03/06/08

O neo-realismo reciclado: assim como assim, prefiro as cegonhas







Livro alemão de educação sexual para crianças. A prova de que a pedagogia é uma praga universal. [As fotos podem ser ampliadas clicando sobre elas]

15 comentários:

Anónimo disse...

Esqueçamos os jogos etimológicos...
Acredito, Ana Cristina, que está apenas, aqui, a fazer ironia. Mas receio que poucos a entendam...

Ana Cristina Leonardo disse...

prefiro mesmo as cegonhas...

Anónimo disse...

Não discuto o voo das cegonhas.
Embaraça-me apenas que alguém (que respeito) escreva, de uma forma tão aligeirada (e cedendo ao mainstream): "a pedagogia é uma praga universal".
Não é, Ana Cristina. A pedagogia é, exactamente, o que nos distancia da barbárie (ou do abuso de autoridade) nas relações entre quem sabe ou pode mais e quem sabe ou pode menos.
Tenho a esperança (intelectual) de que tenha, simplesmente, confundido pedagogia com... "eduquês"...

Luis Eme disse...

querem mesmo acabar com os mistérios da vida...

Anónimo disse...

Ampliar? chiça

Miriam

Anónimo disse...

Ainda uma observação: claro que acho o livrinho idiota, preconceituoso, estereotipado, feio. Só que associá-lo à pedagogia, essa "praga universal", não é menos idiota, preconceituoso, estereotipado, feio...
Peço-lhe, Ana Cristina, que me releve a contundência...
E permita-me ainda que conte, brevemente, uma pequena história.
Há mais de 20 anos, tive de assistir a uma aula de uma colega que estava a fazer a profissionalização em serviço. Estava também presente a sua "supervisora" académica. No fim da aula, a supervisora, dirigindo-se à minha colega, disse-lhe isto (sem ponta de ironia):
- Parabéns! Os alunos não perceberam nada, mas deu uma aula, tecnicamente, irrepreensível!
Eis, na prática, o que significa a ausência de pedagogia, essa... "praga universal"...

Anónimo disse...

Legendas:
1ª dupla: Bebé pensando no mitério da vida: «Quem sou, onde estou, para onde vou, por que aqui estou?»; um homem de barba rija e uma mulher de totós não é natural - pelo menos n os queria como pais.
2ª dupla:
Adão e Eva de lado um para o outro apresentam-se s/ t...; já de frente a coisa resulta (meninos conversem de lado uns com os outros, s.f.f.).
3ª dupla:
Coito "à maneira" seguido de tatuagens abdominais;
4ª dupla:
Tatuagem terminada; a roupa está a precisar de ser lavada;
5ª dupla:
Paisagem urbana com escola em fundo; a senhora dos totós está doente.
6ª dupla:
Há quem tenha a cabeça entre as pernas ou será Alien o 8º passageiro em acção?
7º ginástica feminina braçal com treinador pessoal; "obrigada, querido, sempre quis ter uma Barbie" - Mas agora vou lavar a roupa.
Como se pode verificar as legendas n têm graça nenhuma.
Tinha para aí 9 anos, os meus pais foram um bocadito mais técnicos e não precisaram de me fazer "um desenho"; explicaram-me sucintamente a anatomia da(s) coisa(s), chamaram os espermatezóides pelo nome, comparando-os ao pólen das plantas; tiveram a felicidade de não comparar óvulos com ovos porque seria difícil falar em cascas; mas lá me explicaram a maratona dos "zóides" e o fecho da porta do óvulo.
Acho q fui eu quem levantou a questão pq na escola umas colegas me tinham perguntado quantos irmãos éramos e dito q, então, "os teus pais tinham feito aquilo 3 vezes"; tb n me explicaram lá mto bem o q era "aquilo". Eu achei q estavam a inventar e fui perguntar aos então mestres da minha vida.
Nem neo-realismo, nem cegonhas. As coisas contam-se, c a imensa alegria que consiste em se gostar de transmitir "saber" aos outros, fazendo pontes comparativas para situações semelhantes e não se cora perante as perguntas difíceis dos garotos. É c eles, aliás, q se aprende.

Táxi Pluvioso disse...

Neo-realismo talvez não. Naif é possível.

O volume dois trata do Pai Natal. Para onde vão os mistérios da vida?

Ana Cristina Leonardo disse...

Agora falando sério... só um bocadinho.
Sobre pedagogia:
«Sob influência da psi­cologia moderna e das doutrinas pragmáticas, a pedagogia tornou-se uma ciência do ensino em geral ao ponto de se desligar completamente da matéria a ensinar. O professor —assim nos é explicado — é aquele que é capaz de ensi­nar qualquer coisa. A formação que recebe é em ensino e não no domínio de um assunto particular. Como veremos adiante, esta atitude está, naturalmente, ligada a uma con­cepção elementar do que é aprender. Para além disso, esta atitude tem como consequência o facto de, no decurso dos últimos decénios, a formação dos professores na sua pró­pria disciplina ter sido grandemente negligenciada, sobre­tudo nas escolas secundárias. Porque o professor não tem necessidade de conhecer a sua própria disciplina, acontece frequentemente que ele sabe pouco mais do que os seus alunos. O que daqui decorre é que, não somente os alunos são abandonados aos seus próprios meios, como ao pro­fessor é retirada a fonte mais legítima da sua autoridade enquanto professor. Pense-se o que se pensar, o professor é ainda aquele que sabe mais e que é mais competente. Em consequência, o professor não autoritário, aquele que, con­tando com a autoridade que a sua competência lhe poderia conferir, quereria abster-se de todo o autoritarismo, deixa de poder existir.»
Hannah Arendt, A Crise na Educação

ND disse...

Sabendo muito pouco ou nada, tive muito tempo para fantasiar a gosto. Acabei por vir a saber em conjunto com quem sabia só ligeiramente mais do que eu, ou menos, ou igual; dou graças por não me ter sido explicado por um adulto numa sala de aula com desenhos e legendas (ou pelos meus pais); não sei se teria aguentado (dessa forma) a realidade.

Anónimo disse...

Hannah Arendt repete as banalidades que lera a outros e que muitos outros repetiram depois dela: nesta matéria, a originalidade não a bafejou.
Eu, nestes debates, evito invocar a autoridade alheia, porque há autoridades para todos os gostos e feitios e os mortos não contraditam. Mas claro que percebo a atracção do músculo. É, aliás, esse mesmo músculo que está sempre na origem de todos os sistemas totalitários, como Hannah Arendt muito bem sabia.
Já Salazar, de resto, dizia: "se soubesses o que custa mandar, gostarias de obedecer toda a vida". A autoridade não se discute. O poder também não. E o conhecimento (ah! o conhecimento...), muito menos.
Eis, Ana Cristina, um pensamento verdadeiramente paradigmático...
Falemos da selecção, falemos da selecção...

Ana Cristina Leonardo disse...

não sei se teria aguentado (dessa forma) a realidade.

a imaginação é tudo, como percebeu o Borges (e obrigada por teres percebido onde queria chegar)

Falemos da selecção, falemos da selecção...

do cachecol pedagógico?

Anónimo disse...

Como diria o Esteves, da Tabacaria, cachecóis há muitos e para todas as serventias epistemológicas.
E bandeiras também...

Anónimo disse...

as aulas de educação sexual deveriam começar pela masturbação :)

Rui leprechaun disse...

Hummm... deixando as legendas de parte, que as não entendo, o único reparo que eu tenho a fazer à historinha é meramente técnico, embora infelizmente ainda seja bem real.

É que dar à luz deitada, numa posição quase horizontal, é um total absurdo anatómico, como é fácil de compreender. Na prática hospitalar, sempre se reclina um pouco o leito, provavelmente não mais do que uns 30 graus, suponho. Claro que a posição natural é mesmo de cócoras ou sentada, e é assim que se procede no parto na água ou nas cadeiras obstétricas. Só que aquilo que é mais cómodo para a mãe já não o é tanto para o médico e a parteira, e vice-vera, mas é um contrasenso que seja a comodidade destes a sobrepor-se à da parturiente, pelo menos nos casos em que se espera um parto sem complicações.

Enfim, para o fim em vista isso não me parece significativo nas ilustrações do livro. Logo, nada a obstar quanto aos teutónicos...

Rui leprechaun

(...cá dos Gnomos histriónicos! :))


PS: Já agora, um bom artigo sobre este assunto, por um médico brasileiro, o qual realça também a percentagem exageradíssima de cesarianas no Brasil, um problema de saúde que vem afectando igualmente Portugal.

A Humanização do Nascimento