Pessoalmente, temo que seja mais como diz aquele ditado: se não morrer da doença, morre da cura.
Também me lembrou aquela frase do Coluche: «Françaises, français, cette année c'était très bien, l'anné prochaine ce sera pire»
Pessoalmente, temo que seja mais como diz aquele ditado: se não morrer da doença, morre da cura.
Também me lembrou aquela frase do Coluche: «Françaises, français, cette année c'était très bien, l'anné prochaine ce sera pire»
A notícia veio do New York Times, como se sabe um órgão de informação do mais putinista que existe. Para quem não tem acesso, um resumo na ainda muito mais suspeita Aljazeera.
E já estou a ver os defensores do Bem a encolherem os ombros ou simplesmente a ignorarem a realidade.
Em entrevista, a nossa Ursula repete que vamos no futuro ficar mais verdes e no presente que, se regularmos os valores do ar condicionado em dois graus, estamos safos (desta vez não referiu aquela coisa de trocarmos de electrodomésticos...).
Com a proximidade do Inverno, tempera no entanto o optimismo. O título da entrevista é elucidativo:
Depois, travando do braço a Carlos, aludiu comovido ao oferecimento de Afonso da Maia, que pusera à sua disposição Sta. Olávia, para ele se restabelecer nesses ares fortes e limpos do Douro. Oh esse convite tocara-o au plus profond de son coeur. Mas, infelizmente, Sta. Olávia era longe, tão longe!... Tinha de se contentar com Sintra, de onde podia vir todas as semanas, uma, duas vezes, vigiar a Legação. C'était enuyeux, mais... A Europa estava num desses momentos de crise, em que homens de estado, diplomatas, não podiam afastar-se, gozar as menores férias. Precisavam estar ali, na brecha, observando, informando...
— C'est très grave, murmurou ele, parando, com um pavor vago no olhar azulado... C'est excessivement grave! (...)»
«A Rússia é quem mais armas fornece à Ucrânia. Tropas fogem e deixam tudo para trás»
Ou como diria José Sócrates depois de estudar em Paris: É a débâcle!
Dois amigos homossexuais garantiram-me há dias que as alíneas classificativas dos diversos géneros e sub-géneros que temos disponíveis em cardápio se mostram particularmente úteis quando se sai à noite e se precisa de ir à casa de banho.
A primeira vez que vi «Shoah», o longo documentário do descansado do Claude Lanzmann sobre o extermínio dos judeus na Europa, fez-me espécie a irritação que ele, judeu, mal escondia quando falava com simples polacos, em contraponto aos nervos de aço que mostrava quando dialogava com alemães, incluindo nazis que haviam ocupado postos de alguma importância no Partido Nacional-Socialista.
E em verdade vos digo, ganhe o Lula ou o Bolsonaro, é para o lado que o Putin dorme melhor. Essa é que é essa.
Parece que no caso da sabotagem dos gasodutos Nord Stream propagandear que foram os russos os autores das marteladas já podia parecer um exagero, sobretudo depois de nos terem vendido que os russos andavam a bombardear-se deliberadamente a si próprios na central nuclear de Zaporizhia. Assim, a linguagem sobre as razões do sucedido tornou-se subitamente mais cautelosa.
De qualquer forma, sobre este episódio, assim como sobre quase tudo o que diz respeito às notícias que nos chegam da guerra, ocorre-me apenas aquela frase da divertidíssima sitcom americana Soap: «Confused? You won't be, after this week's episode..."
E semanas e semanas de guerra é o que não parece faltar.
Inicialmente, as fugas de gás detectadas nos gasodutos foram aplaudidas pelos que se opõem a Putin. Por exemplo, o eurodeputado Radoslaw Sikorsk, marido de Anne Applebaum e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, agradeceria no Twitter aos EUA por terem lixado a canalização russa.
Entretanto instalou-se a confusão e a Ucrânia afinal veio acusar o Kremlin de ser o responsável pela sabotagem, a União Europeia, sem responsabilizar directamente a Rússia, diz que irá avançar com uma resposta "robusta" e a NATO diz que vai investigar.
Quanto aos riscos para o ambiente, há quem já tenha compilado umas coisas, mas nada de pânico.
Claro que tudo isto seria bem simples se toda esta gente seguisse o conselho de Mark Twain: «Em caso de dúvida, diga a verdade».
A Alemanha em recessão. A extrema-direita em ascensão. Há quem não queira ver, mas rima e é verdade.
O que nos vale, a nós europeus, é a magnificência dos nossos dirigentes que ainda têm mais umas CEM sanções guardadas na manga.
Se pensarmos nas sanções ao regime de apartheid sul-africano que se estenderam entre 1962 e 1991 ainda teremos guerra por mais uns aninhos. Entretanto, que o Senhor abençoe e guarde os nossos queridos líderes!
E foi depois de dar com o título de uma notícia que anunciava a fuga de Putin para um "palácio secreto" (o bunker de Hitler, topam...?) que descobri esta crónica que traduzo.
E sobre a propaganda do lado putinista, lamento, lamento mesmo, mas não tenho matéria para fazer omoletes. A censura está instalada do lado de cá e para nosso bem, naturalmente, não fosse a gente correr a alistar-se no exército russo.
«PODE AINDA DEBATER-SE A GUERRA NA UCRÂNIA?
Gérad Araud (Le Point, 18-9-2022)
«Desconfiemos dos especialistas de salão que povoam as TVs e impedem qualquer debate equilibrado sobre esta guerra.
Quando dei por mim num estúdio de televisão para participar num debate sobre a guerra na Ucrânia, senti imediatamente a armadilha em que havia caído. Todos os outros participantes eram “verdadeiros crentes” que vinham celebrar as recentes vitórias da Ucrânia não só sem lhes acrescentar qualquer contexto ou nuance, mas também impedindo que isso pudesse acontecer. Não me enganei. Não houve debate, pois todos estavam presentes com o objectivo de tudo fazerem para que a derrota da Rússia, doravante a seus olhos adquirida, fosse total. A Ucrânia devia recuperar todos os seus territórios, incluindo a Crimeia, e obter reparações do agressor, enquanto Putin enfrentava um novo julgamento em Nuremberg.
Que fique claro que eu ficaria muito satisfeito com esse resultado e que considero a vitória da Ucrânia do interesse do nosso país. Mas tenho a fraqueza de examinar a viabilidade e o custo de uma apólice quando esta me é oferecida e foi isso que tentei fazer. Qual seria o custo humano? É realista, por exemplo, ambicionar a recuperação da Crimeia anexada pela Rússia e que esta defenderá a todo custo, possivelmente recorrendo inclusive ao uso de armas nucleares? Talvez esteja errado, mas acho estas perguntas legítimas. O que eu fui dizer! Um respondeu que a Rússia tinha sequestrado trezentas mil crianças ucranianas e outro que a ocupação é pior do que a guerra.
Note-se que tais respostas não tinham nada a ver com a minha pergunta. Sentimentos opunham-se ao meu raciocínio. Olharam-me de lado. Não tive oportunidade de ser ouvido e calei-me. Nessa mesma noite, a minha conta no Twitter transbordava de insultos dirigidos ao pró-russo que eu era. Pró-Rússia por fazer perguntas sobre o custo de uma política; pró-Rússia por recusar o entusiasmo cego depois de um sucesso inegável, mas parcial.
A primeira vítima da guerra é sempre a verdade
Dito isto, que os genuínos pró-russos não tentem aproveitar-se de mim. A Rússia é de facto o agressor e seu exército está envolvido em atrocidades bem documentadas, independentemente do que Madame Royal pensa.
Não estou surpreendido com o que me aconteceu, que é apenas uma ilustração modesta da impossibilidade virtual de um debate equilibrado em tempos de guerra. “A primeira baixa da guerra é sempre a verdade”, terá dito Kipling. Uma verdade que, ao que parece, deixa de interessar a quem quer que seja quando as armas começam a falar. De facto, os beligerantes lançam-se sem pudor no exercício da propaganda e hoje é um eufemismo notar que os ucranianos, nesse aspecto, se mostraram melhores do que os russos.
Além disso, à nossa volta, na maioria das vezes escolhe-se um campo com base em convicções pré-existentes e não na análise ponderada do que acontece. Por exemplo, há bastantes pró-russos nos dois extremos do espectro político. Acrescente-se a isso o peso das emoções perante o sofrimento dos civis e temos criado um coktail de embriaguez, indignação e entusiasmo que silencia qualquer voz tão-só levemente matizada.
Não houve, aliás, um especialista que twittou recentemente: “Pedir negociações foi o que fez Pétain; apelar a resistir foi o que fez de Gaulle”? Esta comparação absurda, que é a negação da ética do debate, visa tornar ilegítima a menor dúvida. Vemos mais uma vez o que a guerra nos traz: desumanização do adversário, maniqueísmo, credulidade e fanatismo; dispensa a razão, o questionamento e a dúvida. Porque escaparia ela agora ao seu destino?
Heroísmo de sofá
De nossa parte, nós que queremos entender o conflito antes de comentá-lo, que nos orgulhemos de fazer tudo para manter a cabeça fria. Nunca esqueçamos que nos enganam de ambos os lados, embora sem que, resultado dessa constatação, optemos por um cepticismo absoluto que seria tão pernicioso como a credulidade. Distingamos rigorosamente a análise dos factos da opinião que deles se pode deduzir. Admitamos que os "bons" ocasionalmente cometem erros, até crimes, e que os "maus" às vezes têm boas razões para a insatisfação.
Não esqueçamos que no final, se um ou outro lado está certo ou errado, infelizmente isso não é determinante, é o campo de batalha que decidirá; um campo de batalha onde nada está definido, onde ainda correrá muito sangue, onde a incerteza é a única certeza. Desconfiemos dos estrategas de salão que nos atacam com as suas sucessivas verdades sempre com a mesma segurança.
Ler as declarações sobre a responsabilidade da chamada direita tradicional no avanço galopante da extrema-direita torna-se doloroso.
Para o Dmitry o dizer, imaginem...
Com a Europa a ficar de pantanas graças à guerra na Ucrânia e com a vitória da direita mais à direita praticamente garantida para amanhã em Itália (seguindo os resultados da Suécia...), a Ursula von der Leyen não lhe ocorreu nada mais sensato, quando perguntada sobre as «figuras próximas de Putin» que estão entre os candidatos italianos, do que, sorridente, proferir uma ameça: «Veremos o resultado da votação em Itália. Se as coisas forem numa direcção difícil, temos intrumentos, como foi o caso da Polónia e da Hungria».
Além de Matteo Salvini ter, claro, imediatamente aproveitado a deixa para conseguir mais uns votos de protesto contra os burocratas de Bruxelas, acusando Ursula de bulliyng e declarando que vai apresentar uma moção de censura contra a presidente da Comissão Europeia — «O que é isto, uma ameaça? Isto é de uma arrogância vergonhosa [ela] tem de respeitar a liberdade, a democracia e a soberania do voto do povo italiano» — confirmamos que na União Europeia o respeito pelas regras da União se impõe da forma mais democrática possível: corta-se nos fundos e fica o assunto resolvido.
O método tem dado óptimos resultados com o grupo dos eurocépticos a crescer (esqueçamos o Brexit...) e pelo menos desde 2009, quando os irlandeses tiveram de repetir o referendo de rectificação do Tratado de Lisboa para a coisa dar maioria ao SIM, se ficou a perceber que isto se não for a bem, vai em nome do Bem.
Enquanto na Europa, feministas entediadas defendem que usar o hijab é um direito que nos assiste — a nós mulheres —, e frequentar piscinas públicas vestidas da cabeça aos pés com horários diferenciados uma questão cultural, no Irão as iranianas fartaram-se do dress code.