31/01/14

O fundo do fundo do fundo

19 funcionários que trabalham no edifício da Direcção Geral de Energia e Geologia adoeceram com cancro.

"o secretário de Estado da Energia, Artur Trindade,[avançou] à TSF que se está à procura de uma outra localização para a DGEG, mas que é preciso encontrar uma renda mais barata e falta autorização do Ministério das Finanças."

DAQUI.

A vida a vingar a morte

29/01/14

Como é que isto chega a administrador de uma universidade?*

“Todos os dias morrem pessoas nas estradas e não vamos proibir alguém de andar na estrada”, Manuel Almeida Damásio, administrador da Lusófona.
*A pergunta é retórica.
Ver e ouvir este e outros argumentos do mesmo calibre AQUI.

28/01/14

Hugo Soares, a criança velha


Não verga, diz ele. A frase, para começo de conversa, denuncia um total desconhecimento da sabedoria oriental. Não é com efeito necessário ter alcançado o nirvana para saber que tudo o que não verga parte. É essa a lição dos mestres, é essa a lição do bambu: durante uma borrasca, o bambu inclina-se à passagem do vento. E o que é que aconteceu a semana passada na Assembleia da República se não um vendaval? Choveram declarações de voto: sim era afinal não. “The key word here is blackwhite”, como diria Orwell. (E o que torna tudo isto um bocadinho mais desinteressante é Orwell já o ter dito antes: “Aplicada a um membro do Partido, significa uma leal disposição para dizer que o preto é branco quando a disciplina do Partido assim o exige...”). Nada de novo debaixo do sol, portanto, descontadas as famílias concretas, as crianças concretas, que a nova lei viria proteger. Ah, o superior interesse da criança! 
Deduzo, pois, e creio que sensatamente à luz das preocupações expressas por Hugo Soares com os rebentos alheios, que é do superior interesse da criança ser retirada à família e enviada sei lá, não para a Sibéria que cá não temos disso, mas para uma instituição ou para junto de parentes distantes (mesmo sem os conhecer de lado nenhum), decerto a melhor forma de garantir a “preservação das suas ligações psicológicas profundas, nomeadamente no que concerne à continuidade das relações afectivas”, para citar algo que até um deputado obtuso conseguirá entender. Neste particular, creio, estamos conversados. 
Ainda assim ele não verga. Ele, Hugo Soares, não verga. E, como um batoteiro de Casino, faz uma “aposta tardia”, enquanto o seu Partido, parceiro do jogo, distrai o croupier. Aposta no Referendo, o número vencedor da indecente roleta em que se converteu o superior interesse da criança. Estaremos perante o caso típico de alguém que nos tenta convencer que o Manuel Germano se confunde com o género humano. A demagogia é coisa antiga. Antiga e eficaz. Mas até a demagogia tem de aparentar certa decência. Deixar crianças concretas desamparadas não é decente. Assim se explicará o desconforto e a chuva de declarações de voto. O que me conduz à regra de ouro das “Leis Fundamentais da Estupidez Humana” enunciadas por Carlo Cipolla: “Uma pessoa estúpida é aquela que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo.”

Pete Seeger (1919 - 2014)

26/01/14

Eu sempre achei graça a astrónomos

Carta aberta ao Senhor Ministro, da astrónoma Paula Brochado

Sr. Ministro,
Podia começar por citar Einstein com a tão badalada frase sobre a estupidez humana mas partindo do, provavelmente errado, principio que já a conhece, prefiro citar o Ricardo Araújo Pereira: “a liberdade de expressão é uma coisa linda: permite-nos distinguir os idiotas”. Salvaguardo já alguma pequena incorrecção mas ouvi isto na rádio (sabe o que é? aquele aparelho que tem no carro que lhe dá as notícias e o trânsito? já ouviu falar de Maxwell? Foi a investigação dele na teoria do campo eletromagnético que deu origem à invenção do rádio, sabia?). Pois sr. ministro, acontece que depois de ler as suas declarações em que se diz “contra bolsas científicas longe da vida real” não podia deixar de sentir a maior repulsa por tamanha idiotice.
Antes que o sr. ministro se interrogue se não serei mais uma desesperada bolseira sem bolsa deixe-me esclarece-lo: já fui, sim. Sou doutorada em astronomia numa universidade pública (a melhor do país diz-se), essa ciência que, ironia das ironias, não podia estar, segundo os seus critérios, mais longe da vida real - mas, note bem, sou agora analista de negócio na Sonae - quer mais real que isto? Tenho por isso muito mais legitimidade em falar sobre este assunto do que o sr. ministro alguma vez terá, tendo o sr. ministro feito faculdade e carreira em privadas, sem sentir o seu, ainda que exíguo, talento avaliado, enxovalhado, esmiuçado e, por fim, recusado. Pois eu, e milhares de outros em Portugal, já. E, sabe, os astrónomos já têm algum poder de encaixe e alguma tolerância jocosa tantas foram as vezes que, por um lado, os ignorantes nos perguntaram se lhes líamos as cartas astrais e, por outro, os ignóbeis nos acusaram de não fazer nada pela sociedade.
Mas é por ter sido bolseira - não se amofine, não fui bolseira FCT, fui recusada vezes a mais do que as que me dei ao trabalho de contar - que lhe posso dizer que, não fossem as suas declarações mostrarem um profundo desrespeito e desconsideração por milhares de investigadores deste país, chegaria a ser ternurenta a sua ignorância - faz lembrar a minha avó, analfabeta repare bem, que há uns anos atrás me perguntou muito indignada o que é que eu aprendia na escola se não sabia a diferença entre alcatra e chambão.
Quando falo em milhares de investigadores não é de animo leve, o número traduz não só os que agora ficaram sem bolsa, sem projectos e sem expectativas: inclui também todos os que até agora contribuíram para que Portugal deixasse a cauda da Europa e todos cujo trabalho ficou agora hipotecado porque, sem querer ser dramática, pura e simplesmente deixou de haver futuro. Da minha parte, escolhi experimentar aquela que o sr. ministro designa de “vida real” e estou cá fora - segundo o sr. ministro, estou fora do sistema das bolsas, estou agora num sistema perfeitamente bem regulado e previsível que é o mundo empresarial, correcto? Confesse sr. ministro, deu-lhe uma certa vontade de rir. O seu argumento é tão falacioso que um incauto até acredita que existe tal coisa como “ciência longe da vida real” - isso é o mesmo que dizer “astronomia longe das estrelas” ou até “futebol longe do Pinto da Costa”: a ciência nunca estará longe da vida real da mesma forma que um prédio não está longe dos tijolos.
Se se quer referir à investigação científica que gera receitas então aí sr. ministro, assusta-me mais a sua sanidade mental, ou falta dela, do que as suas idiotices. Se tiver ligação à internet sr. ministro (já ouviu falar do CERN? esse laboratório de física de partículas, longe portanto da “vida real”? Sabe então do papel do CERN no conceito da world wide web) pode procurar pelo ROI (return of investment, é a sua praia de certeza que sabe o que é) do programa Apollo (pois, imagino que o feito da humanidade que foi a ida do Homem à Lua não lhe interesse minimamente) e, com certeza para seu espanto, pode verificar que por cada dólar investido no programa, e foram 25 mil milhões de dólares, houve um retorno de 14 dólares. 14. Sabe multiplicar?
Que a vida de investigador, o bolseiro em particular, nunca foi fácil em Portugal isso é um dado adquirido - quer-se rir um bocadinho sr. ministro? Sabia que existe código de atividade profissional para astrólogo (CAE 1316) mas não existe um para investigador? LOL sr. ministro, LOL - mas já se perguntou porque é que apesar de não termos subsidio de férias nem de natal (imagine a nossa confusão em sentir a revolta dos portugueses quando o seu colega sr. primeiro-ministro cortou nos subsídios), de não sermos cobertos pela segurança social, de não fazermos descontos, de termos valores de bolsas que não são revistos há mais de uma década, e outros tantos desajustes com que, com certeza, está familiarizado, continuamos na ciência? já alguma vez pensou nisso? porque, acima de tudo, somos uns sonhadores. Temos que ser sonhadores, temos que ser loucos, acreditar no que não existe, no que não vemos, no que não podemos tocar nem ouvir, temos que ir atrás para perceber porquê, perceber como, temos que questionar, dizer que não, temos que amarrar uma chave a um papagaio e largá-lo no meio de uma trovoada, que deixar as nossas culturas ganhar bolor e ousar pensar que a terra não é plana.
Se o sr. ministro acha que o sonho não tem lugar na “vida real” então tenho pena de si - tal como as crianças acreditam que os ovos vêm do supermercado também o sr. ministro deve acreditar que o seu rato sem fios veio da fnac. Se assim é sr. ministro, está no seu direito, mas então não se envergonhe e, mais importante, não nos insulte.
Sem mais.

25/01/14

História natural dos ricos e dos pobres segundo Henrique Monteiro

Um relatório de uma ONG chocou o mundo e Henrique Monteiro: as 85 pessoas mais ricas do planeta têm os mesmos recursos do que a metade mais pobre da população mundial. Depois do estupor moral inicial, Henrique Monteiro lembrou-se de algumas das pessoas mais ricas do mundo, Bill Gates e Warren Buffett, do seu fervor caritativo e filantrópico, e discorre: se eles não existissem, não tivessem tido ideias e lances geniais, então o mundo seria mais pobre, logo o mal não está em haver ricos, mas em haver pobres, logo a igualdade que se exige nas sociedades é a de oportunidades, de direitos e de dignidade, não a de recursos ou riqueza. O argumento de Henrique Monteiro tem a desenvoltura símplice e temerária de uma reductio ad absurdum - a falácia que mas excita a lógica funicular de um doido -, como se fosse crível que sem um módico de partição justa da riqueza e de recursos houvesse um minimum de igualdade de oportunidades, de direitos e dignidade, mas o mais importante do texto de Henrique Monteiro é o subtexto que nele, à sorrelfa, perpassa: a filantropia e a caridade, como o amor cristão, a cobrir a multidão dos pecados do capitalismo global e a substituir-se à justiça (não dês por caridade o que é devido por justiça); a genialidade voluntariosa e industriosa dos ricos, contraposta à presuntiva autocomiseração fatídica dos pobres; enfoque monológico na criação da riqueza, nem uma palavra para a lógica da sua distribuição. Mas o que mais impressiona no subtexto de Henrique Monteiro sobre a pobreza e a riqueza, sempre naturalizadas e pensadas a partir da visão microscópica do indivíduo, é não haver uma palavra, quer para os complexos sociais e económicos que lhes subjazem, quer para a política como forma rever o presente e antecipar o futuro. A menos que, na sua lógica férrea, não exista essa coisa chamada sociedade.

DAQUI



24/01/14

Tenho para mim que na presença de dois seres desprezíveis o ser desprezível do sexo feminino tende a ser pior do que o ser desprezível do sexo masculino

Esta senhora é desprezível.

Este camarada é um demagogo*

A ciência de grande qualidade não cai do céu aos trambolhões como a maçã do Newton. Aposto que ele, que não é parvo apesar de demagogo (combinação explosiva!), até conhece a Teoria das Catástrofes do René Thom. Já para não falar daquela coisa de a quantidade tender a gerar qualidade, ideia que, apesar de ir beber à dialéctica marxista (coisa que deve arrepiar o Crato), continuar a fazer todo o sentido.

*e aposto com estes que a Terra há-de comer que na qualidade do Crato nem entrava o António Damásio...

Crato diz que o Governo aposta na ciência de grande qualidade!
 

23/01/14

Sobre o direito a ser-se um imbecil.

NOVA ESCRAVATURA CIVILIZADA (NEC): UM OUTRO CONCEITO DE LIBERDADE INDIVIDUAL 

Sobre estatísticas, contas e propaganda e a propósito da euforia do défice

« O governo informou que 95% dos pensionistas estarão isentos do pagamento do "complemento extraordinário de solidariedade", que abrangerá as pensões superiores a 1000 euros. Fica-se assim a saber que, em Portugal, 95% dos pensionistas vivem com menos de 34 euros por dia.»


Francisco Seixas da Costa, encontrado AQUI.

Não é tanto o que diz, é a espuma raivosa que se lhe forma aos cantos da boca



Em complemento: ler ISTO.



Sábado haverá um pós Hugo Soares



Stress
Não quero chocar ninguém. O caso é que há momentos na vida de um cronista em que um cronista daria tudo para poder plagiar uma coisinha qualquer e pronto: estava feito! «Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.» Drummond,  isso sei eu. Em verdade, porém, vos digo: anda por aí demasiada informação. Demasiada. De desmaiar. Razão tinha José Sócrates quando disse: “O mundo mudou muito nas últimas três semanas” (dou a mão à palmatória). Agora imagine-se isto – o mundo a mudar – mas semanalmente. A acelerar feito cavalo louco, “a galopar, a galopar”, como no poema do Rafael Alberti. 
Impossível processar tudo. Impossível! Prova: mal refeitos ainda da morte de Eusébio e do candente problema do Panteão cadente, sem esquecer a pergunta que nos provocou a todos uma carrada de nervos: onde é que você estava no dia 23 de Julho de 1966?, suspende-se de novo o país na bola do Ronaldo. E quando nos recompúnhamos da bola e do “bocadinho de Ronaldo dentro de nós” (valha-nos Deus!), eis que salta uma inusitada vara de leitões para os lados da Mealhada. Com todas as esperanças já postas na Mealhada, veio finalmente a saber-se que tudo afinal se resumira a uma dose de leitão cobrada a mais por engano, anti-climax tipicamente português (Agarrem-me se não eu mato-o! ou, na versão camiliana, Maria! Não me mates, que sou tua mãe). Siga outro assunto. 
Servirá de assunto o grupo parlamentar do PSD variar entre “co-adoção”/“adopção” e querer um referendo à força? Passo a transcrever a prosa, trimbada e tudo, mas aviso já que, embora tendo cumprido os 12 anos de escolaridade obrigatória que os mesmos (ou similares) que comeram leitões na Mealhada propunham ver reduzidos a nove (isto cada um é para o que nasce...), posso não ter alcançado o português da coisa, ortografia incluída.
Cito: “Projeto de Resolução Nº 857/XII  Propõe a realização de um referendo sobre a possibilidade de co-adoção pelo cônjugue ou unido de facto do mesmo sexo e sobre a possibilidade de adopção por casais do mesmo sexo, casados ou unidos de facto.” Pelas vossas alminhas! 
Redacção à parte, sobre esta mania de referendar certos temas gostaria de invocar Albert Camus, autor morto bastante mais recomendável do que muitos vivaços que por aí andam: “A democracia não é a lei da maioria, mas a protecção da minoria”. Fica para trabalhos de casa.

21/01/14

14/01/14

Notícias da frente de combate

A revolução começa sempre onde menos se espera. A de 1917 começou na Rússia camponesa em vez de começar na Alemanha proletária. Em Portugal, 2014, foi na Mealhada: o triunfo dos leitões. O mundo é complexo, como sempre digo.

13/01/14

A gente a falar.

Uma pessoa não quer falar do descansado do Eusébio. Uma pessoa quer falar do “inconseguimento” e do “nível social frustacional” (não deveria ser desfrustacional?). Uma pessoa quer dizer que lidou com o ser-do-ente do Heidegger, o falo e a fala do Lacan, o ser-em-si e o ser-para-si do Sartre, o Id, o Ego e o Super-ego... Inconseguimentos?! Pfft! Quantos são?! Quantos são?! Uma pessoa quer gritar à Helena Matos: sim, sou uma pseudo-intelectual, e depois? Depois foi o paroxismo: o Panteão, ok, mas a meias que é mais barato. Corta!
Cena 2: Um Eusébio estoico e bailarino sobrepõe-se à novilíngua e ao Eusébio “património nacional”, apesar de o corpo ainda quente e já a falarem de money (sai uma rodada de whisky em memória do morto, paga o Soares).
Cena 3: Eusébio de copo na mão num bar dançante, velho e porte de gigante, nada a ver com a altura em centímetros, meus senhores, um senhor!
Mais cenas. O presidente da República: “uma pessoa de grande humildade” (ai a humildadezinha, ai o bolor e as inanidades). O primeiro-ministro: “um exemplo de humildade” (outra vez o caruncho?!) E o Eusébio a meter-se no texto que era para ser sobre inconseguimento e nível frustacional mais o recalibrar do ministro a dilatar a base de incidência, sem esquecer a linha precaucionária, portugueses, vocês não me atravessem a linha precaucionária, e do nada aparece “O Touro Enraivecido”, “I’me the boss! I’me the boss! I’me the boss!...” e entra de novo o Eusébio, a farsa do Império multiracial a preto e branco agora em 2014 em directo e a cores: “O facto de não ser colocado num jazigo e ir para a terra, digamos assim, poderá estar de alguma forma ligado à cultura africana?”
Ora ai está uma pergunta que nada tem de pseudo-intelectual, nem sequer de intelectual, é mesmo só muito estúpida (sai um Livro do Génesis e mais um whisky por favor), e o mesmo Eusébio que levou com o Estado Novo leva com a imprensa livre e o Estado democrático, pão e circo, os Romanos estavam fartos de saber, isto já está tudo inventado, e também tudo ligado, a língua a inconseguir-se, sobra-nos o Eusébio e já não nos sobra o Eusébio, tudo a bajular o homem, tu dá-lhes baile, tu dá-lhes baile que não foste homem de letras mas para isso esteve cá o O’Neill a chamar-te “tragalhadanças”.
Quanto à segunda figura do Estado, pois que te faça uma saúde que talvez lhe baixe o nível frustacional. Que tu descanses e eles inconsigam é o que eu desejo.

12/01/14

Novas da sarjeta

"As realidades familiares naturais são compostas por um homem e uma mulher e orientadas para o nascimento e boa educação dos filhos. O bem comum é prejudicado pela existência de famílias não-convencionais", Nuno Lobo, CDS.
 
"Acreditamos que o prolongamento até ao 12º ano do ensino obrigatório é um erro o que se devia recuar para o 9º ano de escolaridade. A par desta medida a conclusão do Ensino Secundário apenas devia ser possível com nota [superior a] 9,5 valores no Exame nacional de Português", moção da Juventude Popular do CDS