01/05/11
A book a day keeps the doctor away: "Contos Carnívoros", Bernard Quiriny
Se gosta de Borges, Poe, Marcel Aymé… vai gostar de Bernard Quiriny.
Belga francófono, acaba de ser traduzido pela primeira vez em Portugal. Uma antologia de 14 histórias a que se acrescenta uma 15ª assinada por Enrique Vila-Matas, em jeito de posfácio.
Imaginação é a palavra-chave. Um jovem, ainda (n. 1978), Quiriny tem-na para dar e vender. A prova vem logo a abrir, com “Sanguínea”, o relato de um caso de amor entre um homem e uma mulher cujo corpo está coberto por casca de laranja.
As ficções que se seguem não desiludem. O escritor sabe manter-nos em suspenso, e cada conto vale por si. À imaginação, alia um conhecimento aprofundado da literatura do género, usando-o com subtileza e escapando ao mero pastiche.
O seu “alter-ego” Pierre Gould, personagem que tem o exclusivo de uma das narrativas, “O Extraordinário Pierre Gould”, fascina com razão Vila-Matas que, em posfácio (“Um catálogo de ausentes”), não deixa de dialogar com o autor de “um romance intitulado História de um Adormecido, que era, no seu dizer, o lipograma mais restritivo do mundo: proibira-se o uso de todas as palavras do alfabeto, com a excepção do z. O que dava ‘Zzzz, zzzz, zzzz’, e assim sucessivamente, ao longo de trezentas páginas.”
O conto que dá título ao livro (embora grafado no singular) põe em cena Latourelle, botânico que se enamora por Dionaea, “rainha de entre todas as plantas carnívoras”. Há um padre cuja alma se passeia entre dois corpos. Há uma tribo amazónica com uma língua incompreensível. Há um assassino a soldo que tem de levar a cabo um suicídio. Há um “escritor em formação” desprovido em absoluto de ideias…
Aliando a clareza matemática ao terror carnal, os contos de Quiriny são… para comer.
Contos Carnívoros, Bernard Quiriny, Ahab
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4 comentários:
14+1? cheira-me que o Futre vai querer ler isto.
Do Marcel Aymé só conheço um conto publicado na extinta revista Ficções. Há algum livro editado em português?
Na Estúdios Cor havia umas coisas e a Teorema traduziu há uns anos os Contos do Gato no Poleiro
Não fiquei propriamente entusiasmado com o primeiro conto mas a partir do "Alguns escritores, todos mortos" e especialmente de "Quiproquopolis" (conseguir sustentar uma dúzia de páginas com sentido a partir da análise de uma língua sem sentido pareceu-me genial), comecei a gostar imenso. E depois daquela sociedade de conhecedores de marés negras...
ACL, obrigado, já os encontrei pela net, agora falta encontrá-los na realidade, isto é, alfarrabistas.
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