«Cruel ironia. Na semana em que o Primeiro-Ministro descreve a economia portuguesa com mais uma das suas fórmulas trôpegas (“a selecção natural das empresas que podem melhor sobreviver está feita”), ficamos a saber, pelo Público, que nove empresários da restauração se suicidaram nos últimos três meses e 11 mil empresas do sector foram à falência.
José Manuel Esteves, secretário-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, acrescenta que se trata muitas vezes de “microempresas de cariz familiar, e por isso as consequências são ainda mais gravosas”.
O Governo, entendamo-nos, não pode ser directamente responsabilizado por estas mortes. Mas a frieza dos números mostra a realidade, na vida das pessoas, do “processo de ajustamento” que Passos quer fazer passar por natural, inevitável e certo como uma lei da ciência. Vivemos acima das nossas posses? Pois agora morremos abaixo das nossas posses. As espécies, quando não se adaptam, extinguem-se, lá dizia o Sartre.
Se o Primeiro-Ministro tivesse um bocadinho de mundo fora das jotas, das empresas dos amigos dos concursos ganhos pela mão do Dr. equivalente Relvas, saberia que há metáforas insultuosas. Sobretudo quando vêm de um parasita que sempre fugiu à “selecção natural” graças aos favores de hospedeiros bem colocados.
A selecção natural actua por pequenos passos, mas até as espécies condenadas à extinção podem perder a paciência.»
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4 comentários:
Excelente post!
É o neoliberalismo apropriadamente intitulado de "selvagem"...
Muito bem escrito!
"Um parasita que sempre fugiu à selecção natural graças a hospedeiros ..." CERTO!
Alberto
Não te inibas
bj
Alguns insectos, como as baratas, que não têm sangue, mas uma coisa pastosa branca, estão a resistir à selecção natural.
Quando, por vezes, são esmagadas, não são espectáculo bonito de se ver.
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