09/06/10

Educação sexual dos 6 aos 16 ou a modernidade húmida


Estamos completamente quilhados (a palavra talvez devesse ser "fornicados" por mais apropriada ao assunto).
Tolhido pela profundidade do pensamento de D. Duarte de Bragança — "Tornar obrigatório a educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade" — e/ou a pedagogia iluminada dos que acham indispensável introduzir a disciplina nas escolas primárias (penso que agora já não se chamam assim), Portugal dá mais um passo gigantesco em direcção a essa incontestada e incontestável coisa chamada Modernidade, que já no meu tempo era um conceito um bocado antigo.
Sobre a sexualidade infantil ainda nada foi dito de mais profundo do que isto: A teoria antiga negava a sexualidade dos adultos. A moderna diz que os bebés têm prazer sexual enquanto defecam. A antiga era melhor, ao menos podia ser contraditada pelas partes envolvidas.
O autor foi, claro, Karl Kraus e a frase visava Freud.
Quanto a mim, que nada tenho contra as cegonhas (o mesmo já não podendo dizer de Freud), estou com Kraus.
E acrescento: e se deixassem as crianças em paz? Não se preocupem com elas: quando estão interessadas, perguntam.
Isto, claro, se não estiverem demasiado ensonadas derivado ao facto de se levantarem às 6 da manhã para chegarem à escola às 8 (tudo em nome do seu sucesso escolar, claro). Mas também é verdade que já era esse o horário durante a Revolução Industrial, glorioso momento histórico que nos tornou a todos modernos.
Depois, contudo, não se admirem.
[O velhíssimo vídeo aí em cima, dos velhíssimos Monty Python, está classificado no YouTube para maiores de 18 anos — ora aí está uma medida adequada a estes tempos sombrios]

25 comentários:

Anónimo disse...

Estes tipos são geniais.

Ana Cristina Leonardo disse...

... e o kraus tb.

purpurina disse...

estava talvez na terceira classe quando aconteceu uma coisa estranhíssima na minha escola. as meninas foram todas fechadas numa sala, com os estores totalmente corridos para evitar os olhares indiscretos dos meninos. estivemos umas 2 ou 3 horas a ver umas apresentações de slides e uns bocados de bonecas mostrando vaginas, úteros, trompas e o que mais. no final levámos um saquinho com tampões e pensos higiénicos para casa e bastantes perguntas por responder. nem na altura percebi os estores corridos ou os meninos ficarem de fora.

segundo a notícia, serão umas 6 horas por ano (duvido que muitas escolas se aborreçam usando mais). há paleio diferente para crianças, para pré-adolescentes e para adolescentes. tem de ser bem organizado e os temas a abordar escolhidos convenientemente - como em tudo é preciso fazer bem. e depois? dos 6 aos 10 são anjinhos, mas já têm muitas perguntas. não é bom poderem fazê-las?

Anónimo disse...

A pencuda que gere este blog deve estar preocupada com os seus próprios traumas sexuais. No caso dela, que derivam não de ausência de educação sexual, mas da educação ela mesma. Uma falha de carácter nota-se, mesmo na cama.

lili disse...

Os meus filhos já são crescidos e não vão ter essa 'disciplina'', atentemos no sentido da palavra, mas se ainda estivessem na escola primária faria tudo para evitar que essa proposta fosse avante.
E acho piada a esses senhores que dizem que a educação tem de começar em casa, e não delegada nos professores, virem com uma proposta destas em que o assunto deve ser obrigatoriamente discutido em casa ou num clima de confiança e sem muita algazarra. Sim, sei a última frase dá origem a trocadilhos , lol

Ana Cristina Leonardo disse...

purpurina, por pontos:
1. fechar meninas da primária numa sala às escuras para lhes mostrar vaginas de bonecas e no fim lhes oferecer tampões e pensos higiénicos parece-me um pesadelo que nem nos sonhos mais esquisitos do Marquis.
2. as crianças não são anjinhos nem demónios... são crianças
3. acho bem que se respondam às perguntas das crianças; não acho bem que se respondam a perguntas que elas não fizeram; acho mal que se responda com linguagem "técnica", utilizando palavras tipo vulva.
Aliás, vulva, lembra-me sempre uma chamada de capa da Cosmopolitan inglesa (há muitos anos) que dizia mais ou menos isto: "o seu namorado sabe o que é uma vulva ou pensa que é a marca de um carro?" A pergunta tinha imensa graça mas, como se sabe, a Cosmopolitan nunca foi uma revista para crianças.

Ana Cristina Leonardo disse...

Há muito tempo que não havia anónimos na pastelaria a confundi-la com um consultório sexual. Publicado o empolgado comentário anónimo, e como sabe quem me conhece, acrescento que o meu nariz tem dimensões perfeitamente dentro da média - de onde se conclui que o anónimo não me conhece.
Não me conhecendo, e porque estou de bom humor, concedo-lhe dois esclarecimentos extra:
1. não sou dada a traumas e sexuais também não (graças a deus ninguém me sujeitou à educação católica);
2. quanto ao meu carácter, e porque não me conhecendo o anónimo nunca poderia ter ido para a cama comigo, fica também a saber que tenho algumas falhas mas não dessas - por exemplo, adorava falar alemão e não falo.
E pronto anónimo, posto isto, aconselho-o antes a ir fazer comentários para a revista Maria. Têm lá uma coluna (ou tinham) que trata desses assuntos que tanto parecem preocupá-lo.

lili disse...

Ai, Cristina não ligue, os anónimos são terríveis, e quando toca a defender as propostas do PS, ainda são piores e estão muito ofensivos.
Também tenho uma frustração desse tipo, adorava saber latim e grego.

forniquete disse...

Para quê saber línguas se o assunto é sexo? Vamos é todos fornicar pela salvação da espécie!

lili disse...

Além do mais, Ana Cristina, isto é matéria que lhes entrará muito melhor nas cabecinhas do que a ditas cujas.

Deus me perdoe.

lili disse...

Ó Cristina, já reparou que isto é tipo curso intensivo, 6 dias por ano. lol.

sem-se-ver disse...

concordo consigo a 100%. respostas, só a perguntas. nessas idades. tudo o resto é violação das consciências, e da dignidade das crianças.

sou prof, mas do ensino sec; aí, como é óbvio, as questões já não se colocam desta precisa maneira.

(por acaso está a correr bem, a ed sexual na minha escola; os miúdos estão a gostar, a ser profundamente bem-educados, a beber as generalidades que lhes dizemos (ou especialidados nos casos de reprodução, contracepção, etc) e a colocar zero perguntas. não que não tenham dúvidas, mas reservam-nas para si. porque, como é evidente, nunca se sentirão à vontade de as colocar perante a turma e, até, com o prof/a em causa.

mas (não estou a ser ironica), não está a correr mal.

surpreendente, ou talvez não, é a atitude/recepção dos pais à introdução desta nova 'disciplina/coisa' nas escolas. muito boa, sem qualquer reticência. mas enfim, trabalho numa escola particular (quero dizer, pública, mas especial), em que a integração na comunidade é total e a presença dos pais tão assídua (também só nos falta ir a casa deles falar dos filhos quando não são eles a dirigir-se à escola) em todos os assuntos, que, suponho, este foi considerado por eles como 'mais um' (assunto de educação dos seus filhos).

(desc o testamento)

Unknown disse...

Este sketch é demasiado bom.

Ana Cristina Leonardo disse...

Lilli, os kits para os cursos intensivos custam a módica quantia de 98 euros cada um (há 3, um por cada ciclo); ou seja, se isto não é comércio sexual eu não me chamo ana cristina
http://www.apf.pt/?area=100&mid=003&lvr=LVR4acf6b3ec8338
sem-se-ver, a mim, o que me arrepia, naturalmente, são as crianças pequenas - isto é perverso, ponto (muito pior do que o Freud a psicanalisar
a filha, o que já era mau - então, anna, quando foi a última vez que pensaste coisa e tal com o pai?)
Homem..., isto é retirado de The Meaning of Life

josé agostinho baptista disse...

Cada vez ADORO mais este país que nem dinheiro tem para se lavar. Cada vez acho mais FANTÁSTICA esta gentinha anónima sem nariz. Cada vez me deslumbram mais estas coisas que julgam que pensam ALGO, que dizem ALGO, que ensinam ALGO. Maravilhas modernas e inovadoras a tirarem macacos dos apêndices nasais pouco desenvolvidos e ideias bacocas dos cérebros reduzidos. Existem, realmente? Parece que sim. E escrevem. E atiram flores aos verdugos. E insultam. E atrevem-se. E como dizia o meu amigo Kadafi de Benfica, confundem alpista com brilhantina.

Unknown disse...

Eu sei que é do Meaning of Life - o meu filme preferido dos MP - e divirto-me sempre quando o revejo.

Ana Cristina Leonardo disse...

josé, obrigada

Ana Cristina Leonardo disse...

Homem..., confusão minha. Falaste em sketch e eu pensei que te referias a um episódio autónomo (coisas dos meu inglês técnico...). Também é dos meus preferidos, embora, cá derivado às minhas andanças, me continue a rir com a crítica certeira e hilariante à extrema-esquerda d'A Vida de Brian.

Rui Gonçalves disse...

«E acrescento: e se deixassem as crianças em paz? Não se preocupem com elas: quando estão interessadas, perguntam.»

Uma frase que resume e diz, magnificamente, tudo.

F disse...

"Se não sabe, porque é que pergunta?"
Esta frase é título de um livro de João dos Santos e, para mim diz tudo.
De que vale querer impingir conhecimentos a crianças quando a sua curiosidade ainda nem lá chegou? Nada irá ficar retido e, pior, poderá até causar confusão.
É claro que subscrevo tudo o que dizes ACL e SSV também.
Talvez o tal gabinete de atendimento (privado) nas escolas secundárias não seja má ideia, pode ser que os adolescentes percam o medo de colocar questões. O que é preciso é que os técnicos sejam competentes e mais humanos do que muito técnicos.
Os americanos, esses, são completamente loucos! Ainda bem que não vivo lá. O meu filho, quando tinha 3, 4, 5 anitos adorava encostar a cara às mamas das senhoras mamudas. Era muito "queridinho", elas davam-lhe colinho e não tardava nada estava a "assediá-las" e a pôr a mão e tudo! Eu nunca o recriminei. Então não é fixe um encosto fofinho assim? Se calhar foi isso que faltou a Freud!
Este sketch dos Monty Python é absolutamente fabuloso. Não o conhecia. Estes ingleses deram a volta por cima. Verdadeiramente.

purpurina disse...

o pesadelo foi o secretismo daquilo tudo e o facto dos meninos terem ficado de fora, daí a descrição tenebrosa de meninas fechadas numa sala de estores corridos (obviamente que a sala não estava às escuras).

não concordo com apenas responder às perguntas que são feitas. crianças dessa idade já têm pudores e vergonhas e poderão calar muitas perguntas da mesma maneira que os moços mais velhos (como sem-se-ver referiu). e é claro que não se devem atirar palavras à toa. vulvas e próstatas e coisas não são palavras boas para falar com gente pequena. tem de se fazer bem, como já disse. mas acredito que é melhor fazer. seria talvez preferível que estas conversas começassem em casa, mas deixemo-nos de ingenuidades: na maioria das casas não se fala (há mais mundo fora dos portões das famílias modernas e esclarecidas).

Ana Cristina Leonardo disse...

purpurina, será preciso distinguir crianças do resto. As crianças, das duas uma, ou perguntam tudo ou, se reprimidas ou repreendidas, calam-se. Mas, no fundo, este assunto, é como qualquer outro: não vale a pena falar de coisas que não se entende - falar de vulvas e e próstatas a crianças da primária (obrigatoriamente) é como querer ensinar a raiz quadrada quando não se sabe a tabuada. Nestas e noutras matérias, bom-senso já era o que bastava. Além disso, julgo assistir-se a uma invasão da infância por temas e pontos de vista adultos, o que, curiosamente, tem resultado tb. na infantilização dos últimos. E não é preciso explicar e falar de tudo, não é? Além de que, naturalmente, há coisas acerca das quais preferimos falar com quem está mais distante de nós. Nunca dei explicações de sexo a nenhuma das minhas 3 filhas e até me parece que elas me agradecem por isso. Tanta conversa, tanta explicação, tanta preocupação - e a quantidade de crianças enfiadas em psicólogos não pára de aumentar. Deviamos se calhar reflectir sobre isso.

F, este sketch velhinho traduz por palavras exactamente aquilo que eu penso sobre o assunto.

João Lisboa disse...

1) A nível da escola primária - agora, chama-se 1º ciclo e os respectivos profes ficam piores que baratas se lhes chamamos "primários" -, particularmente com a formação indigente que os profes têm, parece-me quase um disparate (mas não tinha de ser);

2) Daí para cima, naquilo com que a escola, única e exclusivamente, se deve ocupar (isto é, matéria científica: como se fazem os meninos, anticoncepcionais, DSTs), não é, de todo, necessária uma disciplina autónoma. Tudo isso pode e deve ser incluído nos programas das áreas de Ciências Naturais, Biologis e/ou Saúde.

3) Confirmo, em absoluto, que o nariz da senhora da pastelaria é mui equilibrado nas suas dimensões.

ND disse...

até porque, imagino eu, uma menina vai toda lampeira junto de um menino para convidar a brincar aos médicos a tentar perceber se o que os difere é muito mais do que os joelhos tortos dele e os perfeitinhos dela e entre uma coisa e outra começa por lhe perguntar como faz ele xixi quando nada... e ele, de pronto, diz-lhe:- então? tu não me digas que não tens professora de educação sexual na tua escola a quem perguntar essas coisas?! coitada, assim nunca mais sabes nada da vida.

fallorca disse...

«...quanto ao meu carácter, e porque não me conhecendo o anónimo nunca poderia ter ido para a cama comigo, fica também a saber que tenho algumas falhas mas não dessas - por exemplo, adorava falar alemão e não falo...»
Chega um cliente de viagem, cansado, não conduz um Porsche, e depara-se com esta balbúrdia!