[...]
O orador (concluindo): – E foi assim, sr. presidente que se passaram os factos.
O Sr. Luciano de Castro (interrompendo com grandes punhadas na mesa): – O ilustre deputado tem estado simplesmente a dizer refinadíssimas petas...
Vozes: – Apoiado, apoiado!
O orador (voltando-se e desabotoando o colete): – Petas? oh! formidável patife! (apoiado, apoiado). Eu, sr. presidente, não posso consentir que esse celerado entre no meu foro interior!
Vozes: – Fora, fora!
O Sr. Luciano de Castro (interrompendo com grandes punhadas na mesa): – O ilustre deputado tem estado simplesmente a dizer refinadíssimas petas...
Vozes: – Apoiado, apoiado!
O orador (voltando-se e desabotoando o colete): – Petas? oh! formidável patife! (apoiado, apoiado). Eu, sr. presidente, não posso consentir que esse celerado entre no meu foro interior!
Vozes: – Fora, fora!
Uma voz suplicante: – Sr. presidente, estão-me aqui a dar pontapés (sussuro).
O Sr. Coelho do Amaral (espancando com grande dignidade o Sr. Barros e Cunha) : – E aqui está, sr. presidente, como se prova que o Sr. Barros e Cunha não tem razão alguma nos princípios que estabeleceu.
O Sr. Mariano de Carvalho: – Mas a ditadura foi nefasta! E não há biltre nenhum que me prove o contrário... (tira o casaco).
O Sr. Coelho do Amaral (continuando o espancamento): – Não me interrompam o discurso!
O Sr. Presidente (aos Srs. Mariano e Santos Silva): – Os senhores não têm direito a interromper sovas que o regimento garante (berreiro).
O Sr. Presidente do Conselho: – A Câmara está-se sepultando na mais profunda abjecção!
(O sr. presidente do Conselho sucumbe, sob uma chuva de bengaladas).
O Sr. Braamcamp (batendo com a bengala sobre a mesa, a um continuo) :–Dois cafés! Um cabaz!
Vozes (atravessando o corpo legislativo). –Salta, meia de Colares!
O Sr. Pinheiro Chagas (deitado, fumando com ar melancólico):
O Sr. Coelho do Amaral (espancando com grande dignidade o Sr. Barros e Cunha) : – E aqui está, sr. presidente, como se prova que o Sr. Barros e Cunha não tem razão alguma nos princípios que estabeleceu.
O Sr. Mariano de Carvalho: – Mas a ditadura foi nefasta! E não há biltre nenhum que me prove o contrário... (tira o casaco).
O Sr. Coelho do Amaral (continuando o espancamento): – Não me interrompam o discurso!
O Sr. Presidente (aos Srs. Mariano e Santos Silva): – Os senhores não têm direito a interromper sovas que o regimento garante (berreiro).
O Sr. Presidente do Conselho: – A Câmara está-se sepultando na mais profunda abjecção!
(O sr. presidente do Conselho sucumbe, sob uma chuva de bengaladas).
O Sr. Braamcamp (batendo com a bengala sobre a mesa, a um continuo) :–Dois cafés! Um cabaz!
Vozes (atravessando o corpo legislativo). –Salta, meia de Colares!
O Sr. Pinheiro Chagas (deitado, fumando com ar melancólico):
«Oh virgem pálida e triste
Branca visão doutros Céus!»
Branca visão doutros Céus!»
O Sr. Aires de Gouveia: – O que diz ele?
Vozes: – Ele cisma! Ele cisma!
A oposição atira cebolas ao Sr. Pinheiro Chagas. Alguns senhores deputados dizem obscenidades, que o ruído impediu que chegassem à mesa dos taquígrafos.
O orador: – A Câmara não quer escutar-me? Pois bem, eu passo a outros argumentos... (Distribui bengaladas).
Tumulto. O sr. presidente atira a campainha à cara da maioria, e o tinteiro aos queixos da oposição. Alguns senhores deputados miam de gato. O Sr. Santos e Silva, no auge da sua indignação dá cambalhotas. O Sr. Jota Moniz, no seu zelo pelos princípios, retira-se da sala. O Sr. Luís de Campos termina por distribuir, bem a seu pesar, uma prodigiosa quantidade de pontapés, com uma nobre imparcialidade.
O Sr. Presidente: – Para amanhã continua esta interessante discussão.
A Câmara sai correndo, gritando, rebolando pelas escadas abaixo.
Os contínuos levantam as garrafas de Colares.
Vozes: – Ele cisma! Ele cisma!
A oposição atira cebolas ao Sr. Pinheiro Chagas. Alguns senhores deputados dizem obscenidades, que o ruído impediu que chegassem à mesa dos taquígrafos.
O orador: – A Câmara não quer escutar-me? Pois bem, eu passo a outros argumentos... (Distribui bengaladas).
Tumulto. O sr. presidente atira a campainha à cara da maioria, e o tinteiro aos queixos da oposição. Alguns senhores deputados miam de gato. O Sr. Santos e Silva, no auge da sua indignação dá cambalhotas. O Sr. Jota Moniz, no seu zelo pelos princípios, retira-se da sala. O Sr. Luís de Campos termina por distribuir, bem a seu pesar, uma prodigiosa quantidade de pontapés, com uma nobre imparcialidade.
O Sr. Presidente: – Para amanhã continua esta interessante discussão.
A Câmara sai correndo, gritando, rebolando pelas escadas abaixo.
Os contínuos levantam as garrafas de Colares.
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in As Farpas, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão
Imagem encontrada aqui.
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3 comentários:
Muito bom. Belo filme que isso(s) dava(m).
Bons tempos, minha vizinha, bons tempos!
Agora, nem um espirro identificado!
Até na gripe continuamos na cauda da Europa!
Tenha uma santa noite, srª vizinha!
Manuela Pinha, empresária de distribuição de bolas de berlim nuas em Allgarve
Formidável patife
Espancando com grande dignidade
Prodigiosa quantidade de pontapés
Fantástico!
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