23/05/08

Quando eu for grande também quero escrever prefácios dispensáveis

Tenho entre mãos um dos clássicos da literatura do século XX, Rayuela, palavra que no original significa «jogo da macaca», texto poderoso assinado por Julio Cortázar e traduzido (só) agora em Portugal pela Cavalo de Ferro.
Olho para a capa e concluo que é uma belíssima capa. Olho-a outra vez e leio: «Prefácio de José Luís Peixoto». Morre-se-me o entusiasmo. O que tem o crochet e o sentimentalismo pacóvio de Peixoto que ver com o experimentalismo e o rigor de Cortázar?
Fui ver, como o Augusto Gil.
Pois bem, vocês conhecem-se (esta é uma frase de efeito, naturalmente). Um quebra-cabeças de 631 páginas resumido a folha e meia? E coroado pelo título «Prefácio dispensável»? Solta-se-me a bipolaridade: da estranheza passo à irritação. Começo a ler. A meio do rol de coisa alguma, já passei da irritação à gargalhada.
Na tal folha e 1/4 (tentando ser mais precisa), o moço de Galveias consegue descarregar dois pianos, e cito:
1. «trata[-se] do livro incontornável de um autor incontornável na literatura do século XX»;
2. «estamos na presença de um dos mais importantes livros escritos na segunda metade do século XX».
Além disto: NADA. Minto (até ao dizer que minto), acrescenta: «Reparo agora que ainda não escrevi suficientes frases de possível citação na contracapa».
Fui ver, como o Augusto Gil.
Na contracapa: NADA. Grande es Dios.
E Cortázar, claro.

21 comentários:

ND disse...

diverti-me mesmo com este post.
se eu tivesse poderes este post ia aparecer inteiro na contracapa, ai ia, ia...

Anónimo disse...

"solta-se-me" e "morre-se-me"?
quanto ao peixoto: (espaço e ponto).

bruno.

ND disse...

e pode ser uma escorregadela algarvia ou uma sacanice ao crochet do outro...
a ver vamos!

Anónimo disse...

Cum catano... como se não bastasse o título insistiram no dispensável. É Oibra.......

Anónimo disse...

N. mão amiga, como soi dizer-se nestas aflições, passou-me um «acordo ortográfico algarvês» de dar estalinhos ca língua, déb....

Anónimo disse...

Cristina, não percebeste nada. O jogo da macaca é coisa de crianças; já os biceps injectados e as tatuagens são profundamente literárias. O Cortazár era um escritor de 2ª ou mesmo de 3ª. Além do mais era feinho e usava barba. O JLP está ali para dar um empurrãozinho. Imagina o James Joyce, o Vila-Matas, o Javier Marías, a Sophia e outros que tais a serem prefaciados pelo JLP. Era tiro e queda.

Anónimo disse...

Veja a coisa pelo lado positivo. Enquanto ele se dedica aos prefácios dispensáveis (que outro título seria mais acertado?) não escreve livros.

Ana Cristina Leonardo disse...

Bruno, tem toda a razão. Empolgada pelo «Morreste-me» cometi asneira (pois é, n, pelos vistos, a escorregadela sacaneou-me...)

fallorca, déb, estes hífenes ainda vão acabar com o português de portugal e dos allgarves

Sirod, fico assustada, porque muito provavelmente estás mais próximo da verdade do que pensas

rui g, seria bom. mas o problema é que ele escreve que se farta na mesma

Luis Eme disse...

há ódios assim, estimáveis...

Cristina Gomes da Silva disse...

Bom dia, Ana Cristina,
vim só para dizer que, depois de muito ter procurado, lá encontrei uma Joaninha para trazer para casa. Ainda não li todo, pois que o destinatário era o pública mais pequeno cá de casa. Pelos vistos ganhou, a B. (10 anos) leu-o de um fôlego e disse "Que história tão gira, é mesmo assim". A C. (4 anos) ainda anda a ouvir ler mas parece-me estar a gostar. Abraço

Ana Cristina Leonardo disse...

cristinags
que, depois de muito ter procurado

Cristina, se se quiser der ao trabalho de me dizer quais as livrarias onde não encontrou a joaninha, eu aviso a editora
(e muito obrigada por terem gostado)

G. Ludovice disse...

Acordei a pensar neste livro. Observei como caminhava até à feira do livro,antes mesmo de que me levantasse da noite.
Curioso que o tenha encontrado aqui blogado e com já um aviso humorado quanto ao prefácio dispensável.
Curiosidades..

Já agora: Gostei do seu livro.

Cristina Gomes da Silva disse...

Curiosamente, não o encontrei na Bertrand das Amoreiras, nem na mega Byblos. Só na Bulhosa.

Anónimo disse...

O seu livro estava em saldos há umas semanas na Feira do Livro da Estação do Rossio.

Em relação ao Peixoto vi-o a autografar hoje na Feira do Livro - a do Marquês de Pombar. Apeteceu-me cuspir-lhe e arrancar-lhes os piercings. Fazer-lhe mal; bater-lhe com um jornal na cabeça,dizer-lhe: vai para casa, engomar camisas.

Mas o mundo não está preparado para o Quim Seguro.

Ana Cristina Leonardo disse...

O seu livro estava em saldos há umas semanas na Feira do Livro da Estação do Rossio.

Desculpe lá, Quim, a Joaninha estava em saldos?! Por quanto? é que só custa 7 euros
(espero que tenha comprado meia dúzia...)
Quanto ao Peixoto, espero, não que lhe tenha batido, mas que lhe tenha perguntado: «Oh Peixoto, sabes jogar à macaca?» Aposto que ele não sabe

quim seguro disse...

Não comprei! O bicho quim seguro quando chegou à joaninha tinha gasto tudo no bicho Vila-Mattas!

Pá, criei um blogue! Se o bicho Nuno Markl consegue toda a gente é capaz.

Ana Cristina Leonardo disse...

acho mal

Menina Limão disse...

olha que bem, temos um ódiozinho de estimação em comum.

Rui leprechaun disse...

Olha! A Joaninha não gosta do Peixoto... excepto o livro primeiro, que foi também só esse que li por inteiro.

Pois eu acho-o nice e até foi o único escritor português, para além do ubíquo Paulo Coelho, que vi participar em blogs nacionais dedicados a livros. Bem, no antigo Sapo, onde também se revelaram duas autoras mais tarde publicadas: Sandra Costa e Ana Sousa... conheces as meninas, ó Leopardo divina?! :)

Quanto ao jogo da macaca... ó ternas recordações de há quantos anos?... milhões!

Que o meu nome é Dinossauro...

Rui leprechaun

(...mui excelente rei mauro! :))


PS: E escrevo como um macaco... bota na lata um pataco! :))

candida disse...

eu gosto-lo muito.

Anónimo disse...

curto peixoto e tu tens mas é inveja