30/09/11
29/09/11
28/09/11
27/09/11
Aleluia, irmãos! As forças do Mal foram esconjuradas! Aleluia irmãos! Benditos os que falam HTML e... sigam os posts!
Durante cerca de dois dias este estabelecimento viu-se inexplicavelmente encerrado pelo Google. Muito para além de encerrado, difamado! injuriado! caluniado! aviltado! denegrido!
Apesar da malícia, a verdade — como nunca deixámos de acreditar — acabou por vir ao de cima.
Protestámos então a nossa inocência e acrescentamos agora que nunca, jamais, em tempo algum — durante essas pungentes 48 horas — as bolas de berlim desta Pastelaria estiveram contaminadas.
Tratou-se tão-só de uma vil calúnia perpetrada pelas Forças do Mal (na figura de um miserável contador que por acaso contava lindamente...), como prontamente denunciado pelo John Lisbon.
May the Force be with you, John!
In the end, a conjunção de vários astros peritos em HTML acabaria por vencer as hostes demoníacas e trazer de novo a Luz a este estabelecimento.
In the end, a conjunção de vários astros peritos em HTML acabaria por vencer as hostes demoníacas e trazer de novo a Luz a este estabelecimento.
Quero, assim, agradecer a todos os irmãos e irmãs, companheiros e companheiras, camaradas, amigos, amigas e etc. que, proclamando bem alto a sua solidariedade, me ajudaram a reabrir este humilde tasco e a não soçobrar ao desafortunado transe enfiando uma caixa de xanax.
Para além do John, já referido, devo acrescentar a Joana Lopes, o Luís Novaes Tito, malta do Vias de Facto, António Cabrita, Manuel, Nuno Ramos de Almeida, Manuel Vilarinho Pires e, sobretudo, esse enigmático Pedro a quem ousei perguntar se percebia de HTML (please forgive me).
Como diria a Amália, obrigada, obrigada, obrigada e espero que o Google tenha aprendido a lição: nunca incomodar um leopardo que dorme!
22/09/11
Eduardo Pitta descobriu que, afinal, Sócrates não era o salvador da pátria... e em seguida foi comer profiteroles
O blogger Eduardo Pitta não faz a coisa por menos: "a Europa está à beira da implosão" e Portugal "não conta no desenho do novo Reich".
Seguro do seu radicalismo apocalíptico que, garante, será revelado ao mundo no prazo de 15 dias ou, pelo menos, até ao Natal, conclui que andamos a perder tempo com miudezas: "o governo que está é irrelevante. Este ou qualquer outro (menos acriançado)".
O itálico é dele e os profiteroles também. É o que dá, dez anos depois, querer imitar o estilo mordaz, seco e inimitável de Bellow.
Como diria (e disse), a propósito de Mark Steyn, Martin Amis (escritor igualmente mordaz e seco e com a grande vantagem de ter convivido longamente com Bellow antes de este ter morrido): "dei por mim a decidir que o sentido de decoro do Sr. [Pitta] deverá ser quase inumanamente escasso."
Coisa de bárbaros e o resto é conversa: Troy Davis foi morto hoje
... e depois ainda há gente que nos reconcilia com o mundo
21/09/11
Às vezes me espanto
O País das Pessoas de Pernas para o Ar é um título de Manuel António Pina com bonecos do João Botelho que eu li no já vetusto ano de 1973 quando a Regra do Jogo o editou. Dirigido à infância, reunia quatro histórias e foi a obra de estreia do poeta.
Os anos passaram, Manuel António Pina foi melhorando com a idade e, já este ano, viu ser-lhe atribuído o Prémio Camões. Quanto ao livro, desenterrei-o há uns tempos de uma pilha poeirenta, voltando a pensar nele ao tropeçar por acaso nas recentes declarações de Francisco Van Zeller, ex-presidente da CIP: “É ridículo o povo aceitar sacrifícios e não ir para a rua”. Estupefacta, recordei a frase de Belmiro de Azevedo proferida em 2010: “Quando o povo tem fome, tem direito a roubar”.
Dado que as duas afirmações me pareceram contaminadas por um radicalismo mais ajustado aos tempos do PREC – quando os ricos que pagassem a crise! – do que ao dos PEC – para o qual nem sequer conseguiram inventar um slogan de jeito – dei por mim a pensar que a coisa deve estar muito pior do que nos querem fazer crer.
Passos Coelho anunciou o fim da crise portuguesa para 2012 mas já Christine Lagarde preferiu avisar sobre a iminência da economia mundial entrar em recessão. Em quem acreditar?
Não será por falta de patriotismo mas, assim como assim, opto pela Christine (e eu até simpatizava mais com o Dominique). Afinal, cá pelo burgo andam a prometer-nos a salvação pelo menos desde 13 de Outubro de 2006, dia que ficará para a História pátria como aquele em que Manuel Pinho anunciou, não recordo já se com pompa e circunstância mas certamente com a costumada sapiência, que “a crise acabou”.
Segundo o novo governo falta-nos ainda e apenas um aninho. Só mais um esforço, pois, compatriotas. No entretanto, “ensinai aos vossos filhos o trabalho, ensinai às vossas filhas a modéstia, ensinai a todos a virtude da economia.”
Uma caixa de pílulas gratuitas ou, em alternativa, um broncodilatador à borla a quem adivinhar o autor da frase citada.
20/09/11
Parece que o Alberto se anda a ver grego...
15/09/11
Por estas e por outras é que eu [ainda] gosto deste país...
... ou em que outro lugar do mundo um deputado presidente de uma Comissão de Assuntos Constitucionais enviaria um envelope com informação secreta pelos CTT (correio azul?) chegando este ao destinatário (um ex-espião sob suspeita) "engatado pelo picotado"?
E, no meio disto tudo, não nasce um Jerome K. Jerome?! Porque essa parte de só nos saírem peixotos é que lixa tudo.
13/09/11
A book a day keeps the doctor away: "O Segundo Avião", Martin Amis
É algo que já foi mais comum: a reflexão política sobre temas contemporâneos assinada por escritores. O engajamento político (ou mesmo partidário) dos homens de letras foi perdendo peso com o fim da Guerra Fria, acompanhando uma suspeição generalizada pelas ideologias. Martin Amis desconfia das ideologias mas persiste numa tradição que fez a grandeza de alguns e o falhanço de outros tantos.
Os artigos sobre o 11 de Setembro escritos por Martin Amis entre 2001 e 2007 surgem reunidos neste volume sob o título de O Segundo Avião. A estes se acrescentam dois contos: “No Palácio do Fim”, onde o autor de Money imagina a vida dos duplos do filho de um ditador, e um outro que recria “Os Últimos Dias de Muhammad Atta”, terrorista que morreria no embate do primeiro avião com as Torres Gémeas.
As duas ficções optam por encenar escatologias em que a fantasia fecal dá bem ideia do que Amis pensa sobre o assunto: a “bomba na retrete” no caso de “No Palácio do Fim”; “a incontestável fúria das (…) entranhas”, em “Os Últimos Dias de Muhammad Atta”.
As posições do escritor inglês são incómodas. Não poupam ninguém. Não poupam a Al-Qaeda, não poupam bin Laden, não poupam Bush, não poupam Blair, não poupam Chomsky. Para além disso, o homem escreve bem que dói.
“Em Movimento com Tony Blair”, apontamentos de viagens em que o escritor/repórter acompanha o ex-primeiro-ministro, é um tratado de inteligência, ironia e domínio do ofício: “Testemunhamos os discursos triunfais e ouvimos os aplausos, mas normalmente não vemos o momento de feroz deleite político, o profundo e duradouro contentamento da vindicação: eu sempre tive razão! Num outro castelo, o de Hillsborough (o postigo da rainha em Belfast e ocasional lugar de pernoita de Bush), houve outro desses, quando Blair teve uma serena meia hora com o titubeante Teddy Kennedy e o temível Peter Hain. A História — o imprevisto sem remorsos — conspirara por uma vez na vida com o desejo deles, e era tudo muito comedido, neste perdoável regozijo, tudo muito sussurrado e enrouquecido e duramente alcançado.”
Recordamos a escrita viril de Bellow, mestre de Amis, e sentimos uma saudade imensa dos bons textos jornalísticos.
Dez anos passados do 11 de Setembro, O Segundo Avião é a forma adequada de assinalar a data. Submersos pela crise, esse dia parece-nos cada vez mais longínquo e a paranóica War on Terror terá dado lugar a temas mais prementes.
Há, contudo, um antes e um depois do 11 de Setembro — assim como há um antes e um depois da Queda do Muro de Berlim. Amis di-lo com clareza: “O 11 de Setembro deu-nos um planeta que quase nem reconhecemos. Em certo sentido veio revelar o que já ali estava (…) desde o colapso da União Soviética: a inédita preponderância de uma única potência. Revelou também o há muito estabelecido mas crescentemente dinâmico ódio ao Ocidente entre as nações islâmicas, um ódio muito exacerbado pela relação que a América mantém com (…) Israel (…). Além disso, como todos os ‘atos de terrorismo’ — que facilmente e sem subjectividade alguma se podem definir como violência organizada que toma por alvo os civis — (…) foi um ataque à moralidade: sentiu-se um défice geral. Quem é que, a 10 de setembro, esperaria estar pela altura do Natal a ler uns nada escandalizados editoriais no Herald Tribune acerca dos prós e dos contras de se usar a tortura nos ‘combatentes inimigos’? Quem esperaria que a Grã-Bretanha renunciasse à doutrina do não-primeiro-uso do nuclear? O terrorismo mina a moralidade. Além disso, também mina a razão” — sendo próprio da razão distinguir tolerância de relativismo, compreender de aceitar. É isso que Amis faz.
Martin Amis, O Segundo Avião, 2011, Quetzal, trad. de Jorge Pereirinha Pires
Os artigos sobre o 11 de Setembro escritos por Martin Amis entre 2001 e 2007 surgem reunidos neste volume sob o título de O Segundo Avião. A estes se acrescentam dois contos: “No Palácio do Fim”, onde o autor de Money imagina a vida dos duplos do filho de um ditador, e um outro que recria “Os Últimos Dias de Muhammad Atta”, terrorista que morreria no embate do primeiro avião com as Torres Gémeas.
As duas ficções optam por encenar escatologias em que a fantasia fecal dá bem ideia do que Amis pensa sobre o assunto: a “bomba na retrete” no caso de “No Palácio do Fim”; “a incontestável fúria das (…) entranhas”, em “Os Últimos Dias de Muhammad Atta”.
As posições do escritor inglês são incómodas. Não poupam ninguém. Não poupam a Al-Qaeda, não poupam bin Laden, não poupam Bush, não poupam Blair, não poupam Chomsky. Para além disso, o homem escreve bem que dói.
“Em Movimento com Tony Blair”, apontamentos de viagens em que o escritor/repórter acompanha o ex-primeiro-ministro, é um tratado de inteligência, ironia e domínio do ofício: “Testemunhamos os discursos triunfais e ouvimos os aplausos, mas normalmente não vemos o momento de feroz deleite político, o profundo e duradouro contentamento da vindicação: eu sempre tive razão! Num outro castelo, o de Hillsborough (o postigo da rainha em Belfast e ocasional lugar de pernoita de Bush), houve outro desses, quando Blair teve uma serena meia hora com o titubeante Teddy Kennedy e o temível Peter Hain. A História — o imprevisto sem remorsos — conspirara por uma vez na vida com o desejo deles, e era tudo muito comedido, neste perdoável regozijo, tudo muito sussurrado e enrouquecido e duramente alcançado.”
Recordamos a escrita viril de Bellow, mestre de Amis, e sentimos uma saudade imensa dos bons textos jornalísticos.
Dez anos passados do 11 de Setembro, O Segundo Avião é a forma adequada de assinalar a data. Submersos pela crise, esse dia parece-nos cada vez mais longínquo e a paranóica War on Terror terá dado lugar a temas mais prementes.
Há, contudo, um antes e um depois do 11 de Setembro — assim como há um antes e um depois da Queda do Muro de Berlim. Amis di-lo com clareza: “O 11 de Setembro deu-nos um planeta que quase nem reconhecemos. Em certo sentido veio revelar o que já ali estava (…) desde o colapso da União Soviética: a inédita preponderância de uma única potência. Revelou também o há muito estabelecido mas crescentemente dinâmico ódio ao Ocidente entre as nações islâmicas, um ódio muito exacerbado pela relação que a América mantém com (…) Israel (…). Além disso, como todos os ‘atos de terrorismo’ — que facilmente e sem subjectividade alguma se podem definir como violência organizada que toma por alvo os civis — (…) foi um ataque à moralidade: sentiu-se um défice geral. Quem é que, a 10 de setembro, esperaria estar pela altura do Natal a ler uns nada escandalizados editoriais no Herald Tribune acerca dos prós e dos contras de se usar a tortura nos ‘combatentes inimigos’? Quem esperaria que a Grã-Bretanha renunciasse à doutrina do não-primeiro-uso do nuclear? O terrorismo mina a moralidade. Além disso, também mina a razão” — sendo próprio da razão distinguir tolerância de relativismo, compreender de aceitar. É isso que Amis faz.
Martin Amis, O Segundo Avião, 2011, Quetzal, trad. de Jorge Pereirinha Pires
12/09/11
11/09/11
Eu não queria falar do 11 de Setembro mas dado que a imbecilidade ainda não deixou de me indignar...
... sinto-me na obrigação de reproduzir a coisa mais idiota que vi hoje citada no facebook sobre os acontecimentos desse dia: «Lembrando uma máxima de imensa sabedoria popular: "não faças aos outros (11 de Setembro de 1973, Chile) o que não gostas que te façam a ti"».
Há criaturas cuja profundidade intelectual e selectividade empática me lembram sempre uma piada antiga de Woody Allen: "Não posso ouvir muito Wagner. Dá-me logo vontade de invadir a Polónia".
10/09/11
Falta de ar
O mundo virado do avesso e o Bloco de Esquerda quer discutir a eutanásia. O tema é escorregadio. Desperta temíveis fantasmas — logo, logo, o Aktion T4 nazi — e termina nas assépticas clínicas actuais onde a morte chega em celofane a troco de um cheque chorudo.
“A morte é uma puta”, desabafou António Lobo Antunes quando sentiu a morte a rondá-lo. A eutanásia seria, assim, uma espécie de puta de luxo, nos antípodas da ceifeira cadavérica retratada pelos Monty Python em O Sentido da Vida.
O argumento mais usado pelos defensores da eutanásia relaciona-se com a questão do sofrimento inútil, chegado o momento em que a expressão “enquanto há vida há esperança” perde sentido. Os opositores (deixando de lado a contestação religiosa…) invocam sobretudo o precedente aberto pela sua descriminalização.
Neste assunto, como em outros, Esquerda e Direita divergem. A última quase sempre por razões de fé, a primeira invocando razões de autonomia: o direito a uma morte digna.
Posso perceber ambas. Mas, lá pelo meio, algo me escapa: o fascínio pela legislação da Esquerda.
O Estado que tudo controla. O que se come, o que se bebe, o que se fuma… A vida privada cada vez mais enredada em regras, normas, artigos, regulamentos e adendas.
Algures pelo mundo, burocratas paranóicos vão ajustando a realidade aos seus delírios — dos babás ao rum que já não podem levar rum, às colheres de pau que passaram a ser de plástico. Interrogamo-nos: que raio de tipos serão estes que se lembram de criar leis sobre tais coisas?
O resultado está à vista: não andamos mais felizes. A paranóia alarga os seus tentáculos e um italiano é preso na Suécia por dar uma estalada ao filho; enquanto isso, as redes de pornografia infantil somem e seguem (a Casa Pia, topam?). Vivemos em regime esquizofrénico.
E a eutanásia no meio disto? Bom, a eutanásia é assim. Pela parte que me toca, gostaria que o Estado não se metesse na minha morte. Sei que não é simples, mas deveria bastar para começo de conversa.
“A morte é uma puta”, desabafou António Lobo Antunes quando sentiu a morte a rondá-lo. A eutanásia seria, assim, uma espécie de puta de luxo, nos antípodas da ceifeira cadavérica retratada pelos Monty Python em O Sentido da Vida.
O argumento mais usado pelos defensores da eutanásia relaciona-se com a questão do sofrimento inútil, chegado o momento em que a expressão “enquanto há vida há esperança” perde sentido. Os opositores (deixando de lado a contestação religiosa…) invocam sobretudo o precedente aberto pela sua descriminalização.
Neste assunto, como em outros, Esquerda e Direita divergem. A última quase sempre por razões de fé, a primeira invocando razões de autonomia: o direito a uma morte digna.
Posso perceber ambas. Mas, lá pelo meio, algo me escapa: o fascínio pela legislação da Esquerda.
O Estado que tudo controla. O que se come, o que se bebe, o que se fuma… A vida privada cada vez mais enredada em regras, normas, artigos, regulamentos e adendas.
Algures pelo mundo, burocratas paranóicos vão ajustando a realidade aos seus delírios — dos babás ao rum que já não podem levar rum, às colheres de pau que passaram a ser de plástico. Interrogamo-nos: que raio de tipos serão estes que se lembram de criar leis sobre tais coisas?
O resultado está à vista: não andamos mais felizes. A paranóia alarga os seus tentáculos e um italiano é preso na Suécia por dar uma estalada ao filho; enquanto isso, as redes de pornografia infantil somem e seguem (a Casa Pia, topam?). Vivemos em regime esquizofrénico.
E a eutanásia no meio disto? Bom, a eutanásia é assim. Pela parte que me toca, gostaria que o Estado não se metesse na minha morte. Sei que não é simples, mas deveria bastar para começo de conversa.
09/09/11
O grau zero do pensamento ou deixem-me lá continuar de férias
Os meus pais ensinaram-me que a palavra vale tanto como a assinatura. Sei bem o valor de uma promessa eleitoral, António José Seguro, líder do maior partido da oposição em discurso considerado por alguns como fortemente crítico do governo.
Como é que chegámos a isto? Será alguma coisa na água?
08/09/11
A Parábola da Agulha (que para o eduquês já demos)
Longe de mim ter teorias sobre educação. Há poucas coisas, aliás, sobre as quais tenha teorias, apesar de Platão ser o meu pensador preferido pelo menos desde 1978, salvo erro, ano em que conclui que a sua Teoria das Ideias se podia resumir na boa a uma parábola contada algures por Herberto Helder.
Cito: “Levanto-me então da plateia e, por entre as metralhadoras esculpidas, conto de novo a parábola da agulha, que me obceca. Desentranhei-a de um velho manual. Trata-se de uma mulher que perdeu uma agulha na cozinha e a procura na varanda de sua casa. Acorre então o jovem que pretende ajudá-la, e pergunta: Que procura? — Uma agulha. Caiu-me na cozinha. Logo o inexperiente jovem se espanta muito e quer saber porque a procura ela na varanda. — Porque na cozinha está escuro — responde a mulher.”
Como presumo até os estudantes liceais de Filosofia saberão (supondo que ainda existam), na Caverna Platónica também fazia escuro p’ra caraças. Vai daí, o filósofo, que, como a mulher da parábola, nada tinha de parvo, foi à procura das Ideias noutro sítio.
Voltando à educação e ignorando os temas sindicais recorrentes – assunto sobre o qual “só sei que nada sei” –, o que eu gostaria mesmo era que alguém reflectisse a sério sobre isto: “Na geração que cresceu habituada às multitarefas, na era digital, os limites superiores da atenção no cérebro humano encontram-se em rápida expansão, algo que provavelmente levará à alteração de certos aspectos da consciência num futuro não muito distante, se tal não tiver já acontecido. Expandir a atenção traz vantagens óbvias, e as capacidades associativas geradas pelas multitarefas trazem vantagens espantosas; em contrapartida, poderá haver um custo em termos de aprendizagem, consolidação de memória e emoção. Não temos ainda ideia de qual poderá ser esse custo”, António Damásio, O Livro da Consciência.
Atendendo à dificuldade que há já em sentá-los (a que acresce a insistência na discussão estéril do “eduquês”), temo que o custo seja grande. E qualquer dia nem a agulha do Platão, perdão, do Herberto Helder, nos ajudará a encontrar o Norte.
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