20/03/09

Ah! como a inteligência pode ser afrodisíaca mesmo quando o assunto é a crise


(...) o sistema capitalista exige uma permanente dinâmica de expansão para não cair. É um sistema parecido com a bicicleta, só que gigantesco. Hoje com 60 biliões de dólares de bens e serviços produzidos anualmente, para 6800 milhões de pessoas, estamos produzindo cerca de 8 mil dólares por pessoa e por ano. Isto significa quase três mil dólares por mês por família de quatro pessoas. Ou seja, com o que produzimos hoje, todos poderiam viver de maneira digna e confortável no planeta. O problema é que o sistema produz, mas não sabe distribuir. Daí a necessidade funcional de um outro equilíbrio entre o Estado, as empresas e a sociedade civil organizada. O planeta está implodindo com os absurdos consumistas de um lado, com os dramas sociais de outro. O Japão está saturado, o japonês poupa mais, porque também já não sabe onde colocar mais uma televisão, mais uma bicicleta ergonómica. (...)

(...) As empresas de auditoria, com todos os seus códigos de ética, eram consultoras de quem controlavam, uma mão lavando a outra, como no caso da Artur Andersen. Os governos que deveriam regular o sistema financeiro, são constituídos por pessoas eleitas com o dinheiro das corporações. Como pode existir um sistema de regulação e controlo quando os reguladores são, de alto a baixo do sistema, pagos por quem devem regular? O Greenspan é simpático, pois confessa as maldades, inclusive as razões da guerra com o Iraque. Só que confessa, lamentavelmente, depois. No Tesouro entrou um executivo da Goldman & Sachs. Tutti buona gente. Mas sem dúvida que a revogação do sistema de regulação financeira nos Estados Unidos, no final dos anos 1990, foi rigorosamente um ataque organizado contra a economia real, batalhado pelos grandes especuladores, e vale a pena ver como se deu a votação. (...)

(...) Temos uma economia mundializada, enquanto os instrumentos políticos são nacionais. Isto gera um imenso vazio de governança planetária, que permite não só a malandragem dos grandes grupos financeiros (inclusive com os seus criminosos paraísos fiscais), mas também os excessos das corporações do petróleo, das grandes empresas de intermediação de grãos ou de produção de gado que pressionam a desflorestação da Amazónia e de outras regiões, do oligopólio farmacêutico que se esqueceu completamente de servir a saúde das populações e assim por diante. De SIDA, já morreram 25 milhões de pessoas. De malária, morrem 2 milhões ao ano. Os oceanos estão tornando-se desertos, quando se trata da principal base de vida do planeta. Tudo isto não é crise? (...)

Excertos de uma entrevista com o economista Ladislau Dowbor, que pode ser integralmente lida aqui.