Soube através de um post no 5 Dias que o João Mesquita tinha morrido. Não via o João Mesquita desde finais de Setembro, e antes disso estive muitos anos sem vê-lo. De vez em quando cruzava-me com alguém que tinha estado com ele, e eu invariavelmente rematava a conversa com um “gosto tanto do Mesquita!” Não me perguntem porquê.
Para mim, o João Mesquita faz parte de um tempo antigo, anterior ao 25 de Abril, em que éramos ambos estudantes e estudantes do MAEESL e eu por vezes dormia na sonora de Ciências. Já então gostava dele. Continuei assim anos fora e acho que na verdade consigo explicar porquê.
Dão-me sempre vontade de rir as classificações de A ou B, porque vindo daqui ou de acolá, politicamente falando. É verdade que a extrema-esquerda, opinião e experiência minhas, possuía um superavit sobre a oposição do costume, que lhe viria provavelmente da sua juventude e daquilo a que então se chamava “falta de consciência de classe”. Mas mesmo na extrema-esquerda nem todos andavam ao mesmo (como se comprova pelos cargos de poder ocupados hoje por tantos…).
João Mesquita sempre me pareceu daqueles a quem o poder não dá cócegas. Seria por isso que gostava dele, enquanto com outros partilhava apenas a barricada sem lhes dedicar grande afecto, um conceito que na altura, aliás, não era para ali chamado.
Vai parecer estúpido, e é estúpido com certeza, mas o que recordo mais do João é o seu tique de esfregar o nariz e o bigode passeando depois a mão pelo franja do cabelo muito escuro e muito liso, um gesto que vá-se lá saber sempre associei a origens proletárias, até que muito mais tarde soube que era filho de juiz.
Também me lembro da voz – “Camaradas!” – a perna apoiada numa cadeira e o corpo magro inclinado para a frente, discursando em reuniões de que ninguém já se lembrará bem dos temas, para aí entre a preparação de uma greve e as lições do Enver Hodja.
Eu gostava do Mesquita. Teso. Teimoso. Secretamente apaixonado pela namorada do chefe, franzino no meio dos tipos do Passos Manuel que jogavam basketball e faziam uns três dele.
Depois foi jornalista, chegou a presidente do Sindicato e outras coisas importantes. Acabou por se incompatibilizar com o poder, como lhe estaria nos genes. Morreu hoje. Tinha um nome até pomposo: João Bernardo Bigotte da Costa de Mesquita. Para mim será sempre o João Mesquita do Passos.
Para mim, o João Mesquita faz parte de um tempo antigo, anterior ao 25 de Abril, em que éramos ambos estudantes e estudantes do MAEESL e eu por vezes dormia na sonora de Ciências. Já então gostava dele. Continuei assim anos fora e acho que na verdade consigo explicar porquê.
Dão-me sempre vontade de rir as classificações de A ou B, porque vindo daqui ou de acolá, politicamente falando. É verdade que a extrema-esquerda, opinião e experiência minhas, possuía um superavit sobre a oposição do costume, que lhe viria provavelmente da sua juventude e daquilo a que então se chamava “falta de consciência de classe”. Mas mesmo na extrema-esquerda nem todos andavam ao mesmo (como se comprova pelos cargos de poder ocupados hoje por tantos…).
João Mesquita sempre me pareceu daqueles a quem o poder não dá cócegas. Seria por isso que gostava dele, enquanto com outros partilhava apenas a barricada sem lhes dedicar grande afecto, um conceito que na altura, aliás, não era para ali chamado.
Vai parecer estúpido, e é estúpido com certeza, mas o que recordo mais do João é o seu tique de esfregar o nariz e o bigode passeando depois a mão pelo franja do cabelo muito escuro e muito liso, um gesto que vá-se lá saber sempre associei a origens proletárias, até que muito mais tarde soube que era filho de juiz.
Também me lembro da voz – “Camaradas!” – a perna apoiada numa cadeira e o corpo magro inclinado para a frente, discursando em reuniões de que ninguém já se lembrará bem dos temas, para aí entre a preparação de uma greve e as lições do Enver Hodja.
Eu gostava do Mesquita. Teso. Teimoso. Secretamente apaixonado pela namorada do chefe, franzino no meio dos tipos do Passos Manuel que jogavam basketball e faziam uns três dele.
Depois foi jornalista, chegou a presidente do Sindicato e outras coisas importantes. Acabou por se incompatibilizar com o poder, como lhe estaria nos genes. Morreu hoje. Tinha um nome até pomposo: João Bernardo Bigotte da Costa de Mesquita. Para mim será sempre o João Mesquita do Passos.
3 comentários:
Bigotte? Fantástico, não sabia disso.
não são os espanhóis que dizem que se os filhos da puta voassem nunca mais se via o sol?tantos hipocritas não lhe parece?
Acabado de sair do Colégio Valsassina, onde para além de se apanhar gafanhotos e jogar á pedrada com os ciganos, também se aprendia, entre outras coisas, a tocar piano e a falar francês, ingresso no Passos Manuel (Liceu) para iniciar o ensino secundário. Escolhido por ser o estabelecimento de ensino secundário mais próximo do Conservatório Nacional, instituição onde deveria continuar a minha aprendizagem artística, o Liceu Passos Manuel foi onde o menino de colégio despertou. O despertar precoce para a vivência da luta estudantil foi uma realidade para a qual contribuíram nessa altura entre outros, a Mila, o Marcelo, o Saraiva, o Alves, o "Mancha", mais alguns outros e claro está o Mesquita. Lembro-me bem dele, um homem feito, bigode, mais velho que eu oito anos, imagine-se eu um miúdo acabado de chegar ao secundário, conversando com o Mesquita acerca de como mudar o mundo. Sim, o Mesquita era sábio a dialogar, mesmo com os putos, tinha sempre uma disponibilidade total. Apesar de mais caustico aquando das suas intervenções plenárias (RGA's), lembro o Mesquita como sendo alguém genuinamente bom, honesto. Na época, essa postura valeu-lhe uma agressão cobarde e um traumatismo craniano.
Do Mesquita , de quem apenas fui colega de liceu, tenho a convicção de que era um homem integro, e de que outros traumatismos durante a sua vida profissional sofreu, devido á sua honestidade, rigor e ética.
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