Que os velhos do Restelo pensem nisto: as toneladas de linguiças (sem trema) que passaremos a exportar para o Brasil valem com certeza a queda de um punhado de consoantes mudas.
Claro que o famigerado Acordo não impedirá que num ônibus (do latim, omnibus; variantes por “uniformizar”: autocarro, machimbombo, toca-toca, otocarro…) a passageira do lado me responda em inglês quando lhe pergunto se estamos muito longe do Centro, seguindo-se três oi! da parte dela para finalmente eu sair já íamos no Botafogo. (Abençoada fonética que me proporcionou tão bom passeio!)
Embora entenda o pendor mercantilista do Acordo, a que acresce uma salutar preocupação progressista que faria as delícias de Bouvard e Pécuchet (Que se lixe o latim que só serve para confundir o povo!), não pude, porém, deixar de elencar (v. tr.: “fazer uma elencagem”, seja isso o que for) algumas dúvidas recolhidas por aí.
O que faz um professor durante um ano letivo? Letiva? O que faz um espetador em frente da televisão? Espeta-la? E o que faz alguém ante um para sem acento? Continua a andar e pergunta “para… onde”? Num hotel, dirigimo-nos à recepção ou lembramo-nos da receção e regressamos a casa? E um medicamento ótico aplica-se nos olhos ou serve para tratar otites? O mês de Janeiro é maior que janeiro? A metafísica de Aristóteles é em ato ou não ata nem desata? Quem requer adoção é adoçante? E os habitantes do Egito são egícios? Uma presidente incontinente é igual a uma presidenta incontinenta? E fim de semana sem hífen tem quantos dias?
Esta última questão é particularmente pertinente derivado à crise.
8 comentários:
:)))Muito apreciei a utilização do derivado em tão pertinente contexto. :)))
Não me surpreende. Não é este o nível do futebol profissional e de quem está à volta dele?
Ivone, muito obrigada; afinal, se eles derivam, eu não posso porquê?
Anónimo, se fosse só o futebol...
Parece que vem daqui:
http://lishbuna.blogspot.com/2008/10/omnibus-autocarro-omnibus-de-paris.html
(claro que te vou roubar essa imagem linda)
João, as coisas que tu sabes!
:-)
Os habitantes do Egito, são egitenses ou egitanos. A cultura egitense é estudada pelos egitólogos.
Os egiptólogos ocupam-se de um país antigo estudado para além de Badajoz.
Ganda texto, dasse! :-)
(como dizem os brasileiros, a presidenta é coerenta: desde estudanta que diz o mesmo.)
Anónimo, obrigada
:-)
Ana, a língua portuguesa é lixada.
.-)
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