12/04/11

A book a day keeps the doctor away: "Contra a Literatice e Afins", João Gonçalves

Terminada a leitura de Contra a Literatice e Afins, uma conclusão se impõe (entre outras): a objectividade pode ser, às vezes, muito subjectiva. Dito isto, acrescente-se que a frase anterior não tem carácter epistemológico mas tão-só idiossincrático: João Gonçalves zurze no que não gosta e exalta o que gosta de um modo que não deixa margem para dúvidas.
O poeta-padre José Tolentino Mendonça, por ex., Não [o] aquece nem arrefece com os seus rodriguinhos que deixam muita gente eminentemente respeitável em êxtase; já Manuel Teixeira Gomes lhe merece um texto compassivo e perspicaz: Era um sensualista que amava os prazeres indistintos que a vida lhe proporciona e que talvez se tivesse enganado, como outros, no lugar onde nasceu.
João Gonçalves, jurista, colaborador do defunto Semanário e autor do blogue Portugal dos Pequeninos, esclarece a abrir que fez um livro de breves notas e não de teses, no pressuposto elementar de que a literatura não é democrática. Aquilo que condena à cabeça é a literatice pela literatice, mal que reputa ter atacado em doses decididamente não homeopáticas o que passa por literatura portuguesa contemporânea. Pugna pelo gozo estético, citando Nabokov, e esgrime contra a proliferação das más ideias em torno da literatura.
O programa será vasto mas, posto assim, absolutamente consensual.
E será também por isso que o seu livro, cuja irreverência se presume, acaba por saber a pouco. Se era para “bater”, uns eram desnecessários e outros faltam.
Mas não fora para ler o seu argumento contra o acordo ortográfico valeria a pena: um ‘intelectual’ que fala em ‘uniformização da língua’ não é um intelectual. É uma besta.
Contra a Literatice e Afins, João Gonçalves, Guerra & Paz, 2011

8 comentários:

fallorca disse...

O «intelectual» foi sempre uma empertigadíssima besta

luis reis disse...

A começar pela besta do merdoso autor....
Repugnância, pela porcaria que vomitava no seu blogue, era o que sentia, quando visitava aquele Celiniano blogue.Hoje,somente desprezo.Nada.Zero.

Ana Cristina Leonardo disse...

luís, eu visito regularmente o portugal dos pequeninos. muitas vezes discordo, mas sempre apreciei o facto daquilo a que chama "celiniano" disparar em todas as direcções. Será de mim que aprecio, em geral, "gente com mau feitio" ( o mau feitio só é insuportável nos estúpidos).

João Gonçalves disse...

O Reis, sem querer, conseguiu fazer um elogio. "Celiniano" blogue. Bem haja, Luís, por existir como se diz nas feiras entre couratos e Mónicas Sintra.

James disse...

Como é que dix a Rose Byrne para o Brad Pitt num filme já velho ?

«I thought you were a dumb brute. I could have forgiven a dumb brute.»

;-)

luis reis disse...

Uma vez li algures,ai, como é que dizia a Rosinha?
Já sei : "Quem tem olho gordo, usa colírio diet".
Ups,e em português,que tal(;-)?
Quanto ao que a Sra "aprecia", ou não, o problema é seu.
Eu estou-me a borrifar, para certos "guros" da blogosfera, aos quais muitos parecem prestar enorme "importãncia".Problema deles, eu não entro nesse "coiro".
Quanto a Celine, remeto-a para Jorge Listopad...

Ana Cristina Leonardo disse...

Luís, posso tratá-lo por Luís e não por Sr. Luís?
O meu único guru é do tempo em que ainda não havia internet: chama-se Billy. Billy Wilder. E, por acaso, nem tinha mau feitio.
Quanto ao Celine, que grande escritor!

Carlos disse...

Antes de mais, uma achega numa conversa a que não fui chamado. Leio regularmente o que João Gonçalves escreve no Portugal dos Pequeninos, e serão mais as vezes em que estou em desacordo com o autor do que o oposto. Contudo, encontro ali uma 'humanidade' (haverá um termo mais adequado, mas penso que se percebe o que quero dizer) que escasseia em muitos blogues, sobretudo da esquerda moderna e gira, onde se defendem grandes causas (com as quais, aliás, estou de acordo) mas escasseia esse lado humano (e sobra ambição e vaidade pela proximidade do poder, ainda que ele seja a merda que é). Quanto a gurus, espero que ninguém os tenha nos blogues -- no mínimo, seria triste.

No que concerne ao livro, já li e achei o conteúdo heterogéneo. Em todo o caso, apreciei as palavras dedicadas a Jorge de Sena, Eduardo Prado Correia, Mário Cesariny e Rosa Montero (breves e certeiras, no caso desta última), entre outros, e achei que o autor podia ter ido mais longe nas que dedicou a, por exemplo, Fernanda Botelho e Natália Correia.