09/02/09

Morreu Eluana Englaro

Rodeado por uma polémica pouco edificante, foi confirmado ontem, segunda-feira, o óbito de Eluana Englaro, após 17 anos em coma e dois em estado vegetativo persistente, segundo notícia que leio aqui. A questão da eutanásia é demasiado complexa e demasido séria para ser tratada em três penadas num post, mas um dos argumentos avançados por Sílvio Berlusconi para se opor ao desligamento das máquinas era tão tão gore que não consigo deixar de evocá-lo. Afirmou o primeiro-ministro italiano que Eluana è una persona viva, respira, le sue cellule cerebrali sono vive e potrebbe in ipotesi fare anche dei figli ...
O domínio técnico actual chega a permitir que possam nascer bebés de mães clinicamente mortas mas, neste caso, alegar a funcionalidade do sistema reprodutor de Eluana Englaro só em razão de algum fetichismo necrófilo. Talvez apenas Jörg Buttgereit para se lembrar de uma barbaridade destas. Não consta, porém, que o Vaticano goste muito do realizador alemão, ao contrário de Berlusconi de quem gosta muito.

5 comentários:

Anónimo disse...

Atenção: este não é um caso de eutanásia.
A recusa de tratamento está prevista na lei e na deontologia médica, pode e é praticada em Portugal (felizmente nunca em nenhum caso mediático).
Na recusa de tratamento o paciente, devidamente informado, recusa prosseguir um tratamento que à partida é ineficaz preferindo optar por uma vida mais curta mas, eventualmente, com maior qualidade entregando-se (para quem for crente) à vontade de Deus.
Na eutanásia a morte é causada a pedido do próprio.

A grande causa do mediatismo é que Eluana não o pôde recusar o tratamento, fizeram-no os pais e o tribunal.

Ana Cristina Leonardo disse...

anónimo, obrigada pelo esclarecimento. falei em eutanásia num sentido lato (nestes casos, de qualquer forma, se o paciente não deixou expressa a sua vontade, alguém vai ter de dicidir por ele). Isso não retira, de qualquer forma, que o argumento avançado pelo primeiro-ministro italiano que cito aqui me pareça uma ideia completamente repugnante

F disse...

No filme Hable con Ella, Pedro Almodóvar apresenta-nos uma história que fará, certamente, as delícias de Berlusconi (quem sabe se não era numa situação destas que ele estaria a pensar quando proferiu essas palavras). Salvar vidas, engravidando senhoras em coma.
:))

Anónimo disse...

Sempre que leio esta notícia e o argumento de Sílvio Berlusconi, uma ideia me assome ao espírito - a mulher comparada a uma chocadeira eléctrica, cingindo vidas numa onda de calor e - mais nada!

Victor Gonçalves disse...

O que Berlusconi faz, talvez sem o saber, é desvalorizar o próprio conceito de vida, é que ela só subsiste num certo registo de vitalidade complexa. Desta forma, os defensores da vida são, afinal, os seus apostatas.