Tem toda a razão o Ulrich. Os seres humanos aguentam coisas inimagináveis. Aguentam, por exemplo, que um banqueiro tenha lucros de 249 milhões de euros e haja uma catrefa de gente a viver na rua.
Ulrich e os sem abrigo.
31/01/13
30/01/13
O drama do PS numa simples frase
"Costa avançaria se se tivesse sentido seguro"
Roubado ao meu amigo Luís Olival no facebook
Roubado ao meu amigo Luís Olival no facebook
29/01/13
Quando um pirilau tem o petit nom de "senhor embaixador" não se pode exigir demasiado dele, parece-me evidente
Tudo nestas memórias é autoglorificação. As meninas têm direito a cartão de crédito para correrem lojas e museus, e depois, Galateias tontas, satisfazem o maestro. O percurso biográfico está afogado num mar de descrições sexuais e citações pretensiosas. Gosto muito-do momento em que Rachida quer conhecer Miguel, em conversa pós-coital, e ele se sai com o inesquecível «Proferi mais de
cinquenta conferências». A gente na cama conjuga à brava o verbo «proferir»
Pedro Mexia sobre o livro «O Prazer», Miguel Graça Moura, Verso de Kapa, 2009
Ler o resto aqui, é um prazer
Pedro Mexia sobre o livro «O Prazer», Miguel Graça Moura, Verso de Kapa, 2009
Ler o resto aqui, é um prazer
Os gajos que só batem nas pessoas que estão abaixo deles na cadeia alimentar são todos uns paneleiros
«Após um estranho e longo silencio, em que o que aparecia relativo às malfeitorias bancárias se resumia ao BPN, BPP e em menor grau ao BCP, a imprensa começa timidamente a falar dos banqueiros de topo, aqueles que fazem e desfazem governos e que estão sempre ao lado do poder, de Salazar a Passos Coelho, passando pelos socialistas. Não me refiro ao que é ilegal, porque disso deve cuidar a justiça, mas dos "esquecimentos" que levam milhões lá para fora sem serem declarados ao fisco, para depois a memória melhorar, ou ser melhorada e o dinheiro regressar cá dentro com um pequeno imposto para pagar de bónus.
Mas há um silêncio muito esquisito, se não fosse verdadeiramente pouco esquisito, no modo como as coisas estão: estando o governo envolvido numa luta épica para que os portugueses paguem impostos, nunca condenou estes "esquecimentos"? Insisto, condenar do ponto de vista da moral cívica, já que a lei é suposto ter outro andamento e outras consequências. É verdade que mesmo com a lei em curso, o governo às vezes fala à vontade, como a nossa ministra da justiça fez recentemente, dizendo que "a partir de agora deixou de haver impunidade". Mas era para o PS de Paris e não para a banca. Aqui é só silêncios e gentilezas. Para a banca faltosa, não há mesmo nenhuma palavrinha zangada, vindo do mesmo ministro e primeiro-ministro e dos vários secretários de estado que incham o peito contra as cabeleireiras, os mecânicos de automóveis, e os donos de café e restaurantes? Aí sim, há palavras duras e mostras de robusta firmeza.
Não deviam os governantes dizer alguma coisa? Dever, deviam. Dizer, não dizem.», Pacheco Pereira
Mas há um silêncio muito esquisito, se não fosse verdadeiramente pouco esquisito, no modo como as coisas estão: estando o governo envolvido numa luta épica para que os portugueses paguem impostos, nunca condenou estes "esquecimentos"? Insisto, condenar do ponto de vista da moral cívica, já que a lei é suposto ter outro andamento e outras consequências. É verdade que mesmo com a lei em curso, o governo às vezes fala à vontade, como a nossa ministra da justiça fez recentemente, dizendo que "a partir de agora deixou de haver impunidade". Mas era para o PS de Paris e não para a banca. Aqui é só silêncios e gentilezas. Para a banca faltosa, não há mesmo nenhuma palavrinha zangada, vindo do mesmo ministro e primeiro-ministro e dos vários secretários de estado que incham o peito contra as cabeleireiras, os mecânicos de automóveis, e os donos de café e restaurantes? Aí sim, há palavras duras e mostras de robusta firmeza.
Não deviam os governantes dizer alguma coisa? Dever, deviam. Dizer, não dizem.», Pacheco Pereira
Sendo fácil bater no Arménio, talvez conviesse lembrar o Jaime Neves
“Costa Gomes contará que o comandante do Batalhão de Comandos de Moçambique, major Jaime Neves (sob cuja tutela se encontravam também as tropas de Wiriyamu), lhe entregou certa vez um relatório de operação em que era referida a morte de cinquenta e quatro pessoas, tendo a tropa gasto apenas dez munições. Solicitado a dar explicações, Jaime Neves dirá que as vítimas foram executadas com arma branca, nelas se incluindo mulheres e crianças. E adiantará que tal atitude fazia parte do regulamento dos Comandos, o que era verdade: na instrução, aconselhava-se a eliminar todos os que pudessem denunciar uma operação em curso.”in Os anos de guerra, 1961-1975 : os portugueses em África: crónica, ficção e história / organização [de] João de Melo. - [Lisboa] : Círculo de Leitores, 1988
Obrigada, João
Obrigada, João
28/01/13
27/01/13
26/01/13
Não é a aritmética, estúpido
Os números dão pano para uma carrada de mangas. Pares e ímpares, fracionais e inteiros, reais, naturais e imaginários, positivos e negativos, primos e o de Graham, cardinais, ordinais, algébricos, transcendentes… o mundo está cheio de números, como diria Pitágoras e porventura disse.
A nós saiu-nos na rifa o 4 mil milhões: paira sobre as nossas cabeças como o cutelo de Abraão, a espada de Dámocles, a mãe de Woody Allen em “Histórias de Nova Iorque”.
E foi então que o conselho de sábios se reuniu e trancou a porta. Cristas tentou a dança da chuva. Portas invocou Nossa Senhora, Álvaro prometeu comer um alqueire de pastéis de nata e Mota Soares voltar a andar só de mota. Passos cantou o “Ali Babá” e Crato “A cantiga é uma arma”, mas o número permanecia sobre o céu de Lisboa fazendo rir o O’Neill. Gaspar, um tecnocrata descrente de mesas de pé de galo, sugeriu o FMI. Alguém contrapôs: “Não devíamos chamar primeiro o Salgado?”, mas a situação era demasiado grave.
O FMI disse que vinha, mas só se os alojassem num hotel de ***** com tudo incluído.
Chegaram os do FMI, olharam para o número e disseram: isto é chicken soup! Cortaram um bocadinho aqui, um bocadinho acolá, mais um bocadinho na saúde e mais um bocadinho nos salários e, como por magia, o número desapareceu.
Moedas logo aplaudiu: “Isto está muito bem feito!”, mas o pior estava por vir e aconteceu no momento de pagar a conta: que o valor era excessivo, atendendo a que se tratava de uma simples conta de menos, operação para a qual, acrescentou Relvas, qualquer equivalência amanha.
Viviam-se momentos dramáticos quando se fez ouvir a Mae West: “A man has one hundred dollars and you leave him with two dollars, that's subtraction”.
Ainda dizem que as mulheres não fazem falta à política!
A nós saiu-nos na rifa o 4 mil milhões: paira sobre as nossas cabeças como o cutelo de Abraão, a espada de Dámocles, a mãe de Woody Allen em “Histórias de Nova Iorque”.
E foi então que o conselho de sábios se reuniu e trancou a porta. Cristas tentou a dança da chuva. Portas invocou Nossa Senhora, Álvaro prometeu comer um alqueire de pastéis de nata e Mota Soares voltar a andar só de mota. Passos cantou o “Ali Babá” e Crato “A cantiga é uma arma”, mas o número permanecia sobre o céu de Lisboa fazendo rir o O’Neill. Gaspar, um tecnocrata descrente de mesas de pé de galo, sugeriu o FMI. Alguém contrapôs: “Não devíamos chamar primeiro o Salgado?”, mas a situação era demasiado grave.
O FMI disse que vinha, mas só se os alojassem num hotel de ***** com tudo incluído.
Chegaram os do FMI, olharam para o número e disseram: isto é chicken soup! Cortaram um bocadinho aqui, um bocadinho acolá, mais um bocadinho na saúde e mais um bocadinho nos salários e, como por magia, o número desapareceu.
Moedas logo aplaudiu: “Isto está muito bem feito!”, mas o pior estava por vir e aconteceu no momento de pagar a conta: que o valor era excessivo, atendendo a que se tratava de uma simples conta de menos, operação para a qual, acrescentou Relvas, qualquer equivalência amanha.
Viviam-se momentos dramáticos quando se fez ouvir a Mae West: “A man has one hundred dollars and you leave him with two dollars, that's subtraction”.
Ainda dizem que as mulheres não fazem falta à política!
25/01/13
Sobre o negócio da água e a Cristas que vá dar banho ao cão
Clicar em cc para ver com legendas em português
24/01/13
23/01/13
Desabafos
Vão desculpar-me o vernáculo, mas "ir aos mercados" só me lembra a expressão "ir às putas". Não sei mesmo se não serão sinónimos.
Chamem-lhe burro... ao Mulas
Carlos Mulas-Granados, um dos autores do relatório do FMI "como poupar 4 mil milhões em dez lições" sofria de um problema de personalidade e de vez em quando achava que era Amy Martin, analista fictícia a quem a Fundação Ideias espanhola, próxima do PSOE, ia pagando chorudas quantias.
E ainda falam do nosso querido Artur Baptista da Silva!
E ainda falam do nosso querido Artur Baptista da Silva!
A vida anda pela hora da morte
Parece que no Japão é como cá: não sabem o que fazer aos velhos. Talvez matá-los.
Ou que tal uma guerra aos porcos?
Ou que tal uma guerra aos porcos?
22/01/13
Recordando Manuel António Pina a propósito do lirismo metafísico de Margarida Moreira e dos 12 mil euros que vamos pagar em vez dela
Alegria no trabalho
O facto de a directora regional de Educação do Norte escrever com erros de ortografia e sintaxe e se exprimir num tartamudeio vagamente parecido com o Português, ou lá que língua é, não seria notícia no estado de coisas (um "Estado Novo" pois, como diria Pessoa, é um estado de coisas como nunca se viu) a quechegou a Educação em Portugal.
Notícia é continuar a fazê-lo, ante a mandarínica indiferença do Ministério da "Educação". Agora deu-lhe para o lirismo metafísico, num e-mail de agradecimento às escolas pelo seu "apoio" (pelos vistos está convencida de que tem o apoio das escolas):
"Faz hoje 4 Anos./ Tem dias que parece que o tempo se emaranhou nas coisas e nas pessoas./ Tem outros dias em que tudo parece ter ocorrido ontem./ Contudo há algo que o tempo tem os limites certos".
É verdade que momentos, ou "algo que o tempo tem os limites certos", de boa disposição como os que provoca a correspondência da directora regional são importantes em dias de tensão como os que hoje se vivem nas escolas.
Talvez, quem sabe?, seja esse louvável objectivo que move Margarida Moreira: pôr as escolas a rir.
A actualidade de Margarida Moreira, aqui
O facto de a directora regional de Educação do Norte escrever com erros de ortografia e sintaxe e se exprimir num tartamudeio vagamente parecido com o Português, ou lá que língua é, não seria notícia no estado de coisas (um "Estado Novo" pois, como diria Pessoa, é um estado de coisas como nunca se viu) a quechegou a Educação em Portugal.
Notícia é continuar a fazê-lo, ante a mandarínica indiferença do Ministério da "Educação". Agora deu-lhe para o lirismo metafísico, num e-mail de agradecimento às escolas pelo seu "apoio" (pelos vistos está convencida de que tem o apoio das escolas):
"Faz hoje 4 Anos./ Tem dias que parece que o tempo se emaranhou nas coisas e nas pessoas./ Tem outros dias em que tudo parece ter ocorrido ontem./ Contudo há algo que o tempo tem os limites certos".
É verdade que momentos, ou "algo que o tempo tem os limites certos", de boa disposição como os que provoca a correspondência da directora regional são importantes em dias de tensão como os que hoje se vivem nas escolas.
Talvez, quem sabe?, seja esse louvável objectivo que move Margarida Moreira: pôr as escolas a rir.
A actualidade de Margarida Moreira, aqui
20/01/13
Estamos a ser governados por estúpidos... e em mau português
«Com o Acordo Ortográfico, aumenta o número de palavras que se escrevem de forma diferente!!!
Isto é, havia 1235 palavras que se escreviam da mesma forma em Portugal e no Brasil que, com o Acordo, mudam, a saber: 190 ficam com dupla grafia em ambos os países (por exemplo, ‘circunspecto’ e ‘circunspeto’); 57 ficam com dupla grafia mas só em Portugal (por exemplo, ‘conceptual’ e ‘concetual’, que no Brasil se escreve ‘conceptual’, mantendo a consoante «p»); 788 mudam para uma das variantes que existem no Brasil, por vezes a menos utilizada ou a considerada mais afastada da norma padrão (por exemplo, ‘perspetiva’: em Portugal, só se admite esta forma – sem «c» –, mas no Brasil admitem-se duas, ‘perspetiva’ e ‘perspectiva’, sendo esta última a preferencial); finalmente, 200 mudam para uma até ao momento inexistente e que passa a existir apenas em Portugal (por exemplo, ‘receção’, que no Brasil só admite a forma ‘recepção’, que passa a não ser possível em Portugal).»
Ler o artigo completo AQUI
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19/01/13
Epifenómenos
Haverá, entre os leitores destas linhas, gente mais alérgica à alma do que à penicilina. Lembro, também por isso, que a alma foi uma conquista civilizacional enorme: as mulheres, era duvidoso que a tivessem, pretos e índios nem pensar, e os animais continuam até hoje isentos, embora a Unesco lhes tenha garantido direitos.
Se a poesia lírica em nada contribuiu para o prestígio da alma, que tal não nos impeça de reconhecer o óbvio: não a tivéssemos inventado e viveríamos num mundo muitíssimo incivilizado onde ninguém apanhava cocós.
Sim, vou falar de Zico, o cão fracturante.
Quando escrevo, cerca de 70 mil almas assinaram a petição contra o seu abate; outra, a favor, vai nos 400 e poucos. Estes números levariam decerto B.B. a pedir passaporte português em vez de russo e Francisco de Assis a abençoar Portugal. A mim, o que me surpreendeu foi o argumentário.
Na primeira petição: “Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem...então também não o façam com os animais! Eles também merecem uma segunda oportunidade!”; na segunda: “(…) vamos abate-lo (…) Não digo isto por ser um Cão, se fosse uma pessoa e tivesse mordido uma criança, de tal modo, que ela tivesse morrido, também seria a favor de uma pena de morte!”
Duvido que o antropomorfismo aqui subjacente contribua para a causa dos bichos. Quanto à pena de morte alargada a tudo o que mexe, abstenho-me de comentar.
Resumindo: um grande número de portugueses prefere um cão desalmado a humanos psicopatas cujo grau de empatia os habilitaria talvez a criar um rumble fish (não me parece assim tão irracional...); acresce que se mostram generosos: desesperançados, ainda têm forças para sair em defesa de Zico.
Ou isso, ou endoidecemos todos.
Se a poesia lírica em nada contribuiu para o prestígio da alma, que tal não nos impeça de reconhecer o óbvio: não a tivéssemos inventado e viveríamos num mundo muitíssimo incivilizado onde ninguém apanhava cocós.
Sim, vou falar de Zico, o cão fracturante.
Quando escrevo, cerca de 70 mil almas assinaram a petição contra o seu abate; outra, a favor, vai nos 400 e poucos. Estes números levariam decerto B.B. a pedir passaporte português em vez de russo e Francisco de Assis a abençoar Portugal. A mim, o que me surpreendeu foi o argumentário.
Na primeira petição: “Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem...então também não o façam com os animais! Eles também merecem uma segunda oportunidade!”; na segunda: “(…) vamos abate-lo (…) Não digo isto por ser um Cão, se fosse uma pessoa e tivesse mordido uma criança, de tal modo, que ela tivesse morrido, também seria a favor de uma pena de morte!”
Duvido que o antropomorfismo aqui subjacente contribua para a causa dos bichos. Quanto à pena de morte alargada a tudo o que mexe, abstenho-me de comentar.
Resumindo: um grande número de portugueses prefere um cão desalmado a humanos psicopatas cujo grau de empatia os habilitaria talvez a criar um rumble fish (não me parece assim tão irracional...); acresce que se mostram generosos: desesperançados, ainda têm forças para sair em defesa de Zico.
Ou isso, ou endoidecemos todos.
18/01/13
O tempo, esse grande escultor
Uma pessoa sente que já chegou a uma certa idade quando conclui que não se deixa seduzir por ovos estrelados embalados nem pela escrita da Lídia Jorge (para não pensarem que eu tenho alguma questão pessoal com o Peixoto, com o Valter ou mesmo com ovos).
Descubra as diferenças
«First comes spring and summer, but then we have fall and winter. And then we get spring and summer again», Chance, o jardineiro
«Há um “crescimento da economia” esperado para 2014, devendo o “ciclo recessivo abrandar este ano”, para depois dar lugar a um “ciclo de expansão”.», Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal
«Há um “crescimento da economia” esperado para 2014, devendo o “ciclo recessivo abrandar este ano”, para depois dar lugar a um “ciclo de expansão”.», Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal
16/01/13
Quando as Jonets deste mundo lixam o léxico é porque a coisa vai mesmo mal
As palavras humildade e compaixão andam pela hora da morte. É pena.
15/01/13
A refundir o Estado à porta fechada ou o bordel a que isto chegou
Podem ouvir, mas não podem gravar. E se disserem que nós dissemos alguma coisa que nós não queremos que se saiba que nós dissemos, negamos. Pronto. E ainda levam com um processo por difamação se for preciso. Ora essa!
AQUI
AQUI
14/01/13
É verdade que a luta de classes não explica isto
Deixando porta aberta às excepções que sempre confirmam as regras, eu prefiro pessoas que gostem de animais. Mamíferos, de preferência. Gajos com cobras em casa, cá para mim são doidos. E não, não tenho opinião sobre o caso Zico, o canídeo cuja capacidade de mobilização anda a deixar os politólogos baralhados.
13/01/13
O que é bom é para se gamar: 15 pilas pensantes e depois não se queixem dos resultados
12/01/13
Se a realidade lhe caísse em cima da cabeça, tipo tijolo, ou assim, podem ter a certeza que eu aplaudia
“São estas pessoas que têm a obrigação de criar uma nova atitude e de, ao acabarem o curso, fazerem um esforço para criarem emprego para os outros que não estudaram. As pessoas têm de aprender a trabalhar em conjunto, têm que aprender que o Estado não tem emprego para todos. Acho que temos de voltar a coisas reais, voltar à natureza, à agricultura, às pescas, e fazer com que as pessoas tenham gosto por esses sectores.”
Estas sábias palavras foram proferidas pela chefe de gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Manuela Bairos, outra que defende que ter uma pessoa de abandonar Portugal pode ser muito bom, embora a própria nunca mais se vá embora (talvez não tenha feito Erasmus...)
Mas já que se fala em "coisas reais", leia-se também esta notícia
“Comam chocolates…”
O povo habituara-se a ostras. Com a crise, as ostras
estavam pela hora da morte e todas as diligências esbarravam na inflexibilidade
de Hollande: “Impossível baixar preço moluscos. Disponíveis brioches baratos”. O
MNE declinou a oferta. Em telegrama oficial, citou Álvaro Santos Pereira e a qualidade
superior das nossas bolas-de-berlim. Os franceses, letrados e mulherengos,
confundiram o Álvaro com Álvaro e ficaram-se por respeito a Ofélia. Foi quando
começou a chover.
Assunção, a caminho do Conselho de Ministros, agradeceu a
Deus e abriu o guarda-chuva. À chegada cruzou-se com Relvas, vindo do Rio onde
passara o fim do ano à cata do conhecimento permanente. “Bela gravata!”,
comentou ao passar o engripado Paulo Macedo. Gaspar já lá estava, jogando batalha
naval numa folha de Excel, longe do olhar de Portas não fosse este susceptibilizar-se e
convocar uma conferência de imprensa de apoio ao governo. Pedro pousou o livro
sobre Salazar e falou na sua voz de barítono:
“Se em 1935 beber vinho era dar
de comer a um milhão de portugueses, em 2013 um só copo de leite há-de dar mais
de 25% daquilo que precisamos por dia de cálcio”.
Mas a frase era fraca, nem
sequer rimava. Um assessor propôs que contratassem Graça Moura. Ao lembraram-lhe
que o poeta os mandara assoar ao guardanapo, o assessor suicidou-se
politicamente. Com menos um à mesa, a dieta nacional era adiada para depois do almoço.
Como entrada, uma das ostrinhas de Alice recitou Bocage: “Estando enfermo um
poeta/ Foi visitá-lo um doutor/ E em rigorosa dieta/ Logo, logo o mandou pôr/
‘Regule-se, coma pouco’/ Diz-lhe o médico eminente/ ‘Ai senhor! (acode o
louco)/ Por isso é que estou doente.”
Gabaram-lhe o wit e depois comeram-na.
11/01/13
E se fosses "unificar a língua" para a Coreia do Norte?
Não faço ideia de quem seja o moço. Mas gosto sempre destas defesas do (inevitável) progresso, sobretudo quando feitas em nome da economia.
Há demasiada malta que folheou o Marx enquanto fumava umas ganzas, é o que é.
Obrigada pelo link, Pedro Correia.
Há demasiada malta que folheou o Marx enquanto fumava umas ganzas, é o que é.
Obrigada pelo link, Pedro Correia.
Ah! Como eu gosto de gente inteligente.
O Relatório do FMI "deve ser discutido"?
Não, não deve. O “relatório” não é um documento técnico, é uma posição negocial. Mais exactamente, é aquilo a que em negociação se chama uma “proposta escandalosa” — serve apenas para definir uma plataforma que dá vantagens ridículas a quem inicia a conversa. Qualquer tipo que perceba destas merdas sabe que a uma “proposta escandalosa” se responde com outra: por exemplo, diminuir para um décimo o ordenado dos políticos, nacionalizar todo o sistema bancário, etc. Não existe outra estratégia aceitável até que o interlocutor aceite partir de uma base honesta para a negociação. Só um chico-esperto propõe um “documento” daqueles. Só um pobre de espírito aceita “discutir” um documento daqueles. Há muita gente de direita que sabe isto tão bem como eu e devia ter vergonha, mas não tem. Pobre do partido, pobre do país que aceitar o “debate”.
Luis M. Jorge
Luis M. Jorge
Enquanto há língua há esperança
[...] ficamos a saber do poder que Carlos Reis tem sobre Angola, quando anuncia que a antiga colónia portuguesa “mais tarde ou mais cedo, vai ter mesmo de adoptar o AO”. O estudioso português não será dono de língua, apodo que arremessa aos críticos do AO90, mas parece ser proprietário da ortografia angolana, o que pode ser uma boa maneira de equilibrar as relações comerciais dos dois países, contrariando os desequilíbrios causados pelas aquisições de Isabel dos Santos.
10/01/13
Frases de cabeceira
Não há nada pior do que um idiota com iniciativa!
(Gamado no facebook à minha amiga Lara Xavier)
(Gamado no facebook à minha amiga Lara Xavier)
Foi você quem pediu um asteróide?
Dada a excelência da nossa oposição, se o asteróide passasse mais cedo talvez nos conseguíssemos livrar destes tipos a tempo de ficar alguma pedra sobre pedra.
Ler aqui.
Ler aqui.
A inteligência deve andar muito sobrevalorizada ou eu muito estúpida
Eu não sei se o relatório está muito bem feito, se o Moedas é um génio ou se a coisa veio a público para o governo vender – salvífica, literal e posteriormente – o mal menor.
O que eu sei é que propostas como estas são dignas de gajos que, em termos de evolução da espécie, estão entre a amiba e o crocodilo. Por muito inteligentes que os achem.
[O FMI] Sugere que as famílias com rendimentos iguais ou superiores a 5.869 (cerca de 12 salários mínimos) euros anuais sejam excluídas de receber prestações sociais, apontando que isso poderia gerar uma poupança de cerca de 89 milhões de euros/ano.
DAQUI
O que eu sei é que propostas como estas são dignas de gajos que, em termos de evolução da espécie, estão entre a amiba e o crocodilo. Por muito inteligentes que os achem.
[O FMI] Sugere que as famílias com rendimentos iguais ou superiores a 5.869 (cerca de 12 salários mínimos) euros anuais sejam excluídas de receber prestações sociais, apontando que isso poderia gerar uma poupança de cerca de 89 milhões de euros/ano.
DAQUI
09/01/13
E eu que nem acho graça ao António Costa... ri-me.
"Com propostas dessa natureza, vejam mesmo se é do FMI, ou se é de um técnico falso"
Da imunidade ou da impunidade?
"A porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa da Polícia de Segurança Pública (PSP), Carla Duarte, disse à Lusa que o processo referente à detenção da deputada do Partido Socialista (PS), Glória Araújo, foi remetido para o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), que deverá agora avaliar se a imunidade parlamentar pode ser invocada neste caso."
E ao capital disse nada... Vem aí uma revolução e já se percebeu de que lado chegam as pedras
Documento [do FMI], entregue ao Governo propõe formas de cortar 4000 milhões de euros e refere que há classes profissionais (polícias, militares, professores, médicos e juízes) que têm “demasiadas regalias”. Fundo sugere ainda cortes nas pensões e dispensa de professores.
Notícia integral aqui.
Notícia integral aqui.
08/01/13
Dos offshores para a supervisão da Bolsa ou assim só se estraga uma casa
Miguel Namorado Rosa tem "uma experiência vastíssima na área dos mercados financeiros".
07/01/13
"Andaram 30 anos sem ver um pobre, e agora que se fala deles procuram-no com a força do estereótipo", Pacheco Pereira
Não, "Pedro e Laura", na mesa de Natal de muitos portugueses o que preocupa não é a falta de rabanadas, nem brinquedos, nem pessoas, mas sim o facto de lá estar sentado o medo, a indignidade, a vergonha e o desespero, coisas que não vêm em estatística nenhuma. E isso não garante futuro nenhum que valha a pena viver, nem aos pais, nem aos filhos, nem aos netos.
Texto completo, aqui.
Texto completo, aqui.
06/01/13
Só para dizer que a oposição a este governo chama-se Pacheco Pereira
... o resto bem pode assoar-se ao guardanapo, como aconselhou o outro.
05/01/13
Partir a louça
Um político profissional é tal & e qual como um pai ou uma mãe: qualquer imbecil pode sê-lo.
Assim como a Natureza não coloca, por princípio, entraves à reprodução da espécie, assim os Homens não colocam entraves à eleição de políticos.
Portugal, conhecido desde há muito como um “país de doutores” (o que O’Neill nos recordou nos sugestivos versos: “País engravatado todo o ano e a assoar-se à gravata por engano”), tem preservado a tradição, insistido em ser governado por engenheiros e outros licenciados.
Foi no já vetusto ano de 1935 que Discepolín compôs o tango “Cambalache” (“¡Todo es igual!/ ¡Nada es mejor!/ Lo mismo un burro/ que un gran profesor”); entre nós as equivalências mantêm-se bem vivas, não me referindo eu agora às equivalências obtidas, com toda a licitude, esclareça-se, por alguns dos nossos governantes.
A questão que me traz, todavia, é outra. Gostava de dizer duas ou três palavras sobre o problema da linguagem.
No princípio era o Verbo e o Verbo é o que se opõe ao Caos, mas longe de mim tentar rivalizar com a erudição teológica de Zita Seabra ou João César das Neves. Fixemo-nos, antes, em dois problemas que têm inquietado filósofos e linguistas: determinar a relação entre pensamento e linguagem; relacionar linguagem e realidade (vamos pressupor, axiomaticamente claro, que tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado).
Na frase deixada pelo primeiro-ministro no Facebook este Natal – “Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram.” – acha-se indubitavelmente linguagem. Haverá pensamento? Analisando-a agora na sua relação com a realidade: a que raio se terão habituado os pratos?
E nunca o título destas crónicas fez tanto sentido: isto anda tudo ligado!
Assim como a Natureza não coloca, por princípio, entraves à reprodução da espécie, assim os Homens não colocam entraves à eleição de políticos.
Portugal, conhecido desde há muito como um “país de doutores” (o que O’Neill nos recordou nos sugestivos versos: “País engravatado todo o ano e a assoar-se à gravata por engano”), tem preservado a tradição, insistido em ser governado por engenheiros e outros licenciados.
Foi no já vetusto ano de 1935 que Discepolín compôs o tango “Cambalache” (“¡Todo es igual!/ ¡Nada es mejor!/ Lo mismo un burro/ que un gran profesor”); entre nós as equivalências mantêm-se bem vivas, não me referindo eu agora às equivalências obtidas, com toda a licitude, esclareça-se, por alguns dos nossos governantes.
A questão que me traz, todavia, é outra. Gostava de dizer duas ou três palavras sobre o problema da linguagem.
No princípio era o Verbo e o Verbo é o que se opõe ao Caos, mas longe de mim tentar rivalizar com a erudição teológica de Zita Seabra ou João César das Neves. Fixemo-nos, antes, em dois problemas que têm inquietado filósofos e linguistas: determinar a relação entre pensamento e linguagem; relacionar linguagem e realidade (vamos pressupor, axiomaticamente claro, que tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado).
Na frase deixada pelo primeiro-ministro no Facebook este Natal – “Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram.” – acha-se indubitavelmente linguagem. Haverá pensamento? Analisando-a agora na sua relação com a realidade: a que raio se terão habituado os pratos?
E nunca o título destas crónicas fez tanto sentido: isto anda tudo ligado!
03/01/13
02/01/13
01/01/13
Mnemónica para 2013 ou ninguém nos disse que isto seria fácil
Ser radical em relação às coisas essenciais e tolerante no que respeita aos acessórios (a boa literatura é essencial; acreditar na virgindade da Maria, um acessório - é só um exemplo)
Lembrar-se que Deus protege os audazes (mas só os audazes que aguentem levar porrada nos intervalos - que podem ser longos)
Não esquecer nunca que o miserável que dorme na rua ao lado de casa podíamos ser nós, e poderemos vir a ser nós (as criaturas que estão convencidas que controlam a sua vida encontram-se num nível inferior da cadeia alimentar)
Não acreditar em nenhum crítico literário que, numa prova cega, se mostre incompetente para reconhecer um bom texto
Desconfiar de todos aqueles que são incapazes de se comover com As Pontes de Madison County
Suspeitar dos que falam mal da Margarida Rebelo Pinto mas não conseguem ver a diferença entre Anna Karenina e uma história de faca e alguidar, no caso improvável de terem lido Anna Karenina
Ter por garantido que as Humanidades não humanizam e que mais vale um ignorante altruísta do que um intelectual cobarde
Nunca esquecer que a vaidade é o pecado capital
Reconhecer que a nossa obrigação é morrermos menos estúpidos do que nascemos
Lembrar-se que Deus protege os audazes (mas só os audazes que aguentem levar porrada nos intervalos - que podem ser longos)
Não esquecer nunca que o miserável que dorme na rua ao lado de casa podíamos ser nós, e poderemos vir a ser nós (as criaturas que estão convencidas que controlam a sua vida encontram-se num nível inferior da cadeia alimentar)
Não acreditar em nenhum crítico literário que, numa prova cega, se mostre incompetente para reconhecer um bom texto
Desconfiar de todos aqueles que são incapazes de se comover com As Pontes de Madison County
Suspeitar dos que falam mal da Margarida Rebelo Pinto mas não conseguem ver a diferença entre Anna Karenina e uma história de faca e alguidar, no caso improvável de terem lido Anna Karenina
Ter por garantido que as Humanidades não humanizam e que mais vale um ignorante altruísta do que um intelectual cobarde
Nunca esquecer que a vaidade é o pecado capital
Reconhecer que a nossa obrigação é morrermos menos estúpidos do que nascemos
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