31/07/11

A book a day keeps the doctor away: "De Olhos Abertos", Marguerite Yourcenar

Foi publicado pela primeira vez entre nós em 1984, quando se lia muito Marguerite Yourcenar (1903-1987), e acompanhou-me em várias noites de insónia. A Relógio D’Água acaba de disponibilizar novamente De Olhos Abertos, em tradução assinada por Renata Correia Botelho.
O livro consiste numa longa conversa com o francês, entretanto desaparecido, Matthieu Galey, e a autora de Memórias de Adriano acabaria por não apreciar o resultado. Teria as suas razões, mas para nós, leitores de De Olhos Abertos, o livro é uma dádiva. Desde logo, de inteligência.
Matthieu Galey organizou-o tematicamente e os muitos capítulos tanto cobrem a obra literária da escritora de origem belga (os muitos títulos, influências maiores, etc.), como a sua vida pessoal, sem deixar de lado as convicções de Yourcenar sobre temas tão variados como política, ecologia, feminismo ou religião.
Para quem está familiarizado com os livros da única mulher até agora aceite na Academia Francesa (um facto a que se atribuirá maior ou menor importância), estas entrevistas talvez despertem o desejo de reler coisas tão perfeitas como A Obra ao Negro ou Golpe de Misericórdia. Para os que desconhecem Marguerite Yourcenar, trata-se de uma excelente introdução.
Aristocrata de nascimento e, sobretudo, de espírito, talvez corra, contudo, o risco de ser mal interpretada. Conservadora e absolutamente livre (tanto quanto o poderá ser um ser humano), Yourcenar é uma escritora moral que bebe nos grandes clássicos e na grande literatura e cujas posições — eticamente exigentes e politicamente independentes — talvez pareçam desfasadas num tempo que saiu por aí a galope.
Pomposa, por vezes; simples, quase sempre, deixa-se colar neste livro à frase que fez dizer ao Imperador Adriano: “A verdade é sempre um escândalo”.

De Olhos Abertos, Marguerite Yourcenar, 2011, Relógio D’Água

9 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Cara Ana Cristina Leonardo,

De facto, um bom livro para conhecermos melhor a mulher atrás da obra.

Na 5ª feira passada e ontem à noite também escrevi sobre 'De olhos Abertos' - felizmente apenas escrevo no meu blogue e não num jornal ou revista, senão arriscar-me-ia a uma das suas valentes desadandas...

Mas, já agora, aqui lhe deixo o convite para o meu despretensioso texto no qual, por graça, me refiro a si.

http://umjeitomanso.blogspot.com/2011/07/de-olhos-abertos-com-marguerite_31.html

(O texto de 5ª feira pode ser lido a partir deste último).

Boas leituras e boas escritas!

Ana Cristina Leonardo disse...

Um Jeito Manso, acho que foi exactamente isso "conhecer melhor a mulher atrás da obra" que irritou a Yourcenar.
Agora essa de me citar, espero que não se torne uma mania...
De qualquer modo, valentes desandadas, pelo meu lado, só em quem escreve pretensiosamente...

fallorca disse...

Insistes em desgraçar-me, muito bem

Ana Cristina Leonardo disse...

fallorca, atão e o café?

henedina disse...

"A verdade é sempre um escândalo."
E paga-se caro mas não tem preço.

fallorca disse...

«fallorca, atão e o café?»
já tá ao lume?
agendemos lá para 6ª, sujeito a confirmaçao

Anónimo disse...

E não podem marcar isso por e-mail? Ou usando o télélé. Tem de dar conta à malta? Olhem que o Niet anda por cá e ainda aparece.

Ana Cristina Leonardo disse...

Ó anónimo, acha que corro riscos?

fallorca disse...

Tamos lixados... somos uns exibicionistas, fiufiu...