10/11/10

Quem devia ter chamado o FMI era eu

SEVEN. The magnificent seven. The last frontier. Quem o disse foi o Teixeira dos Santos: depois do 7, o déluge.
Pois bem. Eu paguei muito mais do que isso. E passo a explicar.
Por motivos idiossincráticos que se prendem com uma péssima relação com a autoridade e com a arrumação de papéis, vi-me não há muito confrontada com uma dívida choruda ao fisco. Para resumir a coisa: eu teria a receber uma pipa de massa mas no fim quem pagou a conta? Quem? Adivinharam.
Perante o facto de me ser impossível continuar a viver cabelo ao vento sem documento, fui às Finanças tentar negociar com o Estado.
Eis o que me disse o Estado.
— A senhora tem várias hipóteses. A) Vai para casa, esquece que falou comigo e vai pagando como pode; B) Propõe um pagamento faseado; C) Pede um empréstimo bancário e paga tudo.
A primeira hipótese é simplesmente retórica. Porquê? Porque as Finanças lhe vão fazer a vida num inferno. Seja a sua dívida 20 cêntimos ou 10 mil euros, para o computador é igual. A partir do momento em que a classificou como devedora ao fisco, nunca mais a larga. E vai esmifrá-la em roda livre. Francamente, não lhe aconselho.
A segunda hipótese implica que nos traga algo para a troca. Uma casa, um carro, uma garantia bancária… Conversamos e chegamos a um valor mensal. Sinto-me obrigado a avisá-la, contudo, do seguinte: os juros são a 12%.
O que nos conduz à terceira hipótese. Vai ao banco, tenta o empréstimo e liquida tudo de uma vez. Os juros nunca serão tão altos.
E foi assim que o Estado negociou comigo. Com um acrescento. Como o funcionário era simpático, adiantou-me uma quarta hipótese off the record.
— Emigre, vá-se embora daqui e não pague nada!
Os mercados e blábláblá são uns bandidos, diz o Teixeira dos Santos? Pois. E ele é o quê? Um darling, queres ver?
[também publicado aqui]

5 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Todos os anos, no final do ano, retiram-me sempre quantia variável. Eu só acho mal não ter a liberdade democrática de decidir como gastarão essa massa: já lhes propus que fosse em móveis para os gabinetes ministeriais, nada da IKEA ou Moviflor, de Divani & Divani para cima.

Somos ricos temos de ter vida correspondente.

trepadeira disse...

Chame antes o povo para correr com eles.
Um abraço,
mário

Manuel Vilarinho Pires disse...

Boa tarde, Ana
Esta sua estereoscopia deixa os seus leitores com um certo ar de Durão Barroso ou mesmo Medeiros Ferreira...
Quer que lhe conte uma história?

Ana Cristina Leonardo disse...

Manuel, contou-a no outro tasco, I presume. Mas acho que a devia deixar tb. aqui para que os clientes da pastelaria possam entrar em contacto com algumas das práticas do Estado português, essa figura de bem.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Seja! Acabei de regressar da Segurança Social, que não tinha bicha na Tesouraria, e lá paguei a multinha...

Tenho uma micro-empresa.
As contribuições para a Segurança Social têm de ser pagas todos os meses até ao dia 15. Num certo mês, lembrei-me no dia 22 que me tinha esquecido de pagar a 15 e paguei logo, com 7 dias de atraso. Uns meses depois recebi uma notificação com "a business proposition you can't afford to refuse": fui convidado a pagar uma penalização de cerca de 15% do valor da contribuição, acrescida de "custas" (conceito que equivale ao débito do valor da bala a cada condenado fuzilado na China) no mesmo valor. Ao todo, cerca de mais 30% por 7 dias de atraso no pagamento.
Não a vou maçar com o cálculo financeiro, que se quiser lhe posso explicar, mas um juro de 30% à semana equivale a 84.150.000% ao ano, cerca de 841.500 vezes mais...

Ou seja, o Governo anda a chamar predadores aos mercados que lhe exigem 7% de juro ao ano, e tem um rebanho de "cheer leaders" a aplaudir esta qualificação, porque os mercados são muito maus, mas a si, pede-lhe 12% (o juro real, ou TAEG, é mais alto que isso, por causa das custas), e, a mim, pede-me 84.150.000%...