30/12/10

Não vi o debate Alegre/Cavaco mas só queria dizer uma coisa *

Esta campanha presidencial terá dado sono a muitos portugueses, eu incluída.
A coisa provou-se tão pobrezinha que, não fora os monárquicos terem a representá-los aquela figura patética e abigodada que dá pelo nome de Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança ("estou muito optimista porque finalmente os governantes decidiram tomar as medidas necessárias", disse recentemente Sua Alteza), a República teria corrido perigo e logo no centenário.
Ceci dit, apenas lamento não ter conhecido Maria Mendes Vieira, a segunda mulher do sogro de Cavaco e que este bufou à PIDE.
Não sei bem porquê, fiquei a simpatizar com a senhora. Talvez até votasse nela. Tal não sendo possível, estou com o Quincas Borba, "ao vencedor, as batatas".
* Post refeito depois de passear a princesa e tomar café

26/12/10

Ainda os pobres natalícios ou toma lá dez euros e vai com deus

O país ficou a saber na véspera das rabanadas que o salário mínimo, inicialmente previsto para 500 euros, ficará pelos 485, ou seja, sofre um aumento de 10 euros.
A ex-sindicalista Helena André*, actual ministra do Trabalho e da Solidariedade Social (a solidariedade fica sempre bem a um ex-sindicalista...), justificou os 10 euros com a crise e blá blá blá e, num momento de particular bom gosto, acrescentou que "o aumento do salário mínimo nacional em Portugal desde que o PS chegou ao Governo é um facto histórico: houve um aumento de 33,4 por cento em termos nominais desde 2005".
A lata da moça compreende-se. Como me assinalava em tempos alguém, Portugal deve ser o único país do mundo onde quando se recusa a esmola a um pobre se acrescenta como se não bastasse: "tenha paciência!"


É impressão minha ou, além das tangas do costume e outras ajustadas ao momento, o engenheiro amigo, entre 2008 e 2010, fez um levantamento de raízes?

NATAL 2008


NATAL 2009


NATAL 2010

25/12/10

Coisas sérias que o ano já não dura muito: livros de 2010 que merecem leitores

História do Século XX, Martin Gilbert, Dom Quixote
Sussurros – A Vida Privada na Rússia de Estaline, Orlando Figes, Aletheia
George Orwell. Uma Biografia Política, John Newsinger, Antígona
Comer Animais, Jonathan Safran Foer, Bertrand
A Viagem dos Inocentes, Mark Twain, Tinta-da-China
Petersburgo, Andrei Béli, Relógio D’Água
Pan, Knut Hamsun, Cavalo de Ferro
Kanikosen – O Navio dos Homens, Takiji Kobayashi, Clube do Autor
As Aventuras de Augie March, Saul Bellow, Livros Quetzal
Obra Poética, Sophia de Mello Breyner Andresen, Editorial Caminho
Uma Viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares, Editorial Caminho
Sôbolos Rios Que Vão, António Lobo Antunes, Dom Quixote
Adoecer, Hélia Correia, Relógio D'Água
A Mecânica da Ficção, James Wood, Livros Quetzal
Cem Poemas, Emily Dickinson, Relógio D´Água
Um Jantar a Mais, Ismail Kadaré, Livros Quetzal
Papéis Inesperados, Julio Cortázar, Cavalo de Ferro
Diário Volúvel, Enrique Vila-Matas, Teorema
Nova Iorque, Brendan Behan, Tinta-da-China
O Regresso do Hooligan, Norman Manea, ASA

21/12/10

Ginástica financeira à moda do bloco central ou dos jogos de soma nula à conta das criancinhas

Diz um digno representante do PSD que o seu partido está "amarrado" ao acordo que fez com o PS para viabilizar o orçamento. Assim, votará contra a revisão de quaisquer mudanças nos cortes aos abonos de família.
No entretanto, o governo vai injectar 500 milhões de euros no Banco Português de Negócios que era um banco muito bom mas que afinal parece que ninguém quer comprar.
Como, através nos cortes dos abonos, o Estado poupará 250 milhões só lhe ficam a faltar outros tantos.
Corrijam-me se estiver errada mas quase que jurava que 250+250 são 500.

20/12/10

Os pobres parecem estar na moda ou, dito de outra forma, os meus pobres são melhores que os teus


"Os políticos abriram a época de caça ao pobre. Querem ostentá-los nas suas campanhas e nas suas intervenções. São um estandarte. A cabeça de um pobre é um troféu. Se em vez de uma forem várias, tanto melhor."
Ler o resto aqui

18/12/10

É por isso que o país não avança: há gente que reflecte demais e quanto às mulheres da limpeza não viram passar ninguém vestido de cor de laranja

A esquerda e a direita — decididamente — já não são o que eram. Enquanto nos EUA há republicanos indignados com as tentativas de silenciamento e criminalização da WikiLeaks (ver aqui) em Portugal uma larga faixa de gente que se assume de esquerda interroga-se, medita, tem dúvidas. Em alternativa, desconsidera o fenómeno.
O argumento mais recente avançado por esta esquerda inquieta (e cá para mim inquietante) vem embalado num twist pouco gracioso que tenta matar dois coelhos com uma só cajadada.
Diz o argumento (versão requentada do alfaiate do panamá): quem nos garante, afinal, que, para mostrar serviço, os embaixadores não tenham contado uma data de aldrabices nos telegramas?
Lançada a dúvida, avança-se com o segundo golpe: os radicais anti-americanos, sempre tão críticos dos states, deram para acreditar piamente em tudo o que os telegramas dizem. Ah! Ah! Ah! (isto é a esquerda inquieta a rir dos radicais anti-americanos).

Deixando de lado o facto de conceitos como “verdade”, “liberdade”, “democracia” não dependerem dos seus proponentes (mais ou menos radicais), não nos podemos deixar de surpreender com esta vaga súbita de inquietação metafísica, absolutamente rendida à Eigentlichkeit heideggeriana (que me vão permitir que traduza por “Autenticidade”).
A síntese da coisa surgiu há já alguns dias e veio assinada por esse paladino do pensamento complexo que dá pelo nome de Valupi: Os imbecis da esquerda imbecil confiam cegamente em qualquer coisa que a diplomacia norte-americana ponha por escrito. Extraordinária revelação.
Valupi faria escola
. O único senão é que, enquanto a propósito do fenómeno WikiLeaks (e da referida revelação) alguns vão tendo orgasmos intelectuais múltiplos e outros insinuando até teorias conspirativa quiçá com origem na América, o país real contenta-se com questões mais prosaicas. Um exemplo.

Ao tempo das investigações oficiais sobre os voos da CIA andaram a perguntar às mulheres da limpeza dos aeroportos se tinham visto passar alguém agrilhoado e com uns fatos-macacos laranja...

Vendo bem, são uns para os outros. E como é Portugal ninguém leva a mal.
Ou conhecem mais algum país onde não houvesse a porra de um jornalista que perguntasse o que raio são voos de repatriamento: e para onde os repatriavam, senhor ministro da presidência? para o RITZ lá do sítio?
De facto, chega uma altura em que não há paciência para tanto imbecil junto.

16/12/10

Eles nunca leram Mark Twain

When in doubt tell the truth.
(Imagem de Tiago Petinga/LUSA)

O Câmara Corporativa clama pela padeira de Aljubarrota

Enquanto dormis o sono dos justos, nas calles madrilenas forjam-se ataques soezes ao berço do condestável e às probas carcaças do panteão. Mas lede, lede o João Magalhães; observai como o El Pais escarnece de mais um ditoso filho da pátria e enlameia Portugal:

O El Pais garante, em título, que “Sócrates aprovou em segredo os voos a partir de Guantanamo”. E escreve, no texto, que tal autorização seria feita “caso por caso en determinadas circunstancias”. (…) Se o El Pais quisesse fazer jornalismo – e não apenas atirar lama sobre Portugal (…) – era esta a história que contaria.

Não é Sócrates que se conspurca, leitores — não é o Governo, não é o PS, não é o Estado, não são as instituições: é o povo, é a raça, é a nação.

Ah, canalha de Aragões. Nada aprendestes com Aljubarrota.
LIDO AQUI (e sem a ajuda do Google Reader)

Yes! Yes! Yes!

Apesar de tudo, uma vitória para a democracia (eu sei, a frase é um bocado pomposa mas de momento é o que se pode arranjar)

Não é por ser d'après Baudrillard que uma aldrabice deixa de o ser

Fernanda Câncio cita João Lopes.
Gostei muito de um livro de reportagens da Fernanda Câncio. E costumava gostar muito do que escrevia João Lopes, mesmo quando não gostava dos filmes de que ele gostava (vai no passado porque há muito tempo que não o leio).
Dito isto, escusam de vir com Sade, Baudrillard e o ódio à América porque não pega. A coisa é muito mais simples.
A América iniciou uma guerra por motivos ínvios. Provocou milhares de mortos, iraquianos mas também americanos, sem justificação. Bush devia ser julgado por crimes de guerra, se o mundo fosse um lugar justo. Não é. Ainda assim, uma aldrabice é uma aldrabice. E não é preciso ter lido La philosophie dans le boudoir para perceber isto.

Oh no, not again: Amado diz que Sócrates está a ser alvo de um "ataque pessoalizado"

Há muito tempo que não ouvíamos falar de uma campanha negra contra o Grande Timoneiro.

14/12/10

Diálogos sob o nevoeiro

— Vamos?
— Vamos.
— Hoje foi rápido.
— Pois foi. Vamos a pé?
— Quer ir a pé? Não prefere que vá buscar um táxi?
— Não, podemos ir a pé. Mas, antes disso, arranja-me aí um cigarrinho.
— Qualquer dia recusam-lhe os tratamentos...
— Ora, porquê? Por causa de um cigarrinho? Os cigarros ligam bem com este tempo...
— Com este tempo...
— Sim, não vês que está um bom dia para passear à beira do Tamisa?
— Tamisa?! Queria dizer Tejo, não?
— Eu disse Tejo?
— Não, disse Tamisa.
— E era exactamente o que era queria dizer. Shall we go? (risos)

A malta do portal SAPO também deve ter tirado um curso de inglês técnico por correspondência

Texto em destaque no portal SAPO dando conta da decisão do juiz inglês que ordenou a libertação de Julian Assange sob fiança

Julian Assange, criador da Wikileaks, foi libertado sob fiança após ter sido ouvido por um juíz no processo em que estava acusado de violação e abuso sexual.

Deixemos de lado o facto de o "foi libertado" não ser um facto (Assange terá de aguardar na prisão um eventual apelo dos advogados de acusação que têm 48 horas para contestar a sentença) e passemos ao que importa.

Julian Assange não estava acusado!!!??? de "violação" porra nenhuma. Toda a gente já está farta de saber que a acusação é de "sex by surprise", na sequência da queixa feita por duas louras suecas que foram voluntariamente com ele para a cama.
E isto sempre faz alguma diferença, pelo menos para mim que não sou sueca.

12/12/10

Zé Manel Fernandes: toma, embrulha e esforça-te mais um bocadinho


Os convertidos são sempre os piores. Por isso, ao contrário do Zé Manel Fernandes, o congressista republicano Ron Paul faz as perguntas certas.

E fá-las no pressuposto — não negociável — de que in a free society, we are supposed to know the truth. In a society where truth becomes treason, we are in big trouble (e esta também podia ser para o Pacheco Pereira).

DAQUI.

Não vem no Wikileaks nem ninguém lhe perguntou nada mas José Manuel Fernandes garante que não esteva na cama com Assange*

"(...) Refere-se à prisão de Assange? Não estive nas camas em que ele se meteu na Suécia (...)"
AQUI, a partir DAQUI.
*Dadas as óbvias conotações sexuais que este caso vem assumindo, talvez estivesse na altura de alguém desenterrar o Reich.

10/12/10

Enquanto não mando imprimir a T-shirt com os dizeres surprise me! [if you know what I mean] deixo-vos com a Morgada de V. que ficam muito bem

ESTE POST, PARECENDO QUE NÃO, É POLÍTICO

“But the Almighty Lord hath struck him,
and hath delivered him into the hands of
a woman.” — The Vulgate, Judith, xvi. 7

Nietzsche dizia que a prova da inferioridade das mulheres se via no facto de terem passado milénios na cozinha sem terem desenvolvido uma teoria geral da nutrição, mas isso foi porque levou tampa da Lou Salomé e da Cosima e por causa de umas sanchas que lhe caíram mal.
Ceci dit, há que reconhecer que nem sempre usámos os ingredientes ao nosso dispor para cozinhar a revolução. Exemplos históricos da união feminina em prol da mudança social? Lísistrata & as Mães de Bragança.
Dir-me-ão que o primeiro caso é de ordem ficcional, e o segundo é mau demais para ser verdade, mas é não ter em conta o poder dos arquétipos na conformação da realidade. Em ambos os casos, as mulheres usam o sexo com a mesma extensão dos poderes do Presidente da República: vetam. Dar o corpo ao manifesto, que é bom, népias.
O que faz o mulherio, nomeadamente de esquerda, perante o cerco à liberdade de expressão que nos preocupa a todas? Googla fotos do Assange e suspira (...). Ora os tempos que atravessamos exigem novas formas de luta, formas criativas de luta. Quando alguém é vítima de uma acusação caluniosa, não falta quem venha dizer “somos todos vítimas-de-manobras-caluniosas”, numa espécie de “je m’accuse” solidário; como não podemos ser o Assange, resta-nos o “queremos todas ser surpreendidas pelo Assange”.
Enfim, para quando um movimento “Surprise me”? Seria uma espécie de let’s call the girls bluff of, porque ninguém ignora que a acusação de violação – mesmo a violação between consenting adults, como parece ter sido o caso – tem o poder de uma mancha de crude a alastrar pelo oceano, indeferindo liminarmente o contraditório e levando ao arquivamento do sentido crítico da opinião pública internacional.
Mulheres de todo o mundo, uni-vos! Não é só a liberdade das sociedades ocidentais ou a reputação do Assange que justifica o apelo às armas, é também a reputação feminina que está em causa: aquela loira gira que acusa o Assange e a outra que não aparece nas fotos mas também não deve ser má são as últimas de uma longa lista de castradoras sexy encabeçadas por Salomé, Judite e Dalila, o mito da mulher que faz perder a cabeça ao desprotegido sexo forte.
Urge demarcarmo-nos destes baixos agissements. Acredito que nem todas achem o Assange simpático, que haja quem prefira homens mais baixos ou mais gordos, ou que agora não lhes apeteça; mas a causa da liberdade exige sacrifícios e abnegação, e as refractárias podem sempre seguir os conselhos das Braganza mothers’ mums: lie back and think of Sweden.

Hoje é dia de Nobel

Na ausência do próprio, preso na China, o prémio Nobel da Paz foi entregue a Liu Xiaobo.

07/12/10

A maior ironia disto é que num filme americano Assange seria o herói


O cinema americano gosta de heróis solitários. É por isso que assistir ao vivo à perseguição do australiano Julian Assange tem um certo sabor a sétima-arte. Com todos os ingredientes. O "fugitivo" tem atrás de si os bancos, os governos, as polícias, as grandes empresas e mais duas duas louras loucas que o acusam de "sex by surprise" (o que prova desde logo que a ginástica sueca foi claramente destronada pelo Pilates).
E qualquer semelhança com uma história de Phillip K. Dick não será mera coincidência.

05/12/10

Estar com ou contra Julian Assange [porque há coisas que são mesmo assim: ou preto ou branco]


Uns querem vê-lo morto. Outros querem vê-lo preso. Há quem lhe chame anarquista e há quem lhe chame embusteiro. Para mim, Julian Assange é um herói.
Eu sei que a palavra não faz as delícias de uma certa esquerda (a luta de classes como motor da história e tal…), e que a direita, tradicionalmente, embora aprecie o termo neste caso não o adopta.
Dito isto: as últimas revelações da WikiLeaks não são sobre o botox do Muammar al-Gaddafi, como alguns pensam ou pensaram. A prova está na escala da perseguição a que se viu sujeito Assange desde que os telegramas diplomáticos começaram a vir a público.
A coisa foi em crescendo. Com os pretos do Quénia, claro, ninguém se importou muito. A guerra no Afeganistão e no Iraque fez mossa, mas quem no seu juízo perfeito ainda acredita na treta do War on Terror?
Quando se chegou à diplomacia, o que aconteceu foi que os EUA foram expostos ao ridículo (e também, precisamente, por causa do botox do outro). A ameaça pende agora sobre um Banco e sobre a Indústria Farmacêutica e com esses não se brinca. Mesmo.
Aos que duvidam da idoneidade da WikiLeaks ou defendem o secretismo estatal (muito ou só um bocadinho…) apenas queria dizer isto: tivesse existido a WikiLeaks há mais tempo e coisas como as sanguinárias ditaduras latino-americanas (diplomaticamente preparadas pelos EUA) não teriam existido. Resta-nos o consolo de que, no futuro, talvez os militares dos Apache comecem a ter mais cuidado quando brincam ao tiro ao alvo.
*O vídeo acima não é para Pessoas Sensíveis.

02/12/10

Gabinete de Sócrates na vanguarda da diplomacia internacional mostra ao mundo como se lida com criminosos tipo Assange

Hillary Clinton deve estar muito arrependida por não ter telefonado aos assessores de Sócrates para lhes pedir conselho sobre o que fazer face às revelações da Wikileaks. Afinal, enquanto a americana se desfaz freneticamente em telefonemas, cartas, conferências de imprensa, pedidos de desculpa e ameaças, o gabinete do primeiro-ministro limitou-se a uma declaração lacónica muito mais eficaz: Não comento! Não comento! Não comento!
Perante o sincretismo do governo português, a embaixada dos EUA em Lisboa já terá enviado um telegrama confidencial para Washington (que será relevado pela Wikileaks a seguir ao dia dos Reis), onde se sugere que as autoridades norte-americanas adoptem, embora tardiamente, a mesma atitude.
O porteiro da embaixada ter-se-á mostrado, todavia, reticente quanto à eficácia do no comments fora das nossas fronteiras.
Segundo o referido funcionário, que preferiu manter o anonimato e vive há cerca de 40 anos entre nós, só num país de poetas a negação da realidade é uma estratégia viável.

Post dedicado a Luís Amado [com música a condizer]


Agora, seria nossa vantagem acariciá-lo (???!!!) muito, frase final de um telegrama enviado pela embaixada norte-americana em Lisboa, a 18 de Outubro de 2006, a propósito dos voos da CIA de Guantánamo e referindo-se expressamente ao iluminado Luís Amado.