08/05/22

GUERRA NA UCRÂNIA: A REFLEXÃO DE EDGAR MORIN, UM HOMEM QUE, COM 100 ANOS, JÁ VIU DE TUDO

Texto do filósofo francês publicado no Diário de Notícias. Vale a leitura. 

«... A única possibilidade seria uma paz de compromisso que instalaria e garantiria uma neutralidade da Ucrânia. O estatuto das regiões russófonas do Donbass poderia ser tratado por referendo. O da Crimeia, região tártara e em parte russificada mereceria um estatuto especial.

Em suma, as condições para um compromisso, por muito difícil que este seja de estabelecer, são claras. Mas a radicalização e a amplificação da guerra diminuem as possibilidades de uma forma brutal. A situação geopolítica da Ucrânia e a sua riqueza económica em trigo, aço, carvão, metais raros fazem dela uma presa para os grandes predadores que são as duas superpotências.

A inclinação da Ucrânia para o Ocidente depois de Maidan provocou a agressão russa e a agressão russa provocou não só o apoio a uma nação vítima de invasão, mas a vontade de a integrar no Ocidente, o que correspondia, de resto, à vontade de uma maioria de ucranianos.

A Ucrânia é mártir não só da Rússia mas também do agravamento das relações conflituosas entre os Estados Unidos e a Rússia das quais fazem parte evidentemente o alargamento da NATO, ele próprio inseparável das inquietudes suscitadas pela guerra russa na Chechénia e a sua intervenção militar na Geórgia.

A salvação da Ucrânia não está apenas na sua libertação da invasão russa, mas também em se libertar do antagonismo entre a Rússia e os Estados Unidos.

Esta dupla libertação permitiria aos países da União Europeia libertarem-se igualmente deste conflito e procurarem unir a segurança e a autonomia.(...) » 

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