10/09/09

Dos modismos contemporâneos já detectados por Sabato em 1948 [ou de como os medíocres nunca dizem nada de novo]

«Foi quando já estávamos à mesa que a magra me perguntou que pintores preferia. Citei ignobilmente alguns nomes: Van Gogh, El Greco. Olhou-me com ironia e disse como se falasse para si:
Tiens.
Depois acrescentou:
― Aborrecem-me as pessoas grandiosas. Sempre te digo ― prosseguiu, dirigindo-se a Hunter ― que me incomodam esses tipos como Miguel Ângelo e El Greco! A grandeza e o dramatismo são tão agressivos! Não achas que é quase má-educação? Creio que o artista se devia impor o dever de nunca atrair as atenções. Indignam-me os excessos de dramatismo e de originalidade. Repara que ser original é de certo modo evidenciar a mediocridade dos outros, o que me parece de gosto duvidoso. Creio que, se pintasse ou escrevesse, faria coisas que nunca chamassem a atenção.
― Não duvido ― comentou maldosamente Hunter.
Depois acrescentou.
― Tenho a certeza de que não gostarias de escrever, por exemplo, Os Irmãos Karamazov.
Quelle horreur! ― exclamou Mimí, revirando os olhitos. Depois completou o pensamento ―: Parecem todos nouveaux-riches da consciência, incluindo esse moine, como se chama ele?... Zozime.»

O Túnel, Ernesto Sabato, página 91, Relógio D'Água, tradução de Francisco Vale, 2009 (reedição)

2 comentários:

Paulo disse...

hummm... nota mental: ver a luz... ver a luz...

Ana Cristina Leonardo disse...

depois conta