Não vou jurar, mas talvez não volte ao assunto. Nem vou repetir os factos: 17 putos ciganos de fraco aproveitamento, entre os 9 e os 19 anos de idade, foram agrupados num monobloco colocado no recreio da Escola Básica 1 de Lagoa Negra, em Barqueiros, Barcelos.
A notícia surgiu e, talvez porque metia ― de novo! ― a iletrada Moreira, deu estrilho. Ao coro dos indignados (alguns, certamente hipócritas, e que viram na ocasião uma mera oportunidade para malhar na defensora do Sócrates), juntaram-se outros que desconfiaram da história. O problema era o contentor? Seriam mesmo só ciganos? Que mal tem uma turma especial quando a conversa da "escola inclusiva" parece mesmo só conversa?
Ora bem.
1. Quanto aos contentores, repito mais ou menos o que já escrevi num comentário deixado no post anterior:
Eu realmente não percebo a que ponto teremos chegado para que se ache normal dar aulas em contentores, mesmo que lhe chamem monoblocos e venham apetrechados. Uma coisa é uma situação provisória a que os putos até acharão graça, como a tudo o que é diferente. Outra é considerar que dar aulas em contentores, em situação prolongada, é admissível... porque nós também tivemos. A única explicação que encontro para isto é que, definitivamente, nos devemos ter habituado ao horrível. Recordo apenas, como disse antes, que a respeitabilidade das instituições passa pelo espaço e pelos seus equipamentos. O presidente da república não vive numa barraca e os tribunais não se alojam em vãos de escada. O espaço das escolas é um aspecto que foi absolutamente descurado, para finalmente chegarmos aqui em que contentores why not?
2. Turma de ciganos
A turma é de ciganos, de acordo com todas as notícias, e eu não vejo, mas talvez me expliquem, o que é que do ponto de vista escolar poderá justificar a sua separação por etnia, a não ser que falem romeno.
3. Escola inclusiva
A escola devia ser inclusiva (apesar do termo ser um pouco arrevesado). Mas ter uma escola inclusiva não significa, claro, distribuir os problemáticos por turma e disso resultar apenas que os problemáticos continuam problemáticos e os outros não aprendem nada com o desassossego.
Para resumir: os contentores repugnam-me; que a autoridade do Estado e das suas instituições não sirva para assegurar às crianças ciganas a escolaridade a que têm direito, recorrendo-se depois a estes expedientes mal-acondicionados, indigna-me (embora não estejamos em Itália). Justificar isto tudo com a inserção social e a discriminação positiva acho absolutamente delirante (aliás, a própria expressão "discriminação positiva" me parece delirante).
Não quero ser pessimista: mas algum daqueles miúdos, com ou sem ar-condicionado, gostará de ir à escola? E se gostar, vai aprender o quê? Ou não é para isso que a escola serve?
17 comentários:
:)
Nem mesmo por só falarem romeno, precisam de conviver para aprender a língua do país que os ''acolheu''.
Ok.
Pela minha parte, e porque falei nisso, não é admissível porque eu tb tive. Só quis referir como me senti quando o vivi. Para dizer a verdade, quase nada do que eu tive (na escola) me parece hoje admissível para além da matemática e do português.
Ok, águas mais claras. Mas, mesmo assim:
1) Evidentemente que "contentores" não são lugar apropriado para aulas, tribunais ou blocos operatórios. São apenas mais um sinal do atraso que tende (sistematicamente) a tranformar soluções provisórias em situações definitivas. E, por este e por todos os outros, já deve ter passado miudagem de todas as idades, cores e nacionalidades.
2) Se for mesmo só "exclusão étnica", claro que é iníqua.
3) "Escola inclusiva": em tradução rigorosa de pedagogês para português, deve ler-se F R A U D E!. E significa - com raríssimas excepções - atirar para dentro do mesmo caldeirão/turma/escola putos com variadíssimos graus de deficiência, com constrangimentos sociais/económicos familiares aterradores, falem português, crioulo ou uzbeque, tenham 10 ou 16 anos, cadastro na bófia ou não. Entregues a quem saiba como lidar com eles ou não, tenha experiência disso ou não - só um exemplo: profª de 28 anos com o curso superior de flauta de bisel e NENHUMA experiência de dar aulas é colocada em escola oficial de "casa de correcção" a dar... português a jovens delinquentes - com o "apoio" de "psicólogos" que, de um modo geral, são de uma majestosa impotência (ah mas fazem muitas "baterias de testes"!...). Décadas disto tiveram o brilhante corolário de dezenas de milhares de... EXCLUÍDOS! Felizmente que, enfim, o Sócrates se lembrou das "novas oportunidades".
4) Não se trata, então, de fazer "discriminação positiva" ou como crl lhe preferirem chamar. É apenas uma questão de tratar cada tipo de problema como ele deve (e só pode) ser abordado.
Mas isto só num jantar até às tantas pode ser exaustivamente conversado...
o que pode ser interessante e produtivo como atitude é perceber como se pode ser eficaz na educação na formação na integração.
é preciso dizer que, muitas vezes, para chegar à comunidade cigana e a todos os outros que estão off é preciso ser criativo e tomar decisões participadas por todos os interessados (o que parece ser o caso).
É preciso perceber que há muitos que estão a ter um trabalho sério e democrático (a igualdade que se afirma no acesso à educação)e que esse trabalho não pode (não devia)ser inquinado pelas "indignidades" do politicamente correcto.
Até posso dizer que estes fins (o do acesso à educação para todos) justificam muitos meios (mesmo que dentro de um contentor).
Não gostaria de ser paternalista mas percebe-se bem que o João está (malgré lui?) no terreno.
joão nuno
Cara Ana Cristina:
Cá está o seu provedor para nunca deixar que perca a razão: "descurado"!
Veja lá isso (e tem toda a razão) :)
caro provedor anónimo, tem toda a razão e muito obrigada!
N, houve muito mais gente a referir isso; eu nunca tive aulas em contentores mas sou da opinião que nos habituamos a tudo: será uma característica da sobrevivência. não quer dizer que se justifique
joão, jante-se!
João Nuno (o joão nuno que eu estou a pensar?); pois, acho que temos de ser criativos - agora num contentor e tudo ao molho e fé em deus? já me parece que isso não é uma escola, será mais género ocupação de tempos livres compulsiva
"(o joão nuno que eu estou a pensar?)"
pois... ia perguntar o mesmo.
ACL & Cª, da maneira como o Ensino ficou e a generalidade de quem o ministra e «dá aulas», entre o contentor ou os «passos (do Ensino) perdidos», não existe difereça nenhuma.
fallorca, esqueceste-te do Lda.
sim penso ser o jn que estão a pensar. não era para dizer nada mas quando toca a jantares... aliás, estamos nos 30 anos VP
jn
30 anos VP?... epá, isso exige mesmo jantar!
jante-se!
Não sei como vim cá ter mas não resisto a mandar o meu bitaite.
Pode soar mal mas estamos tão habituados ao que fica bem dizer/ser que ocasionalmente recusamos que a realidade requer muitas vezes medidas menos politicamente correctas.
Não achei escandalosa a notícia sobre o que se passa em Itália. Sim, está lá um governo de direita com um líder parolo e fascista, mas eu vivi lá e os romenos/ciganos são uma autêntica praga. Roubos, homicídios, violações. São só eles que o fazem? Não. Mas veja-se o ratio de ciganos, sobretudo romenos, e italianos a cometer os mesmos crimes, e vai ver que se calhar a medida não é assim tão descabida. Muitos emigram apenas para mendigar e roubar!
É discriminatória? Os primeiros a discriminarem-se são os próprios ciganos! E o mesmo acontece no nosso país, com muitos deles ainda longe do que se passa em Itália, mas a não cumprirem os deveres de cidadãos que tanto reclamam ser quando lhes interessa.
Em relação aos contentores, eu tive aulas em contentores e não morri. E não tinha ar condicionado! Caramba, é mesmo assim tão horrivel ter material escolar, professores e um tecto para aprender?Tijolos fazem assim tanta diferença? São opiniões. A mim e aos meus colegas não fez.
Quanto à separação dos miudos ciganos, é outro assunto. Não tem qualquer cabimento miudos de 9 anos terem aulas com miudos quase 10 anos mais velhos, obviamente. Mas falta saber o que está realmente na raiz desta medida. Com que idade é que as crianças ciganas costumam deixar a escola? E porquê? Muitas são retiradas da escola pela família para não perderem a sua cultura e não serem influenciadas, para além de começarem a trabalhar e a constituir família mais cedo, claro. Criticar é fácil, mas se esta medida, ainda que mal aplicada, serviu para manter na escola ciganos que de outra maneira teriam saído, porquê criticar?
Em Portugal há já projectos piloto a funcionar que separam os bons alunos numa turma e os maus alunos noutra. A princípio apelidei de discriminatória esta medida, mas depois de muito conversar com um psicólogo com experiência em saúde escolar, consegui ver para além da fácil crítica. E se calhar esta medida aparentemente horrível resulta. E se resulta, siga com ela!
Sara, em jeito de resumo só lhe digo isto: nunca se deve acreditar no que dizem os psicólogos!
Ana, o psicólogo falou-me do projecto e posteriormente falou-me dos resultados, que eram mais proveitosos para a turma dos maus alunos do que para a dos bons. Mas é um assunto a investigar com mais calma um dia destes :-)
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