18/03/09

A ciganagem e tudo aquilo que já nos parece normal

Volto ao tema. Eu sabia que o assunto não era líquido. Mesmo expurgado das tricas partidárias que, realmente, não me interessam.
Factos: uns miúdos ciganos que, ao que parece, vêm mostrando alguma relutância em frequentar a escola, foram colocados, separadamente, num contentor e nele têm aulas exclusivas.
A bondade da solução foi defendida publicamente por Margarida Moreira que justificou o contentor (ou monobloco), e a diferenciação correlativa, como medida de discriminação positiva e de inclusão social.
Enquadramento: escusando-nos ao politicamente correcto, teremos de reconhecer que os ciganos não são lá muito bem vistos.
Só dois exemplos: aqui há uns tempos houve uma bronca das valentes que implicou a Mercedes, com o concessionário C. Santos a desaconselhar, em documento interno, a venda da marca aos ciganos. E também há uns tempos, um pouco mais recuados, em 1996, houve outra bronca das valentes, que meteu o então governador civil de Braga, Pedro Bacelar de Vasconcelos, que saiu em defesa dos ciganos que a população de Oleiros pretendia correr de lá.
Equipamentos: sublinho ainda que essa coisa dos contentores (mesmo que luxuosamente apetrechados e hermeneuticamente interpretados) não será com certeza a melhor forma de dignificar as escolas. Ninguém me disse, mas desconfio que a mania dos pré-fabricados abarracados que durante muito tempo dominou a paisagem escolar (quando, após o 25 de Abril, o número de estudantes, felizmente, aumentou em flecha), alguma coisa terá que ver com o declínio da respeitabilidade da mesma.
A discriminação positiva: claro que não há nada mais injusto do que tratar como igual aquilo que é diferente. Mas há direitos básicos. E o da educação é com certeza um deles. Neste aspecto, com o nomadismo das populações ciganas a descer consideravelmente, interrogo-me sobre as especificidades dessa comunidade que tenham implicações em matéria de educação.
Não falam português? Têm feriados à Quarta? Lêem da esquerda para a direita? Usam a numeração romana?
Será, no caso concreto, o grupo do contentor formado por alunos mais velhos que merecem um tratamento diferente. Sem dúvida. Mas o único tratamento diferente que ocorre é enfiá-los todos juntos dentro de um monobloco e fé em deus? Alguém acredita que, do ponto de vista escolar, e do ponto de vista da inserção social, isso contribua – realmente – para alguma coisa objectivamente positiva?
Pergunto-me: que raio de escola é esta, e que raio de sociedade é esta, que acha normal segregar alunos pela sua origem? Porque, deixemo-nos de tretas, é disso que se trata (ou não haverá na região mais nenhum aluno crescido para juntar ao grupo?), mesmo apondo-lhe o chavão magnânimo da discriminação positiva.
É que a mim, mas se calhar sou eu, a discriminação tout court cheira-me sempre a queimado.

10 comentários:

Guidinha Pinto disse...

Olá. Imagine, alguma vez, numa bicha de hipermercado, nos arredores de Lisboa, ver-se confrontada com esta situação: um cesto no chão, à sua frente, com algumas embalagens e parecendo abandonado. De repente uma mulher-avó com sua neta, de etnía cigana, vai e vem, carregando mais embalagens que vão enchendo aquele cesto. A caixa vai estando mais perto, mas de repente aparece a mãe da criança com mais dois cestos cheios e os priminhos e priminhas e resto da tribo ... empurrando, falando alto ... a tal ponto que tive de me chegar para trás para não cair. Abandonei a fila e fui para outra ao lado. Esperei de novo a minha vez de poder pagar e vir em paz para casa.
Ou no último dia do ano de 2008 estar à janela a comemorar a entrada de 1 novo ano no calendário e ouvir ao longe não foguetes, mas tiros. E de repente, ouvir uns sons estranhos e ver que são pequeninos chumbos que começaram a chover sobre o que me circundava ...
Somos todos iguais. Somos todos muito diferentes. Quem aceita con-viver numa sociedade ocidental, ter um teto sem pagar renda, ter direito a subsídios, à saúde, ao ensino ... tem forçosamente de aceitar as regras ... e é-lhes muito difícil. Imposeram-nos a con-vivência. Mas não con-vivemos. Muito diferentes, muito desiguais.
Boa tarde.

João Lisboa disse...

1 - Estar de acordo (mesmo que só aparentemente) de acordo com qualquer medida defendida pela Moreira não fica bem no currículo de ninguém. Merda!

2 - Os ciganos não são lá muito bem vistos e, de um modo geral, por muito boas e respeitáveis razões:

a) a chamada "cultura cigana" é um aterrador caldeirão de xenofobia feroz (do cigano para com o não cigano), de machismo/marialvismo (se é que chegou a frequentar a escola, rapariga cigana que atinja a puberdade, volta para casa, trata de arranjar noivo, casar, procriar e ficar ao serviço de marido e rancho de filhos "que é pró que elas servem"), de exploração infantil (mesmo que sejam bons alunos, ir com os pais para a feira e faltar sistematicamente à escola está sempre à frente de qualquer outra prioridade) e de envolvimento generalizado (sim, não é "por causa de uns pagam todos", é mesmo cena social viral e negá-lo piedosamente só contribui para eternizar o problema)da comunidade em negócios ilícitos como é o caso EVIDENTE do tráfico de droga;

b) se retirarmos toda a a) à "cultura cigana", resta o (de facto, decrescente) nomadismo - oh o lirismo dos "filhos do vento"!... -, a música, e, na maioria, uma arrepiante beatice católica que, quando o politicamente correcto e o "direito à diferença" não nos tolhem, muito de nós não se coíbem de zurzir.

c) Ficamos, portanto, apenas com... gente. Tipos iguaizinhos a nós que, no caso dos putos (e, há mais anos, dos pais), tiveram o azar filho da puta de nascer ali.

3 - Repito: ainda me faltam muitos dados para juízo definitivo (só com "notícias de jornal e tv" não vou lá). Mas, dando como bom o que se "sabe", só a imagem do "contentor" é que fica mal no retrato. Porque, se fosse numa sala de aula "normal", não só é correcto como recomendável constituir turmas diferenciadas (de alunos mais velhos, que não tenham o português como língua-mãe, que tenham problemas complicados de aprendizagem, etc, quer sejam todos ciganos, todos pretos, todos moldavos, todos brancos ou nas infinitas combinações de tudo isto) e entregar essas turmas a quem tenha formação e vocação para lidar com elas. O gigantesco crime da "escola inclusiva" foi sempre o oposto: misturar os dois ou três "problemáticos" em turmas "normais" com professores "normais" e pedir a estes que sejam "amigos", "solidários", "imaginativos", que façam "adaptações curriculares" e que sejam, inevitavelmente, incompetentes. O resultado de décadas disto não podia estar mais à vista.

4 - O que me falta essencialmente é perceber em que medida o racismo-tipo-trolha poderá ou não ter estado na raiz da "opção". E se os putos não foram chutados para o "contentor" para que professores sem qualquer formação nem apetência para lidar com eles (e que não possam recusar o horário...) se desenmerdem... porque, se não se tratar disso, por mim, nada a opôr.

Voilá!

pvnam disse...

---> Não há pachorra para andar a aturar:
1- nem os Parasitas Intolerantes [vulgo parasitas brancos, a maioria dos europeus: como não constituem uma SOCIEDADE SUSTENTÁVEL - isto é, uma sociedade dotada da capacidade de renovação demográfica -, eles (os Parasitas Intolerantes - vulgo parasitas brancos) procuram infiltrar-se em qualquer lado: quer importando outros povos para a Europa... quer deslocando-se para o território de outros povos...],
2- nem os Predadores Insaciáveis [Africanos, Mestiços, Árabes, Asiáticos,... que estão numa corrida demográfica pelo controlo de novos territórios...],
SEPARATISMO JÁ!


NOTA: Não será a criação de reservas naturais... mas sim, porque os Predadores Insaciáveis não são de confiança, separatismo puro e duro: ou seja, a criação de Estados Étnicos dotados de eficientes EXÉRCITOS para auto-defesa!...



ANEXO 1:
TODOS DIFERENTES!!! TODOS IGUAIS!!!
Isto é, TODOS os Povos Nativos do Planeta Terra:
-> INCLUSIVE os de 'baixo rendimento demográfico' (reprodutivo)!...
-> INCLUSIVE os economicamente pouco rentáveis!...
devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no Planeta!!!

ANEXO 2:
Contrariando aquilo que os espertalhões da Inquisição Mestiça pretendem... não devemos ser Fundamentalistas!!!... Assim sendo, devem ser considerados NATIVOS todas as pessoas com, pelo menos, x % de GENES TÍPICOS NATIVOS... ( nota: x% -> a definir por uma comissão científica )

João Lisboa disse...

... lá está: ignorar que o problema existe, dá nisto... felizmente que - por enquanto, por enquanto... - ainda é só uma franja de lunáticos...

Ana Cristina Leonardo disse...

joão, não vamos ignorar que o problema existe. Mas, como tu próprio escreves lá pelo meio

Ficamos, portanto, apenas com... gente.

Ora bem, por isso mesmo perguntei, no meu post, sobre as especificidades dos ciganos que tenham implicações em matéria de educação. Se o Estado se demite das suas obrigações, e não assegura que as crianças ciganas frequentem a escola, tal como as outras, não é metendo os putos num monobloco mesmo com ar-condicionado, em nome da integração social e da discriminação positiva, que o problema se resolve.
Em segundo lugar, a história de que o contentor é que fica mal no boneco. Mas alguém no seu perfeito juízo acha putos metidos naquele contentor exclusivo, assente sobre um descamapado térreo e desolado (não precisas de lá ir, olha para as fotografias)estão a ser discriminados positivamente e integrados? Integrados onde? Num contentor?!
São putos crescidos. Ok, precisam de aulas especiais. Mas, então, porque é que são todos putos crescidos ciganos? Os ciganos falam uma língua diferente?
Desculpa lá, João, mas a questão aqui não é se estás - merda! - com a Margarida Moreira. A questão aqui é que isto é uma fantochada que se tenta justificar, precisamente, com o politicamente correcto!

João Lisboa disse...

"Se o Estado se demite das suas obrigações"

"O Estado" é uma abstracção demasiado grande. É preciso dar nomes e moradas: professores? directores de turma? responsáveis da escola? Comissão de Protecção de Menores? DREN?...

"alguém no seu perfeito juízo acha que putos metidos naquele contentor exclusivo (...) estão a ser discriminados positivamente e integrados?"

OK. Então só para eu perceber melhor (não é uma "trick question", juro, é mesmo para perceber): se, em vez do contentor, fosse numa sala de aulas igual às outras, no sítio das outras, já não seria errado? (eu acho que não, não seria erro nenhum)

"Mas, então, porque é que são todos putos crescidos ciganos?"

Essa era exactamente uma das coisas que eu precisava de esclarecer melhor.

Mas - falo por experiência -, muitas vezes, quando se constitui turmas desse tipo, às tantas repara-se que os malditos determinismos sociais geraram turmas monocolores... nesse momento, o pior inimigo é o que, beatamente, diz: "ai, assim não pode ser..."

ND disse...

"se, em vez do contentor, fosse numa sala de aulas igual às outras, no sítio das outras, já não seria errado? (eu acho que não, não seria erro nenhum)"
Calma, calma...
em tempos, por falta de espaço, tb eu tive aulas num contentor. Gostei. Era diferente, fixe. No presente por vezes 'habito' um contentor e garanto que, hoje, os há com muito mais condições do que uma sala de aula de uma qualquer escola já com alguma idade.

ND disse...

não estou a par deste assunto, só ouvi aqui e ali, mas o que eu gostava mesmo de saber era o que acharam e acham disto as matriarcas desse ajuntamento de ciganos.

Ana Cristina Leonardo disse...

Eu realmente ainda não percebi a que ponto teremos chegado para que se ache normal dar aulas em contentores, mesmo que lhe chamem monoblocos e tenham ar condicionado. Uma coisa é uma situação provisória a que, naturalmente, os putos acharão graça, como a tudo o que é diferente. Mas achar que dar aulas em contentores, em situação prolongada, é admissível - a única explicação que lhe encontro é que definitivamente nos devemos ter habituado ao horrível. Só recordo aqui, como digo no post, que a respeitabilidade das instituições passa pelo espaço que ocupam. O presidente da república de portugal não vive numa barraca e os tribunais não são em vãos de escada. O espaço das escolas é um aspecto que foi absolutamente descorado, para finalmente chegarmos a este ponto em que contentores é fixe. este mundo não é, definitivamente, o meu.
sim, joão, os contentores indignam-me; sim, fazerem turmas só de ciganos indigna-me, e justificar isto tudo com a inserção social e a discriminação positiva dá-me vótimos.
Acho que vou fazer disto um post

David Fernandes disse...

A posição de princípio está muito bem, pois claro. Mas é só. O resto, o resto é treta.
Somos todos iguais? Então não somos. Vá lá dizer ao pai cigano que o considera igual a si e que quer casar o seu filho com a ciganita dele.