, recheio para travesseiros, forros de casacos, edredões...
Saio para o ar livre. Eu e uma americana de idade avançada. Cá fora, prestes a acender um cigarro, somos interpeladas por uma religiosa que passa e nos lembra, sorriso rasgado, que «is not allowed to smoke in Auschwitz». Mudas e cúmplices, aspiramos o fumo bem até às entranhas. [A velha americana há-de mais tarde assustar-me (eu distraída) ao repetir-me à orelha, voz cava e grossa: «is not allowed to smoke in Auschwitz». Rimo-nos alto.]
Não é esta a única freira com que me cruzo. Há muitas por aqui. E num terreno contíguo, o do edifício onde as carmelitas se instalaram em 1894, ergue-se uma cruz alta de seis metros, a que resta da acesa polémica que rodeou a colocação de mais de uma centena de cruzes em Auschwitz, em 1982.
Na altura, o anti-semitismo renasceu nas palavras do líder da chamada Associação das Vítimas da Guerra, Mieczyslaw Janosz, um ex-polícia corrupto que se opôs vigorosamente à remoção dos crucifixos. Os símbolos cristãos foram retirados (excepto o referido), e as carmelitas partiram. Para um olhar atento, a tentativa de cristianização do local não passa despercebida.
São cinco da tarde e os sinos tocam a rebate. Embora a hora de fecho seja às seis, um grupo de japoneses toma os sinos pelo sinal de encerramento e começa a dirigir-se apressadamente para a saída. Outros visitantes põem-se a correr na direcção do som, tentando perceber o que se passa.
«Why-the-bells-are-ringing?», insisto pela terceira ou quarta vez junto de uma funcionária que simula não me perceber. Finalmente consigo que me expliquem, a contragosto, que o som vem de uma igreja próxima. Fazem questão de sublinhar, «fora do recinto do museu».
A polémica sobre a cristianização de Auschwitz não é de agora. A canonização de Maximilian Kolbe (1982) e Edith Stein (1998) pelo Papa João Paulo II já tinha provocado reparos da comunidade judaica internacional. O primeiro, um padre franciscano que trocou a sua vida em Auschwitz pela de um outro condenado polaco (Franciszek Gajowniczek), fora responsável por uma importante publicação católica em cujas páginas se liam artigos anti-semitas; Edith Stein, filósofa alemã convertida ao cristianismo nos anos 20, tornar-se-ia freira carmelita e acabaria gaseada em Auschwitz juntamente com a irmã, embora, naturalmente, não por ser freira católica mas por ser judia.
Nas palavras do rabino Leon Klenicki, um homem que se tem debruçado sobre o relacionamento actual entre as duas religiões, «prestar homenagem ao sofrimento cristão só é aceitável se isso não servir para negar a realidade de que o Holocausto foi essencialmente um programa de extermínio do povo judeu». Ou, como afirmou de modo definitivo o escritor e sobrevivente espanhol Jorge Semprún, e para acabar de vez com a ignóbil contabilidade dos cadáveres:
«Existe, com efeito, uma confusão antiga, amiúde fruto da ignorância, ou talvez de um pensamento equívoco ou malévolo, entre a deportação de inimigos do nazismo – alemães anti-hitlerianos, resistentes europeus – e o extermínio de judeus e ciganos. Os primeiros foram detidos e deportados pelos seus actos, quaisquer que fossem as suas origens sociais ou a sua religião. Os segundos são exterminados por serem o que são, mesmo que nunca tenham cometido um acto ou um mero gesto de oposição ao regime. A diferença, mesmo que o número de mortos resistentes fosse comparável ao dos judeus exterminados – e não o é, de forma alguma –, não é uma diferença quantitativa: é ontológica.»
Também por isto é difícil aceitar que em Auschwitz, onde o extermínio dos judeus atingiu o paroxismo, os únicos nomes referidos durante a excursão guiada do primeiro dia sejam os do padre Kolbe, Edith Stein e Stefan Jasienski (um prisioneiro da cela 21 do Bloco 11 que se supõe ser o autor do crucifixo e do Cristo gravados na parede que, vivamente, nos recomendam que olhemos). Como também se considera excessivo que no curto filme que se mostra aos visitantes se inclua uma missa católica e se perca a conta às religiosas cristãs e às cruzes.
«Ninguém vai a Treblinka», resume o jovem inglês que encontro na estação de Oswiecim, onde somos os únicos a aguardar o comboio de regresso a Cracóvia. Quanto a Auschwitz, o comentário é lacónico: «Too much noise.» De facto, há demasiado barulho por aqui.
Não em Birkenau, onde menos sobem e cuja desmesura assusta, a maior parte dos visitantes limitando-se às poucas barracas que sobram à entrada e a espreitar o campo do alto da torre de vigia. Desolação podia ser a palavra que define este campo de morte, onde os blocos são nauseabundos e as ruínas dos crematórios se escondem ao longe, por entre árvores e erva fresca. Uma terra aparentemente igual a qualquer outra, mas regada a cinzas.
É aí, junto ao Crematório II, não longe do local da revolta do Sonderkommando, que avisto cabriolando por entre arbustos uma jovem corça, indiferente aos delírios dos homens e à maldição do lugar. A esta também parece indiferente, embora sem o álibi da inocência, a nova-iorquina saída directamente de um filme de Woody Allen que clama a plenos pulmões não se conformar com o facto de não ter encontrado a escultura – «God! Uma madona belíssima!» – que uma amiga tinha feito «expressamente para oferecer aos judeus».
Os fotógrafos amadores invadem Auschwitz, procurando enquadramentos perfeitos junto às cercas de arame farpado para o recuerdo de grupo. Há gente que passa apressada, turistas do horror que acrescentam a visita do campo ao currículo. E depois há os outros. Os que escondem as lágrimas sob óculos de sol em dia de chuva. Os que entram e saem sem dizer palavra. Ou os sobreviventes.
Eu vi-o em Auschwitz, velho e magro, o corpo apoiado numa bengala. Adivinhei-lhe a origem pela forma como andava por ali, alguém que regressa a uma casa em ruínas à qual reconhece os cantos. Voltei a encontrá-lo por acaso em Kazimierz, o bairro judaico de Cracóvia, quando procurava a sinagoga Izaak, uma das oito sinagogas que voltaram entretanto a abrir as portas.
Ele disse: «Aqui era um bairro judeu».
Eu disse: «Vi-o ontem em Auschwitz».
Ele disse: «É possível. Uma irmã minha morreu lá em 19..., outra em 19...». Esqueci os nomes e as datas. O olhar dele era tranquilo. A voz amável. O número estava gravado no pulso e eu não consegui dizer mais nada. Fugi por vergonha de sentir uma dor que não me pertencia.
Talvez o mesmo tenha se tenha passado com Patrícia, do Porto, Portugal, que deixou escrito no livro de visitas do Pavilhão da Checoslováquia, em Auschwitz: «9 de Maio de 2005. Infelizmente, este local existe. Mas, já que existe, espero que muita gente o visite para que jamais se repita.» E acabava com a candura de que só um jovem poderia ser capaz: «Beijinhos e desculpem».
25 comentários:
Tal como a Patricia, também gostava que não se repetisse nada parecido...
Mas as coisas estão longe de estarem mais calmas, especialmente em África e no Oriente...
Gosto muito de te ler.
(por coincidência, estava a ouvir o 'moon river' pela jane monheit à medida que ia lendo este seu post.
o resultado foi muito estranho.
algo entre a culpa e o absurdo.)
quero agradecer-lhe (mais) este post.
concordo, inteiramente, com o armando.
E percebo muito bem "esse fugir por vergonha de sentir uma dor que não nos pertence", como a jovem que acaba a missiva com um pedido de desculpas; É uma vergonha conjunta: a de vítima e a carrasco (nós temos consciência de que somos feitos de uns e de outros; ou seja não houve ali ninguém com dez pernas, vinte olhos, e o corpo cheio de espinhos luminosos ou assim)
Enorme A-C. L.: Que coragem a sua de tentar interpretar Auschwitz através de um romance de Semprún!. Este talhão da Literatura Mundial- o dos Escritores do Holocausto- é dos mais dificéis e trabalhosos que existem. Porquê? Por causa dos interesses em jogo e do peso das Uni´s. americanas e do lobby judeu intercontinental. Agora, existem coisas sérias e interessantes,através dos livros de recordações de Élie Wiesel,de Karl Kraus, de Jospeph Roth, de Samuel Bellow... Como disse Imre Kertzéscz, autor húngaro nobelizado em 2002," Nunca se sobrevive aos campos. Tudo ficou lá para sempre. Para sobreviver, era preciso atravessar o Inferno, E, no Inferno, sujamo-nos ". Bis immer, frau Ana. FAR
Vim saudar a clareza e a sensibilidade.
Visitei Auschwitz e Birkenau há já uns anos. Aquilo provoca um misto de revolta combativa e também de desânimo ao constatarmos que os algozes pertenciam também à espécie humana.
E não ocorreu na Idade Média ou nos primórdios das sociedades humanas. Ocorreu com pessoas de um povo, o alemão, que se pode orgulhar de muitos altos expoentes da humanidade.
O nazismo foi principalmente a expressão política do sentimento mais humano que existe: o desejo de faz mal ao outro. Não voltará a acontecer? Ainda não. Não estão criadas as condições para tal. (Ia citar o Ruanda. Mas isso é outra coisa completamente diferente. São pretos. Incivilizados. Até Montesquieu dizia que os pretos não tinham alma e podiam ser escravizados).
A vingança do judeu foi terrível. Têm a Europa sob vigilância. Nem o Garaudy escapou. E trazem os alemães de rédea curta. Obrigaram-nos a levar com aquela casa de banho para cão em Berlim. Os paralelepípedos de betão do Peter Eisenman junto das Portas de Bradenburgo. Creio que lhe chamam Monumento em Memória dos Judeus Mortos na Europa.
O nazismo foi principalmente a expressão política do sentimento mais humano que existe: o desejo de faz mal ao outro.
Oh Táxi, esta é francamente primária! (mas, enfim, cada um fala por si)
A vingança do judeu foi terrível. Têm a Europa sob vigilância. Nem o Garaudy escapou. E trazem os alemães de rédea curta.
Tem andado a ler ultimamente os Protocolos?
Não foi de certeza um grupo de homens, ou um líder que se tornou louco, e desatou a matar de forma sistemática e fria. O nazismo e o fascismo são movimentos populares e não questão de líderes.
Os alemães tinham marcado um desfile de Carnaval para o dia do Holocausto em Munique e o conselho Central dos Judeus protestou logo que não queria festanças nesse dia.
Meus caros: Todas estas questões são infinitas. Cuidado com as peremptórias declarações bombásticas e superficiais, forçosamente.Procurem o site do Memorial das Vítimas da Soha, em francês. Para começar. Os americanos e os ingleses inocularam durante estes últimos 50 anos, doses cavalares de princípios democráticos na Alemanha. Ainga agora a chancelerina Merkel fez cara de má, e gestos públicos e políticos consequentes, contra o Roland Koch, o "rei", PM da região do Hesse, que tem por capital a maravilhosa( e anárquica...) cidade de Frankfurt.Ele queria entrar numa "ultra repressiva e judiciária " , à la Sarkozy... Nós desculpamos a Frau Ana, de querer mostrar trabalho: assim é que é, para nos fazer mostrar o que valemos, olè. FAR
Os franceses ( e o suiço) enganaram-se no "bom selvagem". O homem não nasce bom.
Dê-se a possibilidade de matar e até o lido e informado FAR mata.
Mister TP: Todo o delírio é político, meu caro. O que o Rambaud formulou como hipótese, é menos do que se (não) possa esperar. Aliàs, o Nicolas,Nic para a Carla, logo que chegou ao poleiro mandou , in blitz-raid, unificar no mesmo edifício todas as polícias secretas, que, em França, eram três corpos distintos.
As coisas estão a ficar mesmo feias: segundo o FMI e o B. Mundial, o saldo da balança comercial da China, no ano passado, irá suplantar o da Alemanha e o do Japão reunidos...
A massinha nos bancos do PC da China dá para comprar, calculos baixos, para aí a economia de uns 100 países. Só o Amor nos libertará, com efeito. FAR
PS. Sabe o que quer dizer Nic( que) em francês, veja a argúcia da Carlinha?
Táxi Pluvioso,
Os franceses ( e o suiço) enganaram-se no "bom selvagem". O homem não nasce bom.
Mas que grande novidade! Profunda, ainda por cima. E, então? Desconfia que há um nazi escondido dentro de si?
Os alemães tinham marcado um desfile de Carnaval para o dia do Holocausto em Munique e o conselho Central dos Judeus protestou logo que não queria festanças nesse dia.
Ah bom! Era a isso que se referia quando falava na "terrível vingança do judeu"? Fico mais descansada, embora o seu "do judeu" já me preocupe um bocado.
Tanto como os nazis, são as pessoas incapazes de piedade que me assustam. Ou talvez isso seja exactamente o mesmo... Eu só falei da minha visita a Auschwitz-Birkenau e da tentativa de cristianização do local pela igreja polaca. A propaganda deixa-a para si. Não faz o meu género.
Um texto fantástico... sempre desejei saber como era, como se sentia isso, lá.
Mas não percebi uma coisa: o texto é seu, ou foi roubado de algum lado? Se for seu, os meus sinceros parabéns. Se não for, parabéns na mesma - pela escolha.
Fui induzido em erro por um dos comentários - o texto é mesmo seu. muito, muito bom. Haja quem viaje e quem escreva assim: eu, por exemplo, fui a Istambul e nem capaz fui de tirar uma linha.
"Tanto como os nazis, são as pessoas incapazes de piedade que me assustam".
Não tinha notado que existiam outras. Fico feliz por isso. Resta saber até quando manterão a piedade. Se chibarão o cidadão que fuma no café, por exemplo. Porque querem o seu mal ou são apenas cumpridores da lei.
Há anos tentaram construir um centro comercial perto do campo e os judeus não deixaram com certeza também a cristianização não pegará. Querem um lugar de culto impoluto como nós a nossa querida Fátima.
Não tinha notado que existiam outras.
pois, deve ser triste e originar no mínimo problemas de bilis nunca ter reparado nas outras...
a cristianização não pegará.
já pegou, deve ter lido o texto em diagonal
Querem um lugar de culto impoluto como nós a nossa querida Fátima.
bom, isto já raia a parvoíce provocatória, porque se há lugar que não seja impoluto é aquele. quanto a ser de culto também não percebo. não vi ninguém de joelhos nem consta que a nossa senhora de fátima tenha aparecido por lá.
mas tudo isso é tão basico como "argumentação" que vou ficar-me por aqui. recomendo-lhe apenas e vivamente a leitura de Sem Destino do Imre Kertész. Ah, e evite o Wiesel, desconfio que seja um aldrabão.
Também é bom saber que existe um livro terapêutico. Desconfiava que os propósitos de Marinoff fossem tretas de americanos mas afinal cura mesmo.
Não me parece que lugar de culto signifique (para quem não é cristão) que as pessoas tenham necessariamente de ficar de joelhos a rezar.
Para o comentarista de nome Táxi.
Desconfio que consigo não há terapia que faça efeito.
Há terapia há. Chama-se câmara de gás. Finalmente um exemplo prático daquilo que estou a tentar dizer. A intolerância é o sentimento mais humano de todos e o melhor distribuido.
Há terapia há. Chama-se câmara de gás. Finalmente um exemplo prático daquilo que estou a tentar dizer. A intolerância é o sentimento mais humano de todos e o melhor distribuido.
A prova do contrário é serem publicados comentários destes na Pastelaria apesar do seu caracter niilista/bloguista ser deveras entediante. Porque afinal, como se sabe, todo o verdadeiro niilista é um niilista morto.
As Carmelitas não se instalaram em Auschwitz em 1894, mas em 1984 (algarismos com a ordem trocada), o que faz uma grande diferença...
Estive em Auschwitz-Birkenau em Outubro de 2008. Concordo com quase tudo o que escreveu, menos com a monotonia do caminho Cracóvia-Auschwitz. Eu filo também de autocarro (mas só no sentido contrário) e achei as florestas maravilhosas sob aquele pôr-do-sol de Outono, e as aldeias muito mais bonitas do que eu esperava.
Peço desculpa por não ter dito tudo da primeira vez...
Uma vantagem minha foi não ter feito a visita integrado em nenhum grupo, o que me poupou a coisas menos próprias, acho.
Ainda assim, era efectivamente clara a intenção de, em Auschwitz (I), mostrar que o campo era não apenas para judeus, mas também (entre outros) para patriotas polacos. O que é verdade, temos de admiti-lo: o verdadeiro campo de extermínio (esmagadoramente de judeus) era Birkenau (Auschwitz II).
Em Birkenau o que mais me impressionou foi a insalubridade daquele terreno, que mesmo num dia com algum sol parecia húmido e frio. E a verdadeira "floresta" formada pelas chaminés dos antigos barracões, o único que sobreviveu por não serem de madeira e não apodrecerem; eram a perder de vista, dando uma ideia da dimensão do campo que a dúzia de barracões conservados não ilustra.
E também me cruzei com os inevitáveis grupos de turistas sorridentes a posarem para a foto em frente ao arame farpado da vedação... B/
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