Estreou hoje nos EUA a adaptação para cinema, feita pelos irmãos Cohen, do romance do norte-americano Cormac McCarthy, No Country for Old Men. Publicado originalmente em 2005, acaba de sair na Relógio D'Água, com tradução de Paulo Faria e sob o título Este País não É para Velhos.
Os Cohen — que têm no currículo coisas tão conseguidas como Blood Simple (e ainda me lembro de o ver afundada numa cadeira do velho Quarteto, estarrecida pela reviravolta de horror que chegava logo a seguir ao intervalo), Miller's Crossing (um filme capaz de sintetizar todos os grandes tratados de ética logo na cena de abertura), Fargo (a maior homenagem a uma personagem feminina a que já assisti no cinema), ou o delirante e mordaz The Big Lebowski — talvez sejam mesmo a escolha certa para passar ao grande ecrã este romance para «leitores corajosos» — uma expressão que Harold Bloom usou para Meridiano de Sangue (McCarthy, Relógio D'Água) mas que também aqui se aplica (embora Meridiano de Sangue requeira estômagos ainda mais sólidos do que Este País não É para Velhos) —, sobretudo agora que Huston já não está cá. Mas se quanto ao filme só posso especular, o livro é outra conversa. Voltarei a ele Sábado. Entretanto, deixo um pequeno excerto como aperitivo.
«Ele abanou a cabeça. Estás a pedir-me que me torne vulnerável, e isso é coisa que eu nunca poderei fazer. Só tenho uma maneira de viver, que não admite casos excepcionais. Uma moeda ao ar, no máximo. Sem grande utilidade neste caso. A maioria das pessoas não acredita que possa existir alguém assim. Isso deve constituir para elas um grande problema, como facilmente entenderás. Como levar a melhor sobre uma coisa cuja existência nos recusamos a reconhecer. Compreendes? Assim que eu entrei na tua vida, a tua vida terminou. Teve um começo, um meio e um fim. O fim é agora. Dirás que as coisas podiam ter sido diferentes. Que podiam ter corrido de outra maneira. Mas o que é que isso significa? As coisas não correram de outra maneira. Correram desta. Estás a pedir-me que desminta o mundo. Percebes?
Sim, disse ela, a soluçar. Percebo. A sério que percebo.
Ainda bem, disse ele. Óptimo. Depois deu-lhe um tiro.»
Foto: Marion Ettlinger, Cormac McCarthy, New York City, 1991
3 comentários:
Bang Bang (My Baby Shot Me Down)
A Cher ou a Nancy?
Boa. Nem sabia da versão da Cher.
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