30/11/11
A próxima vez que se quiserem infiltrar têm que infiltrar-se melhor
Daqui [que eles às vezes acertam]
29/11/11
28/11/11
Graçolas
O meu avô pintava pardais de amarelo e depois mandava-os vender como se fossem canários.
Escolhia rigorosamente – não os pardais – mas as vítimas da trapaça: entendidos em canto do Harz, ornitólogos curiosos e avicultores com licença, criadores de aves domésticas e mesmo um ou outro patrício alheio à ciência das aves.
Tais destinatários tinham um denominador comum: de doutos nada tinham, embora vertessem saber pelos cafés da terra. Naturalmente, havia queixas: “Que não canta, Miguel! Que não canta!”; “Há-de cantar, há-de cantar!”; até que uma repentina chuva ou a mudança de penas punha a descoberto o engodo e o tom do original.
Meu avô gostava de “pregar partidas”.
Sem nunca ter lido o Livro do Riso de Aristóteles, e muito menos Umberto Eco que o inventou já ele tinha morrido, sabia, intuitivamente, que “se o homem das cavernas tivesse sabido rir, o curso da História teria sido diferente”, Oscar Wilde.
Imaginemos agora por um momento que os cave people trocavam graçolas enquanto caçavam mamutes.
Aposto que largariam umas boas gargalhadas se vissem o tão falado vídeo da Sábado, uma colectânea de asneiras proferidas por estudantes universitários.
Escolhia rigorosamente – não os pardais – mas as vítimas da trapaça: entendidos em canto do Harz, ornitólogos curiosos e avicultores com licença, criadores de aves domésticas e mesmo um ou outro patrício alheio à ciência das aves.
Tais destinatários tinham um denominador comum: de doutos nada tinham, embora vertessem saber pelos cafés da terra. Naturalmente, havia queixas: “Que não canta, Miguel! Que não canta!”; “Há-de cantar, há-de cantar!”; até que uma repentina chuva ou a mudança de penas punha a descoberto o engodo e o tom do original.
Meu avô gostava de “pregar partidas”.
Sem nunca ter lido o Livro do Riso de Aristóteles, e muito menos Umberto Eco que o inventou já ele tinha morrido, sabia, intuitivamente, que “se o homem das cavernas tivesse sabido rir, o curso da História teria sido diferente”, Oscar Wilde.
Imaginemos agora por um momento que os cave people trocavam graçolas enquanto caçavam mamutes.
Aposto que largariam umas boas gargalhadas se vissem o tão falado vídeo da Sábado, uma colectânea de asneiras proferidas por estudantes universitários.
Deixemos de lado a manipulação das imagens e o “vale tudo” da sobrevivência. Rir de quê? Da miséria cultural dos entrevistados? Se for isso, melhor fariam em chorar porque algum deles ainda chegará ao poder (“In my flifetime, we’ve gone from Eisenhower to George W. Bush. We’ve gone from John F. Kennedy to Al Gore. If this is evolution, I believe that in twelve years, we’ll be voting for plants”, Lewis Black).
Se for para insinuar que o ensino público só produz ignorantes e que isto era muito melhor quando era cada um em su sitio, uma pergunta para os responsáveis da peça.
Quem foi o presidente da República que disse: “Comemora-se hoje em todo o país uma promulgação do despacho número 100 da Marinha Mercante Portuguesa, a que foi dado esse número não por mero acaso, mas porque ele vem na sequência de outras 99 anteriores promulgações”?
Um canudo em comunicação social a quem souber a resposta.
Se for para insinuar que o ensino público só produz ignorantes e que isto era muito melhor quando era cada um em su sitio, uma pergunta para os responsáveis da peça.
Quem foi o presidente da República que disse: “Comemora-se hoje em todo o país uma promulgação do despacho número 100 da Marinha Mercante Portuguesa, a que foi dado esse número não por mero acaso, mas porque ele vem na sequência de outras 99 anteriores promulgações”?
Um canudo em comunicação social a quem souber a resposta.
26/11/11
Slow motion
Quando voltarmos ao activo, reactivaremos os comentários.
Até lá, vão passando. Pode ser que se arranje qualquer coisinha.
Gratos pela preferência.
24/11/11
23/11/11
Coisas simples [numa palavra, democracia]
What gives you the right to dictate to the Greek and Italian people?
Soares, o animal político
"Não podemos saudar democraticamente a chamada 'rua árabe' e temer as nossas próprias ruas e praças".
... e entretanto, Seguro, o babe, reinventa a política enquanto abstenção violenta.
... e entretanto, Seguro, o babe, reinventa a política enquanto abstenção violenta.
22/11/11
... e fora da zona de conforto... [da série "isto vai dar merda" VI]
Imagens indigestas [aqui não se distribuem "abraços"]
21/11/11
20/11/11
19/11/11
Os canadianos, esses sornas
Não fora a peritonite de meu pai e eu seria, se não loura, indiscutivelmente alemã.
Passo a explicar.
Antes de ser chegado o ano de 1961 (início da Guerra Colonial), o meu progenitor, cheirando-lhe que a coisa em África em breve se tornaria feia, resolveu abandonar o solo pátrio e fazer-se à estrada. Rumou à Alemanha.
Apanhou um táxi, e foi do Algarve a Hamburgo com passagem por Paris, cidade onde pôde observar pela primeira vez, ao vivo e a cores, Le baiser de l’hôtel de ville de Robert Doisneau.
Já em solo germânico, caiu em plena reedificação do país. Quando começaram a construir o Muro de Berlim, vivia na cidade e é, então, que sofre um ataque de apendicite aguda.
Estes dois factos não estarão relacionados, mas a posterior peritonite foi, sem margem para dúvida, consequência directa da infecção do apêndice intestinal.
Sobreviveu com dificuldade, para no fim ganhar um atestado que o dava como incapaz de fazer a guerra; voltou a Portugal de comboio, já Oliveira Salazar proferira a célebre frase Para Angola, rapidamente e em força.
Na fronteira, um membro da Polícia Internacional e de Defesa do Estado verifica o passaporte e estranha-lhe o regresso: a autorização de saída caducara há muito.
“O que foi o fazer à Alemanha?”, perguntou-lhe o homem.
“Aprender alemão”, respondeu meu pai.
“O senhor está ilegal. Qual a razão do regresso?”, insistiu o agente da autoridade.
“Constou-me que a Pátria estava em perigo!”, justificação que muito impressionou o PIDE que quase lhe faz continência, enquanto o meu pai acaricia o atestado que leva no bolso e remata o diálogo com um sonoro Schwein! à laia de despedida, escudado no hermetismo da deutsche Sprache.
Não fora, pois, a inflamação da membrana peritoneal paterna e eu seria patrícia de Angela Merkel, com direito apenas a 10 feriados anuais contra os 14 portugueses, o que explica decerto a pujança teutónica versus recessão lusa, se bem percebi o discurso do Ministro da Economia recentemente chegado de terras do Canadá onde, por acaso, o regabofe é igualzinho ao nosso.
18/11/11
O sentido maternal das ministras [não sei se é disto que se fala quando se fala das vantagens do feminine touch na política]
"Façam sopa em casa", Ana Jorge, ministra da Saúde de José Sócrates
"As crianças devem voltar a comer fruta em estado natural", Assunção Cristas, ministra da Agricultura de Passos Coelho
Razão tem a Shakira: "The worst mistake of a woman is to go to the kitchen, because then she never gets out of there"
17/11/11
Pessoas boas, a tua tia ó Kröger!
O alemão Jürgen Kröger, um dos representantes da troika que nos calhou em sorte, é um querido.
Em Lisboa, onde fiscaliza o bom comportamento do governo (?) português, não só nos garantiu que Portugal não é a Grécia (what a relief, man!) mas também que somos "gente boa".
Como é que ele terá concluído tal coisa?
Como é que ele terá concluído tal coisa?
Andou a reler o Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas do Gobineau ou terá tido tempo de ir medir narizes para o Rossio?
16/11/11
15/11/11
Para isto, minhas senhoras e meus senhores, é preciso coragem e o resto é conversa
Chama-se Aliaa Elmahdy e é egípcia. A poucas semanas das eleições, publicou uma série de fotografias no seu blogue que a fizeram tornar-se notícia em todo o mundo. Não faltará quem venha dizer que a jovem quer é visibilidade, quiçá ganhar uns dólares. A esses, recordo apenas que há países onde toda a nudez será castigada. A sério.
14/11/11
O João César das Neves está indignado e sentiu um arrepio nas costas [ou o grau zero do pensamento]
Diz ele que somos uns ingratos. Que já os avós dele eram uns ingratos. Que já os pais dele eram uns ingratos.
Neves, porém, viu a Luz: "quem quer mais do que tem nunca aproveita o que há!"
E, enquanto isto, Bárbara ressona serenamente na tenda ao lado.
Pensam que invento? Ide e lede ó gente de pouca fé!
Viva o Alvarinho ou razão tem o João Lisboa: há comentários que valem mil posts
"O Alvarinho foi escolhido para ministro por duas razões, seguindo um reflexo irresistível do provincianismo local:
i) vem de um país desenvolvido,
ii) os seus méritos técnicos permitiram-lhe fazer carreira nesse el dorado místico, que é o conjunto probabilístico Universo-excluíndo Portugal; no seu caso específico, o Canadá.
Ambas as razões apontam para o amor e respeito por tudo o que é extranacional — tão pacóvios, quanto seculares em nós — como origem dessa opção.
Não é necessário esperar pelo fim de uma frase, para se sentir a brisa temperada a couve-galega e sopas-de-cavalo-cansado, evolando-se do patuá ministerial. Há uma subtil declinação beirã, se dúvidas restassem.
Sim, o Álvaro é um parolo, como demonstram as suas parolas declarações sobre assuntos triviais. A própria lógica, subjacente ao tema dos feriados, faria corar um pastor barrosão na sua simplicidade, o que dá boa medida do parolismo praticado pelo Álvaro.
Surpreendentemente — ou não, tratando-se claramente de um parolo enrustido — o Álvaro não aprendeu, nesse distante planeta Krípton da civilização superior canadiana, os rudimentos da boa prática académica e da honestidade intelectual.
É que há muita coisa que uma universidade canadiana pode modelar, ou transformar, no bicho-Homem, mas o bronco lusitano tem carapaça de titânio.
Parolamente, o Álvaro não saberá utilizar a internet, senão facilmente descobriria comparações entre níveis de produtividade e feriados para vários países do mundo anglo-germanicamente desenvolvido. Muitas vezes, ilustradas com profusão pornográfica de representações gráficas.
A leviandade domingueira com que o Álvaro tenta fazer passar cidadãos por aldeões medievais, é a mesma que assistiu à sua desautorização de um grupo de estudo afecto ao governo onde se integra, quando – no espaço de tempo que leva uma castanha a cair de um banco corrido —catalogou uma decisão do “seu” grupo como absurda.
Mas é bom técnico e veio de fora. Para quem é, bacalhau basta.", André
Dia 20 apaguem-se as luzes e a ver se o Mexia aprende o que é esforço equitativo
Transcrevo a informação que circula pela Internet e que apela a um boicote nacional à EDP no próximo dia 20 deste mês. Eu, por mim, já tenho uma velas à mão. Para o boicote, e para quando não houver "almofada" para pagar a factura.
«Vamos utilizar o nosso poder. Dia 20 de Novembro às 15.00 horas. A EDP já teme os prejuízos desta medida na escala dos vários milhões de portugueses, que estão conscientes do abuso a que estão sujeitos. Já recebi este e-mail 17 vezes nos últimos dias. Continuem a partilhar». «A EDP mantém um nível de lucros totalmente incompatível com o estado do país e com os sacrifícios exigidos a todos nós. A EDP tem mais poder que o Governo de Portugal e conseguiu (vá-se lá saber por que vias) impedir uma medida que visava minorar os brutais aumentos da energia que se estão a verificar - e que vão, certamente, aumentar ainda mais os ditos lucros». «A EDP mantém um monopólio (não de jure, mas de facto) uma vez que a concorrência não oferece aos consumidores domésticos (por exemplo) taxas bi-horárias». «Proposta: no dia 20 de Novembro de 2011, às 15:00, a nível nacional, vamos, todos nós consumidores domésticos, desligar tudo durante uma hora (os nossos congeladores aguentam mais do que isso quando há uma «anomalia» na rede que nos deixa sem energia e as baterias dos nossos portáteis também)». «Vamos repetir a acção até a EDP ter de nos pedir para parar com a coisa. Na qualidade de bons cidadão, que todos somos, pararemos mas só se os preços forem ajustados de forma a que os lucros da EDP se acertem pelo razoável, pelo socialmente justo e pelo moralmente correcto. Se gostarem da ideia, espalhem. Veremos no que dá».
12/11/11
Ainda sobre o facto de o Messias ter aparecido no "Avante"...
Embora a contragosto, devo confessar: enganei-me! As notícias vindas a público acerca do facto de o camarada Jorge Messias, cronista do PCP, não gostar de judeus são manifestamente exageradas, como bem explicou, aliás, Jerónimo de Sousa: “Nós gostamos de toda a gente, excepto do Drº Mário Soares” (citação apócrifa).
Tudo começou quando Messias resolveu rivalizar, nas páginas do “Avante”, com Dan Brown e José Rodrigues dos Santos.
“A rede conspirativa que se vai instalando na terra tem claramente origem em formações capitalistas proclamadamente religiosas. Basta olhar-se para o esquema organizativo que vai chegando ao conhecimento público para nele se reconhecer a mãozinha sinuosa dos jesuítas e dos illuminati maçónicos”, escreveu logo a abrir.
No intuito de corroborar a sua tese, o cronista ignorou As 7 Profecias Maias, As Profecias de Nostradamus, o Manual Prático do Vampirismo (Paulo Coelho), ou mesmo The Threat Revealing the Secret Alien Agenda, do conceituado especialista em raptos alienígenas David Michael Jacobs, preferindo fundamentar-se no Protocolos dos Sábios de Sião.
Os judeus — que, desde que lhes aconteceu o que lhes aconteceu, se tornaram, vá lá saber-se porquê, sensíveis a certos temas — resolveram vir lembrar duas coisas.
Uma delas, sabida pelo menos desde 1921 (Jorge Messias ainda não teria nascido…), é que os Protocolos… são uma refinada treta, criação da polícia secreta do Czar Nicolau II para liquidar certos problemas internos; uma espécie de “arma de destruição maciça” avant la lettre.
A segunda é que, enquanto “arma de destruição maciça” a coisa resultou muito bem, com Hitler a citá-los no Mein Kampf e a usá-los como (mais um) pretexto para a “Solução Final”.
Assim sendo, termino apenas com um conselho a Jorge Messias: a próxima vez que quiser explicar o estado do mundo aos leitores do “Avante”, é preferível ficar-se pelo conceito de “luta de classes”.
Será um conceito problemático, mas Marx (outro judeu, caraças!) já não está entre nós para lhe dar chatices.
Tudo começou quando Messias resolveu rivalizar, nas páginas do “Avante”, com Dan Brown e José Rodrigues dos Santos.
“A rede conspirativa que se vai instalando na terra tem claramente origem em formações capitalistas proclamadamente religiosas. Basta olhar-se para o esquema organizativo que vai chegando ao conhecimento público para nele se reconhecer a mãozinha sinuosa dos jesuítas e dos illuminati maçónicos”, escreveu logo a abrir.
No intuito de corroborar a sua tese, o cronista ignorou As 7 Profecias Maias, As Profecias de Nostradamus, o Manual Prático do Vampirismo (Paulo Coelho), ou mesmo The Threat Revealing the Secret Alien Agenda, do conceituado especialista em raptos alienígenas David Michael Jacobs, preferindo fundamentar-se no Protocolos dos Sábios de Sião.
Os judeus — que, desde que lhes aconteceu o que lhes aconteceu, se tornaram, vá lá saber-se porquê, sensíveis a certos temas — resolveram vir lembrar duas coisas.
Uma delas, sabida pelo menos desde 1921 (Jorge Messias ainda não teria nascido…), é que os Protocolos… são uma refinada treta, criação da polícia secreta do Czar Nicolau II para liquidar certos problemas internos; uma espécie de “arma de destruição maciça” avant la lettre.
A segunda é que, enquanto “arma de destruição maciça” a coisa resultou muito bem, com Hitler a citá-los no Mein Kampf e a usá-los como (mais um) pretexto para a “Solução Final”.
Assim sendo, termino apenas com um conselho a Jorge Messias: a próxima vez que quiser explicar o estado do mundo aos leitores do “Avante”, é preferível ficar-se pelo conceito de “luta de classes”.
Será um conceito problemático, mas Marx (outro judeu, caraças!) já não está entre nós para lhe dar chatices.
11/11/11
10/11/11
A book a day keeps the doctor away: "Comissão das Lágrimas", António Lobo Antunes
Disse em tempos Eduardo Lourenço, a propósito da escrita de António Lobo Antunes, que “a África foi o espelho no qual ele pôde ver melhor o delírio da experiência portuguesa”, mostrando-nos “não apenas a morte em África, mas a nossa própria miséria, os nossos terrores sepultos” (António Lobo Antunes. A Crítica na Imprensa 1980-2010 Cada Um Voa Como Quer, Edição Ana Paula Arnaut, Almedina, 2011, p. 257).
O escritor, depois de recentemente ter andado por lá perto no belíssimo O Meu Nome É Legião, volta a render-se ao tema, agora num mergulho em apneia que tem como ponto de partida um episódio histórico.
Comissão das Lágrimas, cujo título retoma, com exactidão, o nome pelo qual ficou conhecido a comissão que, em Angola, seleccionou — e enviou sumariamente para a morte — os presumíveis envolvidos no golpe fratricida de 27 /05/1977, ter-lhe-á surgido a partir da história trágica de Elvira, conhecida por Virinha, uma militante do MPLA que, torturada e assassinada na sequência dos acontecimentos, se tornaria num símbolo de resistência: “a rapariga sem língua continua a cantar, erguíamo-la do chão e continuava a cantar, atirávamo-la contra o cimento e continuava a cantar, não se cala (…)”, p. 47.
Se o livro se funda no real, este, porém, apenas lhe serve de pretexto e, como sempre em António Lobo Antunes (uma das razões por que é grande), o particular depressa cavalga o universal.
O escritor, depois de recentemente ter andado por lá perto no belíssimo O Meu Nome É Legião, volta a render-se ao tema, agora num mergulho em apneia que tem como ponto de partida um episódio histórico.
Comissão das Lágrimas, cujo título retoma, com exactidão, o nome pelo qual ficou conhecido a comissão que, em Angola, seleccionou — e enviou sumariamente para a morte — os presumíveis envolvidos no golpe fratricida de 27 /05/1977, ter-lhe-á surgido a partir da história trágica de Elvira, conhecida por Virinha, uma militante do MPLA que, torturada e assassinada na sequência dos acontecimentos, se tornaria num símbolo de resistência: “a rapariga sem língua continua a cantar, erguíamo-la do chão e continuava a cantar, atirávamo-la contra o cimento e continuava a cantar, não se cala (…)”, p. 47.
Se o livro se funda no real, este, porém, apenas lhe serve de pretexto e, como sempre em António Lobo Antunes (uma das razões por que é grande), o particular depressa cavalga o universal.
Aqui, África é, de facto, um “espelho no qual ele [pode] ver melhor o delírio da experiência portuguesa”, mas também o sofrimento que nos calha a todos.
O romance retoma o chamado registo polifónico habitual (“o meu ofício é traduzir vozes”, p. 128), organizando-se em torno de três personagens principais: Cristina, que está internada numa clínica, assombrada por vozes que não lhe dão descanso; a sua mãe branca, Alice/Simone, ex-dançarina de plumas de lantejoulas que “coxeia [agora] a sua desgraça”, p. 49; e António, o preto a quem os brancos não deixaram ser padre, o pai (?) torcionário que, em Lisboa, continuará “à espera que o matem”, p. 49.
A polifonia é contrariada pelo cruzamento intrincado dos registos e pela dúvida que se instala ao longo do texto. Quem fala? E, quem fala, diz a verdade ou delira?
O tema da verdade — que é, afinal, o tema que importa a todos os Inquisidores — confunde-se, assim, nas memórias (reais? inventadas?) de Cristina na clínica e nas confissões arrancadas pela Comissão das Lágrimas, mais a confissão a que António é obrigado no seminário: “(…) perguntavam-me — Desonraste a Divindade? e não era que não quisesse contar, era que não achava o que devia ser contado, pensava — Ensinem-me o que deve ser contado ou — Ensinem-me o que querem que eu conte”, p. 112.
O romance retoma o chamado registo polifónico habitual (“o meu ofício é traduzir vozes”, p. 128), organizando-se em torno de três personagens principais: Cristina, que está internada numa clínica, assombrada por vozes que não lhe dão descanso; a sua mãe branca, Alice/Simone, ex-dançarina de plumas de lantejoulas que “coxeia [agora] a sua desgraça”, p. 49; e António, o preto a quem os brancos não deixaram ser padre, o pai (?) torcionário que, em Lisboa, continuará “à espera que o matem”, p. 49.
A polifonia é contrariada pelo cruzamento intrincado dos registos e pela dúvida que se instala ao longo do texto. Quem fala? E, quem fala, diz a verdade ou delira?
O tema da verdade — que é, afinal, o tema que importa a todos os Inquisidores — confunde-se, assim, nas memórias (reais? inventadas?) de Cristina na clínica e nas confissões arrancadas pela Comissão das Lágrimas, mais a confissão a que António é obrigado no seminário: “(…) perguntavam-me — Desonraste a Divindade? e não era que não quisesse contar, era que não achava o que devia ser contado, pensava — Ensinem-me o que deve ser contado ou — Ensinem-me o que querem que eu conte”, p. 112.
A capacidade da ficção ir mais longe, explicará o desejo do literário. Por isso, talvez, o realismo esteja tão distante do registo de António Lobo Antunes, mesmo se, paradoxalmente, as palavras em que se exprime optem cuja sempre por uma materialidade crua, na fronteira do prosaico: “uma traineira com problemas nos ossos, por vezes um rebocador aflito da hérnia”, p. 313.
Finalmente, se Angola é o cenário principal de Comissão das Lágrimas, só se dá a ver em contraponto com a marquise de Lisboa, “o mundo dos naperons” que ficou para trás no tempo, as camponeses “de olhos cheios de vacas”, o passado que se mistura ao presente,ambos dolorosos.
E mais uma vez em António Lobo Antunes, seria preciso regressar à inocência da infância, no pressuposto que tal coisa possa existir.
Finalmente, se Angola é o cenário principal de Comissão das Lágrimas, só se dá a ver em contraponto com a marquise de Lisboa, “o mundo dos naperons” que ficou para trás no tempo, as camponeses “de olhos cheios de vacas”, o passado que se mistura ao presente,ambos dolorosos.
E mais uma vez em António Lobo Antunes, seria preciso regressar à inocência da infância, no pressuposto que tal coisa possa existir.
António Lobo Antunes, Comissão das Lágrimas, 2011, D. Quixote
09/11/11
Queres ver que ainda vamos ser nós a pagar a "extravagante" colecção egípcia do BPN?
Custou 5 milhões de euros, possivelmente não vale um chavo e faz parte dos activos classificados como "extravagantes" pelo actual presidente da SLN, Miguel Cadilhe (notícia do Expresso)
Extragante é também, no mínimo, a legenda que acompanha um outro artigo sobre o tema publicado no Económico.Sapo.
Isto é o quê: escrita hieroglífica?
Extragante é também, no mínimo, a legenda que acompanha um outro artigo sobre o tema publicado no Económico.Sapo.
Isto é o quê: escrita hieroglífica?
Alguém que me explique a tesourada que o Jornal I deu ao boneco do Charlie Hebdo
08/11/11
A bravata, perdão, gravata dos chineses [e uma revoluçãozinha cultural, não ia?] — ou isto vai dar merda IV
China has accused European workers of being ‘slothful’ and ‘indolent’ after refusing to put any of its vast resources into rescuing the euro.
The head of the Chinese state’s overseas investment arm said he would only help Europe if it reformed its ‘outdated’ labour laws and welfare systems.
Imagem roubada aqui.
The head of the Chinese state’s overseas investment arm said he would only help Europe if it reformed its ‘outdated’ labour laws and welfare systems.
Imagem roubada aqui.
Oh scheiße! [da série isto vai dar merda e tal — III]
Os alemães já controlam Roma?
Isto está a tornar-se tão complexo como a I Guerra Mundial — em que não é assim tão fácil perceber quem são os bons e os maus...
Meus amigos, embora longe de possuir os poderes da filha de Raúl Solnado, em verdade vos digo: isto vai dar merda! (II)
Chegou a vez de pôr os italianos em sentido. AQUI
Entretanto, em Bruxelas vão-se tendo mais ideias peregrinas. AQUI,
07/11/11
Ele há lendas e ele há narrativas, ele há poços e ele há fontes...
«Para esse Moiral, que conduzia ao longo dos séculos os seus rebanhos para as terras altas, não havia fim-de-semana, não havia férias, não havia feriados, não havia tão pouco pontes em nenhumas circunstâncias», lembrou o Presidente da República.
AQUI
AQUI
05/11/11
Economia para inteligentes
Francisco Fernandes Lopes (1884-1969), médico olhanense caído no esquecimento mas de quem Almada Negreiros disse: “Ele está, para mim, no meio da primeira fila dos que estão à frente disto tudo”, foi um homem de qualidades raras.
Outra coisa que também não alcanço é isto.
Musicólogo, inventor nas horas vagas, poliglota e historiador — sábio que se definia a si próprio como um “vulgaríssimo João Semana” — guiava-se por um princípio: “Ir sempre ao fundo do fundo do contrafundo”. É um bom princípio.
Que estamos a ir ao fundo, ninguém o nega. Até o primeiro-ministro já veio dizer que empobreceremos. Inevitavelmente. De vitória após vitória, até à derrota final, slogan que tem até uma certa patine guevarista adequada na perfeição ao l’air du temps, um tempo em que os banqueiros citam Lenine.
Recordo: “O Lenine deve estar a rir-se à gargalhada no túmulo”, disse Fernando Ulrich, demonstrando que é um homem do mundo.
Eu, que estou como o Jesus Cristo do Pessoa (também nada sei de finanças…), gostaria, contudo, de deixar algumas perguntas (simples) — numa tentativa, porventura vã, de cumprir o preceito de Lopes.
Eu, que estou como o Jesus Cristo do Pessoa (também nada sei de finanças…), gostaria, contudo, de deixar algumas perguntas (simples) — numa tentativa, porventura vã, de cumprir o preceito de Lopes.
Quando o desemprego em Portugal, segundo dados do INE, se situa em 12,5%, como é que o aumento de meia hora de trabalho diário ajuda a combater o flagelo?
Andava eu a tentar perceber a quadratura do círculo, eis que chego a um estudo encomendado pelo Governo que garante que a medida aumentará em 4% a competitividade das empresas, o que logo me fez lembrar Garrett, perdão, Manuel Pinho, o ex-ministro da Economia que em tempos que já lá vão (?) foi à China pedir aos locais para investirem em Portugal porque a nossa mão-de-obra era barata.
Outra coisa que também não alcanço é isto.
Imaginemos que um qualquer leitor destas linhas aceita emprestar-me dinheiro. Agradeço, claro, "uma senhora é uma senhora", mas é-me imposta uma condição: não posso criar riqueza durante o período de tempo em que fico devedora.
Empobreça!, ordena-me o emprestador. E desculpem-me se pareço muito burra: mas como raio poderei pagar-lhe?
E foi então que Karl Kraus surgiu em meu auxílio: “Uma das causas mais comuns das doenças é o diagnóstico”.
04/11/11
Escreva ao seu banco e tenha um proveitoso diálogo [por uma vez, a seu favor]
03/11/11
Meus amigos, embora longe de possuir os poderes da filha de Raúl Solnado, em verdade vos digo: isto vai dar merda!
Afinal, o mais provável é não haver referendo!
Mas de tudo o que li até agora sobre o assunto, o que gostei mesmo mais foi deste lead:
... e estes jornalistas caíram de onde?
[Pastiche] A Ana Cristina Leonardo (ACL), detentora de 0% do capital da Europarque, reconheceu hoje a impossibilidade de honrar os pagamentos à banca
Só pelo prazer de ler um bom texto
Chama-se "Agora é cada um por si e Deus contra" e assina Marcos. AQUI
02/11/11
Qual a diferença entre citar o "Protocolos dos Sábios de Sião" e "O Segredo"?
Bom, é que sendo ambos bullshit. o primeiro contribuiu para reduzir a cinzas uns quantos milhões de pessoas.
Alguém que explique isso ao Jorge Messias do PCP.
Messias?!
01/11/11
Papandreou limpa as mãos/ a democracia quando nasce devia ser para todos/ "a profecia é um género muito difícil, sobretudo quando aplicado ao futuro"*
A corda foi sendo esticada e o resultado está à vista. Uns senhores em pânico e a situação na Grécia cada vez mais feia.
Apesar de tudo, confesso que gosto de os ver à rasca.
*citação roubada a Mark Twain
Apesar de tudo, confesso que gosto de os ver à rasca.
*citação roubada a Mark Twain
Na imagem, Manolis Glezos, resistente grego da II Guerra Mundial, sofre uma carga da polícia. Daqui
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