24/08/10

Silly season ainda: cá para mim os militares que querem ir ao focinho ao Lobo Antunes são da escola do Santos Silva

As ameaças de um grupo de militares ao escritor António Lobo Antunes cheiram-me a esturro. Não porque duvide da indignação dos ditos mas por me parecer estranho que alguém que quer ir ao focinho de outrem (expressão de caserna, naturalmente) ande por aí a anunciá-lo pela comunicação social. A não ser, claro, que os militares em causa gostem de fazer tudo às claras, como julgo ser o caso do ministro que os tutela.
E se, por um lado, estes reformados da guerra me recordam demasiado aquela expressão portuguesa do "agarrem-me senão... qualquer coisa", por outro, Santos Silva, ao anunciar publicamente o envio de espiões para o Afeganistão e Líbano, provou que não basta ser adepto do malhanço para saber brincar às guerras.
Quanto ao escritor Lobo Antunes, gosto muito. Sobre a coragem não-literária do próprio nada sei. Mas em verdade também vos digo: cá para mim, a coragem, como quase todas as qualidades humanas, depende. Pessoalmente, prefiro um escroque cobarde a um escroque corajoso. Sempre causará menos estragos.

[Sobre o livro onde vem impressa a frase que terá ateado a fogueira, Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes, de João Céu e Silva, como escrevi na altura, não o achei grande espingarda]

12 comentários:

Anónimo disse...

esse "depende" é muito bom.

Ana Cristina Leonardo disse...

Ana Margarida, a única coragem de que sou incondicional é a dos bombeiros e a dos marítimos salva-vidas

fallorca disse...

Pst, sabes o que eu acho? e prometes ficar só entre nós? Então lá vai: qual o título e para quando está previsto o próximo livro de ALB?
Lembras-te do «Caim»? Com ou sem aspas, lê como te aprouver

lourdes féria disse...

Olá Cristina
Obrigada por me avisares do comentário do JG. Diverti-me imenso com o Fallorca que te chama carinhosamente Leoparda. Quanto ao resto, sobre algumas certezas que manifestas com veemência pergunto: e se estiveres enganada? Quantas vezes as razões mais aparentes e as melhores intenções não acabaram nas maiores castástrofes.Convem não esquecer que o humanitarismo dos filósofos da França do séc. XVIII preparou o Terror. Quanto ao intragável do Lobo Antunes mereces não sei quantas medalhas por conseguires ler o que ele escreve. Sobre os militares, entre os que protestam estão pessoas que me merecem crédito como o Matos Gomes e outros. As coisas não são assim tão simples. E já agora não se perdia nada se partissem as trombas ao aspirante ao Nobel.Talvez aprendesse a ter tento na língua e a conter os seus impulsos exibicionistas.
Beijinhos Leoparda...

João Gonçalves disse...

Ana - deixe lá essa proto-múmia em paz e leia a Agustina de 59. Nessa altura Lobos Antunes e Cª nem sequer imaginavam que iam ornamentar prateleiras de supermercados ao lado das margarinas e do óleo Fula para estrago destes elementos fundamentais ao desempenho da cozinha. Bjs.

Ana Cristina Leonardo disse...

Lourdinhas, não percebi bem a primeira parte do teu comentário. Ou seja, a que coisas te referias (acerca das quais poderei estar enganada e tal...). Quanto ao Lobo Antunes, como digo no post, gosto muito. Quanto a tento na língua e impulsos exibicionistas, não vejo o que têm que ver com o assunto. Além de que, quem quiser que atire a primeira pedra.
João, a Agustina escreveu uma obra-prima. Chama-se A Sibila. Não sei se era a isso que se referia, porque segundo andei a vasculhar, o livro é de 54. Quanto ao Lobo Antunes, e correndo o risco de parecer um disco riscado, gosto muito.

Anónimo disse...

O Fallorca é que adora a Albertina ...

fallorca disse...

Ó meu caro Anónimo, Albertina era a minha prima, que Deus tenha em descanso e, pela parte que me toca, passei à «peluda» no inesquecível dia 21 de Outubro de 1973.
Esclarecido?

Anónimo disse...

Caro Jorge Fallorca,
Era só uma provocação. Tenho ideia que há alguns anos li uma entrevista sua em que chamava à escritora (não à sua prima) de "bruxa do Norte" ou coisa parecida e não resisti...
Quanto ao esclarecimento, não percebi e desconfio que não era para perceber.
O anónimo chamado Nuno Gonçalves e que em 1973 tinha 3 anos

fallorca disse...

Caro anónimo, em toda a minha vida (61 anos) só dei duas entrevistas:
- uma em 77, ao Diogo Pires Aurélio, para o DN;
- outra em 2001, ao Expresso, com «errata» incluída em «A Cicatriz do Ar».
Como «acho piada» à leviandade (até documentação que me desminta) das coisas que afirmam eu ter dito, avive-me a memória e prove onde chamo «"bruxa do Norte" ou coisa parecida» à escritora Agustina.
Quanto ao esclarecimento e, felizmente para si que tinha 3 anos em 1973, «peluda» era/é o nome atribuído à chamada «passagem à disponibilidade»; voltar as costas aos quartéis e aos senhorios das casernas.
Acredite, felizmente para si, que não faz a menor ideia do que isso podia ser.
Fico a aguardar essas tais minhas declarações sobre a Agustina.

Anónimo disse...

Caro Jorge Fallorca,
Se estou errado, peço já desculpa. A provocação era primária, mas se a afirmação não é verdadeira, então é total non-sense.
O que me lembro é de ter lido essa afirmação num artigo que saiu no Independente sobre a sua distinta pessoa. Pelos vistos, estou a confundir com outro artigo (ou então, a afirmação foi uma invenção/deturpação do redactor desse artigo).
Como ainda tenho uns dias de férias e acho que tem todo o direito a uma satisfação, vou passar na Hemeroteca para tentar descobrir esse artigo e, se o encontrar, dou-lhe conhecimento através do seu Blog (antes que a dona da Pastelaria me mande meditar para outras paragens).
Embora ignore a relação que tem com o tema Augustina, agradeço o seu esclarecimento quanto à "peluda". Felizmente, não vivi esse tempo e não fui à tropa.
Nuno Gonçalves

Ana Cristina Leonardo disse...

Caro Nuno, a dona da pastelaria nada tem contra as suas meditações. Medite aqui, medite no Cheiro dos livros... o que é preciso é meditar