29/05/13

Nem o Marinho Pinto nem ninguém se lembra do momento em que nasceu e se calhar não é por acaso

O Marinho Pinto tem fama (e porventura proveito) de ser um homem truculento e sem papas na língua. Tais características, como quase tudo na vida, não são boas nem más... depende. A sua veemente oposição à co-adopção trouxe-de novo à ribalta.
É sabido que em Portugal se grita muito quando se trata de discutir ideias, o que normalmente é sinónimo de as ideias serem a coisa a que se dá menos importância nas discussões.
Outro aspecto digno de nota é que os portugueses têm alguma dificuldade com as ideias abstractas (não será por acaso que não existe Filosofia Portuguesa), o que em si também não é um mal, já que em nome das ideias abstractas se promovem muitas asneiras.

Dito isto, este post não é sobre a oposição de princípio de Marinho Pinto à co-adopção. É, mais singelamente, um post sobre o texto que ele escreveu sobre "O Momento Mais Belo da Vida", a saber, o momento do parto, o parto dele e o parto de todos nós.
Sem querer fazer teoria, gostaria de dizer ao Marinho Pinto que, tendo a Natureza (que ele tanto respeita e eu também, embora quanto à perfeição discordemos) decidido que eu podia dar à luz, mas ele não, me sinto obrigada a discordar de quase tudo quanto escreve.
O parto, a não ser no caso das mulheres que são abençoadas com partos de meia-hora e está a andar (e mesmo assim...), é das coisas mais desumanas, dolorosas, cruéis e primitivas que podemos registar (Sublime, talvez, mas decididamente a milhas do Belo).
O texto dele até pode ser um delírio poético e/ou uma declaração de amor profundo à própria mãe. Quanto ao resto, é tudo inventado. A começar e a acabar no facto de se lembrar de como nasceu.

Naturalmente, também aqui pode o bastonário estar a saltar para a Metafísica da Vida, referindo-se a um conhecimento teorético mais do que empírico. Mas assim como a Natureza parece levar as mães a esquecer o horror do momento do parto substituindo-o na memória delas pelo momento em que o recém-nascido se aninha nos seus braços (e se assim não fosse, raras seriam as mulheres a repetir a experiência...), convinha que o Marinho Pinto se interrogasse por que raio a Natureza varre igualmente da nossa memória o momento em que chegámos aqui.
Não, ele não se lembra. Nem nenhum de nós se lembra. Talvez porque a Natureza, num momento, esse sim, de sábia e defensiva clarividência, nos queira poupar a tais horrores. O horror de sair para o mundo, rasgados os pulmões, entregues ao frio e à fome.
Para resumir: não me parece que à Natureza interessem para nada os lirismos poéticos e grandiloquentes de Marinho Pinto.

8 comentários:

alexandra g. disse...

Isto não é um comentário, é um enorme beijo repenicado :*

João Lisboa disse...

"(não será por acaso que não existe Filosofia Portuguesa)"

Tu ignoras o "pensamento filosófico português"???!!!...
http://lishbuna.blogspot.pt/search/label/pensamento%20filos%C3%B3fico%20portugu%C3%AAs

fallorca disse...

eheh, faltava este, o mermão ;)
olha, manda-o parir; ao bastonário ou à bastonada

Alberto disse...

O lirismo do jurisconsulto é prosápia para mascarar a sua paixão pelo cacete.
Alberto

samartaime disse...

Claro que a natureza é bastante machista com esta sua teimosia em não acelerar a evolução que acabe com o casto sadomasoquismo da espécie que é o parto. Tem razão a montes.

Quanto ao bastonário que leve o saco para os gambozinos que eu levo o bastão.
(De noite os gambozinos são pardos.)

Anónimo disse...

caso não sejam tomadas medidas que restrinjam a venda de memofante e casos de overdose como este irão continuar a soceder tanho dito!!

fado alexandrino. disse...

Olhe que os homens também suportam muito bem a dor. Fale com os benfiquistas para se informar.

joão viegas disse...

Não ha filosofia portuguesa ? Claro que ha, inteira e exclusivamente dedicada a demonstrar aos olhos do Universo que é possivel escrever e pensar as piores baboseiras, passar completamente ao lado de qualquer sombra de discernimento acerca da realidade que nos rodeia e, ainda assim, ter orgulho no resultado.

Mas o texto do Marinho Pinto é sobre a Natureza e, justiça lhe seja feita, tem o mérito de ser consequente. Para não ir mais longe, o que espanta e comove é precisamente a NATURALIDADE com que lhe saem as frases mais pirosas, num fogo de artificio de asneiras bem digno de espelhar o absoluto vazio de ideias...

Ele é bastonario porque em Portugal um "advogado" é outra coisa, que não tem nada a ver com o que a palavra significa em qualquer outra parte do planeta. Isto porque, como sabemos, as regras juridicas são, para os Portugueses, uma coisa do outro mundo...

Boas