08/01/14

Going right to the point

Analisar o humor, terá dito Elwyn Brooks White, um dos nomes mais antigos da revista “The New Yorker”, “é como dissecar uma rã. Poucas pessoas se mostram interessadas e no fim a rã morre”. A frase é certeira e não é difícil demonstrá-lo: nada tem menos graça do que ter de explicar onde está a graça. Quando era jovem, andar pelo mundo meio deprimido fazia parte do charme, hoje em dia vivemos sob a ditadura do riso (a prova é que até Cavaco Silva tenta dizer um chiste de quando em vez, embora quando lhe chamaram palhaço tivesse ido a correr queixar-se ao Ministério Público...).
Adiante e resumindo: seja qual for o assunto, sai uma graçola para a mesa do canto! Que fique claro: eu adoro uma boa piada e ninguém tem nada com isso. Mas, se bem se lembram, até o livro mais divertido de Roth – falo, claro de “O Complexo de Portnoy”– acaba com “O FINAL DA ANEDOTA”.
Vou tentar explicar melhor, citando outro judeu. Trata-se de um diálogo retirado do filme “Manhattan”. Isaac Davis, o próprio Woody Allen, está numa festa e pergunta: “Has anybody read that Nazis are gonna march in New Jersey? (…) We should go down there, get some guys together, y'know, get some bricks and baseball bats and really explain things to them.” Comenta um convidado: “There is this devastating satirical piece on that on the Op Ed page of the Times, it is devastating.” E insiste Isaac Davis: “Well, a satirical piece in the Times is one thing, but bricks and baseball bats really gets right to the point.” (fim da citação)
Não me interpretem mal. Não se trata de apelar à violência, como o fizeram há pouco Mário Soares, Papa Francisco e o Rodrigues Guedes de Carvalho. Trata-se tão-só de às vezes me apetecer dizer: “Onde é que está a graça, oh idiota?”.
Foi exactamente isso que senti perante o anúncio de umas malas, inspiradas em (cito) “emoções fortes”, a que designers portugueses (e quem sou eu para os desmentir...) chamaram “Warsaw safe box”: “Imagine-se nos anos 40 em Varsóvia olhando para as pessoas que correm pelas ruas tentando escapar ao caos em que a cidade submergira. Tinham de deixar tudo para trás: as casas, a vida a que estavam habituadas, provavelmente para nunca mais voltarem... Mas no interior das malas levavam jóias, relógios, tudo o que tinham de mais valioso, tudo o que não podiam deixar entregue à cruel destruição.”
Agora digam-me: o Isaac Davis tinha ou não tinha razão quanto aos tijolos e aos tacos de baseball?