01/08/11

"Eu tenho horror a pobre!"

Ela é portuguesa e vive fora; ele é de fora e vive em Portugal. Em comum, uma certeza: os portugueses andam particularmente deprimidos. Mais do que é costume? Mais do que é costume.

“Depressão” recorda-me sempre Tiziano Terzani e o seu maravilhoso Disse-me um Adivinho: “Não é de admirar que a depressão seja hoje um mal tão comum. É quase reconfortante. É sinal que no íntimo das pessoas ainda resta o desejo de serem mais humanas”.
Os meus amigos conheciam o livro mas comentaram que não se devia exagerar. A crise era internacional e, fosse como fosse, a Europa mantinha-se o melhor sítio para se viver. Eu disse que talvez, mas.
Que seria bom não esquecer que ainda há 66 anos a Europa provocara uma razia no mundo e que os seus líderes actuais me faziam perigosamente pensar na piada de Lewis Black: “In my lifetime, we've gone from Eisenhower to George W. Bush. We've gone from John F. Kennedy to Al Gore. If this is evolution, I believe that in twelve years, we'll be voting for plants” (e já passaram quase 12 anos…), e também na frase de Groucho Marx em Duck Soup: “Ele pode parecer um idiota e falar como um idiota mas não se deixe enganar, ele é realmente um idiota”.

Após a fase das piadas voltámos a falar a sério da recente obsessão pelas fronteiras, dos imigrantes magrebinos afogados no Mediterrâneo, da e.coli dos pepinos que era coisa dos PIGS espanhóis, da implosão dos Impérios, da dívida americana, da extrema-direita francesa, da desorientação generalizada da esquerda, dos chineses… O costume.

E depois aconteceu o massacre na Noruega.
Um homem louro, um homem nórdico, alto, de olhos azuis, praticamente um património, um baluarte da Europa civilizada, praticamente uma Claudia Schiffer de calças, como diria Caco Antibes, matou quase uma centena de pessoas. Antes de passar à acção terá tido tempo para escrever “2083, A European Declaration of Independence”, um longo manifesto em defesa de uma nova Cruzada contra os perigos do Islão e do marxismo. Não, “as humanidades não humanizam”. Mesmo. Como dizia o raio do Steiner e eu não me canso de repetir.

3 comentários:

henedina disse...

Bom post.
Completamente "ariano" e pondo em prática a mesquinhez, tacanhice e falta de sentido de responsabilidade da Merckel.

NYX(des)VELADA disse...

Cara Ana Cristina Leonardo,
"Numa" breve palavra: o terrorismo tem nome e não me parece que seja «inimputabilidade psíquica». Esbocei um sorriso ao lê-la e fiquei altamente solidária face à sua expressão: "raio do Steiner". Mas continuemos com "o raio da WHO": What is depression? «Depression is a common mental disorder that presents with depressed mood, loss of interest or pleasure, feelings of guilt or low self-worth, disturbed sleep or appetite, low energy, and poor concentration. These problems can become chronic or recurrent and lead to substantial impairments in an individual's ability to take care of his or her everyday responsibilities. At its worst, depression can lead to suicide, a tragic fatality associated with the loss of about 850 000 lives every year.» (acedido em: http://www.who.int/mental_health/management/depression/definition/en/); e ainda: "Mental health is not just the absence of mental disorder. It is defined as a state of well-being in which every individual realizes his or her own potential, can cope with the normal stresses of life, can work productively and fruitfully, and is able to make a contribution to her or his community" (WHO (2007). «What is mental health?». Acedido em: http://www.who.int/features/qa/62/en/index.html). E depois vêm as notícias brilhantes como: http://news.discovery.com/history/frederic-chopin-epilepsy-110124.html e começamos a questionar: "ui, isso é muito mau, essa doença quase que ontológica, a depressão, pode matar silenciosamente?" Será que o Attila József se suicidou porque estava deprimido? E o Periandro? E A Sylvia Plath? E qual seria o "impacto", em estilo de manipulação mental, se lhe dizer: "não deixe de alimentar a sua depressão"?
Atenciosamente, a Nyx.

Ana Cristina Leonardo disse...

NYX(des)VELADA, eu, se soubesse que a coisa não tinha contra-indicações vivia a xanax e já me tinha tornado Zen.
Agora mais a sério: há gente que não se deprime com nada. Esses é que me metem medo!