16/10/11

Que raio de democracia é esta que treme à vista de um ovo?

"A marcha partiu do Marquês de Pombal rumo a São Bento. Mas um ovo atirado contra a escadaria da Assembleia da República originou um situação de tensão entre os manifestantes quando a polícia foi deter a pessoa que terá feito o arremesso."
Lido AQUI

15 comentários:

Henrique Dória disse...

Argumentando com num suposto desvio colossal do défice das finanças públicas veio o governo anunciar o corte dos subsídios de férias e de Natal na função pública para os anos de 2012 e 2013.

Para além da falsidade da justificação da medida, não só porque Passos Coelho e a TRALHA que o rodeia tinham participado na elaboração do orçamento para 2011, mas também porque o ministro da finanças era um dos administradores de topo do Banco de Portugal, um facto ressalta aos olhos de todos: então só a função público é que é afetada? E porque o não são afetados os trabalhadores do setor privado, incorrendo o governo no risco de ver declarada inconstitucional a lei do orçamento por flagrante violação do princípio da igualdade?

Sobre isso o primeiro ministro na sua trágico-cínica comunicação ao país nada disse, nem o disseram os seus ministros.

Mas disse-o um dos doutores em economia que pululam nas nossas universidades (e muitos passam destas para o governo, e do governo para os grandes negócios), um tipo que dá pelo nome de JOÃO MIRANDA, no seu blog BLASFÉMIAS. Escreveu esse GÉNIO que não conseguiu conter-se e revelou o jogo do governo no dito blog, sob o título A MÃE DAS REFORMAS ESTRUTURAIS:



Não faz grande sentido pedir reformas estruturais no dia a seguir ao governo anunciar um corte de 15% nos salários da Função Pública (que se soma a um corte de 5% a 10%). O corte de salários da Função Pública é a grande reforma estrutural. A partir do momento em que os lugares na Função Pública deixam de ser os mais bem pagos, tudo se simplifica. Os institutos extinguem-se por si. As escolhas tornam-se óbvias. As resistências à mudança desaparecem. Pensem nisto: se a RTP for privatizada os funcionários passam a receber 13º e 14º mês. Revolucionário. O problema vai colocar-se ao contrário: como captar quadros para a Função Pública? Como suprir os serviços essenciais do Estado de gente competente? Que serviços essenciais o Estado deve prestar? A escassez de quadros e de recursos tornará a resposta a estas perguntas tão óbvia que não haverá sequer discussão.



Disse, mas ainda não disse tudo. O que ele não disse foi que através desta medida o governo pretende:

1º Criar uma marxista “exército industrial de reserva”, isto é, transformar a classe média que depende da função pública e é competente num exército de desesperados que aceita vender a suas capacidades a qualquer preço ao setor privado.

2º Promover uma colossal transferência de riqueza para os mais poderosos na execução da estratégia que já apelidei neste blog de A CONSPIRAÇÃO DOS ESCROQUES.

3º Desistir definitivamente da qualificação dos nossos TRABALHADORES e PATRÕES e na investigação científica e tecnológica como motores do nosso desenvolvimento

Ana Cristina Leonardo disse...

quando basta um ovo para originar tensão... estamos feitos ao bife...

Manuel Vilarinho Pires disse...

Atirar um ovo para o chão é uma grande javardice.
Atirar um ovo para o chão no meio de uma multidão entusiasmada com a "desobediência civil" contida no gesto continua a ser uma grande javardice.

Ana Cristina Leonardo disse...

Ó Manuel, olhe que uma manif. nem sempre é o chá das cinco... E, enfim, foi só um ovo...

Manuel Vilarinho Pires disse...

Ana, no meio da multidão vem à tona o que de melhor existe na natureza humana.
Pega-se fogo a bancários na Grécia como se pegava fogo a pretos no Alabama ou a um adepto do Sporting no Estádio Nacional. E atiram-se ovos para o chão.
Não discordo que os incendiários e os javardos sejam identificados pela polícia, uns para serem julgados por homicídio, os outros para lavar, ou pagar a quem lavar, a javardice que fizeram.
A malta da manifestação a proteger a identidade do javardo não é o chá das cinco. Mas a polícia de intervenção a identificá-lo também não é o chá das cinco...
Ou seja, mesmo que tenha havido uns insultos ou umas porradinhas, não se pode propriamente dizer que a democracia tremeu.
Já agora, não sei qual foi o resultado. O gajo foi mesmo identificado?

Pedro disse...

É tal e qual, Manuel. Começam por matar pretos do Alabama e acabam a atirar ovos para o chão. E casos há,inclusive, em que vão por aí fora e chegam mesmo a não dizer bom dia às pessoas no elevador.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Pedro, está bem visto.
Até os há que matam sindicalistas à pedrada.
O problema dos que não dizem bom dia no elevador é mais complicado de resolver. Enquanto os que matam podem ser condenados por homicídio, e os que atiram ovos podem ser obrigados a reparar os prejuízos que causam, porque alguém tem de os limpar e alguém tem de pagar a quem os limpa, os do elevador não causam prejuízos nem atentam contra a vida ou a liberdade de ninguém.
Não será melhor retirá-los desta lista para não complicar a nossa análise?

Pedro disse...

Manuel, a nossa análise já está irremediavelmente complicada, não adianta tirar nada. O Manuel conseguiu o absurdo de, a propósito de um ovo, meter aí os pretos do Alabama, e agora os sindicalistas mortos à pedrada, e eu continuo a prática surrealista, metendo a má educação num elevador. Ora vamos continuar e veja: Bem mais grave do que um ovo, um bocado de matéria orgânica, é um papel de rebuçado no chão. Se no caso do ovo, intervém a policia de choque, chama-se o exército para combater o que deita o papel para o chão?

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Pedro,

O ovo não vale, de facto, a tinta que estamos a gastar com ele.
Não sei se a sua óptica da gravidade comparada de um ovo no chão e de um papel no chão é partilhada, nomeadamente, por quem se arrisca a pisá-los, ou por quem tem de os limpar. Adiante...
Não estando lá, só posso especular. E sou capaz de especular que a policia de choque interveio, não por causa do ovo, mas por causa de a multidão impedir a identificação de quem o arremessou. Como disse a Ana, uma manif nem sempre é o chá das cinco.
O que conduz ao que aqui está em discussão.
Arremessar um ovo não é uma ofensa grave. Mas é uma ofensa.
Será tão ligeira que a policia não deva sequer identificar o autor para o que a Lei possa eventualmente determinar relativamente a ela? Se não fosse no meio da manif, mas no passeio à porta da minha casa (ou da sua), deveria conformar-me e limpar eu (ou o Pedro)? Eu acharia uma javardice e gostaria de ter meios de obrigar o javardo a limpar, se não o fizesse voluntariamente.
Perante uma multidão, a polícia deve-se abster de fazer cumprir a lei? Aqui, se calhar, não estamos de acordo. Eu, que já deve ter percebido que não sou apreciador da dinâmica das multidões, sejam elas claques de futebol, KKK encapuçados, ou manifestantes, acho que, na medida do possível, não deve ser permitido na prática aquilo que é proibido na lei, seja lá o que for e com a gravidade que tiver, só por ser cometido a coberto da multidão.
É evidente que esta posição, que é de princípio, deve ser temperada na prática pela utilização de meios proporcionais. Não tem sentido chamar o exército para uma ofensa cuja gravidade não o justifique.
Mas, neste caso, aparentemente, a polícia deve ter visto quem foi, e a polícia de choque estava lá, de modo que não é desproprocionado ter sido ela a intervir. Se fosse o polícia de giro a tentar interpelar o javardo, seria provavelmente impedido de o fazer e mesmo, quem sabe, agredido?
O que conduz à minha conclusão. Independentemente de um de nós achar bem que se tenham usado os meios disponíveis no local para identificar o infractor, e o outro achar mal, não se pode dizer que a democracia tenha tremido pela tensão causada nos manifestantes.
Mas, que foi uma javardice, foi...

Pedro disse...

Manuel, a tinta aqui é barata,podemos esbanjar à vontade. Se concordar, venho aqui mais logo à noite. Agora vou tentar ensinar pela enésima vez o meu puto a andar de bicicleta. Até logo.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Se eu puder, terei todo o gosto, desde que não seja para atirar ovos nem retribuir com bastonadas!

Olhe, o truque é dizer-lhe para pedalar e, uma vez que ele já tenha uma certa velocidade, largar o selim sem lhe dizer que já vai a andar sózinho.
Alternativamente, se ele for mais dado às coisas da matemática e da física, pode-lhe fazer um briefing sobre a aceleração de Coriolis... e se ele cair, no debriefing, pode explicar que a velocidade de rotação ainda não era suficiente para manter o equilíbrio...
Bom fim de semana!

Pedro disse...

Não adiante, ó Manuel, o miúdo é completamente azelha. E a bicicleta que foi tão cara e o capacete e tudo. Viemos para casa ver bonecos. Uma coisa que ele gosta é do Noddy. Acho que aí sim, na cidade do Noddy o Senhor Lei (é o policia de lá) interviria para prender o Mafarrico ou o Sonso por terem arremessado um ovo às escadas da ursinha Teresa ;).A sério, eu aqui na vida real nunca me passaria pela cabeça pedir a um policia comum para identificar quem me atirou um ovo à entrada de minha casa. Imagino a cara deles e o falatório na esquadra. Imagine agora um corpo de policia especial a fazer isso. A missão deles, naquele caso,era estarem quietos,firmes, à frente da AR,para evitar invasões,proteger um órgão de soberania, a democracia, por aí. O facto de eles se darem ao trabalho de sair da formatura para irem identificar no meio da multidão um atirador de um misero ovo, diz muito do nosso país. Graças a Deus. Que terão ele dito ao rapaz? Olhe lá, vá lá limpar aquilo, seu javardolas. Acha que é a senhora da limpeza que tem obrigação de limpar o ovo? Vá, caminhe, e assoe esse nariz.
Pronto,isto não é um jardim plantado à beira mar, que os jardins têm caracóis e lesmas,é mesmo um vasinho com um bonsai.

Ana Cristina Leonardo disse...

Pedro, basicamente, é isso. E boa sorte com as lições de bicicleta...

Manuel Vilarinho Pires disse...

Pedro, eu não tenho nenhum problema com essa sua perspectiva... se bem que, se o porcalhão tivesse atirado o ovo para a porta da minha casa, tê-lo-ia, se estivesse ao meu alcance, obrigado a limpar.
Mas, como cresci numa época em que, quando um miúdo era javardo, os pais lho faziam compreender através de um par de tabefes, sem serem perseguidos pela justiça sueca, e, surpreendentemente, consegui chegar aos 54 anos sem nenhum traumatismo psíquico que os que levei me tenham deixado, pelo menos de que tenha noção, também não tenho problema em ver um javardo que atira um ovo do meio de uma multidão, por se sentir inimputável a coberto dela, levar uns empurrões e um par de tabefes. Ou seja, não sou eu que vou fazer queixinhas à polícia sueca "senhor guarda, aquele polícia de choque bateu naquele menino que não estava mais do que a exprimir com criatividade e a irreverência própria da sua juventude a sua indignação com a crise".
E não sou adepto da violência policial... mas tenho-a visto aplicar em situações bem mais graves que esta que, nessas sim, acho que faz tremer a democracia.
Bom resto de fim de semana.

Ah, e não se esqueça que andar de bicicleta não exige perícia nenhuma, porque é a física, e não a perícia do ciclista, que se encarrega de manter a bicicleta de pé. Mas o medo do ciclista fá-lo cair. Pelo que, se ele pensa que vai agarrado, não tem medo, não cai, e quando percebe que já não vai agarrado e, mesmo assim, não caiu, perde o medo e passa a ser ciclista...

Pedro disse...

Obrigado, Ana Cristina. Não é por falta de empenho da minha parte:

http://www.youtube.com/watch?v=OaqxIXs_mn4&feature=results_video&playnext=1&list=PLCF36F9070FC9B2D0