25/01/14

História natural dos ricos e dos pobres segundo Henrique Monteiro

Um relatório de uma ONG chocou o mundo e Henrique Monteiro: as 85 pessoas mais ricas do planeta têm os mesmos recursos do que a metade mais pobre da população mundial. Depois do estupor moral inicial, Henrique Monteiro lembrou-se de algumas das pessoas mais ricas do mundo, Bill Gates e Warren Buffett, do seu fervor caritativo e filantrópico, e discorre: se eles não existissem, não tivessem tido ideias e lances geniais, então o mundo seria mais pobre, logo o mal não está em haver ricos, mas em haver pobres, logo a igualdade que se exige nas sociedades é a de oportunidades, de direitos e de dignidade, não a de recursos ou riqueza. O argumento de Henrique Monteiro tem a desenvoltura símplice e temerária de uma reductio ad absurdum - a falácia que mas excita a lógica funicular de um doido -, como se fosse crível que sem um módico de partição justa da riqueza e de recursos houvesse um minimum de igualdade de oportunidades, de direitos e dignidade, mas o mais importante do texto de Henrique Monteiro é o subtexto que nele, à sorrelfa, perpassa: a filantropia e a caridade, como o amor cristão, a cobrir a multidão dos pecados do capitalismo global e a substituir-se à justiça (não dês por caridade o que é devido por justiça); a genialidade voluntariosa e industriosa dos ricos, contraposta à presuntiva autocomiseração fatídica dos pobres; enfoque monológico na criação da riqueza, nem uma palavra para a lógica da sua distribuição. Mas o que mais impressiona no subtexto de Henrique Monteiro sobre a pobreza e a riqueza, sempre naturalizadas e pensadas a partir da visão microscópica do indivíduo, é não haver uma palavra, quer para os complexos sociais e económicos que lhes subjazem, quer para a política como forma rever o presente e antecipar o futuro. A menos que, na sua lógica férrea, não exista essa coisa chamada sociedade.

DAQUI



3 comentários:

alexandra g. disse...

E será sempre nos subtextos à sorrelfa que continuarão a medrar Jonets & afins, esperando ainda dos outros um agradecimento final.

luis reis disse...

Vamos lá deixar de tretas e dizer assim: este Henrique é um F.da P.....ok?

António disse...

Hoje de manhã no programa da RDP1 "O Amor é..." ouvi citar uma argumentação semelhante atribuída ao ilustre Dr. César da Neves. Confusão ou emissões distintas da mesma Central?