17/02/13

O grito do Ipiranga II

Como decíamos ayer – que foi o que terá dito Frei Luis de Léon ao retomar a cátedra em Salamanca após cinco anos de cárcere a mando da Inquisição –, o grito do Ipiranga proferiu-o o primeiro-ministro a 6/Fev/2012: “Não sejam piegas!”. O tempo estava frio e seco e a partir daí tem aquecido talvez graças à chuva.
Valha a verdade que, embora o pensamento político de Passos continue a resumir-se àquilo que Eça e Ramalho já haviam verificado ser as ideias do Partido Reformista do seu tempo (“Economias!”), a governação tem-nos oferecido recentemente um pouco de consolo, ou de “conhaque”, se preferirmos o sabor queirosiano. E assim como “Não sejam piegas!” marca o ponto de viragem em que Portugal se assume como país empreendedor capaz de inventar ovos estrelados embalados, a recente “ida aos mercados” inaugura uma era orwelliana em que ao júbilo de pedir dinheiro emprestado a juros mais altos do que aqueles que nos são concedidos pela troika, se acrescenta, em jeito de remate, a contratação de um secretário de Estado que só a incapacidade de síntese de um assessor nos impediu de ver imediatamente tratar-se de um herói nacional.
Este novo paradigma enfrenta, todavia, alguns escolhos do passado. É assim que o país se indignou sem justiça com a lição de moral cristã ditada por Ulrich, cego ao exemplo de humildade que a frase “somos todos iguais” acarreta.
Nada que o governo não resolva com mais uns cortes nos privilégios dos doentes que insistem em adoecer, dos alunos que insistem em não aprender, dos desempregados que insistem em não trabalhar, das mães que insistem em parir.
Caros amigos, isto não é um governo, é uma revolução. Preço da coisa: 4 mil milhões de euros, mais coisa menos coisa.

2 comentários:

fallorca disse...

Ai a puta da ameaça que se cumpre

Blondewithaphd disse...

Revejo-me tanto neste texto.