18/05/09

Eu vinha falar de coisas sérias mas oh caraças! o olhanense subiu à primeira divisão

Esclarecimento prévio: não faço ideia de quem seja o António Pina. Parece que é Presidente do Turismo do Algarve. Suponho que seja mais do Allgarve dado isto: Subida à primeira divisão terá impacto no turismo. Esclareço que me estou nas tintas para o impacto. Já não para isso do clube da minha terra ter voltado à primeira-divisão, mesmo se já não vejo futebol desde o dia em que um homem lindo de morrer chamado Zidane deu uma cabeçada num adversário, cena que, se pensarmos bem, podia ter sido tirada de um filme antigo do Scorsese.
Naturalmente, voltar à primeira-divisão não é a mesma coisa do que ser "Campeão do Algarve e de Portugal" como o foi o Olhanense em 1923/24. Mas para que não se ponham com piadas, deixo-vos com um naco de prosa retirado do nº11 da colecção Os Nossos 'Azes' do Foot-ball (Julho de 1924), dedicado ao jogador Raul Figueiredo, vulgo Tamanqueiro, jogador do clube da minha terra-natal.

"Cremos que foi Eça de Queiroz, esse espírito cintilante que marcou entre nós o advento da escola naturalista na nossa literatura, quem afirmou que Portugal... é Lisboa.
A afirmação sendo um pouco arrojada mas suficientemente argumentada pelo genial autor do Fradique Mendes, pode aplicar-se agora ao assunto que pretendemos abordar.
Queremos com isto tão somente demonstrar que o nosso biografado de hoje, sendo um dos mais completos estofos de jogador, é ainda quase desconhecido do público de Lisboa, a despeito de aqui ter efectuado uma série de jogos, todos eles conduncentes a uma apreciação que tem necessariamente de ser favorável ao simpático jogador do grupo Campeão de Portugal, em football.
Por isto mesmo, talvez, estamos convencidos que não faltará quem pretenda negar a classe do excelente jogador, modesto, quase humilde, que nós fomos encontrar no cais de Olhão, descalço e de calças arregaçadas, conduzindo cabazes com sardinhas, isto a despeito do tal profissionalismo que se diz existir no Algarve e que nós ainda estamos para saber onde é que existe. Note-se que nós falamos deste modo porque conversámos com todos os jogadores do Sporting Club Olhanense e que nos consta, nenhum deles possui rendimentos a não ser Francisco Montenegro, cuja família, aliás, tem meios próprios.
Fomos pois, propositadamente a Olhão colher elementos para a biografia de Figueiredo, mais conhecido pelo soubriquet de Tamanqueiro, que já agora será o nome porque o trataremos, visto ninguém em Olhão o conhecer pelo seu nome que não seja de Tamanqueiro.
O half-bach centro do Sporting Club Olhanense é um jogador forte, bem constitído e de um fôlego admirável.
O seu jogo afirma-se e impõe-se claramente pela precisão magnífica dos seus passes que são verdadeiramente modelares. Possui uma energia de ferro e uma colocação espantosa. Por isto mesmo, sendo um belo elemento na alimentação do ataque é um dos mais fortes, senão o mais forte esteio da defesa do grupo Campeão de Portugal.
Tem um shoot fortíssimo e seguro. As recargas são sempre perigosas e na marcação de penaltys é um marcador de primordial quilate. Tem um senão: a sua baixa estatura. Mas possuidor de um souplesse excepcional, os seus formidáveis saltos suprem quase a falta de estatura para o lugar que desempenha. O seu jogo de cabeça é verdadeiramente primoroso e matemático e as exibições que fez em Lisboa, nomeadamente a que fez na final do campeonato de Portugal contra o Football Club do Porto, são a segura garantia do que afirmamos. Possui uma grande mobilidade e pode dizer-se que é um primeiros dribleurs do país.
Como conseguiu então Tamanqueiro a sua classe bastante apreciável e que os seleccionadores têm de ter em atenção?
Pela intuição, simplesmente pela intuição. Tamanqueiro possui uma inteligência mais que modesta. Mas possui extraordinárias faculdades assimilativas que fizeram dele um dos primeiros players do país.
(...)"
E pronto. Viva o Sporting Club Olhanense!

8 comentários:

oxalá disse...

Passou à primeira divisão??
Caramba! Julguei que tinha passado à 2ª, à «divisão de honra»!
Sei da história do Olhanense. Aliás do Sporting Clube Olhanense que há uns anitos se passou para o Benfica.
Ainda não estou em mim! Vou-me atafulhar em bolas de Berlim e que viva lá o Olhanense, estrela maior do sotavento!

via disse...

essa aí é a equipa vencedora?!ehehe

Nuno Dempster disse...

Nisto de clubes não há más nem boas companhias. O Cavaco também fez uma festa, e eu, se fosse algarvio, ia às ameijoas e, do meio de cascas e copos, também dava vivas ao Olhanense.

Táxi Pluvioso disse...

Foi o melhor momento de Zidane. Futebol é um espectáculo, o preço do bilhete tem de render, se querem coisas suaves têm a tourada, que parece uma coisa de gays abanando-se histéricos, armados em fortes, perante um animal, condicionado para não lhes fazer muito mal.

sem-se-ver disse...

viva!!

:)))

Orlando disse...

Aqui no Brasil, mais precisamente em São Paulo, eu ainda desconhecia o glorioso Olhanense, e desconhecia ainda mais o crack Tamanqueiro; entretanto, o estilo derramado da crônica esportiva nada deve ao daqui na mesma época. Desejo boa sorte ao onze Olhanense (gentílico de onde? Olhão? Olhana?), e cumprimentos a quem tão bem por cá medita.

Ana Cristina Leonardo disse...

Muito obrigada a todos, em especial ao Orlando, de tão longe. (E é de Olhão o Olhanense...)

francisco disse...

Não sigo as coisas do Futebol, mas dou o meu viva a esse clube.
(e nem é preciso justificar!)