14/12/10

A malta do portal SAPO também deve ter tirado um curso de inglês técnico por correspondência

Texto em destaque no portal SAPO dando conta da decisão do juiz inglês que ordenou a libertação de Julian Assange sob fiança

Julian Assange, criador da Wikileaks, foi libertado sob fiança após ter sido ouvido por um juíz no processo em que estava acusado de violação e abuso sexual.

Deixemos de lado o facto de o "foi libertado" não ser um facto (Assange terá de aguardar na prisão um eventual apelo dos advogados de acusação que têm 48 horas para contestar a sentença) e passemos ao que importa.

Julian Assange não estava acusado!!!??? de "violação" porra nenhuma. Toda a gente já está farta de saber que a acusação é de "sex by surprise", na sequência da queixa feita por duas louras suecas que foram voluntariamente com ele para a cama.
E isto sempre faz alguma diferença, pelo menos para mim que não sou sueca.

9 comentários:

Cristina Torrão disse...

‘It felt boring and like an everyday thing.’ - disse uma delas.
Realmente, não soa a violação...

fallorca disse...

Felizmente não és sueca. Mas não sabe jogar «à sueca», pois não? ;)

purpurina disse...

ele é suspeito de "våldtäkt, sexuellt ofredande och olaga tvång" (http://www.dn.se/nyheter/varlden/julian-assange-slappt-mot-borgen-1.1227111). independentemente da sua validade, isto é violação, assédio (molestação) sexual e coerção ilegal - numa tradução caseira.

esta conversa toda do sexo surpresa parece que só é notícia fora da suécia. deve ser porque as suecas têm fama de ser umas malucas e agora de repente está tudo muito surpreendido que elas só o sejam quando QUEREM.

isto de se estar muito bem a dormir e um quase-desconhecido com quem se quis foder antes de adormecer nos enfiar uma pila à traição não conta como sexo não-consentido, é? o assange pode ser um grande herói mas a ligeireza com que se desprezam estas acusações é assustadora.

(e o que é que interessa que elas sejam louras?)

Ana Cristina Leonardo disse...

Purpurina, só estive na Suécia uma vez e gostei muito. Dito isto, não sei se as suecas são malucas mas, se o forem, estão no seu direito a só serem malucas qd querem (como eu, aliás, e não sou sueca).
Posto isto, as acusações sobre o Assange são, no mínimo, muito convenientes. E se leu o link do Guardian, entre o que lá vem descrito e uma violação, tout court, há-de convir que existem algumas diferenças. Quando alguém, voluntariamente, decide ter sexo com outra pessoa, mesmo que a coisa não corra particularmente bem (e o não correr bem aqui parece ter que ver com o -não- uso de camisa de vénus ou com uma camisa de vénus em mau estado) não há-de ser o mesmo do que eu ir na rua e ser violada ao virar da esquina (e o facto do processo ter sido REABERTO depois de ter sido recusado parece tornar a gravidade da coisa, no mínimo, polémica).
Quanto a serem louras, não vem ao caso. Era só uma piada fácil. No melhor pano cai a nódoa.

James disse...

Toda essa estória cheira a conveniência, mas até pode ser verdade, as pessoas às vezes parecem uma coisa e depois revelam-se como outra e a gente fica um pouco sem saber o que pensar.
E também há isso que a Ana Cristina disse, no melhor pano cai (pode cair...) a nódoa.

**sad**
:-(

purpurina disse...

o meu comentário foi um bocado violento, peço desculpa.

concordo que estas acusações sejam muito convenientes e daí a gritar conspiração vai um passo muito pequeno.

o que me chateia nisto tudo é que o homem foi imediatamente considerado um santo. e não tem de o ser! por muito ou pouco honrado que seja o wikileaks, as suas actividades sexuais são privadas e completamente independentes disso. ele pode mesmo ser um grande herói num lado e um grande pervertido no outro.

e, como disse no comentário acima, assusta-me que se desprezem estas acusações tão facilmente e se desmintam quase com desprezo os testemunhos daquelas mulheres. também por isso a minha reacção ao epíteto "louras" - elas foram muito rapidamente apresentadas como putas de luxo com segundas intenções e isso é um grande desrespeito.

talvez seja demasiado ingénua (consequências de viver na suécia já há um par de anos), mas acredito que as autoridades aqui sabem o que fazem e não andam assim tão facilmente atreladas a caprichos exteriores. e acho que os investigadores deste caso saberão mais pormenores do que os que estão a ser (mal) relatados nos jornais e é a eles que cabe decidir se o caso é sério ou não.

ah, e uma das acusações é mesmo violação. se depois se confirma ou não é outra conversa, mas não vale mascará-la de outra coisa qualquer.

Ana Cristina Leonardo disse...

Purpurina, não tem nada que pedir desculpa.
Quanto ao resto, acho que está, de facto, a ser demasiado ingénua. No reino de Sua Majestade corre há anos um pedido de extradição contra Vale e Azevedo; o Pinochet foi para casa descansado; o bombista de Lockerbie foi morrer à pátria amada o que deu muito jeito à BP - o pobre do Assange é engavetado e para esperar em liberdade tem de pagar uma pequena fortuna, mais pulseira electrónica, mais recolher obrigatório e etc. Não acha demasiada fruta? Além de que a questão, claro, é o repatriamento para os EUA se eles lhe inventarem uma acusação séria. Na realidade, acho que ele se vai safar - isto já não é os anos 70 onde o teriam atropelado literal e silenciosamente.
Quanto às acusações das duas mulheres suecas, violação não vi em lado nenhum. Mas, claro, não sei ler sueco.

Assange à parte, uma parte do seu comentário deixa-me intrigada:

isto de se estar muito bem a dormir e um quase-desconhecido com quem se quis foder antes de adormecer nos enfiar uma pila à traição não conta como sexo não-consentido, é?

Juro que não percebi. Vai-se para a cama com um quase-desconhecido e como raio então podemos saber que ele enquanto dormimos não enfia uma pila à traição? E à traição quer dizer o quê, quando se vai para a cama voluntariamente? Há qualquer coisa na vida sexual sueca que me está a escapar...

purpurina disse...

não posso deixar de concordar com o facto de a questão mais interessante a nível internacional nesta história toda ser a possível concertação de esforços para apanhar o assange. não me sinto capaz de responder categoricamente que sim senhor isto é tudo uma grande conspiração, embora me sinta tentada a reconhecer que não seja (ingenuidades, eu sei. hei-de dar muitos trambolhões...). quanto às acusações, neste artigo: http://www.nytimes.com/2010/12/08/world/europe/08assange.html?_r=2&hp eles traduzem-nas do sueco para o inglês com palavras muito parecidas com as minhas. incluindo violação.

também aí falam do suposto incidente do sexo a dormir, que calculo ter originado a famosa expressão do sex by surprise (nunca a li em nenhum artigo sueco). talvez tenhamos realmente opiniões um bocadinho diferentes em relação a isto, não sei bem. a minha escolha de palavras no primeiro comentário não foi a melhor, sou bem capaz de me ter explicado mal.

acho que cada acto sexual tem de ser consentido por ambas as partes. o facto de eles terem tido (feito? o meu português foge) sexo no início da noite não constitui nenhum tipo de carta branca para quaisquer actos sexuais posteriores (no resto da noite ou na manhã seguinte ou quando for) que exclua a necessidade de haver consentimento explícito de ambas as partes. especialmente quando não há nenhum tipo de relação de confiança que possa indicar a existência de acordos tácitos nestas matérias (este acrescento é terreno pantanoso).

não sei se me consegui explicar.

James disse...

purpurina eu por mim entendi tudo o que disse.
O seu português está tudo menos esquecido.
Também estive na Suécia e também gostei muito (Estocolmo e Lund).

:-)