21/02/08

Os Maias contado às crianças por José Luís Peixoto. Volto, pois, a perguntar: «porque lhes dais tanta dor?!»

O semanário Sol, cujo director ainda há pouco jurava que nunca venderia nada além do seu próprio jornal, acaba de lançar uma edição de clássicos portugueses adaptados às crianças.
Começo por esclarecer que não me move nenhum princípio contra adaptações e resumos (o que seria do A la recherche...). Estranhei, contudo, a adaptação d' Os Maias, e para mais logo a abrir. Mais estranhei a escolha do autor que levaria a cabo a tarefa: José Luís Peixoto. É que entre o crochet deste último e a inteligência de Eça, dava-me para vários cachecóis e ainda me sobrava lã.
Resta a pergunta: porquê Os Maias? Em que é que esta literatura adulta poderá interessar às crianças? Não será um bocado cedo para lhes falar do incesto, mesmo com educação sexual escolar?
Esticando a faixa etária: serão os jovens incapazes de ler Eça no original?
Verdade, verdadinha, o que me preocupa é o seguinte. Primeiro, e sobretudo, que não deixem as crianças em paz; segundo, que ao lerem Eça via Peixoto, acabem todas na idade adulta a elogiar Coelho, O Alquimista.

15 comentários:

Anónimo disse...

Esta musiquinha é dedicada ao José Peixoto e à literatura que ele representa

Anónimo disse...

Uma bela passagem da Relíquia do Eça:

«Ah! se pudesse! Mas irrecusáveis eram os mandados da Titi! E, por amor do seu ouro, lá tinha de ir à negra Jerusalém, ajoelhar diante de oliveiras secas, desfiar rosários piedosos ao pé de frios sepulcros...

- Tu já estiveste em Jerusalém, Alpedrinha? - perguntei, enfiando desconsoladamente as ceroulas.

- Não senhor, mas sei... Pior que Braga!

- Irra!»

ND disse...

realmente!... (que coisa mais estúpida, raios)

João Lisboa disse...

Não há cu para o Peixoto.

João Lisboa disse...

Não há cu para o Peixoto.

Cristina Gomes da Silva disse...

Boa noite, Ana Cristina,se é que serve para alguma coisa, vim só para sublinhar o seu post. Quando o Eça era obrigatório (tenho 44) li-o para aí 4 vezes, sempre com um prazer renovado. Não consigo tragar o JLP e tb não entendo essa "programação" do Sol. Tenho firmes intenções de afastar as minhas crianças (tenho 2 raparigas) dessas adaptações redutoras e melosas, mas o sucesso dá nisso...até parece mal dizer que não se gosta, a mim pelo menos olham-me de lado.

menina alice disse...

"É que entre o crochet deste último e a inteligência de Eça, dava-me para vários cachecóis e ainda me sobrava lã." :D:D:D:D:D:D

A gozar com os sentimentos das pessoas...

Luis Eme disse...

Eu gosto do Eça e do Peixoto...

sem problemas.

Ana Cristina Leonardo disse...

Caro Luís, peço desculpa, mas isso é uma contradição nos termos

Anónimo disse...

Quais criancinhas qual carapuça.
Eça+Peixoto=$$$

Clássico+Namoda é para o menino e para a menina e, sobretudo, para os pais, tios e padrinhos que se tornam logo especialistas em "Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea".

Só é pena não haver prémios de fazer crescer água na boca como os da "Reader's Digest".

João Ventura disse...

Como reagiria, por exemplo, um arquitecto se um outro arquitecto pegasse na sua obra (obra de autor, assumida como tal) e mexesse nela, a adaptasse?... Mal, necessariamente, e com passagem pelos tribunais. Como pode um escritor mexer na obra de outro escritor, adaptando-a às criancinhas, em correspondência aos tais «trapezistas do marketing», homens de mão dos «homens de negócios» que estão por todo o lado, nas editoras, nos jornais, entrando nas nossas casas sem ser convidados? Que faz correr José Luis Peixoto?

Luis Eme disse...

Contradição dos termos, Ana? talvez não me explicasse bem...

Gosto dos dois escritores, não da adaptação (fosse escrita por quem fosse...).

Mas como é hábito (que eu desconhecia...) alterar e adaptar textos de autores nos manuais escolares...

Tenho dificuldade em aceitar estas "modas", mesmo que digam que é para ajudar as "criancinhas"...

ND disse...

"Que faz correr José Luis Peixoto?"
não sei, nem sei mesmo se ele o saberá, mas estou certa que só podia fazer-lhe bem se ele parasse e, como diz o meu amigo Paulo, se aborrecesse. Parado e aborrecido de morte talvez ainda fosse a tempo de fazer algo de jeito. Ou não.

Anónimo disse...

Diria mesmo, oh, porque lhes dais tanta dor...?

Anónimo disse...

peinxotem o senhor para a new york review of books. america is waiting